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20 de novembro de 2019

VINGADOR IMPIEDOSO (DALLAS) – GARY COOPER COMO UM VINGADOR NOTURNO


Gary Cooper

John Twist foi um prolífico escritor e roteirista de Hollywood. Prolífico e versátil pois escreveu roteiros originais ou adaptados para todo tipo de filme, merecendo ser lembrados, entre os mais de 50 roteiros que escreveu “Inferno nos Trópicos” e “Mares Violentos” (ambos com John Wayne), “Floresta Maldita” (com Kirk Douglas), “A História do FBI” (com James Stewart), “Os Bravos Morrem Lutando” (com Frank Sinatra), “Ricardo, Coração de Leão” (com Rex Harrison) e “Helena de Tróia” (com Brigitte Bardot). No gênero western John Twist deixou sua marca no excelente “Golpe de Misericórdia” (Colorado Territory), com Joel McCrea. Randolph Scott estrelou dois westerns com roteiros de John Twist: “De Arma em Punho” (The Man Behind the Gun) e “Domador de Motins” (Fort Worth); Robert Ryan foi “O Melhor dos Homens Maus” (Best of the Badmen), outro roteiro de Twist que realizou seu último trabalho nos westerns com “Um Clarim ao Longe” (A Distant Trumpet). Em 1950 John Twist escreveu a história original de “Vingador Impiedoso” (Dallas), produzido pela Warner Bros. com Gary Cooper como protagonista. Foi o primeiro western da gloriosa década de Cooper no gênero em que estrelou nada menos que dez faroestes, alguns deles clássicos como “Vera Cruz” e “O Homem do Oeste” (Man of the West) e a obra-prima “Matar ou Morrer” (High Noon). Ainda que esteja longe desses melhores filmes, “Vingador Impiedoso” não desaponta.


Gary Cooper
Da Geórgia para Dallas - Durante a Guerra Civil o coronel confederado Blayde ‘Reb’ Hollister (Gary Cooper) teve sua fazenda na Geórgia queimada e sua família dizimada pelos três irmãos Marlow. São eles Will (Raymond Massey), o mais velho e líder dos irmãos, Bryant (Steve Cochran) e Cullen (Zon Murray) que se mudaram para Dallas, no Texas. Procurado pela Justiça acusado de ser um rebelde guerrilheiro, ‘Reb’ Hollister chega a Dallas onde urde um plano para adotar o nome de um delegado federal (Martin Weatherby) e vingar-se dos irmãos Marlow que não o conhecem. O verdadeiro Martin Weatherby (Leif Erickson) se torna seu ajudante e, à chegada de Hollister, os irmãos Marlow estão ocupados roubando gado pertencente ao criador mexicano Don Felipe Robles (Antonio Moreno). Descoberta sua identidade, ‘Reb’ Hollister abate um a um os três irmãos e afinal decide se estabelecer em Dallas casando-se com Tonia Robles (Ruth Roman), filha de Don Felipe.

Gary Cooper e Leif Erickson;
Cooper e Reed Hadley
Mocinho envelhecido - “Vingador Impiedoso” é um dos westerns menos comentados de Gary Cooper e mesmo seus maiores fãs não tem este filme em muito alta conta. Este faroeste é bastante movimentado, tem direção quase irrepreensível de Stuart Heisler e trilha sonora inspirada de Max Steiner. O que há de errado então com ele? Por coincidência ‘twist’ em Inglês significa ‘torcer’ e o problema maior de “Vingador Impiedoso” reside justamente nas inúmeras reviravoltas que o roteiro de John Twist impõe à história. Isto sem falar no risível episódio em que Wild Bill Hickok (Reed Hadley) simula ter matado ‘Reb’ Hollister possibilitando a este assumir uma nova identidade. Outro pecado do roteiro é a sucessão interminável de nomes que desfilam na tela gerando alguma dificuldade para o espectador saber quem é quem. O triângulo amoroso formado entre Hollister, Tonia e Martin não funciona muito bem e por culpa exclusiva de Gary Cooper que, aos 49 anos de idade aparenta estar muito mais velho que isso. A coluna do veterano ator já o incomodava visivelmente e se torna difícil acreditar que apenas o charme de Cooper fosse suficiente para ficar com a mexicana interpretada por Ruth Roman. Em filmes seguintes o mesmo viria a acontecer e Grace Kelly, Audrey Hepburn e Sara Montiel não eram as melhores escolhas para formar par romântico com Gary Cooper. Há ainda, outros aspectos que tornam “Vingador Impiedoso” um western imperfeito.

