Jack Carlton Moore - 14/9/1914 - 28/12/1999 |
Kay Aldridge e Clayton Moore em luta com um árabe em "Os Perigos de Nyoka". |
Clayton Moore tem lugar reservado entre
os mais queridos mocinhos do cinema e da TV, especialmente por ter
personificado como nenhum outro ator o inesquecível Cavaleiro Solitário ‘The Lone
Ranger’. Antes de imortalizar o herói mascarado na televisão, Clayton Moore
secundou Larry Buster (Flash Gordon) Crabbe como Rei dos Seriados, tantos foram
os eletrizantes filmes em capítulos em que Clayton Moore atuou. Quando Moore
apareceu em “Os Perigos de Nyoka” (Perils of Nyoka), seriado de 1942, ele
roubou todas as cenas da protagonista Kay Aldridge enfrentando e vencendo toda
sorte de riscos. Os jovens e atentos frequentadores das matinês já apostavam
que nascia ali um futuro grande mocinho e não erraram. Depois daquele seriado
Clayton Moore apareceria em nada menos que outros onze seriados sempre
agradando em cheio à legião de fãs que sabiam que o nome de Clayton Moore era
sinônimo de muita ação.
Um
ás dos seriados - A extensa lista de seriados nos
quais Clayton Moore teve destaque foram os seguintes: “O Espírito Escarlate”
(The Crimson Ghost), de 1946; “A Volta de Jesse James” (Jesse James Rides
Again), de 1947; “Vingadores do Crime” (G-Men Never Forget) e “Aventuras de
Frank e Jesse James” (Adventures of Frank and Jesse James), ambos de 1948; "O
Fantasma do Zorro” (Ghost of Zorro), de 1949; “O Mistério do Disco Voador”
(Flying Disc Man from Mars), de 1951; “O Cavaleiro Relâmpago” (Son of Geronimo)
e “Cody, o Marechal do Universo” (Radar Men from the Moon), os dois de 1952;
“Tambores Feiticeiros” (Jungle Drums of Africa), de 1953; “O Sinal do Cavalo
Branco” (Gunfighters of the Northwest), de 1954. E Clayton Moore apareceu, sem
ter seu nome nos créditos, em “A Legião do Zorro” (Zorro’s Fighting Legion), de
1939, o que eleva para doze o número total de seriados em que atuou. Para quem
não faz ideia do que significavam os seriados nas matinês, lembro que eram mais
os seriados e menos os filmes que lotavam as barulhentas sessões dos domingos à
tarde nos cineminhas de bairro espalhados pelo Brasil inteiro. Abaixo Clayton Moore em fotos de seriados que participou.
Com Kay Aldridge em "Os Perigos de Nyoka"; em “O Espírito Escarlate” com Linda Stirling e o Crimson Ghost; com John Compton em “A Volta de Jesse James”. |
Lutando contra um vilão em “Vingadores do Crime”; com Steve Darrell em“Aventuras de Frank e Jesse James”; com Roy Barcroft em "O Fantasma do Zorro”. |
Em “Cody, o Marechal do Universo”; lutando contra Roy Glenn em "Tambores Feiticeiros". |
Ao lado de Bud Osborne em “O Cavaleiro Relâmpago”; com Jack Mahone e Lyle Talbot em “O Sinal do Cavalo Branco”. |
Clayton Moore ainda à procura de uma identidade. |
Fora
do panteão dos grandes mocinhos - Paralelamente aos seriados o jovem e
atlético ator de 1,85m de altura desenvolvia bela sequência de atuações,
principalmente nos westerns-B. Moore teve que interromper sua carreira ao ser
convocado para servir na U.S. Army durante a II Guerra Mundial, lutando por
três anos (1943/1945). Antes disso Havia atuado no primeiro filme
norte-americano que focalizou o conflito mundial, filme que se chamou “Perigo
Amarelo” (Black Dragons), produzido em 1941. Nesse filme Bela Lugosi interpreta
um médico nazista que alterava os rostos dos espiões japoneses,
transformando-os em norte-americanos. Clayton Moore era o mocinho que derrotava
o vilão Lugosi. Voltando da guerra Moore seguiu alternando papéis principais
nos seriados com os de coadjuvante nos filmes de média e longa-metragens.
Apesar da boa impressão que sempre deixava nos filmes que participava, Moore
não conseguia ascender ao panteão dos grandes mocinhos do cinema, lá onde um
dia estiveram William S. Hart, Harry Carey, Buck Jones, Ken Maynard e Tom Mix e
onde luziam, nos anos 40, Roy Rogers, Rocky Lane, Tex Ritter, Gene Autry,
Hopalong Cassidy e Durango Kid. Clayton Moore parecia mesmo fadado a ser apenas
mais um mocinho sem a identificação própria como tinham Tim Holt, Bill Elliott
e Johnny Mack Brown. Isso mesmo tendo talento que nada ficava a dever aos
também famosos cowboys Bob Steele, Buster Crabbe, Rod Cameron, Sunset Carson e
Lash LaRue.
