Criado como programa de rádio, onde obteve enorme sucesso, “The Lone Ranger” foi levado para o cinema em 1938 em formato de seriado. Produzido pela Republic Pictures, os atores Lane Chandler, Hal Taliaferro, Lee Powell, Herman Brix e George Letz (Montgomery) vestiram-se como o justiceiro mascarado para mais emocionar os pequenos fãs. No decorrer dos capítulos os heróis mascarados iam morrendo uma a um, até restar um único “O Guarda Vingador”, que era o título nacional do seriado chamado “The Lone Ranger” no original. Toda criançada correu para assistir a esse seriado e no seguinte a Republic repetiu a dose com “A Volta do Cavaleiro Mascarado” (The Lone Ranger Rides Again), desta vez comRobert Livingston como o mocinho da máscara negra. Nos dois seriados o índio Tonto foi interpretado por Chief Thundercloud. O cinema se esqueceu do personagem The Lone Ranger mas a televisão, que então engatinhava, redescobriu o justiceiro mascarado em 1949 com a série “The Lone Ranger”, estrelada por Clayton Moore. O espetacular sucesso alcançado por essa série na TV praticamente obrigou que o herói, no Brasil era chamado equivocadamente de Zorro, retornasse ao cinema.
Lyle Bettger e Bob Wilke |
HOMEM BRANCO SEM ESCRÚPULOS - Em 1956 o produtor Jack Wrather encomendou a Herb Meadow um roteiro para ser dirigido por Stuart Heisler com uma aventura do Cavaleiro Solitário e seu companheiro Tonto. Era de se esperar uma história simples, mesmo porque o faroeste seria dirigido àqueles que somente viam o herói numa telinha pequena e em preto e branco, em sua maioria um público infantil. Mas “O Justiceiro Mascarado” foi além disso e de maneira até didática o filme fala da origem do mocinho mascarado Kemo Sahbe, do início de sua amizade com Tonto e o encontro com o magnífico corcel Silver. O western de Heisler toca ainda fortemente no tema do preconceito contra os índios e num aspecto psicológico insólito que é a criação de uma filha em meio ao ambiente dominado pelos homens. Em um território não identificado no filme o Cavaleiro Solitário (Clayton Moore) e Tonto (Jay Silverheels) se defrontam com Reece Kilgore (Lyle Bettger), um fazendeiro inescrupuloso que tenciona se apoderar de terras pertencentes aos índios para poder explorar o ouro que lá existe. Kilgore com seu capanga Cassidy (Robert Wilke) intimidam não só o xerife Sam Kimberley (John Pickard) mas também o agente enviado de Washington e tentam interromper a paz reinante, o que resultaria numa guerra e na consequente expulsão dos índios do território. Graças à ação do Cavaleiro Solitário, Kilgore é desmascarado e brancos e índios voltam a viver em paz.
EDUCAÇÃO PECULIAR - Kilgore é exemplar na sua maldade não só contra os índios ou contra fazendeiros vizinhos, mas também com sua própria família. Machista ao extremo subjuga sua delicada esposa Welcome Kilgore (Bonita Granville) oriunda do Leste e educa sua pequena filha como se ela fosse um menino. E culpa a mãe por ter lhe dado uma filha e não um filho. A sanha e sede de riqueza de Kilgore desconhecem limites, esbarrando apenas na desobediência de seu violento capataz Cassidy. Os agentes governamentais enviados ao Velho Oeste para cuidar dos assuntos relativos aos índios aparecem nos faroestes como personagens notoriamente corruptos e são responsáveis pelas maiores dificuldades nas relações com os índios, a quem prejudicam criando toda sorte de dificuldades. Isso porém não acontece em “O Justiceiro Mascarado” uma vez que tanto o Agente do Departamento de Assuntos Indígenas destacado para ajudar os índios quanto o governador e mesmo o xerife Kimberley são pessoas íntegras e preocupadas com o bem-estar dos índios e sua pacífica convivência com os brancos. Se dependesse de homens assim os nativos norte-americanos não teriam sofrido os horrores que sofreram ao longo da história que, em 1956, já era contada no cinema de forma menos mentirosa.
