UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

31 de março de 2011

DESBRAVANDO O OESTE (The Way West), FILME À SOMBRA DO MESTRE JOHN FORD

Cada gênero cinematográfico teve, ao longo da história do cinema, seus clássicos, alguns deles reconhecidas obras-primas do cinema. Cada gênero teve seus principais diretores que praticamente contam-se nos dedos de uma mão. É assim com os musicais, com os filmes policiais (noir incluídos), comédias, melodramas e até os épicos. No gênero western enquadram-se entre os grandes diretores, identificados pelos clássicos que filmaram, Anthony Mann, Clint Eastwood, Sergio Leone, Sam Peckinpah e Howard Hawks. Acima de todos paira John Ford. Se a intenção for polemizar poderiam entrar nessa relação John Sturges, Raoul Walsh, Budd Boetticher e Henry Hathaway. E fecha-se a lista. Assim é o cinema, as artes em geral, os esportes e a própria vida. Nem todos podem ter o mesmo talento e a mesma inspiração. Quando muito, pode-se ter as mesmas condições de trabalho, no caso do cinema, atores e técnicos. Por que então exigirmos que todos os diretores de westerns os façam com a mesma qualidade? Todo esse intróito foi escrito lembrando o que os críticos, entre eles Rubens Ewald Filho, pensavam a respeito de Andrew V. McLaglen: um diretor de western sem talento e que perseverou no gênero fazendo filmes quase todos eles medíocres. De fato, Andrew V. McLaglen dirigiu uma dúzia de westerns sem que nenhum deles se tornasse um clássico. Chegou perto disso com “Shenandoah”, mas quando os mestres do gênero já estavam se aposentando, McLaglen dirigiu westerns apreciáveis como “Os Renegados” (Something Big) e “O Preço de um Covarde” (Bandolero) e as comédias “Quando um Homem é Homem” (McLintock!), “Raça Brava” (The Rare Breed) e “A Indomável” (The Ballad of Josie). Andrew V. Mclaglen sempre foi acusado de imitar o estilo de John Ford e provavelmente o melhor exemplo dessa tentativa foi com “Desbravando o Oeste” (The Way West), de 1967. A partir do livro “The Way West”, de autoria de A.B. Guthrie Jr. (roteirista de “Shane”), premiado com o Pulitzer e participação também de Ben Maddow (roteirista de “Johnny Guitar”) no script, “Desbravando o Oeste” conta a saga de famílias que partem em direção ao Oregon.

Uma das maravilhosas sequências fotografadas por William Clothier
No caminho enfrentam toda sorte de perigos, desde Sioux atrás de água de fogo (whiskey), deserto interminável, rios e montanhas difíceis de transpor. Além disso há o convívio prolongado das centenas de pessoas da caravana originando não só amizade mas também cobiça, paixões e ódio. E fica-se a imaginar o que Ford faria com esses temas, ainda mais contando com a magnífica cinematografia de William Clothier. Pois McLaglen não decepcionou e conta a história de maneira envolvente, ainda que sem aquele toque poético que Ford melhor que ninguém era capaz de dar a cada situação que surge durante a longa caminhada da caravana. Do excelente elenco reunido destaca-se Robert Mitchum como o indolente guia da caravana que só abandona sua habitual apatia quando se trata de salvar vidas. Kirk Douglas é um ex-senador visionário que lidera com sadismo a empreitada. Richard Widmark um fazendeiro que se deixa contaminar pelo espírito de aventura da conquista da terra prometida. Ambos bastante bem mas Bob Mitchum é quem vence a luta surda entre os três grandes atores. Jack Elam rouba todas as cenas em que participa como um irreverente pregador. O elenco feminino tem Lola Albright e Sally Field em seu primeiro filme, cada qual despertando a líbido masculina na longa jornada. Um envelhecido Harry Carey Jr. é uma lembrança inequívoca de “Caravana de Bravos” (Wagonmaster), de John Ford, enquanto Roy Barcroft e Peggy Stewart são carinhosas lembranças da Republic Pictures. Stubby Kaye, Patric Knowles e Nick Cravat também têm participações em meio a um numeroso elenco. Nick Cravat, por sinal, tem uma única fala no filme, muito mais que quando acompanhava Burt Lancaster. É mais que hora de fazermos justiça a Andrew V. McLaglen, um cineasta que se não foi tão bom quanto queríamos que ele fosse, pelo menos nos contemplou com inúmeros westerns quando estes começavam a escassear, até chegarmos à seca que são os tempos atuais.

