Lesley Selander com Allan 'Rocky' Lane |
A assinatura de Lesley Selander como
diretor de westerns é uma garantia de bom filme e “Terra de Sangue”, estrelado
por Rod Cameron apenas comprova o talento desse diretor. Desta vez Selander
teve em mãos uma interessante história de autoria de Thomaz W. Blackburn, autor
de inúmeros textos originais ou roteiros, entre eles os bons “Calibre 45” (Colt
.45) e “Alma de Renegado” (Riding Shotgun), ambos estrelados por Randolph Scott
e já resenhados aqui no WESTERNCINEMANIA. Esta produção da pequena Allied Artists
não esconde o orçamento limitado com sequências passadas em estúdio com cenários
pintados ao fundo, uma reduzida ‘manada’ de gado pastando numa propriedade e
gerando guerra entre criadores e mais um elenco composto por rostos conhecidos
de muitos westerns-B. Aos 40 anos de idade Rod Cameron está em excelente forma
tendo como leading-lady Cathy Downs, a doce ‘Clementine’ de “Paixão dos Fortes”,
a inesquecível obra-prima de John Ford. Johnny Mack Brown aparece como xerife enfrentando,
ao lado de Cameron, vilões da estirpe de Morris Ankrum e Harry Woods. A cópia
impecável faz de “Terra de Sangue” um ótimo programa.
Acima Rod Cameron e Stanley Andrews; abaixo Jonathan Hale, Kack Ingram e Cameron |
A
disputa pela grama curta - O criador Hal Fenton (Morris Ankrum)
reúne um grupo de cowboys dispostos não apenas a desrespeitar limites de
propriedades alheias mas também a impor a vontade de Fenton. Para expandir seu
império e se tornar um poderoso ‘barão de gado’, Fenton ordena que seus homens,
liderados por Sam Dreen (Harry Woods), sejam e impiedosos e matem aqueles que
se opuserem a seus interesses. Chega à região o forasteiro Steve Llewellyn (Rod
Cameron) que, embora inocente, se vê envolvido em um roubo seguido de morte. Llewellyn
fica com 400 dólares sem saber que a quantia era produto do roubo e torna-se
sócio de Pete Lynch (Stanley Andrews), pai de Sharon Lynch (Cathy Downs) numa pequena
propriedade para criar gado. Fenton quer intimidar Llewellyn e este mata em
legítima defesa o irmão de Fenton, sendo obrigado a sair do Novo México. Retornando
cinco anos depois. Ao voltar Llewellyn encontra Sharon casada com um jornalista
bêbado e a moça lhe conta que seu pai fora assassinado. Sharon perde o marido e
Llewellyn decide enfrentar Fenton e seus homens ajudando o xerife Ord Keown
(Johnny Mack Brown). Num confronto em um saloon na cidade de Silver Spur, Llewellyn
e Keown, com a ajuda de mais alguns homens, liquidam Fenton e seu bando, a paz
volta à região e Llewellyn fica com Sharon.
Rod Cameron |
Cameron:
justo, honesto e destemido - Praticamente todos os elementos
necessários para compor uma história convencional sobre guerra entre criadores
está presente em “Terra de Sangue”. Mas Lesley Selander contorna bastante bem
os previsíveis clichês e mantém o ótimo ritmo deste faroeste ao qual não faltam
uma boa luta e muita troca de tiros. O personagem de Rod Cameron é justo,
honesto e destemido, a imagem exata do ator canadense imortalizado para os fãs
de seriado como o ‘Agente Secreto Rex Bennett’ em “A Adaga de Salomão” e “O
Dragão Negro”. Lembre-se que Steven Spielberg confessou que se inspirou em ‘Rex
Bennett’ para criar ‘Indiana Jones’ e melhor referência é impossível. Mas
voltando a “Terra de Sangue”, Cameron até assusta um pouco o espectador com a
sucessão de mortes que provoca, sempre em legítima defesa e, por azar, tendo de
enfrentar homens maus desde que chega a Silver Spur. Com um deles, interpretado
por Jeff York, Cameron com seus 1,96m de altura trava uma violenta luta que
termina com o oponente jurando vingança e a mocinha vendo naquele forasteiro o
homem de sua vida.
Cathy Downs; abaixo Morris Ankrum, Harry Woods e Johnny Mack Brown |
A
morte seguindo seus passos - Mas a história de Blackburn sofre
algumas alterações na segunda parte, quando do retorno de Steve Llewellyn. A
mocinha casou com a pessoa errada, o dono do jornal local, e este, entre um
porre e outro, ainda bem, fica livre para voltar aos braços do antigo amor. Mas
Llewellyn precisa provar que merece o amor de Sharon que agora tem a
responsabilidade de tocar com dignidade o ‘The Courier’, jornal que o finado
marido deixou. Nada parece fácil para Llewellyn, especialmente porque o xerife
não o vê com bons olhos uma vez que a cada passo deixa ele algum corpo crivado
de balas justificando o título nacional de “Terra de Sangue”. Se há algo que
mereça reparo neste faroeste é a pequena participação de Morris Ankrum, o excelente
ator de tantos e tantos filmes em gêneros diversos. Mas para compensar há a
presença marcante de Harry Woods, um dos grandes homens maus dos westerns-B e
que enfrentou a praticamente todos os mocinhos daqueles filmes, desde Ken Maynard
a Sunset Carson , passando por Johnny Mack Brown. E ‘John Mack Brown, como
fazia questão de dizer e escrever o westernmaníaco Umberto Losso, tem
expressiva participação demonstrando que era bom ator, ele que contracenou com Joan
Crawford, Norma Shearer, Greta Garbo, Mary Pickford e Marion Davies, antes de ter
sua carreira como galã truncada pelo ciúmes de William Randolph Hearst, o ‘Cidadão
Kane’.
Rod Cameron |
Rod
Cameron, êmulo de Randolph Scott - Um bom faroeste não dispensa as
figuras clássicas do simpático médico bêbado (Raymond Walburn), do cozinheiro
chinês (Lee Tung Foo), de um elegante homem de bem (Jonathan Hale), dos fieis rancheiros
mexicanos (George J. Lewis e Felipe Turich) e do velho pai (Stanley Andrews) da
linda mocinha, interpretada por Cathy Downs. Cathy tem oportunidade de mostrar
que Hollywood não foi generosa com ela apesar do início promissor no clássico
de John Ford. Nunca mais teve ela bons papeis apesar de ser bonita e talentosa,
vindo a falecer precocemente aos 50 anos de idade. “Terra de Sangue” termina
com um intenso tiroteio noturno dentro de um saloon Com Rod Cameron e Johnny
Mack Brown lado a lado enfrentando e exterminando os malfeitores. Imagina-se a
vibração que um faroeste como esse provocava nas matinês dos anos 50, aquelas nas
quais Rod Cameron era, acreditem, tão famoso quanto Randolph Scott, a quem o
canadense lembra bastante. Uma diferença entre eles é que, ao contrário de
Scott, Cameron sempre beijava a mocinha...
Cathy Downs e Rod Cameron; Johnny Mack Brown e Raymond Walburn |
Cópia gentilmente cedida pelo cinéfilo e colecionador MARCELO CARDOSO.
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