UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

7 de novembro de 2011

NEVILLE BRAND, UM VALENTE HOMEM MAU


Muitos atores norte-americanos se engajaram nas Forças Armadas durante a II Guerra Mundial. Salvo algumas honrosas exceções como James Stewart (na Força Aérea) e o diretor John Ford (registrando in loco cenas de batalhas marítimas), a maioria dos astros de Hollywood foi destacada para serviços burocráticos. No entanto inúmeros soldados que estiveram nos campos de batalha, finda a guerra tornaram-se atores. Foi o caso, entre outros, de Lee Marvin, James Arness, Audie Murphy e Neville Brand. Este último, dependendo da fonte, é apontado como o 2.º ou 4.º soldado norte-americano mais condecorado naquele conflito mundial sendo que o primeiro, é sem nenhuma dúvida, o texano Audie Murphy. O próprio Neville Brand sempre negou as honrosas classificações, ainda que tenha recebido muitas condecorações por bravura e retornado da guerra após ser ferido em combate. Uma coisa é certa: enfrentar o Sargento Neville Brand não deve ter sido nada fácil para soldados do Eixo pois na vida real ele não era muito diferente dos personagens que viveu no cinema.

Medalha Silver Star
BRAVO SARGENTO - Nascido em 13 de agosto de 1921, Neville Brand era um dos sete filhos de um operário que trabalhava na construção de pontes ao longo do Rio Mississipi. Após concluir a High School (Ensino Médio), o jovem Neville fez um pouco de tudo na vida, inclusive a falsificação de seu documento de identidade alterando seu ano de nascimento para 1920 (Neville, de fato, nasceu em 1921). A razão desse ato delituoso era poder se alistar na Guarda Nacional de Illinois, o que ocorreu em 23 de outubro de 1939. Neville foi destacado para o 129.º Regimento de Infantaria. Quando os Estados Unidos entraram na II Guerra Mundial após o ataque japonês a Pearl Harbor, um de seus soldados era o então cabo Neville Brand. Após ser treinado em Fort Carson passou a sargento do 331.º Regimento de Infantaria, da Divisão Thunderbolt que atuou em campanhas na Europa Central. O Sargento Brand era líder de um pelotão, sendo que um de seus atos de bravura aconteceu na Alemanha quando seu pelotão estava acuado pelos inimigos escondidos em um abrigo de onde disparavam metralhadoras calibre 50 mm. Como se fosse num episódio da série de TV “Combate”, o Sargento Brand conseguiu se esgueirar atrás do abrigo, lançar granadas e disparar contra os alemães que tentavam fugir, dominando praticamente sozinho o reduto inimigo. Essa ação corajosa valeu a Neville Brand uma das mais importantes condecorações, a Silver Star. Neville Brand foi um dos soldados aliados que desembarcou na Normandia em julho de 1944, tendo lutado na França, Luxemburgo Bélgica e na Alemanha. No dia 7 de abril de 1945, numa batalha no Rio Weser, no Noroeste da Alemanha, o Sargento Brand foi atingido por uma bala de fuzil no ombro direito, esse ferimento grave o impediu de prosseguir em combate, retornando para sua pátria. Mais tarde participou de um filme produzido pelo U.S. Army em que teve a companhia de outro soldado que também se tornaria ator, um jovem de nome Charlton Heston.

ELAM-VAN CLEEF-BRAND - Neville gostou tanto da experiência como ator que após dar baixa do Exército usou seu G.I. Bill, espécie de bolsa de estudos que o Exército proporcionava aos ex-combatentes, para estudar Arte Dramática. Após algumas experiências teatrais Neville estreou no cinema em 1949 fazendo uma ponta no filme “Porto de Nova York”, com Scott Brady e Yul Brynner, interpretando um bandido. Bem cedo o abrutalhado Neville Brand, com 1,80 de altura e quase 90 quilos de músculos percebeu que jamais seria um novo Clark Gable e sempre que chamado para novos filmes era para interpretar sargentões em filmes de guerra, gângsters violentos em filmes policiais ou bandidos cruéis em faroestes. Nos anos de 1950 e 1951 Neville Brand apareceu em oito filmes: “O Amanhã que Não Virá” com James Cagney, “Com as Horas Contadas” com Edmond O’Brien, “Passos na Noite” com Dana Andrews, “Até o Último Homem” com Richard Widmark, “O Incógnito” com Broderick Crawford e Ernest Borgnine, “Paixão de Beduíno” com Jeff Chandler. O primeiro western que Neville Brand participou foi “Resistência Heróica” (Only the Valiant) com Gregory Peck, seguido de “O Útimo Caudilho” (Red Mountain), com Alan Ladd. Oito filmes, nada mal para um iniciante, mas as coisas melhorariam ainda mais em 1952, ano em Neville atuou em “Tributo de Sangue” com William Holden e naquela que seria sua melhor oportunidade no cinema em “Os Quatro Desconhecidos”, policial estrelado por John Payne em que Neville Brand tem a companhia dos jovens bandidos Jack Elam e Lee Van Cleef e do veterano Preston Foster. Quem assistiu a esse excelente policial noir dirigido por Phil Karlson certamente não esqueceu daquele ator que impressionava tanto quanto Elam e Van Cleef.
Acima o psicótico Neville Brand em "Com as Horas Contadas" ameaçando Edmond O'Brien;
depois em "Os Quatro Desconhecidos", ameaçando John Payne e com Lee Van Cleef no mesmo filme.