Nonsense no Velho Oeste - Embora a vingança de ‘Reb’ Hollister seja o ponto de partida da história, a maior parte da trama se desenvolve entre em uma disputa por posse de terras entre os Marlows e o mexicano Don Felipe Robles e ainda no triângulo amoroso vivido pelo estranho que chega e toma o lugar e a noiva de Martin Weatherby. Este, enciumado, trai Hollister sonegando a informação do perdão do amigo procurado pela Justiça, documento expedido pelo Governo de Washington. Fica-se sem saber ao certo como Hollister descobriu que foram os Marlows os responsáveis pela destruição de sua família e de sua propriedade. Menos ainda como Hollister e Wild Bill Hickok engendraram a farsa que culmina com a ‘morte’ do coronel confederado, enquanto Hickok opta sumir de Dalla e enveredar pela carreira... teatral. O nonsense prossegue com Hollister vestido como um janota com fraque e cartola.

Slim Talbot como se fosse Gary Cooper
Muito trabalho para Slim Talbot - Assistir a “Vingador Impiedoso” pode ser um belo exercício de como desfazer a magia do cinema, algumas vezes perpetrada pelos dublês. Gary Cooper salta de um balcão de quatro metros de altura e ao melhor estilo dos mocinhos dos westerns B cai sobre seu cavalo; o herói detém cavalos em disparada em uma carroça mais lembrando Yakima Canutt saltando sobre as parelhas como na sempre imitada sequência de “No Tempo das Diligências”; troca socos com bandidos fortes e mais jovem que ele; sai ileso de um incêndio na cadeia onde está preso; no duelo final Cooper atravessa uma vidraça para surpreender o vilão que está escondido. Pena que tudo isso se passe em sequências noturnas e certamente por exigência do astro para que seu dublê oficial (e amigo particular) Slim Talbot possa passar por ele sem ser notada a substituição. O excesso de situações noturnas acaba cansando o espectador e roubando uma das principais características de um western que é justamente a beleza dos cenários.

Slim Talbot em sequências que Gary Cooper já não podia participar

Gary Cooper
A presença de Gary Cooper - Como para muitos um bom western tem que ter ação, se possível de boa qualidade, é aí que o filme de Stuart Heisler se torna satisfatório e agrada ao fã do gênero. Entre as boas sequências está aquela em que o mais violentos dos Marlows (Steve Cochran) acaba pendurado em uma árvore chamando desesperadamente por seus comparsas. Max Steiner foge um pouco de seu estilo retumbante criando nuances musicais belíssimas dignas do grande compositor que ele foi. Gary Cooper se sustenta com a força de sua presença na tela deixando para Raymond Massey as melhores expressões dramáticas. Steve Cochran, quase irreconhecível sob a barba e bigode que seu personagem usa, interpreta o vilão mais violento. Ruth Roman apática pois sabe que está no filme apenas para que haja um interesse romântico que na verdade de interesse tem pouco. Leif Erikson sempre deixa a impressão que deveria ser vilão e Reed Hadley parece querer demonstrar que é maior que seu caricatural personagem. Este é um tipo de western que ficaria ótimo se estrelado, por exemplo, por Rory Calhoun. Mas ainda bem que nos faroestes seguintes Gary Cooper teve melhores histórias e personagens para alegria de sua legião de fãs.

Steve Cochran; Raymond Massey; Leif Erickson

Fotos para publicidade: Gary Cooper com Steve Cochran e Ruth Roman;
Gary Cooper e Ruth Roman


Um comentário:

  1. Desde a década de 70 que eu assisto faroestes, a maioria eu consegui rever, mas tem um em especial que eu não consegui encontrar. Foi exibido no cinema de minha cidade nos anos 70. O título era "Bonanza a Lei do Oeste". Alguém dos apreciados de faroestes lembra desse filme, sabe o título original? comente

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