Em 1958 havia 50 milhões de aparelhos de TV nos Estados Unidos para uma população de 160 milhões de habitantes. E as séries de faroestes dominavam a programação com mais de 40 séries por semana fazendo com que os fãs do gênero preferissem ficar em casa assistindo “Gunsmoke”, “Caravana”, “Paladino do Oeste”, “Maverick”, “Cheyenne” e “Wyatt Earp” a ter que ir aos cinemas. Hollywood passou então a produzir westerns com grandes orçamentos e elencos estelares como “Marcha de Heróis”, “Onde Começa o Inferno”, “Minha Vontade é Lei”, Cimarron”, “O Álamo”, “Sete Homens e um Destino”, “A Face Oculta” e até mesmo uma produção em Cinerama que foi “A Conquista do Oeste”. Quem inaugurou essa fase foi “Da Terra nascem os Homens” (The Big Country), com a pretensão de ser ‘big’ em tudo, reunindo um premiado diretor, atores famosos, roteiro escrito a muitas mãos, compositor respeitado e cinegrafista consagrado. O resultado foi um western de 165 minutos de duração e que custou cinco milhões de dólares e que causou grande impacto, levando muito público aos cinemas e nunca mais saindo da lembrança daqueles que o assistiram por suas cenas de impressionante beleza visual.
CONFRONTOS EXPANSIONISTAS - A história de “Da Terra Nascem os Homens” conta como James McKay (Gregory Peck), um capitão-do-mar chega ao Oeste para se casar com Pat Terrill (Carroll Baker), que conhecera em Baltimore. Pat é filha do Major Henry Terrill (Charles Bickford), proprietário de vasta extensão de terras. O Major Terril tem como capataz o fiel Steve Leech (Charlton Heston), que o ajuda nos intermináveis confrontos expansionistas contra outro proprietário que é Rufus Hannassey (Burl Ives). Ambos são criadores de gado e disputam terras pertencentes à professora Julie Maragon (Jean Simmons) pois essa região tem a água é necessária para os dois criadores. McKay descobre que a adaptação ao Oeste é muito difícil, mas não abre mão de seus princípios, o que o leva a romper com a noiva Pat e se aproximar de Julie. McKay sofre provocações tanto de Buck Hannassey (Chuck Connors), filho de Rufus, como de Steve Leech. McKay é um pacifista e tenta inutilmente evitar o confronto fatal entre o Major Terril e Rufus Hannassey, o que é inevitável pelo ódio recíproco que os dois velhos proprietários nutriram através de suas vidas. A história é de autoria de Donald Hamilton e o roteiro foi escrito (e reescrito) por James R. Webb, Sy Bartlet e Robert Wilder. Os dois principais produtores de “Da Terra Nascem os Homens” foram Gregory Peck e o diretor William Wyler, que andaram às turras durante as filmagens com Peck procurando de todas as maneiras dar uma dimensão maior a seu personagem, fazendo com que o roteiro fosse constantemente alterado. Ao final da produção Wyler (que já havia dirigido Peck em “A Princesa e o Plebeu”), afirmou que nunca mais voltaria a trabalhar com o ator. Mas os desentendimentos entre Peck e Wyler não impediram que “Da Terra Nascem os Homens” resultasse em um western clássico.
Burl Ives X Charles Bickford = EUA X União Soviética |
MENSAGEM PACIFISTA - “Da Terra Nascem os Homens” é um filme sobre o poder e como ele determina as atitudes dos homens. Quando conhece McKay, seu futuro genro, o Major Terrill afirma “Vou transformá-lo em um Terrill”, demonstrando que até as pessoas devem ser como ele deseja. McKay tem uma formação que conflita com a visão de Terrill e seu pensamento é refletido na frase “A honra e a reputação de um homem são seus maiores bens”, não abrindo mão de sua filosofia de vida. McKay despreza qualquer forma de exibicionismo e passa a ser visto como covarde pelo Major Terrill, pela noiva Pat e pelo capataz Leech. Quem percebe a integridade e coragem de McKay é a professora Julie, além do observador mexicano Ramón (Alfonso Bedoya), empregado do Major Terrill. Vindo do Leste, McKay vê com admiração como o simples Rufus Hannassey enfrenta o arrogante Major Terrill. Os faroestes primam pela luta do bem contra o mal, porém “Da Terra Nascem os Homens” foge dessa simplicidade enfatizando as contradições entre os personagens. Major Terrill / Rufus Hannassey (soberba x simplicidade), McKay / Steve Leech (discrição x exibicionismo), Pat Terrill / Julie Maragon (frivolidade x sensatez). Nenhum deles é exatamente bom ou mau, mas todos tem comportamentos resultantes de suas experiências de vida. Sem mocinhos e sem bandidos, em “The Big Country” os personagens são humanizados, com muitos defeitos e algumas qualidades. Realizado no período da Guerra Fria entre Estados Unidos-União Soviética, “Da Terra Nascem os Homens” tem uma mensagem pacifista nas figuras de James McKay (Gregory Peck) e Julie Maragon (Jean Simmons). O abrutalhado Rufus (Burl Ives) e seu nefasto filho Buck (Chuck Connors) retratam os soviéticos vistos pelos americanos nos tempos da Guerra Fria, enquanto os anglo-saxões Major Terrill (Charles Bickford), Pat (Carroll Baker) e apolíneo e correto Steve Leech (Charlton Heston) são os asseados norte-americanos. Conta-se que o presidente Eisenhower assistiu a esse western na Casa Branca diversas vezes para inspirar suas ações políticas. As grandes extensões de terra mostradas no filme não deixam de ser apropriadamente o imenso mundo que os dois poderosos países queriam dominar àquela época.
