O Canadá exportou para os Estados Unidos muitos astros do cinema famosos como Glenn Ford, Lorne Greene, Michael J. Fox, John Ireland, Raymond Massey, Joseph Wiseman, Rod Cameron, John Qualen, Walter Pidgeon, Christopher Plummer, Donald e Kiefer Sutherland, John Vernon, Leslie Nielsen e William Shatner. Foram também para os Estados Unidos os índios canadenses Jay Silverheels, Chief Dan George e Graham Greene. Estamos falando dos astros mais antigos, claro, deixando pra lá Jim Carrey e outros mais atuais. Entre as atrizes, merecem ser lembradas Fay Wray, Susan Clark, Ann Rutherford, Norma Shearer e Deanna Durbin. Nenhuma delas, porém, tão bonita como Yvonne De Carlo, figura constante nas aventuras das matinês, fossem essas aventuras westerns ou capa-espadas. E Yvonne estava também sempre presente nos devaneios dos pequenos fãs. Yvonne De Carlo nasceu na cidade de Vancouver, com o nome de Margareth Yvonne Middleton. Seu pai abandonou a família quando ela Yvonne era ainda criança sendo a menina criada pelos avós enquanto sua mãe trabalhava como garçonete. Ainda pequena aprendeu dança e na adolescência estudou Arte Dramática. Um descobridor de talentos a levou para Hollywood e mudou seu nome para Yvonne De Carlo. O ‘De Carlo’ veio de seu avô materno, o siciliano Michael De Carlo.
Cowgirl Yvonne e abaixo como Sephora em Os Dez Mandamentos |
EM BUSCA DO SUCESSO - Depois de três pequenos trabalhos no cinema, Yvonne estreou no clássico noir “Alma Torturada” (com Alan Ladd), da Paramount em 1942, aos 20 anos de idade. E continuou fazendo pontas em filmes como “A Sedução do Marrocos” (Yvonne é uma das aias da princesa Dorothy Lamour) e “Por Quem os Sinos Dobram”. Em 1943 conseguiu ver seu nome nos créditos pela primeira vez em “O Caçador da Fronteira" (Deerslayer), filme de aventuras baseado em história de James Fenimore Cooper em que ela Yvonne interpretou a Princesa Wah-Tah. Sua carreira custava a deslanchar, mesmo aparecendo em diversos filmes, como “Pelos Vales das Sombras”, de Cecil B. De Mille, com Gary Cooper, com Yvonne fazendo uma nativa da ilha de Java. Desgostosa com a Paramount, que não lhe dava maiores oportunidades, Yvonne passou pela Metro, aparecendo em “Kismet” (1944), interpretando uma pajem, desta vez da maravilhosa Marlene Dietrich. Mesmo com Marlene em cena ninguém deixou de notar a beleza da jovem de sobrenome italiano. Yvonne foi então contratada pela Universal e já em 1945 fez o principal papel feminino nos westerns “A Irresistível Salomé” (Salome Where She Danced) e “Era o Seu Destino” (Frontier Gal), ambos com seu compatriota, o gigantesco canadense Rod Cameron. A Universal pretendia que Yvonne De Carlo se tornasse uma rival de Maria Montez atriz apelidada de ‘Rainha do Technicolor’ e que alcançava grande sucesso com os chamados escapismos orientais em voga nos anos 40. Yvonne De Carlo nada ficava a dever à concorrente quanto à plástica e a sensualidade e a Universal a lançou como ‘A Nova Beleza do Deserto’ em “A Canção de Scherehazade”. Nessa mesma linha de filmes Yvonne protagonizou a seguir “A Escrava Sedutora”. Ainda em 1947 a Universal proporcionou a Yvonne a oportunidade de demonstrar seu talento dramático no hoje clássico filme sobre sistema penitenciário, que foi “Brutalidade” (Brute Force), dirigido por Jules Dassin e estrelado pela nova sensação masculina de Hollywood chamado Burt Lancaster. Em 1948 Yvonne estrelou “Casbah”, pretensa versão norte-americana de “Pepe Le Moko”. Em seguida Yvonne voltaria com toda força aos westerns em “Bandido Apaixonado” (Black Bart), ao lado de Dan Duryea; em “Astúcia de uma Apaixonada” (River Lady), outra vez ao lado de Dan Duryea e pela terceira vez com Rod Cameron; “A Escandalosa” (Calamity Jane and Sam Bass); “Rivais em Fúria” (The Gal Who Took the West), com Scott Braddy. Após esse ciclo de westerns Yvonne De Carlo participou de “Baixeza” (Criss Cross), clássico policial noir de Robert Siodmak em que ela novamente contracena com Burt Lancaster e o bandidão era Dan Duryea. Pode-se afirmar que a carreira de Yvonne De Carlo era um sucesso e seu nome era grande atração de bilheteria, tanto que nenhuma outra estrela, à exceção de Barbara Stanwyck, conseguiu ter tantas vezes o nome encabeçando os créditos do elenco. E foi assim nas duas aventuras com que ela fecharia a década de 40: “A Rainha dos Piratas” e “O Gavião do Deserto”, este com Richard Greene. Essa série de westerns e capa-espadas explica porque Yvonne era das poucas atrizes conhecidas pelos frequentadores das matinês onde sempre deveria passar um filme de ação nos programas duplos dos domingos.
