Nicholas Ray tornou-se um diretor célebre quando tratou da rebeldia dos adolescentes, num tempo em que isso era tabu no cinema. Seu “Juventude Transviada” (Rebel Without a Cause), 1955, deu o que falar e praticamente abriu as portas do cinema para analisar o comportamento dos jovens. Logo a seguir Ray tentou fazer o mesmo em um western chamado “Quem foi Jesse James” (The True Story of Jesse James), filmado em 1956 e lançado em 1957. Ray pretendia que James Dean interpretasse Jesse James, uma vez que o diretor queria dar um tom de rebeldia à vida do lendário fora-da-lei. James Dean faleceu antes e Robert Wagner, sem o carisma de Dean acabou protagonizando Jesse James, enquanto seu irmão Frank foi vivido por Jeffrey Hunter. Na versão de “Jesse James” de 1939, estrelada por Tyrone Power (Jesse) e Henry Fonda (Frank), os irmãos James tornaram-se malfeitores devido aos acontecimentos sócio-econômicos que ocorriam nos estados do Sul derrotados pelas forças nortistas americanas na Guerra Civil. Em “Quem Matou Jesse James”, Ray tentou mostrar que os irmãos foram atraídos para a criminalidade por não conseguirem se enquadrar num mundo em que os jovens não tinham vez, restando a eles apenas obedecer. Portanto Ray descobriu uma causa para os irmãos sulistas jovens e rebeldes. A 20th Century-Fox, que produzira a versão de 1939, dirigida por Henry King, também produziu o western de Ray que antes de “Juventude Transviada” já havia chamado bastante a atenção da crítica, especialmente com o intrigante western “Johnny Guitar”. Mas a Fox não ficou satisfeita com o trabalho de Nicholas Ray em “Quem Matou Jesse James” e drasticamente editou o filme, tirando do mesmo a interpretação psicológica que Nicholas Ray havia dado ao filme. A Fox reduziu esse western de 105 para 92 minutos, o que fez com que Ray nunca aceitasse “Quem Matou Jesse James” como um filme seu e o relegasse a um plano inferior na sua cinematografia.
Gloria Grahame e Nicholas Ray |
RAY E OS ADOLESCENTES - Poucos diretores tentaram compreender os jovens como Nicholas Ray. Desde seu primeiro filme que foi “Amarga Esperança” (They Live by Night), com Farley Granger e Cathy O’Donnell, não exatamente adolescentes, mas já se defrontando com a inadequação em um mundo adulto. E veio “Juventude Transviada”, em que Nicholas Ray tentou tão inteiramente compreender os jovens que até manteve um tórrido relacionamento amoroso com Natalie Wood, não respeitando nem a gritante diferença de 27 anos entre suas idades. Ele tinha 43 e ela 16. Dennis Hopper queria matá-lo pois a volúvel Natalie era, então, sua namorada. Interessante que, nesse affair, Ray não procurou compreender o jovem e já incompreendido eviolento Dennis Hopper. Mas Nicholas Ray se entendeu bastante bem com James Dean e com Sal Mineo, dos quais se tornou grande amigo e mentor. Poucos diretores teriam a coragem que teve Ray, ao colocar na tela um gay ainda adolescente interpretado por Sal Mineo. Tanto e tão profundamente Ray entendia os adolescentes que, quando encontrou seu filho do primeiro casamento (Anthony Ray), então com 13 anos, na cama com sua esposa, a atriz Gloria Grahame, Nicholas Ray não tomou nenhuma atitude passional, como teria tomado aquele personagem de Lee Marvin que jogou café fervendo no rosto de Glória em “Os Corruptos” (The Big Heat). Ray separou-se da inquieta atriz, é verdade, mas ninguém saiu mortalmente ferido do escândalo. Difícil mesmo deve ter sido para Ray ser trocado pelo filho já que Anthony Ray casou-se com Gloria Grahame em 1960 e com ela viveu por 14 anos, enquanto Gloria e Ray ficaram casados apenas quatro anos. Gloria era uma madura mulher de 37 anos e o filho de Nicholas Ray mal tinha completado 20 anos quando se casaram. A única atitude de Nicholas foi pedir a guarda do filho Timothy que ele tivera com Gloria pois sabe-se lá o que poderia passar pela cabeça da ex-mulher.
Ray dando um tapinha... |
PROFESSOR MUITO LOUCO - A trajetória de Nicholas Ray como diretor teve um final prematuro pois o cigarro e as drogas minaram sua saúde. Depois de “O Rei dos Reis” (deixar Nick Ray filmar a vida de Cristo foi uma temeridade...) e “55 Dias em Pequim” a carreira (cinematográfica) de Ray estava acabada. Nesta última superprodução Ray teve um ataque cardíaco que o afastou do filme. O antigo desafeto Dennis Hopper foi quem ajudou Nicholas Ray conseguindo que ele passasse a ministrar aulas na Universidade de Nova York. O homem que deu espaço para os jovens e seus problemas nas telas, era agora professor de cinema de alunos como Jim Jarmusch (diretor do controvertido western “Dead Man”, com Robert Mitchum). Como professor, Nicholas Ray pedia aos seus alunos que fumassem maconha durante as aulas para melhor interpretar suas teorias. E depois tem gente que ainda diz que a juventude é que é rebelde.