Clayton Moore se encontra com o personagem de sua vida. |
Chega
o maior inimigo do cinema - A sorte de Clayton Moore iria mudar
exatamente em 1949, ano em que todos os mocinhos das matinês dominicais
(Saturday afternoons nos States) se viram ameaçados por um inimigo pior que
todos os foras-da-lei juntos: a televisão que chegava com força avassaladora
prometendo acabar com o hábito de ir ao cinema. O produtor George W. Trendle já
havia testado 75 candidatos para interpretar a versão do cavaleiro solitário
The Lone Ranger numa série feita para a televisão. Trendle sabia que o novo
veículo iria prender cada vez mais pais e filhos em suas próprias salas,
esvaziando até mesmo as matinês. Para isso o herói mascarado seria uma grande
atração nessa nova mídia. Clayton Moore decidiu se apresentar como candidato,
até porque já havia usado máscaras no cinema em alguns seriados. Após o teste
de Moore, o produtor George W. Trendle deu a busca por encerrada pois
encontrara o tão sonhado e perfeito The Lone Ranger.
O jovem galã Clayton Moore. |
Jovem
modelo - Clayton Moore, cujo nome verdadeiro era Jack Carlton
Moore, nasceu em Chicago no dia 14 de setembro de 1914, filho de um construtor.
Contrariando o desejo do pai que queria que o filho fosse médico, Jack foi, em
sua juventude trapezista de circo e ótimo nadador e mergulhador. E não poderia
ser de outra forma pois um de seus instrutores era ninguém menos que Johnny
Weissmuller. Um acidente que lhe causou uma séria contusão afastou o jovem Jack
do circo e da natação, levando-o a se tornar modelo devido à sua bela estampa.
Daí para o cinema foi uma questão de (pouco) tempo, momentos em que Jack se
distraía ouvindo um dos mais populares programas de rádio dos anos 30,
justamente “The Lone Ranger”. Jack Carlton era fascinado pelas histórias do
Ranger Solitário e conhecia bastante bem a origem do herói. Adotando o nome artístico
de Clayton Moore, o jovem assinou contrato com a Republic Pictures, atuando
inicialmente como stuntman e fazendo pontas em filmes.
Louis Hayward e Clayton Moore em "O Filho de Monte Cristo". |
Assumindo
o personagem - Em “Kit Carson”, faroeste de 1940 protagonizado por Jon
Hall, Moore tem um dos principais papéis, assim como em “O Filho de Monte
Cristo” (The Son of Monte Cristo), com Louis Hayward. E para se projetar Moore
atuava indistintamente em musicais e comédias. Mais tarde Clayton Moore pode
ser visto em westerns-B de Roy Rogers, Charles Starrett, Tim Holt, Don ‘Red’ Barry,
Gene Autry e Rocky Lane, isto até ganhar o papel de seu herói preferido na
futura série de TV. Então Clayton Moore entregou-se inteiramente ao personagem,
assumindo de corpo e alma a figura do The Lone Ranger. Começou treinando a voz
para que esta ficasse idêntica à que era conhecida pelos ouvintes da série de
rádio, a voz do ator Bruce (Brace) Beemer. Assim como o herói que passou a
interpretar, Clayton Moore era íntegro, levava uma vida austera, não fumava nem
bebia e não demonstrava interesse por mulheres fora do casamento ou por
dinheiro. A vida do ator confundia-se com a do personagem que encarnava na TV,
tornando-se um ídolo não apenas das crianças e adolescentes, mas também dos
pais, especialmente pelos princípios que norteavam suas palavras e atos.
Biografia de Clayton Moore. |
Contratempo
inesperado - “The Lone Ranger” não foi a série western pioneira da
televisão norte-americana, primazia que ficou para “The Hopalong Cassidy Show”,
programa estreado três meses antes do criado por George W. Trendle. No entanto
“The Lone Ranger” obteve sucesso muito maior, tanto que a série estrelada por
William Boyd seria produzida apenas por duas temporadas, enquanto Clayton Moore
teve que protagonizar o mascarado cavaleiro solitário por muitos anos. Das
séries westerns produzidas para a televisão, apenas Gunsmoke (640 episódios),
“Death Valley Days” (532), Bonanza (440) e “O Homem de Virgínia” (225) tiveram
mais episódios produzidos que “The Lone Ranger”, que atingiu 221 episódios.