DESTAQUES PARA IVES E HESTON - Ilações à parte, “Da Terra Nascem os Homens” é um western espetacular, valorizado pela trilha sonora de Jerome Moross, uma das mais belas trilhas de um faroeste. E é um filme valorizado também pela belíssima fotografia do austro-húngaro Franz Planner. É lugar comum salientar a fotografia nos faroestes onde a amplidão e beleza das paisagens sempre impressionam, porém em “Da Terra Nascem os Homens” a integração das pessoas à natureza completa a poética rudeza do Velho Oeste. William Wyler foi o grande contador de histórias do cinema norte-americano e desenvolve com perfeição a trama central e os relacionamentos que vão se sucedendo, especialmente entre as personagens de Heston-Baker e Peck-Simmons. Há no filme muito boas sequências de ação porém o duelo final entre Ives-Bickford carece de maior emoção. Para muitos “Da Terra Nascem os Homens” reuniu um trio de atores de discutível talento (Peck, Heston e Connors). E o roteiro reservou as melhores sequências para Gregory Peck, como as cenas com o cavalo, quando é provocado pelo bando liderado por Connors, e no duelo com Connors, mas é Charlton Heston quem tem atuação mais destacada revelando o excelente ator que era e que o levaria a interpretar Ben-Hur pelas mãos do próprio Wyler. Jean Simmons em excelente momento de sua carreira que culminaria com “Spartacus” e Carroll Baker bonita e sem a sensualidade exibida em “Baby-Doll”. Ponto alto de “Da Terra Nascem os Homens” é a sequência em que Burl Ives (Rufus) invade o elegante baile de Charles Bickford (Major Terrill) e faz um corajoso, provocante e indignado discurso dizendo com todas as palavras o que ele pensa do dono da casa. Burl Ives em todas as suas cenas é exuberantemente forte e marcante. O ótimo Bickford sutil, silenciosa e magnificamente se apequena diante da figura de Ives. Último filme da carreira de Alfonso Bedoya, falecido aos 53 anos, que sequer chegou a ver o filme ser lançado, ele que foi o melhor de todos os atores mexicanos fazendo tipos característicos no cinema norte-americano, o primeiro deles em “O Tesouro de Sierra Madre”.
Chuck Hayward em ação |
Darci, nunca fui fã de Heston e Carroll Baker, mas esse faroeste é um dos meus favoritos. Vi e revi inúmeras vezes. Destaco as presenças poderosas de Burl Ives e Charles Bickford.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Caro Nahud,
ResponderExcluirUm Bom Gosto incontestável o vosso. No meu ver é o faroeste mais completo já feito, assim como tudo nele (até o sempre terrível Connors escapou) parece ter sido escolhido a dedo, tal o encaixe perfeito de cada um em seu papel.
Já imaginou no lugar do Connors um Richard Boone ou um Lee Marvin? Nem pensar!
jurandir_lima@bol.com.br
Sinto-me muito à vontade para falar desta grandiosa fita, pois acho muito difícil algum cinéfilo enaltece-la tanto quanto eu. Aliás, neste blog, eu já falei sobre esta fita mais de uma vez. Serei, portanto, um pouco economico desta vez.
ResponderExcluirHá muito pouco a por além da perfeita descrição de nosso editor. Até me fornecendo dados sobre o filme que eu ainda desconhecia. É o fato do mexicano Alfonso Bedoya ter falecido aos 53 anos e sem nunca ter visto esta fita.
