UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

12 de agosto de 2011

LEE MARVIN SACANEANDO ERNEST BORGNINE


Ernest Borgnine e Lee Marvin tiveram inícios de carreiras bastante semelhantes, atuando juntos em diversos filmes e tornando-se grandes amigos. Tanto Lee quanto Ernest foram ‘mariners’, soldados da Marinha Norte-Americana. Ernest um pouco antes pois nasceu em 1917 e Marvin, nascido em 1924, participou de muitas batalhas recebendo a medalha Purple Heart por bravura em combate na 2.ª Guerra Mundial. Sem se conhecerem os ex-mariners começaram no cinema no mesmo ano, em 1951 e dois anos depois, em 1953 se encontraram pela primeira vez num western de Randolph Scott intitulado “O Pistoleiro” (The Stranger Wore a Gun). Durante suas carreiras Lee e Ernie atuariam juntos nos seguintes filmes: “Conspiração do Silêncio”, “Sábado Violento”, “Os Doze Condenados”, “O Imperador do Norte” e “Os Doze Condenados: A Nova Missão”.

Ernie e a porta destruida;
de costas Spencer Tracy
CONSPIRANDO CONTRA ERNIE - Borgnine sempre foi um sujeito bonachão que conquista as pessoas com facilidade, isto apesar da sua cara de mau. Lee tinha não só cara de poucos amigos, como fazia poucos amigos devido a seu temperamento irascível e também porque bebia sempre além da conta, ocasiões em que se tornava violento e brigão. Independentemente do gênio de cada um, a amizade perdurou até a morte de Lee, aos 63 anos em 1987. Lee, por sinal, nunca perdia a oportunidade de brincar com Borgnine. Em “Conspiração do Silêncio” havia uma cena de luta entre Ernest Borgnine e Spencer Tracy em que este desfere golpes de judô em Ernest. Durante o ensaio da cena, Tracy aplica um golpe em Borgnine jogando-o de encontro a uma porta que se abre e Ernest rola porta afora, caindo em cima de um colchão, claro, longe do foco da câmara. John Sturges gritou “Action!” e Tracy aplica a surra em Ernest, desferindo-lhe dois golpes de misericória. Ernest é jogado violentamente contra a porta que deveria se abrir, mas... não abriu. O corpanzil de Borgnine arrebentou literalmente a porta mas o tombo foi espetacular fazendo a cena ficar perfeita para alegria de John Sturges e para preocupação de Tracy, Robert Ryan, Walter Brennan e Francis McDonald que participavam da sequência. Quando Borgnine se levantou e viu que não havia quebrado nenhum osso, perguntou quem havia trancado a porta. Borgnine olhou para Lee Marvin que sorria cinicamente e descobriu quem havia feito a brincadeira. Lee havia fechado a porta e sugerira a Sturges que a deixasse trancada para que Borgnine a arrebentasse ao invés de simplesmente abri-la. Foi uma silenciosa conspiração do amigo Lee com o diretor Sturges...

Ernie e Lee ladeando Randy Scott
RIDE, ERNEST, RIDE! - “O Pistoleiro” também conhecido como “Mississippi” (The Stranger Wore a Gun), foi dirigido por André De Toth e filmado originalmente em 3.ª Dimensão em 1953. Numa cena de ação o diretor húngaro que usava um tapa-olho, perguntou a Ernest se ele sabia montar. Temeroso de desagradar De Toth, Ernest disse que sabia, mas nunca na vida havia montado. Achou que de tanto olhar os stunts do filme ele seria capaz de cavalgar. De Toth disse a Borgnine: “Está vendo aquela pequena colina lá adiante? Você vai com o cavalo até lá, dá meia volta e olha para mim. Quando eu deixar o lenço cair no chão você desce a colina e vem em direção à câmara para fazer uma cena de efeito em 3D.” Lee Marvin que a tudo assistia começou a rir pois sabia que o amigo ex-mariner nunca havia subido em um cavalo. Borgnine cavalgou direitinho até a colina, deu meia volta e começou a ficar pálido pois o que ele imaginava ser uma pequena elevação estava parecendo uma enorme montanha que ele tinha que descer a galope. Ernest olhou para De Toth que soltou o lenço e então fez o cavalo começar a descer. Sua sorte é que os cavalos sabem fazer isso direitinho, mesmo que o cavaleiro não tenha a menor noção. Borgnine se sentiu como se estivesse numa descida de montanha russa, mas conseguiu chegar até onde o diretor havia mandado. E ali estavam De Toth, Randolph Scott e Lee Marvin, este com seu riso mais sádico. Inesperadamente Randolph Scott que havia tirado suas esporas e estava com elas na mão foi até Ernest Borgnine, que havia desmontado do cavalo e tremia da cabeça aos pés e disse a Ernest: “Rapaz, mas que bela cavalgada. Você parece um stuntman!” e deu um abraço em Ernest e lhe presenteou as esporas completando: “Tome este presente. Você merece!” Quando Randolph se afastou Lee comentou: “Ernie, vai trocar as calças que devem estar molhadas...”

A brutal luta entre Ernest Borgnine e Lee
Marvin em "Imperador do Norte"
AUTÓGRAFO ESPECIAL - Muitos anos depois, já atores veteranos, consagrados e vencedores do Oscar, os amigos se encontraram numa festa e Ernest mostrou a Lee uma foto dos dois quando atuaram em “O Imperador do Norte”. Ernest pediu a Lee que autografasse a fotografia, o que Lee fez rapidamente. Ernest guardou a foto no bolso e mais tarde, todo feliz, mostrou a foto para sua esposa Tova. Ela olhou a fotografia e começou a rir. Lee havia escrito: To Ernie, love, Randolph Scott (Para Ernie, com amor, Randolph Scott). Não é que o bandido do Lee Marvin havia sacaneado o amigo mais uma vez...

4 comentários:

  1. Uma bonita amizade, que perdurou até Borgnine perder o bom amigo.
    Devo ter assistido a 80% de todos os filmes que ambos fizeram mas, somente agora tomo ciencia de que eram bons amigos.
    Borgnine é um dos mais completos atores que vi trabalhar. Mesmo em papéis pequenos, sua presença sempre se tornava marcante, com cenas inesqueciveis, principalmente de sonoras surras que levou (J Guittar, C do Silencio, Vera Cruz, etc). E Marvin, que considero um dos mais perfeitos viloes do cinema, sempre arrastando aquela cara de mau e beberrão e aprontando das suas.
    Anoto como ponto culminante de Borgnine, não Marty, que foi um bom filme, mas que destoou bastante de seu tipo caracteristico. Porem sim o seu desempenho rápido, mas marcante, em A Um Passo da Eternidade na pele do sargento Barriga. E Marvin o seu Libert Valence de J Ford em O Homem Que Matou o Facinora. Ambos estão perfeitos nestes dois papeis, soberbos!
    Dificil aceitar o tempo os fazendo desaparecer ou os encaminhando para uma velhice que não lhes permite mais nos dar alegrias como as que nos proporcionava na juventude. O que, infelizmente, é parte da vida de todos nós.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. Comentário perfeito, Jurandir. Não há o que acrescentar. Parabéns, expressou o sentimento de muitos.

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  3. Como sempre um artigo perfeito de nosso editor sobre esses dois atores soberbos do cinema de nosso tempo. Que se completou de forma magnifica com o comentario pungente e emotivo de seu amigo Jurandir,um homem que parece ter o cinema
    em suas veias. Parabéns. SC

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  4. Amo os dois e amei o texto!

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