NAMORANDO ROCK HUDSON - Nos anos 50 o cenário cinematográfico continuaria praticamente o mesmo para Yvonne que então chegava aos 30 anos. Estrelou os westerns “Coração Selvagem” (Tomahawk), com Van Heflin; “Prata Maldita” (Silver City), com Edmond O’Brien; “Pecadores de São Francisco" (The San Francisco Story) e “A Taberna dos Proscritos” (Border River), ambos com Joel McCrea; “Sob a Lei da Chibata” (Passion), com Cornel Wilde; “Escreveu seu Nome à Bala” (Shotgun), com Sterling Hayden e “Onda de Paixões” (Raw Edge), com Rory Calhoun. Yvonne atuou também nos filmes de aventura “Anjo Escarlate” e “Gigantes em Fúria”, tendo como galã o jovem Rock Hudson, cujo nome aparecia nos letreiros depois do nome de Yvonne. Outros filmes de aventura desse período foram “A Rebelião dos Piratas” (com John Ireland); “O Forte da Coragem”, com o argentino Carlos Thompson. Após o término de seu contrato de sete anos com a Universal, Yvonne De Carlo procurou outros gêneros de filmes, atuando em “Chama Imortal”, biografia do compositor Franz Liszt (vivido por Carlos Thompson); no musical da Metro “Sombrero”, mistura de nacionalidades, charme e talento com o mexicano Ricardo Montalbán, o italiano Vittório Gassman, a americana Cid Charysse e a bela canadense Yvonne, que também dançava; Yvonne foi à Europa estrelar as comédias “As Chaves do Paraíso” (com Alec Guinness) e “A Morte do Fantasma” (com David Niven), na Inglaterra. Estrelou também a produção franco-italiana “La Castiglione” (com Rossano Brazzi). Retornando aos Estados Unidos, Yvonne De Carlo atuou em “Um Amor Proibido”, produção da Republic Pictures e participou de um dos últimos filmes da RKO que foi “Destruí Minha Própria Vida”, com George Sanders. A imprensa especulava a respeito de seus casos, especialmente por ser ela uma das mulheres mais bonitas do cinema, namorar bastante e continuar solteira. A Universal distribuiu informações à imprensa espalhando que Yvonne De Carlo e Rock Hudson (com quem ela fez dois filmes) estariam tendo um caso que poderia terminar em casamento. As colunas de fofocas também envolveram o nome de Yvonne com outros galãs de Hollywood, mas para surpresa geral a bela canadense de 33 anos casou-se em 1955 com o stuntman Bob Morgan. Curiosamente Yvonne havia anteriormente namorado por muito tempo o outro stuntmen, o famoso Jock Mahoney. O próximo trabalho de Yvonne seria numa das maiores superproduções de todos os tempos.
DESTAQUE EM OS DEZ MANDAMENTOS - O novo filme de Cecil B. DeMille, “Os Dez Mandamentos”, seria o canto do cisne do veterano diretor de tantos filmes bíblicos. Por isso mesmo deveria ser o maior de todos, em cenários, trajes, cenas de ação, tudo com o luxo e esbanjamento característicos de DeMille. Todos os principais agentes de Hollywood se movimentavam tentando encontrar um papel para seus atores e atrizes contratados e Yvonne De Carlo conseguiu um dos papéis mais importantes da superprodução, interpretando 'Sephora', a esposa de 'Moisés'. Depois de “Os Dez Mandamentos” tudo indicava que Yvonne De Carlo ganharia finalmente o status de grande estrela junto ao público. De fato, após “Os Dez Mandamentos” Yvonne teve como galã Clark Gable em “Meu Pecado foi Nascer”. A seguir voltou à Itália para interpretar 'Maria Madalena' na superprodução “A Cruz e a Espada”, épico em que seu marido Bob Morgan faz o papel de 'Judas'. Yvonne De Carlo encerraria esta movimentada década de sua vida artística ao lado de Victor Mature em “Timbuktu”, que não alcançou o sucesso esperado. Aos quase 40 anos e com dois filhos pequenos para cuidar, Yvonne De Carlo afastou-se do cinema, passando a atuar esporadicamente como convidada em séries de TV. Uma dessas participações é histórica pois foi Yvonne De Carlo a convidada especial do episódio número um da primeira série em cores da televisão norte-americana que foi “Bonanza”. Com uma das maiores audiências de todos os tempos, no dia 12 de setembro de 1959 foi ao ar o episódio “Uma Rosa para Lotta”, com Yvonne De Carlo interpretando ‘Lotta Crabtree’ e batizando os Cartwrights em sua longa e bem sucedida série que duraria 14 anos. Mas a vida sempre reserva surpresas, algumas delas verdadeiras desgraças.