Lone Ranger disfarçado; Tonto e Michael Ansara. |
QUEM É O VELHO BARBUDO E MANCO? - Sempre que um herói tem sua identidade verdadeira desconhecida, cria-se um para o mocinho uma segunda personalidade muitas vezes tímida ou medrosa, inteiramente diferente do mocinho. E um grande achado de “O Justiceiro Mascarado” foi fugir desse estereótipo e disfarçar o elegante Lone Ranger como um velho garimpeiro manco e com uma barba postiça que lhe cobre quase o rosto todo. Pois é fazendo-se passar por esse ‘Old Timer’ que o Cavaleiro Solitário descobre a ação nefasta de Reece Kilgore (Lyle Bettger). E se há problemas entre os brancos, há entre os oprimidos índios uma trama na tribo em que o velho chefe Red Hawk (Frank DeKova) se vê ameaçado pelo belicoso Angry Horse (Michael Ansara). “O Justiceiro Mascarado” mostra que também do lado dos índios há os bons e os maus, ainda que no caso dos nativos apenas a figura do politicamente ambicioso Angry Horse. Para sorte dos brancos bons e dos índios bons, o Cavaleiro Solitário Kemo Sahbe (apesar de mascarado) e Tonto agem com destemor e justiça, tônicas da série da TV não esquecidas no longa-metragem. E há lugar ainda até para um simpático personagem latino, Pete Ramirez, interpretado por Perry Lopez.
AÇÃO DE PRIMEIRA - Se “O Justiceiro Mascarado” é um filme com um roteiro que pode ser chamado de complexo, com conteúdo social, político e mesmo psicológico, por outro lado é um filme de ação, ou melhor, de muita ação e sempre ação de primeira qualidade. Não faltam belíssimas cavalgadas dos dois mocinhos com seus cavalos Silver e Scout, lutas espetaculares e o enfrentamento final contra os bandidos. Numericamente desigual o confronto é resolvido a dinamite, antecipando o que seria visto três anos depois em “Onde Começa o Inferno” (Rio Bravo). Os stuntmen Bob Morgan e Al Wyatt Sr. promovem um verdadeiro show de acrobáticas quedas nas cenas perigosas, uma delas rolando uma ribanceira de mais de dez metros, na luta entre Lone Ranger e Cavalo Bravo (Michael Ansara). A lamentar apenas que o dublê de Clayton Moore seja visivelmente mais magro que o ator. Filmado em WarnerColor e Cinemascope, "Q Justiceiro Mascarado" tem belíssimas tomadas de cena de Edwin B. DuPar que chegam a lembrar a cinematografia de James Wong Howe. Ocorre por vezes o uso de cenas de arquivo, forma econômica de levar mais emoção ao espectador. O público adulto que gosta de voltar a ser criança fica admirado com os trajes e cinturão do Cavaleiro Solitário e estupefato com o mocinho empinando o maravilhoso Silver como nunca antes o cinema havia mostrado.
Lane Chandler, lembrança do Cavaleiro Mascarado de 1938. |
LONE RANGER LONGE DA MOCINHA - Lyle Bettger é o grande nome do elenco como o odioso vilão principal, ainda que Bob Wilke o ameace com sua conhecida e perversa maldade. Outros bandidos da quadrilha são Mickey Simpson e Zon Murray. Michael Ansara e Frank DeKova em papéis comuns para eles, ou seja, de índios. Bonita Granville, atriz de bela carreira nas décadas de 30 e 40, esposa do produtor Jack Wrather, tem o principal papel feminino, distante, evidentemente, de qualquer intimidade com o sério Lone Ranger. Quem interpreta a filha de Lyle Bettger é Beverly Washburn, atriz infantil de “Meu Melhor Companheiro”. Outros nomes conhecidos do elenco são John Pickard e Charles Meredith, valendo ressaltar a presença de Lane Chandler, um dos cinco Lone Rangers do seriado "O Guarda Vingador" de 1938. Clayton Moore se sai razoavelmente bem disfarçado de velho garimpeiro e Jay Silverheels é o Tonto mais simpático de todos os tempos.
Frank DeKova e o curandeiro da tribo. Teria sido essa a inspiração para Johnny Depp, o Tonto do novo "The Lone Ranger"? |
Uma idéia de genio para a ápoca, os defensores mascarados irem morrendo um a um e sobrando apenas um, que será o grande herói.