Exibido em muitos países e alcançando enorme sucesso nos Estados Unidos, em 1952 Clayton Moore pediu ao produtor um pequeno
e razoável aumento de salário, já que Trendle estava cada vez mais rico com o
filão descoberto com o mocinho mascarado e seu companheiro Tonto. Como se sabe
produtores são todos avarentos e Trendle não era exceção, negando qualquer
reajuste no minguado salário de 500 dólares semanais que Moore recebia. O ator
então decidiu lutar por seus direitos e respondeu que com aquele salário
irrisório não voltaria a colocar a máscara do cavaleiro solitário. Trendle
então contratou John Hart para substituir Moore e a audiência do programa
despencou para desespero do produtor. Foram 52 episódios da série “The Lone
Ranger” que poucos se interessaram em assistir pois faltava Clayton Moore. Ao
final da 4.ª temporada a marca criada por George W. Trendle perdera muito de
seu valor e o veterano produtor a vendeu para Jack Wrather, presidente da
Wrather Corporation. A primeira providência de Wrather foi dispensar John Hart
e recontratar Clayton Moore pagando a ele 1.500 dólares por semana, mas
proibindo-o através de clausula contratual de aparecer em público sem a máscara
do cavaleiro solitário. Clayton Moore, em seu livro “I Was the Masked Man” nega
que sua saída da série tenha sido por questões salariais e sim por diferenças
artísticas. Clayton chegou a afirmar que interpretaria The Lone Ranger até de
graça e queria que a série tivesse produção mais bem cuidada para enfrentar na
audiência as dezenas de séries westerns que passaram a ser produzidas. Recuperando
o personagem que era seu, Clayton Moore foi The Lone Ranger até o final da
série.
Retorno ao
cinema - Durante a temporada em que esteve afastado do personagem que ele
adorava, Clayton Moore voltou a participar de filmes, atuando em onze filmes em
1952, dez deles westerns, sem contar os seriados. Clayton Moore teve a
oportunidade de interpretar William F. Cody, o Búfalo Bill, no western “Búfalo
Bill e os Índios” (Buffalo Bill in the Tomahawk Territory). Muito mais
importante foi “Os Brutos Também Amam” (Shane), clássico em que Clayton Moore
tem uma pequena participação, quase figuração, como um dos capangas dos irmãos
Ryker. Moore sequer foi creditado nesse trabalho. É dessa fase ainda “Tambores
Feiticeiros”, um dos melhores seriados produzidos para o cinema quando o gênero
agonizava. O sucesso da série “The Lone Ranger” levou o produtor Jack Wrather a
produzir dois longa-metragens. O público pode então ver em cores e em tela
grande o garboso herói mascarado montando Silver, seu portentoso cavalo branco,
ao lado de Tonto, o fiel companheiro de aventuras. Em 1956 os fãs da série
puderam assistir “The Lone Ranger” (Zorro e o Ouro do Cacique) e em 1958 foi a
vez de “The Lone Ranger and the Lost City of Gold” (Zorro e a
Cidade Perdida do Ouro). Finda a série de TV em 1957 a identificação de
Clayton Moore com o personagem era tamanha que o ator recusou diversas ofertas
de trabalho para interpretar personagens que não condiziam com a imagem por ele
criada na televisão e no cinema. O único trabalho que Clayton Moore aceitou
fazer nessa época foi aparecer como convidado especial num episódio da série
“Lassie”, em 1959, interpretando The Lone Ranger.
Clayton Moore em cenas de "Buffalo Bill e os Índios". |
Acima Clayton Moore interpretando o personagem 'Ray D'Arcy' em "Intrépido Xerife" (Sheriff of Wichita) ao lado de Rocky Lane; outra vez com Rocky Lane em "Estalagem Misteriosa (Marshal of Amarillo). |
Clayton Moore rendendo Hopalong Cassidy num episódio da série de TV de Hopalong; dando uma lição a um malfeitor. |
Clayton Moore como 'The Hawk', em "O Gavião do Rio Bravo" (The Hawk of Wild River), western de Durango Kid (Charles Starrett). |
Os leitores brasileiros tinham dois heróis chamados 'Zorro' para se emocionar. |
Os dois Zorros
no Brasil - Será que Clayton Moore tomou conhecimento da confusão criada no Brasil,
onde The Lone Ranger recebeu o nome do herói de capa-e-espada ‘Zorro’?
Curiosamente os fãs brasileiros aceitaram com naturalidade essa associação dos
personagens, sabendo distinguir perfeitamente um do outro e vibrando
indistintamente, ainda que o ‘Zorro do Velho Oeste’ tenha tido um apelo muito
maior, seja pela série de TV exaustivamente reprisada, seja pelas aventuras
quadrinizadas que foram publicadas no Brasil por mais de 30 anos. A Editora
responsável pelas edições do ‘Zorro’ foi a Editora Brasil América Ltda que
presenteou os brasileiros com os admiráveis desenhos de Charles Flanders. A
Editora Abril passou a publicar simultaneamente anos depois as aventuras do
herói criado por Johnston McCulley com Don Diego de La Veja como o alter-ego do
Zorro de capa-e-espada.