Acima com o marido Bob Morgan e um dos dois filhos do casal |
A TRAGÉDIA COM O MARIDO - Robert (Bob) Morgan era um dos mais ousados e experientes stuntmen e atuava na superprodução em Cineramana “A Conquista do Oeste” (How the West Was Won). Numa sequência do filme algumas toras se desprenderam das correntes que as amarravam em um vagão de trem de carga e uma das toras atingiu o marido de Yvonne De Carlo. Ele sobreviveu ao acidente mas teve amputada uma das pernas, o que representou o fim de sua carreira. Yvonne que estava afastada das telas precisou procurar novos trabalhos, voltando ao cinema na excelente companhia de John Wayne e Maureen O’Hara na adaptação de ‘A Megera Domada' para o western “Quando um Homem é Homem” (McLintock!), sob a direção de Andrew V. McLaglen. Yvonne esteve ótima, muito engraçada e até roubou cenas da dupla central desse faroeste. Para poder fazer frente às despesas com o tratamento do marido, Yvonne passou a aceitar qualquer tipo de trabalho, atuando em alguns dos westerns produzidos por A.C. Lyles, famoso por contratar apenas artistas veteranos. Trabalhando para Lyles Yvonne atuou em “O Juiz Enforcador” (Law of the Lawless), com Dale Robertson; em “Pistolas Inimigas” (Hostile Guns), com George Montgomery e em “Pistoleiros do Arizona” (Arizona Bushwackers), com Howard Keel, último dos 17 westerns de sua carreira. Nesse período difícil de sua vida pessoal, surgiu o convite para Yvonne interpretar Lily Munster, esposa de uma espécie de Frankenstein chamado Herman Munster (Fred Gwynne) na série “The Munsters”, que no Brasil recebeu o título de “Os Monstros”. Apesar de lançada simultaneamente com uma série parecida (“A família Adams”), “Os Monstros” obteve enorme sucesso de audiência e Yvonne De Carlo voltou a ter o merecido destaque como atriz na sua magnífica criação de Lily Munster. Jamais se viu na TV uma mulher tão ‘monstruosamente’ bonita como Yvonne De Carlo. Por outro lado, sua concorrente ‘Mortícia’, da “Família Adams”, era interpretada pela boa atriz mas feiosinha Carolyn Jones. As duas séries permaneceram por duas temporadas no ar e a Família Munster foi levada ao cinema em 1966 com o filme “Monstros, não Amolem!”, com o elenco da série da TV.
Lily Munster (acima) e Yvonne com um look de Julia Roberts |
A MULHER DE MUITOS SONHOS - Por incrível que pareça, uma mulher bonita como Yvonne De Carlo, ficou marcada, na fase final de sua carreira, por personagens de terror/horror e alguns dos trabalhos seguintes de Yvonne De Carlo foram “A Casa das Sombras”, produção argentina de 1976, “Satan’s Cheerleaders” (1977), com John Ireland; “Nocturna”, (1978) com John Carradine; “The Silent Scream” (1980), com Cameron Mitchell; “Play Dead” (1986) “Vultures” (1987); com Stuart Whitman; “O Monstro Canibal” (1988); “Os Anfitriões” (1988), com Rod Steiger; “Reflexo do Demônio” (1990), com Karen Black. Em meio a essa série apavorante de filmes Yvonne atuou em “Won-Ton-Ton, o Cão que Salvou Hollywood”, verdadeiro álbum de artistas do passado; e atuou em nova versão para o cinema da Família Munster, que se chamou “A Vingança da Família Monstro”, sempre ao lado de Fred Gwynne (Herman) e Al Lewis (Vovô Drácula). Fugindo desse tipo de filme que a estava estigmatizando no final de sua carreira, Yvonne De Carlo atuou em “Oscar, Minha Filha Quer Casar”, em 1991, comédia estrelada por Sylvester Stallone e com Kirk Douglas no elenco interpretando ‘Eduardo Provolone’. Yvonne pensou consigo mesma: “Se um astro como Kirk Douglas vira coadjuvante de Sylvester Stallone com o nome de ‘Provolone’, é porque é hora de encerrar a carreira pois o cinema já não é mais o mesmo...” E nunca mais o cinema voltaria à inocência daqueles dias em que Yvonne De Carlo era a Rainha das Matinês. Yvonne se divorciou de Bob Morgan em 1968 e não mais se casou, conservando-se uma muito bonita mulher madura. Yvonne faleceu em 8 de janeiro de 2007, aos 84 anos com uma trajetória brilhante naquele tipo de cinema que é puro entretenimento e que em última instância não deixa de ser a função maior da chamada 7.ª Arte. A contribuição maior de Yvonne De Carlo foi povoar os sonhos de seu enorme número de pequenos e grandes fãs. E precisava mais?