5 comentários:

  1. Sinto muito não ter concordancia com o editor em dois pontos deste tópico;
    1 - não entendo porque todo diretor de westerns,
    para serem bons, têm de ser comparado a John Ford. Sinto, mas não entendo isso. Não entendo também porque John Ford tem que ser sempre o tópico de qualquer comentário quando se fala de faroestes. Porque não o pomos de lado e, simplesmente, falamos de outro/s nome/s? Por exemplo; Hawks foi um bom diretor e para ser bom ele não precisa ser comparado a Ford. Mann e Sturges foram bons. Não necessitam, entretanto, serem comparados a Ford.
    Existe uma avalanche de super coroações para Ford, por muitos criticos ou comentaristas que, suponho, não precisava tanto. Afinal, não foi somente Ford quem dirigiu os grandes faroestes do cinema. Ele, naturalmente, tinha seus meritos. Era dono um bom jogo de cintura ao fazer westerns, tinha um cenceito bastante aceitável em suas posicões dentro de um filme, sabia achar locações e usa-las como ningúem (o que em muito enlevava suas fitas), era um diretor que tomava conta de tudo sozinho, pois era um ditador antes de tudo, aterrorizando a quase todos com sua irrelevante suposição de autoridade e, o pior para ele ainda: quase sempre tinha à sua mercê, grandes astros como Fonda, Stewart, Johnson e, sem falar no Duke, que lhe abria portas e mais portas no sucesso de seus filmes. O Duke, sem sombras de duvidas, alavancou quase tudo que o "grande mestre" fez. Ora, bolas; ninguém consegue erguer um edificio sozinho. O homem era bom, tinha suas tarimbas, seus jogos de cintura, sua classe. Mas tinha também um exercito trabalhando para ele. Tudo isso independente de ser uma criatura temerosa por todos, o que o fazia mais que senhor de todas as situações.
    Em suma; um ditador, rodeado de vantagens e fazendo bons westerns. Apenas bons westerns. No entanto, bons, excelentes westerns também fizeram; Hawks, Mann, Sturges, Hathaway e muitos e muitos outros.
    E todos os demais sem terem a enorme força que Ford tinha junto aos comentaristas e criticos de faroestes.
    Não. Não acho que ele seja tão DEUS no faroeste como se apregoa. Apenas sabia tirar proveitos de todas as situações que se abriam diante de sua tirania, inescropulosidade e brutalidade para com seus co-e companheiros de trabalho.
    Tenho que me por em desculpas diante de amigos e fãs extremados de Ford. Mas não vou concordar que ele foi tanto assim como o elegem. Agora me perguntem; Ford foi um bom fazedor de westerns? Vou responder que sim. Então agora me indaguem; Ford foi a supremacia dentro do gênero? Sem pensar vou responder que não. E acrescento sem receios; Antonny Mann foi tão bom quanto ele (veja sua filmografia e compare), Hawks foi tão bom ou melhor que ele (insista. Veja seus filmes), Sturges não deve nada a ele. Teime e vá conferir sua filmografia. E vou parar por aqui, explicando e caracterizando, que tudo isto não passa de minha opinião. Nada além.
    2 - Dentre os bons diretores de faroestes, acho que caberia mais o nome de Delmer Daves.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. Jurandir, vejo que você citou exatamente os diretores que estão no texto. Parece que você não perdoa John Ford por causa do temperamento dele. Mas para dirigir filmes não se pode ser um perfeito cavalheiro...

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  3. Em primeiro lugar, parabéns pelo blog, Darci. Descobri-o na madrugada deste sábado e fui dormir tarde, lendo seus ótimos textos. É raro encontrar artigos destacando não apenas os westerns mais famosos mas também aqueles pouco reconhecidos ou mesmo esquecidos por parte da crítica. O mesmo pode ser dito em relação aos atores que não eram do "primeiro time" mas que faziam a alegria dos fãs, como por exemplo Dan Duryea, merecidamente em destaque num dos artigos.

    Sobre o McLaglen, reconheço suas limitações e já li diversas críticas, quase sempre impiedosas, a ele dirigidas. Mas se não fosse ele, o western teria sumido mais cedo das telas. E não veríamos tantos encontros antológicos de velhos astros de bang-bang num mesmo frame. Como sou apaixonado por westerns prefiro ver esse lado positivo, relevando assim o lado "cinematográfico" da análise. Pena que McLaglen não tenha feito uma dezena de westerns a mais. Sem contar que, se não herdou o talento, pelo menos ficou com boa parte do elenco dos filmes do Ford. Sinal que era querido pelos que o rodeavam.

    Aliás, se John Ford fosse mesmo tão "desumano" como a lenda (?) faz parecer, não teria mantido uma equipe tão fiel por tantos anos, não? Ou seriam todos inveterados masoquistas?
    De novo parabéns pelo blogue.
    Edson Paiva

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  4. Olá, Édson, seja bem-vindo a este rancho dos cowboys. Muito boa sua observação sobre John Ford que tinha um time sempre fiel a ele. E você tem razão também em lembrar que Andrew V. McLaglen fez mais westerns que qualquer outro diretor nos estertores do gênero. Um abraço.

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  5. Para Jurandir Lima : John Ford não foi apenas o melhor diretor de western, foi o maior diretor norte americano e um dos melhres do mundo ( o maior na opinião de Bergman... )
    Certa vez incitado a definir os três maiores diretores, Orson Welles simplesmente respondeu : John Ford, John Ford e John Ford.
    Não me leve a mal, Jurandir , mas é isso aí

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