Lobby-card com Tommy Ivo e Charles Starrett, o Durango Kid. |
Charles Starrett interpretou Durango
Kid em 60 westerns-B da Columbia Pictures e essa série de filmes é lembrada por
ter sido uma das mais econômicas que se conhece num segmento que primava
justamente por gastar o mínimo possível. Na série ‘Durango Kid’ não havia uso,
mas sim abuso de cenas de ‘stock’ por ordem do mogul do estúdio Harry Cohn. Em alguns exemplares da série estrelada
por Charles Starrett praticamente metade do filme era feito com cenas
aproveitadas de outros faroestes com o herói mascarado. E mesmo cenas de outros
filmes, alguns bastante conhecidos do público, eram utilizadas sem nenhum
acanhamento pela Columbia. E ainda assim Charles Starrett esteve sempre
presente (c0m exceção de 1943) na enquete anual que a Motion Picture Herald
fazia junto ao público das matinês para eleger os dez mocinhos favoritos do
cinema. Isto de 1937, quando Starrett apareceu pela primeira vez na enquete,
até 1952 quando ela deixou de ser feita. No western-B “Laramie”, que no Brasil
teve o título “A Pista do Renegado”, a Columbia teve o desplante de usar cenas
de “No Tempo das Diligências” (Stagecoach), conseguindo o milagre de colocar
John Wayne num western da série ‘Durango Kid’.
Acima Bob Wilke, Jay Silverheels e Rodd Redwing; abaixo Charles Starrett, Myron Healey e Fred F. Sears. |
Batedor
traiçoeiro - “A Pista do Renegado” traz Charles Starrett como sempre
interpretando um ‘Steve’, desta vez Steve Holden. Designado pelo Comissário de
Paz para reverter a situação que toma rumos perigosos com escaramuças entre
brancos e índios, Steve chega ao Forte Sanders, situado a Oeste de Laramie. As
negociações de paz começam com uma reunião com a presença do Coronel Dennison
(Fred F. Sears) comandante do Forte e com o chefe índio. Este, em plena
reunião, é alvejado por um tiro de espingarda e morre. O autor do assassinato é
Cronin (Robert J. Wilke) o batedor do Forte Sanders. L.D. Brecker (John Diehl)
é o agente responsável pela concessão de terras em Laramie, mas Brecker sabe
que pode ganhar muito mais dinheiro contrabandeando rifles para os índios em
troca de peles. Para isso Brecker se mancomuna com Cronin e o plano dos dois
bandidos é provocar os índios para eles declararem guerra. Para a guerra os
índios precisam dos rifles. O novo chefe dos índios é Running Wolf (Jay
Silverheels) que agora com seus bravos fortemente armados com os rifles fustiga
o Exército fazendo prisioneiros e atacando diligências. Steve Holden se
transforma em Durango Kid e tenta evitar a guerra, mas quem resolve a questão é
mesmo Steve, salvando a diligência que conduz o Comissário Briggs (Nolan
Leary). A diligência é perseguida pelos índios até a providencial chegada da
Cavalaria, a prisão de Cronin e o restabelecimento da paz.
Charles Starrett entre os bandidos Ethan Laidlaw, Robert J. Wilke, John L. Cason e John Diehl; na outra foto Starrett e Bob Wilke. |
Smiley Burnette e Tommy Ivo |
Bota
denunciadora - Acima da média na trama mesmo partindo de um roteiro
simples, “A Pista do Renegado” ainda chama os índios de ‘demônios vermelhos’ e
faz deles os responsáveis pela morte da esposa do coronel Dennison. Menos mal
que alguns homens brancos sem escrúpulos são mostrados como os verdadeiros
semeadores da discórdia e fomentadores da guerra. A pista do renegado do título
refere-se à marca do salto gasto da bota do batedor-bandido Cronin, marca identificada
por Steve Holden. Fica o sapateiro Smiley Burnette incumbido de descobrir a
quem pertence a bota com salto defeituoso. E para a garotada cujos sonhos eram
povoados por fortes apaches, uniformes da Cavalaria e a vida heroica dos
soldados, o tratamento dispensado ao menino Denny Dennison (Tommy Ivo) é
desestimulante. E Denny é quem deixa uma pista (um soldadinho de chumbo) para
se chegar ao esconderijo onde foi feito refém. O garoto Tommy Ivo, então com 12
anos, é quem torna real na tela a imaginação de tantos e tantos meninos de cavalgar
ao lado de Durango kid e mais ainda, vestido como soldado da Cavalaria.