Seu blog é um verdadeiro achado! Confesso que sei muito pouco sobre este universo. Não consigo ir muito além de Cimarron Strip, The High Chaparral, Bonanza, James West e claro, não posso falar sobre séries do gênero sem mencionar John Wayne. Quero inclusive parabeniza-lo pelo blog, que tem um conteúdo fantástico. Certamente irá me auxiliar bastante em posts futuros. Vou aproveitar que estou aqui e ler um pouco mais sobre as estrelas/filmes/seriados.
ResponderExcluirAté mais!
A vida, o passar dos anos, o tempo; ele é titanico, tirano, perverso, implacável. E isso com todos nós, não apenas com fulano ou cicrano.
ResponderExcluirAssisti, ainda um adolescente, ao filme Escreveu Seu Nome A Bala. E fiquei louco com aquela mulher belissima, de rosto ovalizado, de traços suaves e com cada lindissimo ressalvo de beleza muito bem distribuidos em cada milimetro daquela face lisa e viçosa. E foi que lembrei que já havia visto aquela beleza nos braços ce Clark Gable em Meu Pecado Foi Nascer.
Pronto. Agora sabia seu nome; Yvone de Carlo. E nunca mais perdi um filme que passasse cujo nome deste monstro de beleza constasse do elenco. E daí foi um rosário de filmes e de deleite, vendo aquela mulher de, não apenas de um rosto formidável, mas com formas fisicas que, mesmo comigo ainda muito jovem, o conjunto daquela mulher já anuviava meus olhos de usura e deleite. Tudo isso porque em Escreveu Seu Nome A Bala há uma cena num riacho onde uma cena que revela alguma coisa de seu corpo desnudo escapou e eu a vi quase que despida. E os olhos de Hayden, seu parceiro de fita, não fizeram diferente de mim. Ela estava deslumbrante a se assear naquelas águas limpidas e sortudas.
Realmente Yvone foi uma das mais lindas mulheres do mundo. Não apenas do mundo cinematográfico mas, de inteira verdade, de um mundo global mesmo.
Prisioneiros de Cashbah, México de Meus Amores e, o que eu mais desejaria ter visto; ela ao lado de Ladd em Alma Torturada. Ela deveria estar estonteantemente linda, no auge do frescor de sua beleza e fulgor.
E no dia em que a vi num de seus ultimos filmes enormemente gorda, desfigurada, feia e terrivelmente uma outra coisa que não era nunca a Yvone de Carlo fantastica que conheci, falei para mim mesmo,num tom doloroso e que me corroeu por dentro; "o que o tempo é capaz de fazer conosco"! Sei que ela precisava ainda trabalhar para se manter, porque a vida é dura, ela é incrivelmente torturante e ela não faz excessões. Mas foi aquele o momento de minha reflexão para a vida futura e observar com atenção o que somos, do que somos feito e o que o futudo nos guarda. Mas é assim e ninguém tem culpa de nada ou nada pode fazer para alterar esta luta desigual com o tempo.
jurandir_lima@bol.com.br
Rubi,
ResponderExcluirVi seu suscinto comentario e observei que possui um blog. Confesso que adoraria dar uma passeada por ele e opinar sobre o que ler.
Quanto ao MANIA, é de fato um achado. Eu sou fã de faroestes. Mas nunca imaginei que fosse um dia saber tanto sobre este amado genero, assim como seus bastidores. Tudo isso aprendo no MANIA que, como disseste, foi também um achado para mim. Não vou esquecer que estarei à espera do nome de vosso blog.
jurandir_lima@bol.com.br
Demorei um pouquinho mas voltei, pois esperava sua resposta por aqui. Fico extremamente feliz que tenha lido meu comentário; pois confesso que estou aprendendo agora sobre o cinema. E o western é um gênero que me atrai bastante, embora eu saiba muito pouco sobre. Penso em fazer um post sobre o seriado Bat Masterson, e inclusive, encontrei dois posts que estão relacionados a série aqui em teu blog. Obrigada por disponibilizar este tipo de conteúdo para nós, leitores.
ResponderExcluirDeixo aqui o link do meu blog, http://allclassics.blogspot.com/
e aproveito também para lhe seguir.
Até mais!