UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

3 de outubro de 2011

FACETAS POUCO CONHECIDAS DE JAMES STEWART


James Stewart foi um dos atores mais queridos do cinema norte-americano e um dos favoritos dos fãs de faroestes. Alguns dos westerns em que Stewart atuou são clássicos do gênero, especialmente os cinco feitos em parceria com Anthony Mann. E o grande diretor chegou a iniciar “A Passagem da Noite” (The Night Passage), em 1957, com James Stewart no papel principal. Para se saber porque Mann abandonou o filme leia neste blog o artigo “James Stewart-Anthony Mann – O fim de uma parceria e de uma amizade”. James Stewart queria muito fazer “A Passagem da Noite” e uma das razões é que nesse filme ele poderia cantar e tocar seu instrumento musical preferido.

James Stewart, seu acordeão e Brandon De Wilde
CANTANDO E TOCANDO - James Stewart poderia ser qualquer coisa na vida, menos ator. Magro demais, desengonçado, parecendo tropeçar nas próprias pernas, Frank Capra o aproveitou maravilhosamente em “A Mulher faz o Homem” em que ao lado de Jean Arthur ele interpreta o mais atrapalhado dos galãs. Porém pior do que a presença física de James Stewart era sua voz meio fanhosa parecendo ter um ovo quente na boca e gaguejando nervosamente. Pois foi com todos esses ‘defeitos’ que James Stewart venceu em Hollywood e pode-se afirmar que poucos atores participaram de um número tão grande de obras-primas e clássicos do cinema quanto ele. Quando jovem James Stewart aprendeu a tocar acordeão, instrumento que fazia muito sucesso aqui no Brasil nos anos 50, época em que a RCA Victor praticamente só prensava discos de Luiz Gonzaga, “O Rei do Baião”. Instrumento da moda, as moçoilas iam aos conservatórios musicais sonhando em serem novas Adelaide Chiozzo. E que ninguém chamasse o acordeão de ‘sanfona’ pois saía até briga... Jimmy Stewart nas horas vagas gostava de dedilhar seu acordeão e sonhava poder aparecer num filme tocando esse instrumento. A oportunidade surgiu com “A Passagem da Noite”, em que além de tocar James Stewart se meteu a cantar também!?!?! Antes que alguém pergunte se os produtores da Universal haviam enlouquecido, é preciso lembrar que James Stewart era um dos produtores desse western...  

COWBOYS DECLAMADORES - Quem lembra de “A Passagem da Noite” certamente se recorda de James Stewart tocando (bem) e cantando (sofrivelmente) “You Can’t Get Far Without a Railroad” num acampamento e mais tarde numa belíssima sequência em cima de um trem em movimento repetindo a dose com “Follow the River” para um atento Brandon De Wilde escutar. Em outra cena é Audie Murphy quem escuta James Stewart cantar "Follow the River". Ambas as canções são de autoria da dupla Ned Washington e Dimitri Tiomkin. James Stewart atuou também no excelente “Shenandoah” em que ele não canta, mas aproveitando a onda de cowboys que gravaram declamações de poemas e pequenas histórias (John Wayne, Lorne Greene, Walter Brennan, Slim Pickens entre eles), James Stewart também declamou os versos de “The Legend of Shenandoah”, tema tradicional que recebeu versos de Gloria Shayne e Jerry Keller. A gravação, que ocorreu em 23/4/1965 é comovente pois a voz inconfundível de Stewart nos lembra dos filhos que ele, interpretando o patriarca Charles Anderson fazendeiro do Vale de Shenandoah, na Virginia, perde na Guerra da Secessão nesse filme de Andrew V. McLaglen.


LeonardoDi Caprio e
 Clint Eastwood;
o elegante J. Edgar
O AMIGO DE J. EDGAR HOOVER - Está com lançamento programado para o dia 11 de novembro próximo, nos Estados Unidos, o mais recente filme de Clint Eastwood, “J. Edgar”, estrelado por Leonardo Di Caprio. O polêmico J. Edgar Hoover foi o fundador do temido Federal Bureau of Investigation – FBI. Durante 48 anos (de 1924 a 1972) esse homem teve poder quase igual ao do presidente dos Estados Unidos, sendo uma figura parecida com a soma de Filinto Müller, Armando Falcão e Romeu Tuma, notórios mantenedores da ordem política nos períodos de exceção no Brasil. Alguns dos personagens de “J. Edgar” são políticos conhecidos como Robert Kennedy, Richard Nixon, Dwigth Eisenhower e Franklin Roosevelt ou artistas como Shirley Temple e Lucille Ball. Na lista de personagens do filme que está na Internet Movie Database – IMDb, não aparece o nome de James Stewart que, como já foi publicado em livros e artigos, era amigo e admirador de J. Edgar Hoover. Politicamente James Stewart era um Republicano ultra-direitista e sempre apoiou as iniciativas de limpar Hollywood da ‘ameaça vermelha’ representada pelos artistas, escritores e diretores que simpatizavam como comunismo.


