Acima o jovialíssimo Richard Jaeckel; abaixo com Lloyd Nolan em "Guadalcanal". |
Nos anos 40 alguns dos atores de maior
sucesso em Hollywood eram do ‘Time dos Tampinhas’. James Cagney (Warner Bros.)
tinha 1,69m de altura; Alan Ladd (Paramount) era mais baixo, com 1,68m; Mickey
Rooney (MGM) então já entrava praticamente em outra categoria com seus 1,57m. E
como vendiam ingressos esses baixinhos... Talvez até por isso um diretor da
20th Century-Fox tenha visto naquele pequeno e atarracado mas muito bem apanhado adolescente
que entregava correspondências no estúdio, um futuro astro. O nome do rapaz era
Richard Jaeckel, que foi convidado, em 1943, para uma participação em
“Guadalcanal”, filme sobre a campanha dos U.S. Mariners no Arquipélago das Ilhas
Salomão, no Oceano Pacífico, em 1942. Aos 17 anos de idade lá estava o
louríssimo Jaeckel num elenco que tinha Anthony Quinn, Preston Foster, Lloyd
Nolan, William Bendix e Richard Conte. O ex-office-boy Richard Jaeckel era o
sexto nome do elenco dessa produção da Fox. Tendo agradado como ator, Richard
foi escalado em seguida em outro filme de guerra chamado “Uma Asa e uma Prece”,
com Dana Andrews e Don Ameche. Porém a carreira de ator do jovem seria
interrompida quando, aos 18 anos de idade em 1944, foi convocado pela U.S. Navy
para lutar de verdade por seu país. A II Grande Guerra terminou mas Richard
permaneceu na Marinha até 1948,
retomando então a carreira truncada.
Jaeckel ao lado de Anthony Curtis, antes de se tornar 'Tony Curtis'. |
Sempre
à beira de um ataque de nervos - Richard Hanley Jaeckel nasceu em
Nova York (Long Island), em 10 de outubro de 1926, mudando-se com sua família
para Los Angeles, onde estudou na Hollywood High School, conseguindo o emprego
na Fox. Ao retornar à vida civil e à carreira de ator, Richard que havia se
casado em 1947 com uma moça chamada Antoinette Marches, foi lembrado para ser
um dos jovens delinquentes de “Almas Abandonadas”, ao lado do iniciante Anthony
Curtis, novaiorquino como ele. Era fácil para Jaeckel interpretar tipos
rebeldes pois ele tinha mesmo uma expressão nervosa, sempre pronto para
explodir, lembrando bastante James Cagney. Como o que mais se fazia naqueles
anos eram filmes de guerra, o próximo trabalho de Jaeckel foram em dois filmes
desse gênero: “O Preço da Glória”, com Van Johnson e Ricardo Montalbán, para a
MGM; e “Iwo-Jima – O Portal da Glória”, estrelado por John Wayne e produzido
pela Republic Pictures. Em 1950 a 20th Century-Fox confiou a seus contratados
Henry King e Gregory Peck, a direção e o papel principal de um western que
revolucionária o gênero, mostrando o lado psicológico de um pistoleiro. O filme
chamou-se “O Matador” (The Gunfighter) e Richard Jaeckel teve a oportunidade de
interpretar um personagem que muito o marcaria, o do jovem inconsequente e
provocador.
Jaeckel com John Wayne e John Agar em "Iwo-Jima - O Portal da Glória"; Jaeckel com Gregory Peck em "O Matador". |
Cena de "Morte Sem Glória", vendo-se Jack Palance, Robert Strauss e Jaeckel. |
Ator
baixo para tipos fortes - O filme seguinte de Jaeckel foi
também um western, mas de quase nenhuma importância, intitulado “A Fogo e
Sangue” (Wyoming Mail), com Stephen McNally. Hollywood já havia percebido que
aquele jovem ator possuía muita personalidade para compor tipos fortes, mas,
apesar da excelente aparência, lhe faltava altura para ser um astro de primeira
grandeza. E Jaeckel seguiu fazendo filmes bons que alternava com outros
medíocres. Entre os melhores desses anos iniciais da década de 50 que contaram
com sua participação estavam o policial “Império dos Malvados” (com Brian
Donlevy) e o drama “A Cruz da Minha Vida”, estrelado pelo astro Burt Lancaster
e com Richard Jaeckel mostrando que era um competente ator dramático. Retornando
às trincheiras, veio em seguida “Morte Sem Glória”, com Jaeckel contracenando
com Jack Palance e Lee Marvin. Estava próximo o encontro do jovem ator com
Glenn Ford.
