UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

30 de março de 2011

"MAJOR DUNDEE", O APOCALÍPSE DE SAM PECKINPAH

Já houve quem dissesse que o making-of de “Apocalypse Now”, rodado por Eleanor Coppola (“Francis Ford Coppola – O Apocalipse de um Cineasta”) é até melhor que o premiado filme do diretor da trilogia “O Poderoso Chefão”. Uma pena que não houvesse sido feito também um making-of durante a rodagem de “Juramento de Vingança” (Major Dundee), dirigido por Sam Peckinpah. Após o sucesso de “Pistoleiros do Entardecer”, o conceito de Sam subiu muito em Hollywood, sendo ele saudado como um novo John Ford. A Columbia não perdeu tempo e colocou muito dinheiro, seus melhores técnicos e um elenco de alto nível nas mãos de Peckinpah para a nova produção que Sam exigiu fosse rodada no México, "Juramento de Vingança". Mas não demorou muito para Sam começar a criar problemas de toda ordem. Inicialmente despediu o roteirista Harry Julian Fink, substituindo-o por Oscar Saul que reescreveu todo roteiro ao lado de Peckinpah. A cada dia de filmagem Sam encontrava nova vítima para seu descontrole emocional e verbal e após xingar o infeliz com os piores palavrões, acabava por demiti-lo. Foram 15 técnicos demitidos, no total. Disposto a domar o irrequieto diretor, o produtor Jerry Bresler apareceu nas locações em Durango tentando interferir e ouviu de Peckinpah: “Não rodo um palmo de filme se você não colocar sua bunda no próximo avião e voltar para seu escritório em Los Angeles.” Bresler obedeceu, mas dias depois retornou acompanhado da alta cúpula da Columbia. Encontraram Peckinpah sem camisa, usando uma bandana num cenário verdadeiramente de guerra. Sam repetiu para eles o que dissera a Jerry Bresler mas teve como resposta do vice-presidente da Columbia: “Então você está demitido e fora de “Major Dundee!” Não contavam os homens de terno e gravata que Charlton Heston com sua poderosa voz, lembrando Moisés no alto do Monte Sinai, declarasse: “Se Sam sair deste filme eu também saio!” Atrás de Heston ouviram-se as vozes de Richard Harris, James Coburn, Warren Oates, L.Q. Jones, R.G. Armstrong, Ben Johnson e Slim Pickens declararem: “E nós também sairemos juntos!” Charton Heston foi mais longe e bravateou: “E podem ficar com meu salário pois para ajudar Sam não quero receber nada!” O salário de Heston era de 300 mil dólares, hoje mais de dois milhões de dólares, prontamente aceitos pelos executivos para cobrir os prejuízos do filme. Encurralado, o staff da Columbia teve que se dobrar, ir embora e receber as notícias diárias de uma das mais conturbadas produções que se teve notícia na história de Hollywood.

O temperamental Sam Peckinpah
Ouviram, por exemplo, que durante a filmagem de uma sequência, Peckinpah pediu a Charlton Heston (Major Dundee) que liderasse sua tropa de soldados trotando em direção onde estava Peckinpah e a câmara. Com sua característica educação Peckinpah vociferou: “Ficou uma merda! Você está muito devagar!” Heston replicou: “Mas Sam, você disse que queria a tropa trotando...” E o gigantesco Charlton ouviu de Sam: “Uma porra que eu falei isso. Você é um mentiroso desgraçado!” Heston afastou-se montado em seu cavalo, tomou certa distância, esporeou o animal e partiu com ele em direção a Peckinpah. Este, ao invés de fugir, gritou para o cameraman: “Filma agora, filma agora!!!” E levantou-se de sua cadeira cuja lona onde estava escrito ‘Sam Peckinpah’ foi cortada ao meio pelo sabre de Major Dundee. A cena foi aproveitada, o filme conseguiu ser terminado, não houve a tradicional festa de despedida e Peckinpah ficou marcado como o mais temperamental dos diretores. E “Juramento de Vingança” ficou sem o making-of que certamente seria melhor que o próprio apocalíptico épico dirigido por Sam Peckinpah.

Nenhum comentário:

Postar um comentário