UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

5 de outubro de 2011

BARRIE CHASE EM “BONANZA”


O amigo Ivan Peixoto, Batmaníaco e seguidor deste blog, comentou que muitos artistas participaram dos 120 episódios da série “Batman” que ficou no ar por três temporadas. Fazendo um paralelo entre “Batman” e “Bonanza” percebe-se porque “Bonanza” é considerada uma das mais bem sucedidas séries da história da TV. “Bonanza” ficou no ar por longas 13 temporadas e meia com um total de 430 episódios, todos eles com 50 minutos de duração. Isto significa que os Cartwrights tiveram um número gigantesco de atores e atrizes como convidados que haviam sido muito famosos no cinema ou ficariam famosos no futuro (Lee Marvin, Charles Bronson, James Coburn, para lembrar só de alguns). No entanto assistir aos episódios de “Bonanza” tem sabor especial para aqueles cinéfilos que gostam de conhecer também os artistas menos conhecidos como por exemplo Barrie Chase.

Barrie Chase e o papai, grande escritor de
westerns, Borden Chase
FILHA DE PEIXE PEIXINHO NÃO É - Se você não sabe quem é Barrie Chase, não fique aborrecido pois muita gente não conhece a filha de Borden Chase. E se você não conhece Borden Chase, não fique chateado pois nem todo mundo sabe quem ele é. Mas certamente você, fã de faroestes, assistiu “Rio Vermelho”, “Winchester 73”, “E o Sangue Semeou a Terra”, “Vera Cruz” e “Homem Sem Rumo”, todos clássicos absolutos do gênero westerns. Todos esses faroestes foram filmados a partir de histórias e/ou roteiros de Borden Chase, que também escreveu ou roteirizou “Montana, Terra Proibida”, “Região do Ódio”, “No Velho Colorado”, “Punido pelo Próprio Sangue”, “A Passagem da Noite” e muitos outros faroestes, dramas e aventuras. Borden Chase nasceu em 1900 e fez de tudo na vida, tendo sido até motorista de gângsters, antes de se tornar escritor famoso. Em 1933, antes ainda de escrever seu primeiro roteiro, Borden Chase teve uma filha, a quem deu o nome de Barrie. Morando com a família em Nova York, Borden matriculou a filha Barrie numa escola de balé pois a menina queria ser bailarina clássica. Porém Borden decidiu, em 1939, se mudar para o outro lado da América, mais precisamente para um rancho em Encino, na Califórnia. A vida rural no Oeste inspirou Borden a escrever as magníficas histórias que resultaram nos grandes westerns que conhecemos, mas de certa forma tornou mais difícil a realização do sonho da filha Barrie. Em sua adolescência na Westlake School, Barrie continuou a estudar dança, porém se dedicava mais à natação e como toda jovem imaginava um dia chegar a ser uma nova Esther Williams. Filha de escritor e morando encostado de Hollywood, o sonho de Barrie não era assim tão impossível. Com aquele arzinho da futura estrela Natalie Wood, Barrie sabia que o cinema oferecia oportunidades para quem soubesse dançar pois os musicais nunca estiveram em maior evidência que no início dos anos 50, especialmente naquele estúdio comandado por Louis B. Mayer.

A odalisca Barrie Chase
CHORUS-GIRL EM GRANDES MUSICAIS - Barrie nem precisou pedir ajuda a seu pai pois certo dia um caçador de talentos da Metro-Goldwyn- Mayer foi até a escola de danças, viu Barrie dançar e a escolheu para fazer parte de um número de dança no filme “Scaramouche”, em 1952. O estúdio a utilizou também nas coreografias dos musicais “A Lenda dos Beijos Perdidos”, “Bem no Meu Coração”, “Estranho no Paraíso”, “O Belo Sexo”, “Meias de Seda”, “Les Girls” e “A Bela do Bas-Fond”. Como a Metro não a contratou com exclusividade Barrie Chase dançou também em filmes de outros estúdios como “Natal Branco”, “Papai Pernilongo”, “O Encanto de Viver”, “Meus Dois Carinhos” “Noites de Mardi-Grass” (em que Barrie interpretou a lendária stripper Torchy LaRue) e outros. Barrie Chase dançou até em “Sangue de Bárbaros”, famoso filme em que John Wayne interpretou Genghis Kahn. No final dos anos 50 os musicais perderam a força e poucos deles foram produzidos, sendo que “Can-Can” foi um deles. Barrie Chase foi contratada para interpretar ‘Claudine’ e teria dois números especiais de dança no filme, mas estranhamente a produção tirou de Barrie a dança do paraíso, que foi filmada com Shirley MacLaine. Barrie não aceitou a troca e pediu rescisão de contrato que havia assinado com a 20th Century-Fox.