Richard Jaeckel em "A Cruz da Minha Vida" com Shirley Booth e Terry Moore; nas outras fotos Jaeckel com a mignon Terry Moore. |
Glenn Ford e Richard Jaeckel em "Galante e Sanguinário". |
Três
vezes com Glenn Ford - Richard Jaeckel fez, quase em
sequência, três filmes com o grande astro Glenn Ford, o primeiro deles em 1955,
o western “Um Pecado em Cada Alma” (The Violent Men), com elenco impecável com
os nomes de Barbara Stanwyck e Edward G. Robinson, além de Ford. Vieram a
seguir “Galante e Sanguinário” (3:10 to Yuma) e “Como Nasce um Bravo” (Cowboy),
com Glenn Ford sempre provocado nesses faroestes pelo baixinho arrogante de olhos azuis Richard Jaeckel. Atuando sem parar, no cinema e na televisão, Jaeckel esteve com Elvis Presley em “Estrela de Fogo” (Flaming Star), o muito bom
faroeste do Rei do Rock filmado em 1960. Na televisão o ex-mariner atuava como
ator convidado em séries de sucesso, até que teve a chance de atuar em
“Frontier Circus”, ao lado de John Derek e Chill Wills. Esta série que narrava
o dia-a-dia circense não foi bem sucedida e ficou no ar apenas uma temporada,
com 26 episódios.
Jaeckel e Glenn Ford em "Um Pecado em Cada Alma"; Jaeckel com Elvis Presley e Anne Benton em "Estrela de Fogo"; Jaeckel, John Derek e Chill Wills na série "Frontier Circus". |
Sucesso
com Lee Marvin - Saindo-se bem tanto em faroestes como em filmes de
guerra, Jaeckel vestiu farda mais uma vez em “Cidade Sem Compaixão” (com Kirk
Douglas) e em “Brincando de Guerra” (com Rory Calhoun). Voltou à sela em “Os
Quatro Heróis do Texas” (4 for Texas), com Dean Martin e Frank Sinatra; e em “O
Domador de Cidades” (Town Tamer), com Dana Andrews, da famosa série produzida
por A.C. Lyles. Em 1967 Richard Jaeckel atuou naquele que foi o filme de maior
bilheteria de sua vida: “Os Doze Condenados”, com Lee Marvin e grande elenco
com destaque para Jaeckel como um engraçado sargento sempre a serviço do Major
vivido por Marvin. “A Brigada do Diabo” (1968) foi uma tentativa de imitar “os
Doze Condenados”, com William Holden encabeçando o elenco que tinha Jaeckel
desta vez como soldado.
Acima os doze condenados diante de Lee Marvin e de Richard Jaeckel; abaixo Jaeckel em "A Brigada do Diabo", imitação de "Os Doze Condenados". |
Jaeckel e Paul Newman na grande sequência de "Uma Lição para não Esquecer". |
Indicação
ao Oscar - Casado e pai de dois filhos, Richard Jaeckel fazia de
tudo para manter o padrão de vida familiar. O ator não rejeitava papéis mesmo
que fosse em sci-fis pouco expressivas como “O Lodo Verde”, “Latitude Zero”.
Filmes melhores viriam com a década de 70 quando Jaeckel atuou em “Uma Lição
para Não Esquecer”, dirigido e estrelado por Paul Newman e mais lembrado pela
brilhante participação de Richard Jaeckel como irmão de Newman. A sequência da
desesperada cena de morte por afogamento de Jaeckel, com um enorme tronco sobre seu
corpo dentro de um rio, lhe valeu uma indicação para o Oscar de 1972 na
categoria de Melhor Ator Coadjuvante, prêmio perdido para Ben Johnson por “A
Última Sessão de Cinema”.
Newman e Jaeckel na mesma sequência; à direita Paul Newman, Henry Fonda e Richard Jaeckel. |
Richard Jaeckel em "A Vingança de Ulzana". |
Grandes
westerns nos anos 70 - Nada
menos que três faroestes contaram com a presença de Richard Jaeckel no início
da década de 70. Foram eles: “Chisum – Uma Lenda Americana” (Chisum), com John
Wayne; “A Vingança de Ulzana” (Ulzana’s Raid), com Burt Lancaster; e “Pat
Garrett and Billy the Kid”, dirigido por Sam Peckinpah e estrelado por James
Coburn. Se “Chisum” não é um dos mais bem cotados westerns de John Wayne, os
faroestes dirigidos por Robert Aldrich e Sam Peckinpah estão entre os melhores
dos anos 70. Paul Newman ficara tão admirado com o trabalho de Richard Jaeckel em
“Uma Lição para não Esquecer”, que o chamou para com ele contracenar em “A
Piscina Mortal”. Acostumado a ser coadjuvante, em “Mako, o Tubarão Assassino”,
Jaeckel foi o ator principal dessa tentativa de se aproveitar do sucesso do
“Tubarão” de Steven Spielberg. Assim como fez três filmes com Glenn Ford,
Richard Jaeckel contracenaria pela terceira vez com Burt Lancaster em “O Último
Brilho do Crepúsculo”, outro sci-fi em sua filmografia.
