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12 de dezembro de 2011

"GATILHO RELÂMPAGO" (The Fastest Gun Alive) - O EGO DE UM PISTOLEIRO


A longa carreira de Glenn Ford no cinema atingiu seu ápice de sucesso em meados da década de 50. Em 1956 ele apareceu pela primeira vez na disputada lista dos Top-Ten Money Makers, ficando em 5.º lugar. Falhou em 1957, mas retornou como campeão absoluto de bilheteria em 1958. Em 1959 o ator canadense caiu para a 6.ª colocação e depois disso deixou de ser grande atração de bilheteria, não mais fazendo parte da lista anual dos atores que mais espectadores levavam aos cinemas. Em 1956 foram lançados dois westerns com Glenn Ford: “Ao Despertar da Paixão” (Jubal) e “Gatilho Relâmpago” (The Fastest Gun Alive). Este último foi uma produção modesta na qual a Metro-Goldwyn-Mayer pouco investiu, mas para surpresa geral foi um dos campeões de bilheteria de 1956 naquele estúdio. Como explicar que um faroeste em preto e branco, com um diretor praticamente desconhecido e que tinha como únicas grandes atrações no elenco o cowboy Glenn Ford e o envelhecido Broderick Crawford poderia fazer tanto sucesso? A explicação é simples: o público gostou de “Gatilho Relâmpago” porque era um faroeste que seguia a tendência de apresentar como herói um personagem humano em luta com a sua consciência, na linha do seminal “Matar ou Morrer”. E também porque todos os demais atores eram muito bons na caracterização dos habitantes de um lugarejo que sequer tinha um xerife. Some-se a isso uma mocinha bastante bonita (Jeanne Crain) e um jovem ator-dançarino (Russ Tamblyn) que faz uma sequência de acrobática coreografia de fazer inveja a Burt Lancaster. Ah, sim, não pode ser esquecida a admirável construção do suspense que antecede ao duelo final.


O MEDO CONTRA A OBSESSÃO - O diretor Russell Rousse, também autor do roteiro, foi melhor roteirista que diretor, surpreendendo com “Gatilho Relâmpago”. Como roteirista ganhou até um Oscar pelo screenplay de uma das melhores e mais deliciosas comédias da história do cinema que foi “Confidências à Meia-Noite”, com Doris Day e Rock Hudson. E a surpresa referida acima é exatamente porque Rousse jamais repetiu, nos poucos filmes que dirigiu, o acerto que transformou “Gatilho Relâmpago” num pequeno mas memorável faroeste. A história nada tem de simplista, exigindo atenção do espectador para as nuances que determinam o comportamento traumatizado de George Kelby Jr. (Glenn Ford). Seu pai (George Kelby) era um xerife que depois de limpar uma cidade acaba morto. Antes havia ensinado tudo a seu filho, que mesmo sendo um extremamente ágil e certeiro gatilho quer fugir do medo que o assombra só de pensar em enfrentar um pistoleiro. E esse pistoleiro chamado Vinnie Harold (Broderick Crawford) surge exatamente na pequena Cross Creek, onde Kelby vivia com a esposa Dora Temple (Jeanne Crain). Para melhor fugir do passado, George Kelby Jr. abdica do nome do pai e passa a se chamar George Temple, forma de evitar que o renome do pai atraia aventureiros em busca da efêmera fama de se tornar mais um gatilho relâmpago. Porém o drama pessoal de George Kelby Jr. é revelado através de uma quase circense exibição de destreza e pontaria diante do estupefato povo local. Vinnie Harold mata um homem em duelo, assalta um banco com seus comparsas Taylor (John Dehner) e Dinky (Noah Beery Jr.) e chega a Cross Creek onde descobre por acaso que há alguém mais rápido que ele: George Temple ou George Kelby, já que agora tanto faz. Obcecado Harold obriga violentamente Kelby a vencer sua covardia para enfrentá-lo e satisfazer seu ego de gatilho relâmpago. Diferentemente de Kelby, tudo que Harold deseja é ser reconhecido como o mais rápido homem do Oeste.