Whit Bissell passando por maus momentos com
Neville em "Rebelião no Presídio"; William Holden e
Neville em "Inferno 17"; Elvis Presley em sua estréia
no cinema se defrontou logo com Neville Brand.
ASSASSINO DE ELVIS PRESLEY - Em 1953 Neville Brand fez parte de um dos melhores filmes de guerra do cinema que foi “Inferno 17”, destacando-se como um dos soldados-prisioneiros norte-americanos que desconfiam que William Holden fosse um espião nazista nessa obra-prima de Billy Wilder. Mas 1953 foi importante também porque Neville atuou em três westerns que foram “Sangue por Sangue” (The Man from the Alamo) com Glenn Ford, “Irmãos Inimigos” (Gun Fury) com Rock Hudson) e “Investida de Bárbaros” (The Charge of Feather River) com Guy Madison. O ano de 1953 foi importante também porque Neville Brand atuou pela primeira vez como ator principal no drama “A Tragédia de um Erro” (Man Crazy). Em 1954 Neville Brand juntou-se a Leo Gordon e ambos levaram pânico à prisão de Folson em “Rebelião no Presídio”, clássico sobre o sistema prisional dirigido por Don Siegel. A seguir Neville foi um chefe viking em “O Príncipe Valente” e um bandido em “Até o Último Tiro” (The Lone Gun com George Montgomery e Dorothy Maone. Neville voltou a ser ator principal em “Ataque nos Mares Chineses”, contracenando com Jan Sterling. No ano seguinte o ex-Sargento Brand interpretou um personagem da Antiguidade em “O Filho Pródigo” e um policial em “Bobby Ware is Missing”, novamente como ator principal. Voltou aos westerns em “The Return of Jack Slade” em que também atua a jovem Angie Dickinson. Mais faroestes em 1956: “Fury at Gunsight Pass” com David Brian; “Onda de Paixões” (Raw Edge) com Rory Calhoun e Yvonne De Carlo; “Não Renegues Teu Sangue” (Gun Brothers) com Buster Crabbe. Em “Mohawk, a Lenda do Iroquis" (Mohawk) com Scott Brady, Neville Brand interpreta o índio Rockawah. Em seguida Neville Brand interpretou um personagem famoso no Velho Oeste, o bandido Butch Cassidy, em “The Three Outlaws”, enquanto Alan Hale Jr. é o Sundance Kid. E Neville Brand ganharia notoriedade ainda maior ao interpretar o assassino de Elvis Presley em “Ama-me com Ternura” (Love me Tender).

Neville Brand como Al Capone ao lado de Barbara
Nichols; como Butch Cassidy beijando Jean Carmen;
Brand se acovardando diante de Tony Perkins
BUTCH CASSIDY E AL CAPONE - Em 1957 Neville Brand fez o principal homem-mau em “O Homem dos Olhos Frios” (The Tin Star), estrelado por Henry Fonda e dirigido por Anthony Mann. Esse belo faroeste é lembrado por Neville Brand interpretar o bandidão Bart Bogardus que treme diante do sempre complicado Anthony Perkins antes ainda de se tornar Norman Bates para sempre. Outro bom faroeste em que Neville atuou foi “O Homem Solitário” (The Lonely Man)”, com Jack Palance e Anthony Perkins. Em seguida Brand esteve no policial “Herança de um Forçado” com Jeffrey Hunter e no drama noir “Grito de Terror”, com James Mason. Veio depois o filme de guerra “No Limiar do Inferno”. Bem antes do apolíneo Paul Newman arrastar milhões de mulheres ao cinema para vê-lo em um faroeste, Neville Brand retornaria ao personagem Butch Cassidy em “A Morte a Cada Passo” (Badman’s Country). Esse é o famoso western que conseguiu colocar numa mesma história Wyatt Earp, Butch Cassidy, Bat Masterson e Buffalo Bill, além de Pat Garrett, interpretado por George Montgomery. Neville atuou muito na televisão, especialmente na inesquecível série policial “Os Intocáveis” e foi nela que pela primeira vez que Brand interpretou Al Capone, repetindo esse personagem em diversos episódios da série. O capo da Máfia foi interpretado novamente por Neville no telefilme “Expresso para Alcatraz”. Neville já estava acostumado a ser Al Capone quando foi escolhido para interpretá-lo novamente em “A História de George Raft”. Personagem também nada simpático foi o de Neville Brand como Pap Finn em “As Aventuras de Huckleberry Finn”.