Clayton Moore no tempo em que não podia vestir a máscara que usou no cinema e na televisão. |
Um castigo
para Clayton Moore - Com o fim da série de TV em 1957, que teve
muitas reprises nos anos seguintes, nos anos 60 Clayton Moore passou a levar a
figura do Lone Ranger a festivais, paradas, feiras, comerciais e shows de
televisão. Não havia inauguração de shopping centers no Oeste e Meio-Oeste que
não contasse com a presença de Clayton Moore vestido como The Lone Ranger ou
pelo menos com a máscara e o chapéu do justiceiro mascarado. Isso começou a
incomodar Jack Wrather que, entre outras coisas, pretendia lançar um
longa-metragem com as aventuras do The Lone Ranger interpretado por um ator
mais jovem. Antes do lançamento de “A Lenda do Cavaleiro Solitário” (The Legend
of the Lone Ranger), com o desconhecido Klinton Spilsbury como o cavaleiro
mascarado, a Wrather Corporation acionou a Justiça para impedir que Clayton
Moore continuasse a usar a imagem do The Lone Ranger. A Justiça reconheceu o
direito da empresa e Clayton Moore foi então proibido de ser o herói que tanto
amava. Moore iniciou então uma verdadeira cruzada na qual conseguiu o
engajamento de milhares de fãs que escreveram aos jornais demonstrando
indignação com a proibição. O caso retornou aos tribunais onde depois de cinco
anos de batalha judicial uma corte da Califórnia devolveu a Clayton Moore o
direito de usar a identidade que de fato e agora de direito, era dele. O
fracasso de “The Legend of the Lone Ranger” pesou nessa decisão pois refletiu o
repúdio do grande público a qualquer outro ator que quisesse ser The Lone
Ranger em lugar de Clayton Moore.
Iron Eyes Cody, Clayton Moore (de óculos), Roy Rogers, Gene Autry e Pat Buttram: encontro de ídolos dos faroestes. |
Clayton com a esposa Sally. |
Óculos como
máscara - Enquanto esteve proibido de usar a máscara Clayton Moore jamais tirou
do rosto os óculos com grandes lentes escuras, forma que encontrou para evitar
ter seu rosto visto e fotografado sem o disfarce, o que só ocorreu em
raríssimas ocasiões. Nos anos seguintes Moore continuou a viajar pelas cidades
norte-americanas, o que foi aos poucos deixando de fazer, iniciando sua merecida
aposentadoria em 1994. Em 1986 Clayton Moore recebeu um duro golpe com a morte
da esposa Sally Allen, mãe de sua única filha e com quem estava casado desde
1943. Sally acompanhou toda sua trajetória como o cavaleiro solitário. Antes
Moore fora casado por dois anos com Mary Moore. Após o falecimento da esposa
Sally, Clayton se casou mais uma vez e esse casamento durou apenas três anos. A
quarta e última esposa de Clayton Moore chamava-se Carlita com quem o ator
viveu os últimos anos na residência que possuía em Calabasas, Los Angeles.
Clayton Moore entre a esposa Sally e Violet, mãe do ator; à direita com Sally e os cães da família. |
Paradoxo: crianças usando a máscara do The Lone Ranger e Clayton Moore de óculos escuros sem poder usá-la por decisão da Justiça. |
A estrela na Calçada da Fama. |
Homenagem a
figuras lendárias - Clayton Moore faleceu no dia 28 de dezembro de 1999 vitimado por um ataque cardíaco quando estava com 85 anos. Recebeu como homenagem uma estrela
colocada na Calçada da Fama em Hollywood, sendo o único ator que, além do
próprio nome, teve inscrito o nome do personagem que o tornou famoso. Em agosto
de 2009 o serviço postal norte-americano homenageou Clayton Moore/The Lone
Ranger com um selo. Merecidamente Clayton Moore foi conduzido, no ano de 1987,
ao National Cowboy Hall of Fame em Oklahoma. E até seus últimos dias aos 85
anos, quando sofreu um ataque cardíaco que o vitimou fatalmente, Clayton Moore
somente fez lembrar e enaltecer a figura do grande herói que, ao invés de
morrer com Moore, se perpetuou com ele pois ambos sempre serão lembrados como
uma só figura lendária galopando pelas pradarias e deixando seu imortal grito
HI-YO, SILVER!!!
O selo homenageando o Cavaleiro Solitário; Clayton Moore no final de sua vida vestido como o herói com quem se identificou inteiramente. |
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