Barrie acima com Bob Mitchum
em "O Círculo do Medo";
a preferida de Fred Astaire;
hilariante com Dick Shaw em
"Deu a Louca no Mundo"
PREFERIDA DE FRED ASTAIRE - Durante as filmagens de “Meias de Seda”, o astro do filme Fred Astaire não deixou de notar a participação de Barrie Chase. Quando em 1958 Fred fez seu primeiro especial para a televisão, chamado “Uma Noite com Fred Astaire”, o ator-dançarino exigiu que sua partner fosse Barrie Chase. Fred fez ao longo da década seguinte mais três especiais para a TV e todas as vezes sua partner foi Barrie Chase. Essa escolha de Astaire representou o prêmio maior que alguma dançarina pudesse desejar na carreira. Barrie Chase conseguiu um importante papel no filme biográfico “A História de George Raft” e a seguir teve uma pequena participação como atriz em “O Círculo do Medo” (com Gregory Peck e Robert Mitchum), começando a ser notada pelo público como atriz, isto apesar de sua evidente timidez. E em 1963 veio “Deu a Louca no Mundo”, tresloucada comédia com 154 minutos de situações hilariantes e com grande elenco liderado por Spencer Tracy. Um dos momentos mais engraçados desse filme é quando um maluco interpretado por Dick Shaw dança freneticamente um twist acompanhado por sua namorada (Barrie Chase). Os dois alienados pela música em volume muito alto não conseguem ouvir o telefone tocando em incessantes chamados de Ethel Merman, a mãe de Dick Shaw no filme. Sem esboçar um único sorriso ou careta, Barrie Chase conseguiu fazer o público rir bastante naquela representação de uma jovem idiotizada.

Barrie detonando o chapéu de Hoss
DANÇANDO EM LA PONDEROSA - Em 1965 Barrie Chase teve a honra de ser a única mulher do elenco de “O Vôo da Fênix”, dirigido por Robert Aldrich, com James Stewart, Dan Duryea, Ernest Borgnine e um grande elenco. Nesse mesmo ano ocorreu então a participação de Barrie Chase no episódio da série “Bonanza”, episódio intitulado “A Bailarina” (The Ballerina), escrito por seu irmão Frank Chase especialmente para ela. “Bonanza” que colocou os Cartwrights em aventuras de todos os tipos teve enfim um episódio em que a arte da dança é levada para a Fazenda La Ponderosa e também para o saloon de Virginia City. E Barrie Chase teve (quem diria, num faroeste!) a maior oportunidade de toda a sua carreira, dançando e encantando o público da série. Atuam ainda no episódio “The Ballerina” os atores Warren Stevens, Douglas Fowley e Hugh Sanders. E o destaque entre os Cartwrights foi Dan Blocker, o Hoss.

Barrie Chase em 'A Bailarina', episódio de "Bonanza";
à esquerda Douglas Fowley (no meio) e Warren Stevens
E ninguém mais viu
Barrie Chase
FINAL DE CARREIRA AOS 33 ANOS - Em sua vida pessoal Barrie Chase havia se casado e divorciado por duas vezes, até que em 1964 se casou com Richard Kaufman, um importante empresário do ramo da medicina dental. Em 1966, aos 33 anos, Barrie Chase decidiu abandonar para sempre a carreira artística para cuidar do marido e do filho, vivendo uma vida bastante confortável e podendo se dar ao luxo de fazer um tour de bicicleta pela Europa, passeio que durou nove meses pedalando. Em 1978 John Travolta encantado com Barrie Chase queria que ela participasse de "Nos Tempos da Brilhantina", mas ela gentilmente declinou do convite. Barrie está atualmente com 78 anos e vive em Venice, na Califórnia. Seu pai Borden Chase faleceu em 1971, aos 71 anos de idade. Sempre vale à pena assistir “Bonanza” e Barrie Chase é uma prova disso...