Acima Broderick Crawford, também um gatilho relâmpago; nas fotos menores
abaixo Noah Beery Jr., John Dehner e Broderick Crawford; na última foto menor,
à direita, o sensacional número de dança de Russ Tamblyn

COMO SE CRIA UMA LENDA - Apesar da abordagem psicológica, “Gatilho Relâmpago” é um western que se assiste com prazer pois seu andamento é notável com as ações se desenvolvendo de forma a surpreender o espectador a cada cena. Entre os momentos dramáticos então inseridas sequências de comicidade como quando uma testemunha de um duelo em outra cidade exibe orgulhosamente o botão da camisa de um dos contendores que ele viu morrer. E a tragicômica sequência em que George Kelby demonstra aos cidadãos que a fanfarronice impera na criação de lendas do Oeste. Quando tudo leva à certeza que o bem vai novamente vencer o mal, essa certeza é quase desfeita no surpreendente final. O elenco de “Gatilho Relâmpago” é uma daquelas festas para os experts em faroestes pois desfilam atores característicos que só os fãs westernmaníacos são capazes de reconhecer: Rhys Williams, Chubby Johnson, John Doucette, Allyn Joslyn, Paul Birch, Walter Coy, John Dierkes, Earle Hodgins, Kenneth MacDonald, Kermit Maynard, Dub Taylor, Glenn Strange e o incansável Bud Osborne. Todos esses atores de rostos bastante conhecidos, muitos deles dos B-westerns, ajudam no tom que Russel Rousse procurou dar ao filme. Outro trunfo de “Gatilho Relâmpago” é a interpretação do trio de bandidos. Em que pese a forma física de Broderick Crawford, incrivelmente envelhecido para os 45 anos que ele tinha em 1956, o ator consegue tornar seu personagem convincente pela intensa maldade que nele incute. John Dehner tem desempenho excelente, muito superior ao 'Pat Garrett' que ele criou em “Um de Nós Morrerá” The Left Handed Gun). E Noah Beery Jr. está bem como o submisso bandido. Glenn Ford, por sua vez, tem oportunidade de demonstrar o excelente ator que sempre foi sem nenhuma afetação ou maneirismo Tão bom quanto subestimado numa época em que a competição era com rivais do porte de Marlon Brando, Paul Newman, Gary Cooper, James Stewart, William Holden, Burt Lancaster, Kirk Douglas e um enorme etc., “Gatilho Relâmpago” é exemplar para que se descubra porque Glenn foi um dos campeões de bilheteria em meio a tantos monstros sagrados da tela.
Jeanne Crain e Glenn Ford, o par romântico de "Gatilho Relâmpago"
Nota: Este artigo foi publicado neste blog no mês de abril e reeditado para inserção do álbum com o elenco do filme que não foi publicado anteriormente. Diversos seguidores deste blog fazem coleção dos álbuns que são uma constante nos posts do CINEWESTERMANIA.

4 comentários:

  1. Sou suspeito, gosto de tudo o que Glenn Ford faz, principalmente policiais e westerns. GATILHO RELÂMPAGO é realmente bem simpático.

    O Falcão Maltês

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  2. Recordo que já havia comentado sobre este "pequeno, mas memorável western" ( esta frase é um perfeito achado de nosso editor para este modestissimo, porém muito bom filme).
    Vi lá pela 2a. metade da década de 50 esta fita com o sempre perfeito Glen Ford. E 4 sequencias da fita do desconhecido Rousse, me despertaram a atenção e marcou esta fita em minha displicente vida adolescente;
    1 - a cena em que Ford quebra um copo com uma bala, a partir dele solto a menos de um metro do chão. Incrivel, inédita e perfeita a cena.
    2 - A desagradável baixa que Broderick dá em John Denner no saloon, quando este vem de encontro aos bestiais pensamentos de Broderick. Uma cena forte, dramática e esmagadora, com palavras ofensivas de um parceiro de crime para outro.
    3 - o duelo final e a surpresa do desfeche
    4 - Tamblin e seu malabarismo. E ve-lo como o vimos em Sete Noivas Para Sete Irmãos, o que ele faz em Gatilho Relampago é um menorzinho.
    Um filme digno de todas as boas falas deste post.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  3. Jurandir, o papel da vida de Russ Tamblyn foi como Riff em Amor, Sublime Amor. Junte tudo que ele fez antes e depois e não se compara com sua atuação em West Side Story, boa na parte dramática e extraordinária nos números musicais "Dear Sgt. Kruppe" e naquela "when you're a Jet, you're a Jet all the way..."

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  4. Sou fan de carteirinha de John Wayne e em 2° lugar de Glenn Ford : Eles são ótimos , Gatilho Relâmpago é um filme gostoso de ver , tem tudo que um bom filme de Westerns precisa , o final não poderia se melhor , já via varias vezes e pretendo ver muito mais .
    Abraços Darci Fonseca

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