UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

29 de julho de 2011

ERNEST BORGNINE, ALAN LADD E SINATRA...


Durante as filmagens de “O Homem das Terras Bravas” (The Badlanders), Ernest Borgnine e Alan Ladd ficaram muito amigos. Ladd era uma pessoa introvertida mas gostava de conversar com Ernie sobre assuntos que não costumava conversar com outras pessoas. Certo dia, numa das visitas que Ernie fez ao amigo este lhe disse:

-- Ernie, eu não entendo os atores chamados modernos. Acabei de trabalhar em “Os Invencíveis” (All the Young Men) e havia um ator negro que falava, falava, falava, mas eu não entendia quase nada do que ele dizia. O cara falava pra dentro. Parece que hoje em dia é assim que se atua, sussurando...

-- Você está falando do Sidney Poitier, não é? – perguntou Borgnine.

-- Ele mesmo – respondeu Ladd. – Espero nunca mais ter que trabalhar com o Sidney...

Então Ernest Bognine deu uma demonstração de seu conhecido bom humor, respondendo ao amigo.

-- Olha, Alan, eu nesta profissão de ator já não estranho mais nada. Eu já me acostumei com todo tipo de ator. Imagine que teve um filme em que eu trabalhei que havia um cantor que virou ator, um acrobata que também virou ator e um outro que aprendeu a atuar na mesma escola do Sidney Poitier...

Ernie se referia a Frank Sinatra, Burt Lancaster e Montgomery Clift, com os quais contracenou em “A Um Passo da Eternidade”. A escola a que ele se referia era o Actor’s Studio de Lee Strassberg, que ensinava o famoso “Método” do russo Stanislawski. Do Actor’s Studio saíram também Brando, Paul Newman, James Dean, Steve McQueen, todos cheios de maneirismos no jeito de atuar.

Claro que Borgnine estava brincando pois o simpático gorducho sempre respeitou seus colegas de profissão. E mais ainda porque foi Burt Lancaster quem lhe proporcionou a maior oportunidade de sua carreira dando-lhe o papel do açougueiro tímido em “Marty”, filme produzido por Lancaster. Mas sabe-se lá o que mais Ernest e Alan Ladd teriam conversado sobre os colegas, especialmente sobre Frank Sinatra, o cantor que atuava. Sinatra foi um dos mais bem sucedidos grandes cantores que viraram atores. Nat King Cole se deu mal como ator, Sammy Davis Jr., Harry Belafonte, Vic Damone, Perry Como, Eddie Fischer e muitos outros ou fracassaram ou foram apenas razoáveis. Sem falar nos roqueiros que ficaram só na tentativa de se tornar atores como Elvis, Fabian, Frankie Avalon, Ricky Nelson, Pat Boone, Bob Vinton e um enorme etc. E Sinatra será sempre lembrado por suas excepcionais interpretações em “O Homem do Braço de Ouro” e “A Um Passo da Eternidade”...

Ernie e Alan Ladd fizeram muitos faroestes, dois deles obras-primas (“Os Brutos Também amam” e “Meu Ódio Será Sua Herança”). Borgnine atuou em faroestes clássicos como “Vera Cruz”, “Johnny Guitar” e “Ao Despertar da Paixão”. Se Ladd e Ernie tivessem falado de Sinatra no gênero western seria engraçado ver Alan Ladd com seu riso discreto e Ernie com sua sonora e espalhafatosa gargalhada lembrar do ‘conjunto da obra’ de Frank Sinatra no faroeste. Pois Francis Albert conseguiu um belíssimo ‘Four of a Kind’ (quadra no pôquer) com “Redenção de um Covarde” (Johnny Conchos), “Os Três Sargentos” (Sergeants 3), “Os Quatro Heróis do Texas” (4 for Texas) e “O Mais Perigoso dos Bandidos” ( Dirty Dingus Magee). Difícil é saber qual dos quatro westerns de Sinatra é o pior.

Gary Cooper fazendo o que pode para ensinar Sinatra...
Por falar em Ernest Borgnine, ele completou 94 anos em janeiro último, vendendo saúde e bom humor e o que muito nos interessa que é filmando sem parar. Em nenhum ano de sua carreira de mais de seis décadas Ernie deixou de fazer um filme. E ele vem aí em 2012 com o western “The Man Who Shook the Hand of Vicente Fernández”. E com Ernie fazendo o papel principal.

4 comentários:

  1. Salutar um ator de riso fácil como o grande Borgnine fazer este tipo de amizade com o introvertido Ladd.
    Ernie sempre foi tudo o que todos os atores deveriam ser; talentoso, versátil, profissional, amigo, etc. E tudo isso somente refletiu positivamente em sua carreira, sua longa e ainda presente carreira. Deus o ilumine e o faça viver ainda longos anos. É um homem adorado por todos cinéfilos e comentaristas.
    Quanto a Ladd teve uma vida curta e meio podada em termos de filmografia. Shane foi seu ponto alto, aliado a mais alguns poucos bons papeis em, também, alguns poucos filmes com qualidade de mediana para baixo.
    No relativo a cantores que se dispuseram a serem atores eu sou do ponto de vista que Fabian, Nelson, Avalon, Cole, e mais alguns não tiveram o sucesso esperado. Possivelmente não levavam consigo o gene de ator nas artérias. Porém discordo um pouco do nosso editor quanto a Elvis, homem que por diversas vezes o vi em magnificas atuações, assim como o Pat Boone que, se não foi lá um Elvis, também não andou na linha dos Fabians. Pat chegou a se dar bem, lá pela década de 50 em; Primavera do Amor, Noites de Mardy Cras e Viagem ao Centro da Terra. Não comprometendo em nada os papeis que interpretou, mesmo que eles muito pouco precisassem de um ATOR para interpretá-los.
    Já o Sinatra é um caso à parte. Fez bons e grandes filmes, bons e grandes filmes mesmo. Apenas não deu sorte nos faroestes que, se medisse sua carreira por eles, ela teria sido um grande fiasco.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  2. Grande idéia este site. O farwest, como disse Borges:"o Farwest abarca o planeta e se reflete nos sonhos dos homens que jamais o pisaram"....(..) , algo assim. Essa era é inesquecível, essa época em que grandes atores e diretores narravam a sua maneira , bem específica, social, crítica, violenta, o western e por vezes usando-o como uma cobertura de outra realidade atual.
    Evaldo

    ResponderExcluir
  3. Olá, Evaldo, seja bem-vindo ao Cinewesternmania. Um abraço - Darci

    ResponderExcluir
  4. Excelente a forma com que o comentarista Evaldo faz análise e
    sintese do Farwest, dando ao gênero sua devida importancia e
    profundidade.

    ResponderExcluir