6 comentários:

  1. Há quanto tempo que não passava por aqui! Esses dias li um artigo sobre O Grande Roubo do Trem e me lembrei na hora deste teu espaço tão rico em conteúdo. Bonanza é um clássico, vez ou outra paro pra assistir no canal TCM. Post mais que merecido a Barrie.

    ResponderExcluir
  2. Bela homenagem a Barrie, nem lembraria desse nome se perguntado. Darci, acho que Bonanza teve 14 temporadas, só perdendo em longevidade para Gunsmoke, com seus 20 anos e 635 episódios. Nos anos 60, muitas séries iniciavam em p&b e somente nas temporadas seguintes eram produzidas em cores. Bonanza já estreou com a nova tecnologia em 1959, fruto da parceria da NBC com a empresa RCA, interessada na venda de seus televisores.
    Bonanza quase foi cancelada no seu início e precisou administrar Pernell Roberts e seus constantes atritos com os produtores, diretores, roteiristas e colegas, mas diga-se a seu favor que muitas de suas reclamações visavam aprimorar os roteiros e consequentemente a própria série.
    Quanto a Batman, é verdade, vários atores de faroestes, lembrados tão bem por ti nesse blog, maracaram sua presença, mas isso fica para outra bat-hora. Um abraço.

    ResponderExcluir
  3. Rubi, além de boas histórias, Bonanza tem esse aspecto que comentei com o Ivan que é de rever tanta gente boa do cinema (e da própria TV), gente meio esquecida.
    Ivan, assistindo-se a todos os episódios das cinco primeiras temporadas no TCM, dá pra ver que o Pernell Roberts era mesmo colocado em segundo plano. Na quinta temporada só dá Hoss como principal em quase todos os episódios. Não é à toa que o Pernell se encheu e saiu da série. Trabalho em grupo não é fácil, sempre gera guerra de egos. Mas quem mostrou talento de homem de TV foi o Michael Landon com a série "Little House in the Prairie".
    abraços - Darci

    ResponderExcluir
  4. Como é possivel eu ter visto 90% de tudo que Barrie Chase fez, sem que algo naquela mulher me chamasse a atenção?
    Uma mulher linda, filha de um pródigo escritor de faroestes (quantos filmes importantes ele criou em sua máquina de escrver!)E filmes que só hoje sei de onde sairam, e filmes que vi com entusiasmo e benquerência. Incrivel como este blog nos abre os olhos, nos mostra o que vimos sem que observássemos atentamente, nos aponta coisas que ficamos enlouquecidos em saber, nos induz a ir à luminosidade do cinema e refletir quantas coisas deixamos para trás apenas para nos euforizar com as fitas, com os atores, os tiros, as lutas, as cores, as emoções de um filme belo e fantasioso, assim como muito mais.
    E como é linda esta mulher! E como seu pai foi, praticamente, dono de muitos dos bons filmes que vimos e não atentamos para isso.
    É tudo assim. É tudo sempre deste jeito! Se os livros, as revistas, as biografias não estivessem à disposição, por certo que todas estas belissimas e importantes informações sucumbiriam de nosso conhecimento.
    Bom ter memoria. Bom difundi-las. Bom nós, cinéfilos e comentaristas amadores, vir a saber de tantos acontecimentos, tantas passagens quase que mágicas. É tudo a pura magia do cinema e seus correlatos!
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  5. Eu sou um apaixonado por Barrie, ele tem um charme incrível! E dança maravilhosamente, ela deslisa pelo palco como se não tivesse peso nenhum, é só vê-la dançando com Frd Astaire!

    ResponderExcluir