Porém, ocorreu um fato que notei mais de uma vez, ao assistir ao filme, e que era muito visível. Bedoya tinha um ar não muito saudável nos seus closes. Observei isso, pois estava muito diferente de outros filmes que vi com o mesmo. Ele levava uma fisionomia alquebrada e me parecia emagrecido.
Lamento sua ida, já que teve um destaque reparador no filme. Mas soube também que Heston aceitou este papel por conselho de amigos, que diziam para ele; é um papel secundário, mas será dirigido pelo grande William Wyler. Isso pode ser importante para você. Não deveria perder esta oportunidade. É Wyler o diretor!!!
Ele assim o fez e se deu muito bem. O homem fez o sensacional Ben Hur logo após este filme, que titubeava em fazer, já que não teria o papel principal. Boba demagogia. Enfim...
Quanto à guerra de egos entre Peck/Wyler, nada de anormal. O diretor era um emérito ditador, um osso duro de roer e não se dobrava a nada senão aos seus instintos, vontades e decisões. Peck, por sua vez, era um dos produtores e precisava justificar seu investimento tendo destaques além roteiro, que o diretor Wyler não concordava. Ossos do oficio dentro desta profissão. Vide Marlon Brando em A Face Oculta e Kirk Douglas em Spartacus. Ambos demitiram seus originais diretores. E não foram apenas estas duas vezes que isto ocorreu. Sabemos como é este mundo do cinema; cheio de preciosismo e egocentrismo tão extremos, onde a insensatez pode fazer jogar por aguas abaixo um grande projeto. Para sorte e bem estar de todos, Da Terra Nascem os Homens (um dos mais belos titulos que conheço), saiu ileso a tudo isso e se tornou um sucesso total. E ainda depois de mais de 50 anos de seu lançamento, é a cada dia mais visto, mais comentado e mais analtecido.
jurandir_lima@bol.com.br
Para mim, este filme é um dos top em faroeste, o elenco é perfeito. Adoro o papel desempenhado por Jean Simmons e Gregory Peck, o modo como eles conduzem os personagens, suas características próprias, destoando dos costumes da região e da época, e, mesmo assim mantendo suas opiniões, suas convicções, seu modo de agir e pensar. O filme é ótimo, ví e revi este filme, está na hora de comprar o dvd para fazer parte da minha dvteca.
ResponderExcluirO filme não é ruim. Mas as interpretações são de um "canhestro" terrivel. Honestamente não vejo ninguém brilhando neste filme a não ser a sensibilidade de Jean Simmons. Peck está mais canastrão do que nunca foi. Nem parece um filme de Wyler. O que mais gosto é a luta em "extreme long shot" de Peck e Heston. Do mais é um filme comum tirando a maravilhosa trilha de Robins. Repito, gosto é gosto.
ResponderExcluirJerome Moross, o criador do tema magnífico que foi injustiçado no Oscar por esse trabalho sem igual.
ExcluirComo fiquei contente de conhecer este blog e principalmente de gente que gosta deste filme. è um dos melhores faroeste que assisti na vida. Quando o Gregory Peck Beija a Jean simmons sempre me sinto beijada. Que romantismo. Ai em cima vejo que o Campos não gosta muito mas é um filmaço. Quando nsoube deste blog, estrou procurando artigos dos westerns que eu gosto. José, como que você não gosta deste filme? Fiquei decepcionada, mas adorei conhecer o blog. Darci, parabens.
ResponderExcluirEu considero entre os 10 mais do western.
ResponderExcluirRevi ontem. É uma pena que um filme desta magnitude, rico em marcantes particularidades que o elevam ao patamar absoluto da excelência, ainda não tenha sido lançado em Blu-ray no Brasil. Pelo jeito, terei que importar este também... Charles Bickford e Burl Ives, dois monstros em atuações inesquecíveis, especialmente nos momentos que antecedem o confronto final. William Wyler, sinônimo máximo de perfeição cinematográfica, um dos 5 (Cinco) Maiores Diretores de Todos os Tempos!
ResponderExcluirComo não gostar de um clássico desses? Atuações exemplares, trilha sonora perfeita, direção magistral, enredo atualíssimo até hoje...
ResponderExcluirUm dos meus westerns favoritos
ResponderExcluirObrigado pelas informações dadas pelo editor. Uma pena que a mídia nan promova debates num programa de exibição de filmes clássicos com varios especialistas em cada fato e mundo particular do personagens. Isso ajuda aculturação de um povo.
quero baixar o filme grato
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