Cavalgada de Tommy Ivo; Smuley Burnette e Charles Starrett. |
Acima Robert J. Wilke; abaixo Elton Britt. |
Muita
maldade em 55 minutos - “A Pista do Renegado” tem alguns
ingredientes que o diferenciam da maior parte dos filmes da série ‘Durango
Kid’. A começar pela presença menor do herói mascarado vestido de preto montado
em seu magnífico cavalo branco. Menos Durango Kid e mais Charles Starrett o que
é muito bom também, com Starrett dispensando dublês e mostrando porque era dos
mocinhos mais queridos do cinema. E não é que Smiley Burnette está menos enfadonho
que em outros filmes, contando com a ajuda de George Lloyd nas gags. Até mesmo
as duas canções que ele canta são muito bem encaixadas nos intervalos da trama.
E falando em música, “A Pista do Renegado” é oportunidade única para se ver e
ouvir na tela Elton Britt, também em duas canções, uma delas com um sensacional
yodel que já vale o ingresso. Fred F. Sears deixa a direção para Ray Nazarro e
interpreta o comandante do Forte Sanders. Meses antes de ser o ‘Tonto’ da série
‘The Lone Ranger’, Jay Silverheels interpreta o novo chefe da tribo, com uma
alegoria na cabeça que mais de 60 anos depois Johnny Depp exageraria no recente
“The Lone Ranger”. Mas o melhor de tudo é mesmo o vilão da história,
interpretado por Robert J. Wilke que já permite antever quanta maldade faria em
filmes próximos. Wilke assassina um chefe índio, trai a confiança do superior,
faz parte de uma quadrilha, traveste-se de índio e só não é mais cruel porque o
filme tem apenas 55 minutos de duração.
Smiley, Starrett, George Lloyd, Fred F. Sears, Tommy Ivo e Jay Silverheels; Robert J. Wilke disfarçado de índio; George Lloyd e Smiley Burnette; Fred F. Sears e Tommy Ivo. |
Starrett e Burnette; Charles Starrett com camisa de Ringo Kid. |
Cenas
‘emprestadas’ - Se como bom western-B “A Pista do Renegado” cumpre seu
intento de divertir sem maior compromisso, nos últimos dez minutos o filme se
transforma numa grande surpresa para o espectador. A ação se passa a Oeste de
Laramie, mas repentinamente uma diligência cruza o Monument Valley puxada por six black horses. A imagem é por demais
conhecida, imortalizada na galeria dos momentos inesquecíveis do cinema por
John Ford. Os índios que atacam a diligência gora são navajos, parecidos com os
de “No Tempo das Diligências”. Parecidos não, são os mesmos... Açoitando os
cavalos é visto Buck (Andy Devine) e atirando pedras nos animais o xerife
Curley (George Bancroft), ambos numa tomada por trás da boleia. Ops! Charles
Starrett troca sua camisa sem nenhum enfeite, a mesma que parece usar desde seu
primeiro western por uma camisa azul ou vermelha (o filme é em preto e branco),
idêntica à de Ringo Kid (John Wayne) e entra na diligência como se fosse o Duke
no clássico de Ford. Passando para cima da diligência é John Wayne,
inconfundível, mesmo porque a cena é de “No Tempo das Diligências”, assim como
os momentos mais emocionantes da perseguição, não faltando nem as proezas dos
dublês Yakima Cannut e Cliff Lyons. Qualquer criança nas matinês em que foi
exibido “A Pista do Renegado” percebe que foram usadas cenas de outro filme,
mas a montagem caprichada torna tudo aceitável e como a garotada deve ter
vibrado muito com as imagens extraídas do grande western de 1939.
Duke
e Durango Kid juntos - “No Tempo das Diligências” foi
produzido por Walter Wanger e distribuído pela United Artists e é no mínimo
estranho que dez anos depois pudesse ter sequências ‘emprestadas’ sem
nenhuma cerimônia pela Columbia. Muito cedo para o filme ter caído em domínio público, “A
Pista do Renegado” representou uma espécie de vingança de Harry Cohn contra
John Wayne. No início de sua carreira o Duke foi desprezado pela Columbia e
jurou que jamais trabalharia para Harry Cohn, o chefão do estúdio. De forma
indireta Wayne acabou participando de um ‘Durango Kid’. Quem ganhou com isso,
evidentemente, foi “A Pista do Renegado”, western-B como sempre produzido por
Colbert Clark e com roteiro do profícuo Barry Shipman que escreveu inúmeros
roteiros para a série ‘Durango Kid’. E ganharam também os fãs da série que puderam
assistir a um ‘Durango Kid’ que tem até a presença de John Wayne.
Robert J. Wilke e Charles Starrett |
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