UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

24 de junho de 2011

A GRANDE DÍVIDA DE JOHN WAYNE


Filmar “O Álamo” era a própria razão da vida de John Wayne. O Duke queria mostrar para todos os americanos como deveria ser um verdadeiro patriota: estóico, corajoso e se necessário colocando a própria vida em defesa de seu país. John Wayne guardou dinheiro por muitos anos para concretizar seu sonho no cinema e, quando chegou a hora de filmar “O Álamo”, o orçamento chegou aos seis milhões de dólares, o dobro dos três milhões de dólares previstos e que o Duke tinha no banco. O ator teve então que bater às portas dos estúdios com seu sonho debaixo do braço. Conversou com quase todos os chefões dos grandes estúdios, mas a resposta era sempre um sonoro não e isto por uma única razão: John Wayne queria apenas dirigir “O Álamo” e não desejava atuar no filme. Propuseram a ele que John Ford dirigisse o épico e aí então ele teria os recursos necessários para o filme. Mas John Wayne não abria mão de realizar ele próprio aquele que seria o maior western do cinema. A United Artists então acenou com uma contraproposta: Wayne dirigiria “O Álamo” mas teria também que atuar nele. Para conseguir o dinheiro da United Artists, Duke concordou em fazer um pequeno papel, chamado de ‘cameo’. Ele interpretaria o General Sam Houston. A United Artists não aprovou a idéia e disse a Wayne que ele teria mesmo que estrelar o filme para que o público tivesse interesse e fosse assisti-lo. O estúdio deu o ultimato: sem John Wayne como nome principal do elenco nada feito. Wayne se resignou e teve que escolher entre interpretar Davy Crockett, Jim Bowie ou o Coronel William Travis. Depois de pensar bastante John Wayne decidiu que deveria interpretar Davy Crockett, até porque Crockett era a figura mais lendária entre os três personagens. Resolvida essa questão John Wayne convidou então Richard Boone para ser o General Houston.
Richard Boone como Sam Houston
UM CASACO E UMA AMIZADE - Richard Boone estava em grande evidência na televisão com a série “Paladino do Oeste” e cobrou 100 mil dólares pela sua pequena participação no épico. “O Álamo” ainda não havia terminado de ser filmado quando acabou o dinheiro, tanto os três milhões de Duke quanto os três milhões da United Artists. E o estúdio se recusou a colocar mais um centavo naquela produção. John Wayne começou então a vender quotas de sua participação nos lucros do filme para poder concluí-lo. Quando Richard Boone soube disso abriu mão de receber seu salário de 100 mil dólares em “O Álamo”, mas pediu a John Wayne o casaco que o General Houston usa no filme. O belíssimo casaco de couro talvez valesse à época, quando muito, 500 dólares (três mil dólares em valores de hoje). Nasceu ali uma grande amizade entre Duke e Dick Boone. Engana-se quem pensa que John Wayne ficou milionário com os lucros de “O Álamo”. Quem ganhou dinheiro mesmo foram os sortudos que compraram por preço de ocasião as quotas que John Wayne lhes vendeu para acabar o filme dos seus sonhos. O custo final do filme ficou em 12 milhões de dólares, sendo que a dívida de John Wayne era de seis milhões de dólares, além dos outros três milhões que ele investira inicialmente. Segundo o acordo com a United Artists que distribuiria “O Álamo” no mundo todo, somente quando o filme se pagasse os lucros seriam divididos 50% para cada parte. Quando afinal John Wayne começou a receber sua parte nos lucros, repassava o dinheiro para aqueles que compraram quotas dos 50% de John Wayne. Ao contrário do que sempre se afirmou, “O Álamo” deu lucro, sim, para todo mundo, menos para John Wayne. Isso explica porque John Wayne teve que fazer tantos filmes ruins nos anos seguintes aceitando papéis inadequados como o do bizarro Centurião em “A Maior História de Todos os Tempos”, de George Stevens. “O Álamo” foi a maior aventura de John Wayne no cinema. Foi o sonho e a grande realização artística daquele que foi um dos maiores astros que o cinema já teve.

2 comentários:

  1. Conhecia o bom relacionamento entre Boone e Wayne em outra reportagem lida anteriormente.
    Agiu com caráter, o grandalhão e muito bom Richard Boone. Possivelmente foi o unico daquela equipe que desfrutou, por longos anos, de um souvenir do lendário filme O Alamo.
    Produzir um filme não deve ficar muito distante de se construir ou reformar uma casa. E o Duke já deveria ter as barbas de molho. Afinal ele vivia no meio de produções e mais produções e, um revés semelhante ao que atravessou, ele já deveria ter presenciado por mais de uma vez.
    Mas este é o preço que se paga para a realização de um sonho. Foi difícil, dolorido, sofrido, quase que humilhante, caro demais, porem viu sua grande meta finalizada e fazendo o sucesso esperado.
    Possivelmente tudo isto deve ter assustado muito o grande ator, razão que não o conduziu por mais vezes a tamanha e desgastante aventura.
    jurandir_lima@bol.com.br

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