Neville e Lancaster em
"O Homem de Alcatraz";
abaixo o elenco de
"Laredo"
NA TV COM “LAREDO” - Em 1961 Neville esteve no elenco de “O Último Pôr-do-Sol” (The Last Sunset), com Kirk Douglas, Rock Hudson e Dorothy Malone. Em 1962 o ator voltou à prisão (no cinema) desta vez como o guarda que ajuda Burt Lancaster em “O Homem de Alcatraz” e atuou também em “A Terra que Amamos”, com James Mason e Warren Oates. Na TV Neville Brand participou de praticamente todas as grandes séries como “Gunsmoke”, “Rawhide”, “Combate”, “Ben Casey”, “Além da Imaginação” e a já citada “Os Intocáveis”. Tendo participado de três episódios de “Bonanza”, o mais interessante deles foi “O Último Viking” em que Neville interpretou Gunnar Borgström, tio sueco de Hoss Cartwright, com quem tem uma bela luta até se entenderem melhor. Em 1965 Neville teve participação fixa em uma série de TV como um dos três Texas Rangers de “Laredo”. Os outros eram Peter Brown e William Smith, todos comandados por Phil Carey. Porém o personagem mais bruto, falastrão e até simpático era justamente Reese Bennett, interpretado por Brand até o fim da série que ficou dois anos no ar (1965/1967), deixando muita saudade nos fãs. Neville reviveu o mesmo personagem Reese Bennett, em “Three Guns for Texas”. Em “Trágica sentença” (The Desperados), com Vince Edwards e Jack Palance, Neville interpretou um Delegado e em “Tora! Tora! Tora! Neville vestiu farda novamente como um tenente norte-americano.

Acima como índio em
"Cahill"; faces do terror
de Neville Brand
JOHN WAYNE E KIRK DOUGLAS - Em “Cahill, o Xerife do Oeste” (Cahill, U.S. Marshall), da fase final de John Wayne, o bandidão é George Kennedy e quem ajuda o Duke é o esperto índio Lightfoot, interpretado por Neville Brand. Depois de John Wayne foi a vez de Kirk Douglas atuar com Neville Brand em “As Aventuras de um Velhaco” (Scalawag), dirigido pelo próprio Kirk. Outro western de Neville foi “Fúria no Sangue” (The Deadly Trackers), com Richard Harris”. Tobe Hopper ficou famoso dirigindo “O Massacre da Serra Elétrica” e antes de “Poltergeist” Tobe juntou Neville Brand, Mel Ferrer, Carolyn Jones e Stuart Whitman para mais um terror intitulado “Eaten Alive” (Comidos Vivos), em que o psicopata Neville Brand mata pessoas de quem não gosta para alimentar um enorme jacaré que mantém num pântano. Apesar do tema mórbido e do elenco o filme fracassou. Depois disso Neville Brand se envolveu em uma série de filmes pouco memoráveis como “Psichic Killer” dirigido por Ray Danton; “Hi-Riders”, “Angel’s Brigade” dirigido por George Peppard; “Five Days from Home” e “Without Warning”. Em 1980, Neville teve a respeitavel companhia de Cibyll Sheperd, Raymond Burr e Martin Landau na sci-fi “O Retorno”, um dos piores filmes da carreira desses atores. O ultimo filme que teve a participação de Neville Brand foi “Evils of the Night”, em 1985, conseguiu ser ainda pior que o anterior mesno com Aldo Ray, John Carradine e Julie Newmar ao lado de Neville Brand que depois desses filmes bizarros e fracassados decidiu se aposentar como ator.

