UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

9 de setembro de 2012

CINE SAUDADE - ZEZINHO E OS FANTASMAS DA PENHA


300 réis era o preço da meia entrada para as
crianças no Cine Penha; abaixo Leônidas da
Silva é entrevistado por Raul Tabajara.
Faltava os 300 réis – Foi com nove anos de idade, exatamente em 1940, que o menino Zézinho foi pela primeira vez ao cinema para assistir a um faroeste com um mocinho chamado Buck Jones. E isso somente aconteceu pela bondade de Dona Aurélia, mãe de um outro menino também chamado José. A dupla Zé e Zezinho era inseparável em todas as brincadeiras que faziam pelas ruas de terra do bairro Cangaíba, próximo da Penha, especialmente nas peladas disputadas nos campinhos também de terra batida. Nesses momentos todos os meninos sonhavam em ser um novo Leônidas da Silva, o maior craque brasileiro daqueles tempos. Aos domingos a diversão dos garotos era ir à matinê no antigo Cine Penha, que ficava perto da Igreja Velha da Penha, quando eram exibidos filmes de mocinho e bandido e os emocionantes seriados. Quer dizer, quase todos os meninos íam pois os pais de Zezinho não podiam se dar ao luxo de gastar 300 réis que era quanto custava a entrada da matinê.

A antiga Igreja da Penha, próxima do Cine Penha.

Tuffy, goleiro do SC Corinthians Paulista,
apelidado de 'Satanás' e que era o
proprietário do Cine Penha.
O fantasma de Tuffy – Dona Aurélia estranhou que a dupla Zé e Zezinho se separava nos domingos à tarde de vez que Zezinho nunca ia ao cinema com seu filho. Quando soube da razão do amiguinho de Zé não ir ao cinema, Dona Aurélia pediu que o menino avisasse seus pais que no domingo ele iria sim ao Cine Penha e que ela lhe daria os 300 réis da entrada. Autorizado por seus pais, Zezinho se admirou com o tamanho do cinema que parecia gigantesco para ele que nunca havia entrado num lugar como aquele. Zezinho ouviu dos outros meninos que o goleiro Tuffy tinha construído o Cine Penha, do qual foi o dono até falecer. As histórias sobre Tuffy enchiam Zezinho de medo pois esse goleiro tinha o apelido de ‘Satanás’ porque se vestia todo de preto e usava longas costeletas. Tuffy tinha sido goleiro do Palmeiras, do Santos FC e do Corinthians Paulista e morrera de pneumonia em 1935, sendo enterrado com a camisa do Corinthians. Para amedrontar o pequeno Zezinho os meninos maiores diziam que quando se apagavam as luzes para o início do filme o fantasma de Tuffy costumava passear pelo cinema e se sentar numa cadeira vazia. Por essa razão Zezinho queria sempre sentar entre os amiguinhos para evitar a companhia assustadora do fantasma de Tuffy.

O assustador Palacete Rodovalho e o Coronel
Antônio Rodovalho no destaque.
O Palacete Rodovalho – À saída das matinês outro medo tomava conta de Zezinho que também ouvira histórias sobre o tenebroso Palacete Rodovalho. Ele sabia que naquele casarão com jeito de assombrado havia morrido o tal Coronel Antônio Rodovalho. Zezinho nem olhava para o tal Palacete Rodovalho que se destacava na elevada paisagem dos 1.500 metros de altitude do local chamado Alto da Penha. Durante a caminhada da Penha para o Cangaíba, Zezinho e seu amigo Zé lembravam as emoções dos seriados e faroestes que haviam assistido na matinê. Zé e Zezinho assistiram a alguns seriados de Flash Gordon e de Dick Tracy que eram seus preferidos. Sempre havia um seriado novo desses heróis e eles sabiam até mesmo os nomes dos atores Larry 'Buster' Crabbe e Ralph Byrd. Entre os mocinhos dos far-wests os mais queridos eram Buck Jones e Tom Mix, isto até eles conhecerem Roy Rogers que se tornou o maior ídolo dos dois meninos. Não havia nada melhor que ver na tela Roy Rogers com seu cavalo Trigger e ainda se deliciar com as balas puxa-puxa compradas com uma moeda extra dada por Dona Aurélia.

Flash Gordon (Larry 'Buster' Crabbe) ladeado por Dale Arden (Jean Rogers) e
pelo Rei Vultan (John Lipson); mais afastados a Princesa Aura (Priscilla Lawson)
e o Imperador Ming (Charles Middleton), na aventura no Planeta Mongo.

