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9 de junho de 2011

"O GAÚCHO" (WAY OF A GAUCHO), WESTERN ARGENTINO COM RORY CALHOUN


“O Gaúcho” (Way of a Gaucho), de 1952, é um western, mesmo com sua ação se desenrolando nos pampas argentinos e mesmo que ao invés de cowboys tenhamos atores interpretando gaúchos. Philip Dunne roteirizou a história de autoria de Herbert Childs abordando a cultura desses homens, cultura que em muito se aproxima da forma de vida dos cowboys norte-americanos. Martin Peñalosa (Rory Calhoun) é um típico habitante dos pampas, ou seja homem digno e que honra suas bombachas. Em defesa da honra de seu patrão e amigo, o aristocrata Don Miguel Aleondo (Hugh Marlowe), Martin comete um crime e sua punição é integrar-se ao exército portenho. Tem a má sorte de ter por comandante o cruel Major Salinas (Richard Boone). Martin consegue fugir após sofrer nas mãos de Salinas a quem fere fazendo com que o Major perca os movimentos do braço direito. Começa então a caçada de Salinas a Martin Peñalosa que passa a ser conhecido por Valverde quando se torna líder de um grupo de gaúchos. Esses gaúchos lutam para manter o modo de vida há séculos praticado e agora ameaçado pela nova forma de civilização. No entanto acabam por tornar-se bandidos. Através do amigo Don Aleondo, Martin Valverde conhece a bela Teresa Chaves e entre os dois nasce um grande amor. Sempre fugindo de Salinas, o casal tenta cruzar os Andes para refugiar-se no Chile. Como Teresa está grávida, retornam para o povoado em que viviam onde tencionam se casar. Reencontram Salinas que afinal compreende a luta inglória de um tipo de homem em extinção: o gaúcho.


Calhoun (acima), Boone (foto
maior), perfil de Everett
Sloane de nariz novo, Gene
Tierney e Hugh Marlowe

INSPIRAÇÃO PERDIDA NOS PAMPAS - A longa carreira de roteirista de Philip Dunne passou por screenplays como “O Último dos Mohicanos” (1936), “Como Era Verde o Meu vale”, “O Manto Sagrado” e “Agonia e Êxtase”. Dunne chegou à direção mas sem o mesmo brilho que teve como roteirista (seu filme mais famoso como diretor foi “Coração Rebelde”, estrelado por Elvis Presley). O francês Jacques Tourneur teve igualmente uma extensa carreira como diretor cujo ápice foi a fase da RKO em que dirigiu produções de Val Lewton que se tornaram clássicos do horror noir, entre eles “Sangue de Pantera” e “A Morta Viva”. Bastante versátil, Tourneur ajudou a deslanchar a carreira de Burt Lancaster com “O Gavião e a Flecha”. Com “O Gaúcho” Tourneur teve a possibilidade de se notabilizar criando um western diferente, o que não deixa de ser, mas longe de ser um filme memorável. O roteiro de Dunne contém momentos de ação, ódio e amor temperados pelo exotismo da paisagem dos pampas. Os diálogos por vezes poéticos remetem diretamente à cultura da região. Entretanto “O Gaúcho” ressente-se de melhor ritmo, especialmente na segunda metade do filme quando a obsessiva caça ao gaúcho por parte de Salinas torna-se cansativa. Perdeu-se com a direção pouco inspirada de Tourneur a oportunidade de um western quase épico. O diretor preferiu abusar dos tons escuros, resquícios de seu tempo das produções noir, estética incondizente com os majestosos cenários dos pampas e da cordilheira andina. E o bom roteiro de Dunne faz com que a grande aventura do cowboy-gaúcho termine de modo vazio e inconvincente. Finais abertos nem sempre são apropriados para westerns.