Quarteto poderoso: Hoover, Royal Miller,
Clyde Tomson e o famigerado
senador Joseph McCarthy
UMA HISTÓRIA DO FBI - O escritor Michael Munn em seu livro “James Stewart - The Truth Behind the Legend” (A Verdade por Trás da Lenda) relata em detalhes que as relações de James Stewart com J. Edgar Hoover iam muito além da amizade e admiração e que Stewart era um colaborador, um verdadeiro espião de Hoover, assim como Ronald Reagan. Conta-se que James Stewart denunciava ao diretor do FBI não só os colegas de trabalho mas também gângsters como Bugsy Siegel e Lucky Luciano, os quais conhecia pessoalmente. Siegel, que no cinema foi vivido por Warren Beatty no filme “Bugsy”, quando estava para ser preso ameaçou J. Edgar Hoover dizendo ter em seu poder uma foto de Hoover vestido de mulher. Outro livro sobre Hoover conta que ele era amante de Clyde Tomson, seu vice-diretor do FBI. O casal era apelidado de ‘J. Edna e Mother Tomson’. Em 1959 a Warner Bros. produziu um filme de encomenda que se chamou no Brasil “A História do FBI” (The FBI Story). J. Edgar Hoover exigiu que o ator principal desse filme fosse James Stewart, sendo que durante toda a filmagem Hoover esteve presente praticamente dirigindo o filme com tantos palpites que dava, todos aceitos pelo diretor Mervyn LeRoy.

UMA VIDA MARAVILHOSA - Os defensores de James Stewart afirmam que Hoover se aproveitava da amizade que mantinha com o ator e este apenas colaborava com Hoover porque, assim como outros atores (John Wayne entre eles), era um Republicano intransigente e zeloso pela democracia (?) de seu país. Em vida nunca James Stewart foi questionado sobre esse assunto e sua ideologia política não impediu de sua vida ser uma verdadeira ‘Wonderful Life’ (vida maravilhosa), por sinal título do filme “A Felicidade Não Se Compra” que foi eleito numa enquete como o filme mais querido de todos os tempos nos Estados Unidos. Resta esperar o filme de Clint Eastwood para ver se o diretor de “Os Imperdoáveis” teve ou não coragem de tocar em assuntos tão delicados ou se decidiu preservar uma faceta bastante discutível de James Stewart, um inesquecível astro de Hollywood.



4 comentários:

  1. Darci, bom ler esse texto... Nada sabia da face oculta de Stewart... A FELICIDADE NÃO SE COMPRA é um dos meus filmes favoritos, assim como NÚPCIAS DE ESCÂNDALOS. Considero os westerns de Stewart com Anthony Mann os melhores dos melhores... mas nunca gostei de Stewart... A sua voz fanhosa me irrita (o mesmo se passa com a Liz Taylor) e o seu jeitão desengonçado também... Mas é evidente que teve uma carreira espetacular, com grandes filmes. Peço um post sobre um ator que gosto muito e nada sei sobre ele... John Hodiak.
    Abraços,

    O Falcão Maltês

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  2. Nahud, sei que muitos não gostarão de cohecer esses fatos assim como eu quando li pela primeira vez fiquei chocado. Porém nada disso fez com que eu admirasse menos o excelente ator e mais ainda seus filmes, westerns, thrillers e as comédias de Capra.
    Um abraço.

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  3. Prabéns, Darci. Não recordo dessa faceta de James Stewart citada em vários artigos e livros que li sobre o tema. Gostei também da justa separação entre "criador e criatura", pois Ronald Regan, que delatou e enriqueceu nessa triste época, está presente na minha paixão pelo cinema, no bom filme, Kings Row(Em Cada Coração um Pecado).
    Acho que vale a lembrança das palavras de Gregory Peck, em meio aquele turbilhão: "Há mais de um meio de perder a liberdade. Ela pode ser arrancada das mãos da gente por um tirano, mas também pode ir escapando dia a dia, enquanto a gente está ocupado demais para perceber, confuso demais ou amedrontado demais."

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  4. Conforme falei no OFALCAOMALTES, sobre Elia Kazan, o que vale muito para mim de Stewart é sua vida dentro das telas, dos maravilhosos filmes que fez e de suas interpretações marcantes. Mas, sobre o Hoover, já tinha lido algo sobre sua sexualidade, assim como andei lendo que Stewart era um incomparável companheiro nos sets, ajudando a todos e sendo qualificadfo como o décimo ator mais querido de Hollywood.
    Porém, gostaria muito de saber porque A Mann não dirigiu A Passagem da Noite e porque a boa amizade dele com Stewart foi a pique.
    jurandir_lima@bol.com.br

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