Hattie McDaniel em "A Canção do Sul".
A perda do amiguinho – Numa pelada de futebol o amigo Zé machucou o pé e foi levado para casa. A ferida não sarava e parecia até que Zé estava de castigo pois não podia mais sair para brincar e nem mesmo ir ao grupo escolar. Zezinho ficou muito mais triste e preocupado quando soube que Zé estava doente de uma doença chamada gangrena que tinha dado no pé do amigo. Os dias se passavam e nada do amiguinho melhorar, tendo sido levado para o hospital onde ocorreu uma coisa ainda mais triste: Zé teve a perna amputada. Zezinho não entendia como isso podia ter acontecido com o amigo. Mesmo assim torcia e rezava para ele voltar logo para casa. Dias depois, porém, veio a terrível notícia que Zé havia morrido. Zezinho perdia o querido amigo e a dor era tão grande que nem se lembrava mais de ir à matinê que já não tinha a mesma graça. Alguns anos depois Zezinho voltou ao Cine Penha que exibia um filme que ele nunca se esqueceu chamado“Canção do Sul”, que era do Walt Disney. Zezinho achava engraçado que esse Walt Disney nem era ator e mesmo assim era muito querido pelo público. Zezinho tornou-se rapaz mas continuou sendo chamado pelo apelido e um dia assistindo a uma reprise de “E o Vento Levou”, lembrou-se da ‘Tia Tempy’, aquela adorável negra gorda e sorridente de “Canção do Sul”, interpretada pela atriz Hattie McDaniel.

Ingrid Bergman, Katina Paxinou e Gary Cooper
em "Por Quem os Sinos Dobram".
Uma insistente lembrança - Adolescente ou homem feito, Zezinho assistiu a filmes dos quais nunca se esqueceu, entre eles “Por Quem os Sinos Dobram” e “Casablanca”, no mesmo Cine Penha ou no mais novo Cine São Geraldo, no mesmo bairro. Agora já sem medo da presença do fantasma de Tuffy ou do Coronel Rodovalho, mas com imensa saudade do amiguinho Zé. E sempre que José Bernardo tem oportunidade de assistir seriados de Flash Gordon ou Dick Tracy, e filmes de Buck Jones ou Roy Rogers, é inevitável aquela lembrança do amiguinho Zé, a quem deve a alegria de ter ido tantas vezes ao cinema nos dias inesquecíveis da infância.


Ídolos do menino Zezinho: Buck Jones, Roy Rogers, Tom Mix e Ralph Byrd.
José Bernardo e alguns de seus quepes.

3 comentários:

  1. José Fernandes de Campos11 de setembro de 2012 às 20:04

    revi ontem a um western muito interessante O HOMEM COM A MORTE NOS OLHOS, dirigido por Burt Kennedy com Henry Fonda Keenan Wynn etc. Seria interessante que ele fosse analizado pelos cinefilos deste blog. Meio tosco mais com um principio ideológico interessante. é uma estoria do grande escritor E. L. Doctorow adaptada por Kennedy. Vale uma vista e comentários

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  2. José Fernandes de Campos11 de setembro de 2012 às 20:23

    Onte foi a noite de rever westerns. Outro que revi foi O TREM DO INFERNO/Breakheart Pass dirigido por Tom Gries (do muito bom WILL PENNY) com Charles Bronson, Ben Johnson, Richard Creena.Pura ação com uma luta sensacional entre Bronson e Archie Moore (que foi campeão de boxe). Mistura ladroes de armas, epidemia e um certo tom romantico entre Bronson e sua esposa na vida real Jill Ireland. Em tempo: o diretor de segunda unidade é o grande Yakima Cannut com música de Jerry Goldsmith e finalmente baseado numa estória de Alistair MacLean que teve tantos livros levados à tela como o frenetico DESAFIO DAS AGUIAS. Filme para ser revisitado.

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  3. José Fernandes de Campos11 de setembro de 2012 às 20:36

    Finalmente outro western revisto ontem e que me agradou ainda. O Retorno Sangrento/The Ride Back com Anthony Quinn e William Conrad. Tipo do faroeste psicologico porem com ação e diálogos bem centrad. Na produção Robert Aldrich e com a direção de Allen H. Miner & Oscar Rudolph, diretores não muito representativos mas conduzem a pelicula com grau de interesse elevado e os amigos não perderão tempo assistindo-o. Até de repente

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