A Gloria Grahame era realmente bonita e o Ray extradiordinariamente feio, rs! Ótimo texto. Vi uma vez essa versão de Jesse James. O que dizer da fita com Brad Pitt?
ResponderExcluirDo Ray o meu favorito será sempre "Delírio de Loucura". Prefiro um rebelde anos 50 do que um rebelde do western quando a fita é assinada por Nicholas Ray.
Parabéns pela dedicação. O único blog de faroeste da região. Linkei seu blog. Gostaria de uma parceria entre links?!
Abs.
Rodrigo
http://cinemarodrigo.blogspot.com/
Não consigo entender porque cruxificam de uma forma mortal um homem, neste caso Nicholas Ray, apenas porque ele resolveu viver a vida que achou que era a melhor para ele viver. Afinal a vida era dele e, ainda hoje, 32 anos depois de sua morte, ainda se fala sobre o que este homem fez ou deixou de fazer, porque fez, o que deveria ter feito, o que não deveria e muito mais. Caramba!!!
ResponderExcluirParece um execrado na vida, um criminoso da pior espécie, um verme indesejável no meio dos humanos! E vejam; mesmo que estejamos vivendo num mundo apinhado de tarados, assassinos, criminosos de mil espécies, homicidas, de muitos Hytler's e Sadan's Russein's, terroristas como Bin Laden e muitos milhões de outros parricidas, matricidas, pais que estupram filhas, mães que aceitam ir para a cama com filhos, irmãos com irmãos e milhoes de errantes mais. Mas não. Apenas por esse homem, a quem deveriamos estar apenas o elogiando pelos belos e grandes filmes que fez, ficamos aqui expondo suas mazelas como se fossemos todos uns santos e nenhum mal ou erro cometemos em nossas vidas.
Vão ler isso e comentarem; o homem está irado!
E estou. Nunca vi uma coisa assim! Nem que ele fosse um Jeff Chandler, que a ex-mulher disse que ele gostava de usar roupas femininas quando iam para a cama. Nem um Clark Gable que, segundo li, era uma das mais famosas maricas de Hollywood. Mas desse, quase ninguém fala. Nem um James Dean, um Vincente Minelli, um Rock Hudson!!! Não. Quase nunca falam destes. Porém, toda leitura que leio sobre Nicholas Ray é para por o cacete na cabeça dele. Afinal: o que fez ele de tão escabroso assim que muitos de nós não fizemos? Porque foi ele para a cama com uma garota mais jovem que ele? E daí? Foi porque ela quis ir. Que homem não gosta de ir para a cama com uma mulher mais jovem que ele? E então? Ele pegou o filho com sua mulher na cama? Onde ele errou? Errou ela, que era uma cachorra. Mas ninguém fala dela. Fala dele, porque era seu filho quem estava montado nela. Por Deus! Quantas vezes isso acontece no dia a dia? Ou malham ele porque fumava maconha? Me respondam o que ele fez que quase todos os jovens, e muitos não tão jovens assim, de hoje não faz?
Então? Que grande mal este homem cometeu na sua vida? Onde ele errou tão desmoronadamente que, mesmo depois 32 anos de sua morte, precisemos estar falando do que ele fez ou deixou de fazer, ao inves de estarmos aqui pondo em criticas seus lindos e bons filmes?
Nicholas Ray foi um grande diretor. Criou excelentes filmes e teve uma vida para viver, que viveu da melhor forma que ele escolheu. Afinal; ERA A VIDA DELE. E NINGÚÉM PODERIA VIVER SUA VIDA POR ELE. Se ele se matou ou acabou com sua saude com seus vicios, foi esta a escolha que ele fez. E digo; muitos fizeram muito pior que ele neste mundo e destes ninguém fala tanto!!!
jurandir_lima@bol.com.br
juntar todos os artigos do blog e editar um livro.Sua forma de escrever,comentar,detalhes e as fotos não são comuns,são extraordinários
ResponderExcluirQuem Matou Jesse James é o nome do filme do Samuel Fuller. O do Nicholas Ray se chama Quem Foi Jesse James?
ResponderExcluirOlá, Maltese
ResponderExcluirVocê tem toda razão, The True Story of Jesse James recebeu no Brasil o título que você indicou, ou seja, Quem Foi Jesse James?
Obrigado pela correção - Darci
Ainda sobre o título desse faroeste de Ray, vale lembrar que foi lançado em DVD como A Justiça de Jesse James.
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