MEDALHA DE BOA CONDUTA - Neville Brand foi condecorado na II Guerra Mundial com as seguintes medalhas: Purple Heart, Silver Star, American Defense Service Medal, European African Middle East Medal, American Campaign Medal, World War II Victory Medal, Service Stripe e Combat Infantryman Badge. Como soldado Neville recebeu ainda a Good Conduct Medal, medalha que certamente não receberia na vida real. Segundo ele confessou as suas maiores batalhas na vida foram mesmo contra as drogas e contra o álcool. Devido às constantes faltas por bebedeira Neville Brand quase chegou a ser dispensado da série “Laredo”, apenas não sendo porque era a maior atração do seriado. Neville foi casado quatro vezes sendo duas delas ao mesmo tempo, o que caracteriza bigamia e teve dois filhos do seu último casamento com Mae Brand que acompanhou Neville até a morte do ator ocorrida na cidade de Sacramento, em 16 de abril de 1992, de enfizema pulmonar, aos 71 anos. Bruce Dern em suas memórias afirmou que Neville Brand foi a pior pessoa com quem teve que trabalhar, vindo em segundo lugar Audie Murphy. Essa declaração é bastante estranha por partir de Bruce Dern, um homem notoriamente contra o sistema norte-americano e também um pacifista. Pela coincidência de nomes dá a impressão até que Bruce era mesmo contra norte-americanos que lutaram por sua pátria como foi o caso de Brand e Murphy. Mas assim como Audie Murphy deu uma grande contribuição ao cinema, especialmente ao faroeste, Neville Brand será sempre lembrado como um dos mais apavorantes homens maus do cinema.


8 comentários:

  1. Sem dúvida Neville Brand foi um dos mais notáveis nomes dos westerns, e era ótimo ator. Pouquíssimas vezes fez "homens do bem", mas um papel simpático que me recordo dele foi em "Entre Deus e o Pecado" (Elmer Grant) com Burt Lancaster, onde fazia um guarda de presídio solidário e amigo do personagem de Lancaster.

    Um nome que merece toda lembrança, e uma saudosa reminiscência ao mundo dos antigos filmes.

    ResponderExcluir
  2. Olá, Paulo. O filme que você se refere é "O Homem de Alcatraz", citado no texto como uma das poucas interpretações simpáticas de Neville Brand.
    Um abraço - Darci

    ResponderExcluir
  3. Neville Brand, ótimo ator, lembro-me muito bem de Laredo, passava nas noites de 6°feira. Assisti também Cahill, um xerife do oeste, com John Wayne, muito bom. Bom, para resumir, a maioria dos filmes citados acima, eu assisti, sou cinéfila inveterada, e aproveitando a oportunidade, quero parabeniza-lo pelo blog, ótimo, muito bom. Tenho muitas coisas para ler, aos poucos vou me inteirando dos assunto. E mais uma vez, obrigado por poder participar e dar os meus pitacos.

    ResponderExcluir
  4. Verdade Darci. Meu "chip" faiou, rs.
    Em "Cahill" também é outra interpretação simpática, como co-herói do John Wayne, um índio. Esta até mais magro. Abraços

    ResponderExcluir
  5. Alguns atores são injustiçados pelas mídias, pelas homenagens na televisão. E Neville Brand é um deles.
    Achei muito bom ler um artigo sobre ele.
    Lembro do seriado Laredo. Assistia com o meu pai.
    O bom deste blog é ter acesso a esses artistas.
    Abraços
    Janete

    ResponderExcluir
  6. Olá, Janete querida.
    Obrigado pelas sempre entusiasmantes palavras.
    Um abraço - Darci

    ResponderExcluir
  7. Neville Brand fez muitas fitas e eu vi quase todas elas. Mas Rebelião no Presidio é o filme que mais o traz à minha memória.
    Um ator com bons recursos e que fez em sua maioria tipos fora da lei. Não recordo se ele participou na enquete dos vilões. Acho que teria dado um voto a ele, já que com aquela cara terrível impulsionou bastante seus vilões no cinema.
    Não consigo entender o porque de tantos atores, e até atrizes, se atirarem no alcool e drogas, fazendo suas vidas deteriorarem e até os levando à morte. E são, normalmente pessoas de boas posses, bem assentadas na arte que selecionou para si e que têm renome.
    Mas este desgraça não ocorre apenas com atores e todos sabemos disso. A droga e o alcool são a degradação dos humanos.
    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
  8. Neville Brand concorreu à enquete dos bandidos e ficou em 16.º lugar. Neville foi um bandidão!!!

    ResponderExcluir