Jaeckel com James Coburn em "Pat Garrett & Billy the Kid"; no alto à direita Jaeckel em "A Vingança de Ulzana"; Jaeckel e Christopher George em "Chisum - Uma Lenda Americana". |
Jaeckel e Paul Newman em "A Piscina Mortal"; Jaeckel e Akira Takarada em "Latitude Zero"; Jaeckel como oceanógrafo em "Mako, o Tubarão Assassino". |
Coadjuvante
de Chuck Norris - Em 1984 Richard Jaeckel se destacou
no elenco de “Starman – O Homem das Estrelas”, sci-fi de James Cameron com Jeff
Bridges, assim como teve ótima atuação em “Canção Sangrenta”, filme de terror
em que interpreta o pai da heroína ameaçada. Ao lado de um envelhecido Lee
Marvin, o bem conservado Richard Jaeckel pode ser visto em “Os Doze Condenados:
A Nova Missão”, que deixou saudade do clássico dirigido por Robert Aldrich em
1967. Foi a terceira vez que os dois atores, ex-soldados na vida real,
contracenaram, sempre em filmes de guerra. No final da década, em 1990, Chuck
Norris era uma das grandes atrações de bilheteria e com ele Jaeckel contracenou
em “Comando Delta 2 – Operação Colômbia”. O último trabalho para o cinema de
Jaeckel foi como um capitão de polícia em “O Rei dos Kickboxers”. A série de
grande sucesso “Baywatch”, foi a derradeira série de televisão a contar com a
participação de Richard Jaeckel, que interpretando o Tenente (depois Capitão)
Ben Edwards, atuou em 26 episódios entre os anos de 1989 e 1994.
Lee Marvin e Richard Jaeckel em "Os Doze Condenados: A Nova Missão"; Jaeckel com Chuck Norris em "Comando Delta 2 - Operação Colômbia". |
Richard Jaeckel |
50
anos atuando - Mesmo trabalhando incansavelmente, Richard Jaeckel vivia
no final da vida sérios problemas financeiros, parte deles devido à doença da
esposa Antoinette (Mal de Alzheimer). Antoinette o acompanhava há quase quase
cinco décadas, com os dois filhos, um deles Richard Jaeckel Jr. que tentou
sem sucesso seguir a carreira do pai. Em 1994 Jaeckel foi obrigado a se
declarar sem condições de cumprir seus compromissos financeiros (bancarrota), perdendo todas
as propriedades e mesmo assim não conseguindo saldar uma dívida de quase dois
milhões de dólares. O ator passou a viver num centro que abrigava
veteranos do cinema e da TV, o Motion Picture and Television Retirement Center,
em Woodland Hills. Em 1994 foi diagnosticado um câncer contra o qual Jaeckel
lutou por três anos, vindo a falecer em 14 de junho de 1997, aos 70 anos de
idade. Foram cinco décadas fazendo filmes, deixando neles sempre sua marcante
expressão que o tornou um dos grandes coadjuvantes do cinema. E quando se cita
Richard Jaeckel os cinéfilos sempre repetem: “Ah, aquele baixinho invocado...”
Como soldado ou como homem do oeste, o sempre expressivo Richard Jaeckel. |
Amigo Darci, li essa resenha e gostei muito, principalmente, ao ver a sorte que deu esse grande ator( pequeno grande homem ), que foi descoberto em seu local de serviço, trabalhando nas filmagens como office-boy, e vindo a fazer grande sucesso em vários filmes. Parabéns ao excelente Richard Jaecke. Paulo, mineiro.
ResponderExcluirEle atua num dos melhores episódios do seriado de Irwin Allen O TUNEL DO TEMPO naquele onde Tony e Doug vão parar na Primeira Guerra Mundial na Batalha de Caporetto e caem num castelo onde está o túmulo do Imperador Nero. Chame-se O FANTASMA DE NERO e ele tem uma participação especial. ALiás o TUNEL DO TEMPO tem vários episódios com o tema Western como O ÁLAMO, GENERAL CUSTER, BILLY THE KID e até um na Guerra Civil onde colocam Maquiavel.. valem uma resenha do mestre Darci.. Aurélio Cardoso
ResponderExcluirAurélio, possuo alguns dos episódios mencionados e, de fato, são muito bons, valendo mesmo serem resenhados.
ResponderExcluirFica a sugestão e o melhor western de Tunel do Tempo acho que é sobre BILLY THE KID e tem também um de invasores do espaço que vão parar na época do Oeste lembrando um pouco o recente COWBOYS x ALIENS.. mas achei meio fraquinho..
ResponderExcluirAurélio Cardoso
Darci, ao ler a resenha percebi que assisti alguns filmes com Jaeckel mas eu não o notei. "A Vingança de Ulzana" e "Os Doze Condenados" são dois exemplos. Os vi já há um bom tempo, quando não conhecia nada sobre o ator. Um abraço!
ResponderExcluirSempre acompanhei a carreira do ator Richard Jaeckell.Guadacanal foi o primeiro filme que assisti com ele.Era um excelente ator.
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