MAIS UM WESTERN DE RORY CALHOUN - Rory Calhoun interpreta satisfatoriamente o gaúcho Martin Peñalosa, enquanto Gene Tierney se esforça para ser mais que mero ornamento tão belo quanto a paisagem dos pampas. Hugh Marlowe é um ator correto num papel limitado e Everett Sloane exibe seu novo new look. Claro que nenhum talento se concentra em um centímetro de nariz, mas quanta saudade do narigudo ator de “Cidadão Kane”... Chuck Roberson, o “Bad Chuck”, tem uma pequena participação em que trava luta mortal com Rory Calhoun. Como não poderia deixar de ser Richard Boone domina todas as cenas do filme como o perverso Major Salinas. A beleza dos pampas somada à beleza de Gene Tierney, a bravura de Rory Calhoun e a figura sempre grandiosa de Richard Boone não foram suficientes para fazer de “O Gaúcho” mais que apenas um bom western, um pouco acima da média daquela dúzia que Rory Calhoun fez em sua carreira como ator de faroestes.


5 comentários:

  1. Com toda certeza que de tudo isto aí somente se salvou as belezas de Gene Tierney e o cenário deslumbrante dos Pampas Gaúcho.
    Um projeto desta qualidade, por melhor que tenha sido seu roteiro (o que não acredito, já que Dunne nunca dirigiu nada significante, mas pode ter sido bom roterirista, vide o Burt Kennedy),conforme dizia, uma coisa assim jamais daria um prato pronto para degustação. O Jean Negulesco, tendo Robert Taylor como ator, também investiu numa desta, trazendo um roteiro oriundo do oeste americano para fazer uma fita nos Pampas Gaúcho. E foi um desastre. Pena que não recordo ora do titulo da fita. Mas uma coisa assim nunca dá certo. É o mesmo de pegar uma historia da biblia e ir filma-la no oeste norte amaricano, com os mesmos vestes e todos os costumes mais daquela época. Projetos deste quilate nunca funcionam, mesmo com bons diretores os atores fazendo bem sua parte. Fica tudo diferente, tudo disforme, tudo falso e sem caracterização. Não fica existindo um tom real.
    Faroeste não é para ser filmado na Espanha, Irlanda, Itália ou no Brasil. Faroeste é para ser feito nos Estados Unidos, nos locais apropriados ou semelhantes para o desenvoltimento satisfarório das historias.
    Não pode se ficar inventando modas. Cinema é uma arte. E não podemos pegar a cigana como Carmem para que esta exiba sua dança, um flamingo, num saloon de Dodgy City, por exemplo.
    Lamento, mas não sou a favor de invenções, imitações ou adaptações com conteúdos sem paralelos.
    jurandir_lima@bol.com.br

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    1. É um filme sobre gauchos, e gauchos de uma época ( 1870 mais ou menos) e não sobre cowboys. Sobre o personagem marginal o filme mostra bem. Basta ler Hernandez e seu 'Martin Fierro" . taras Bulba por exemplo é sobre cossacos e não é nem deve se esperar um modelo a la faroesta!

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  2. Historicamente o filme está correto, assim como a crítica do Draci. Apesar do filme ser baseado em um livro de um americano, Herbert Childs, aborda a brutalidade do sistema militar sulamericano naquela época. O poeta Jose Fernandez com seu Martin Fierro (1870) bem documento o fato. Aliás o Martin de Childs parece um pouco o gaúcho de Fernandez. O descendente de americano Willian Henry Hudson, documenta a mesma brutalidade com sei livro "O Ombu". e Rory Calhoun está realmente ótimo como gaúcho "sem lei, sem Rei e sem Deus"...

    Evaldo (evaldo_braz@hotmail.com.br)

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  3. Na verdade este filme não é um faroeste. É um filme sobre gaúchos e sua cultura (a qual atinge sul do Brasil, Uruguai e Argentina), tinha esquecido de dizer. Sendo assim, foi bem feito. Foi feito sobre fatos na America do Sul.Aquele sistema militar brutal é fato histótico sulamericano.

    Evaldo (evaldo_braz@hotmail.com)

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  4. Way of a Gaucho, resumindo Não tenta ser um western.

    evaldo

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