ResponderExcluirAberturas de filmes hoje em dia seguem sempre esta linha , mais ou menos, com os atores principais em uma dificil missão, onde há o triunfo da mesma, mas sempre com a perda de alguém da troupe.
Tais detalhes, ou esperteza profissional, normalmente dá força especial e possivel qualidade de fita de muita ação à frente, o que eletriza o espectador.
Quando puseram diversos mascarados para defender a lei e estes foram morrendo um a um no cumprimento de suas obrigações, sobrando apenas um deles, este ganhou uma força fenomenal diante de um publico sedento de vingança, amor e apoio total ao sobrevivente.
Este iria agora, não apenas trabalhar só em prol da lei, como vingar a morte de seus demais companheiros. Uma bela jogada de marketing.
Quando fiz o comentário anterior, (Centenário de nascimento do Jay), não havia lido esta postagem, que faço após à do Jay.
E nele eu comentei justamenteo sobre o bom filme Justiceiro Mascarado, lhe caracterizando como um filme com muitas qualidades, fato que observo ratificado nesta postagem.
Não tinha as precisas informações que constam deste belo trabalho do Darci, mas ficou especificado que o filme do Haisler tinha bastante conteudo, confirmações que presencio com detalhes e satisfação extra neste post.
Quanto ao Lyle Bettger, jamais o vi na pele do de alguém do lado correto da lei. Aliás, seria um papel que, vistosamente, não lhe cairia bem, já que estamos mais que acostumados a ve-lo interpretando sempre vilões.
Por falar na filha do Bettger em o Justiceiro Mascarado, a Beverly, por grande coincidencia, eu assisti há dois dias atrás Meu Melhor Companheiro/57.
Esta é uma fita da Cia. Dysney, sempre dentro do seus padrões infantis, mas um filme muito agradável de ver, interpretados pelo par Dorothy McGruire e Fess Parker, dirigido por Robert Stevenson, diretor que fez muitos filmes similares para a Dysney, todos dentro deste mesmo padrão e todos muito deliciosos de assistir.
jurandir_lima@bol.com.br
Jurandir -
ResponderExcluirDe fato, uma jogada de mestre os cinco Lone Rangers. Na confraria dos amigos do western havia um mocinho, o falecido Mauro de Castro, que se identificava como Guarda Vingador, que era o título brasileiro do seriado de 1938. Mas poucos haviam assistido esse seriado que sumiu de circulação. O Mauro Guarda Vingador falava sempre com emoção desse seriado. Você, assim como eu deve ter pegado a fase final dos seriados. O último que vi no cinema era também um herói mascarado e o seriado era A Vingança de El Látego, de 1954, estrelado por Richard Simmons. Como lhe disse outro dia, ainda bem que a tecnologia possibilita possuirmos os grandes seriados. As Aventuras de Red Ryder, com Don Barry é sensacional.
Meu Melhor Companheiro é um filme encantador. Anda passando no Telecine. Gosto tanto desse filme que comprei o DVD. quando foi feita a enquete dos Melhores Bandidos, o Lau Shane reclamou a falta do Lyle Bettger entre os 50 a serem votados. Realmente, Lyle Bettger era terrível e não poderia ter ficado de fora.
Um abraço - Darci
Sabe o que é, Darci?
ResponderExcluirÉ que são tantos os vilões, e muitos deles mais à baila, mais constantes, mais carniceiros, que terminamos deixando alguns de fora.
Além do mais, são apenas 10 para serem escolhidos. Isso é um numero muito difícil para escolhas.
Lembra-se dos 10 melhores faroestes? Eu havia deixado de fora A Face Oculta. Mas, como ele era muito mais filme que um ou dois dos 10 que havia escolhido, então saquei um deles.
Mas o Bettger merecia sim, entrar no confronto.
jurandir_lima@bol.com.br
Jurandir -
ResponderExcluirO Edson disse que alguns de seus 10 melhores são imexíveis, como diria o Magri. Outros nem tanto. O mesmo acontece comigo e há sempre um ou dois faroestes tomando os lugares dos últimos da lista. A Face Oculta é um western com enormes epeculiares qualidades que merece mesmo estar nas listas do melhores. Lembra aquela pessoa que achou que esse era um filme lamentável? Dizer o que se temos que respeitar as opiniões alheias? Gostaria de saber qual faroeste você excluiu da lista para inserir A Face Oculta em sexto lugar.
Darci