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13 de setembro de 2014

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE CLAYTON MOORE, O ETERNO THE LONE RANGER

Jack Carlton Moore - 14/9/1914 - 28/12/1999

Kay Aldridge e Clayton Moore em luta com
um árabe em "Os Perigos de Nyoka".
Clayton Moore tem lugar reservado entre os mais queridos mocinhos do cinema e da TV, especialmente por ter personificado como nenhum outro ator o inesquecível Cavaleiro Solitário ‘The Lone Ranger’. Antes de imortalizar o herói mascarado na televisão, Clayton Moore secundou Larry Buster (Flash Gordon) Crabbe como Rei dos Seriados, tantos foram os eletrizantes filmes em capítulos em que Clayton Moore atuou. Quando Moore apareceu em “Os Perigos de Nyoka” (Perils of Nyoka), seriado de 1942, ele roubou todas as cenas da protagonista Kay Aldridge enfrentando e vencendo toda sorte de riscos. Os jovens e atentos frequentadores das matinês já apostavam que nascia ali um futuro grande mocinho e não erraram. Depois daquele seriado Clayton Moore apareceria em nada menos que outros onze seriados sempre agradando em cheio à legião de fãs que sabiam que o nome de Clayton Moore era sinônimo de muita ação.

Um ás dos seriados - A extensa lista de seriados nos quais Clayton Moore teve destaque foram os seguintes: “O Espírito Escarlate” (The Crimson Ghost), de 1946; “A Volta de Jesse James” (Jesse James Rides Again), de 1947; “Vingadores do Crime” (G-Men Never Forget) e “Aventuras de Frank e Jesse James” (Adventures of Frank and Jesse James), ambos de 1948; "O Fantasma do Zorro” (Ghost of Zorro), de 1949; “O Mistério do Disco Voador” (Flying Disc Man from Mars), de 1951; “O Cavaleiro Relâmpago” (Son of Geronimo) e “Cody, o Marechal do Universo” (Radar Men from the Moon), os dois de 1952; “Tambores Feiticeiros” (Jungle Drums of Africa), de 1953; “O Sinal do Cavalo Branco” (Gunfighters of the Northwest), de 1954. E Clayton Moore apareceu, sem ter seu nome nos créditos, em “A Legião do Zorro” (Zorro’s Fighting Legion), de 1939, o que eleva para doze o número total de seriados em que atuou. Para quem não faz ideia do que significavam os seriados nas matinês, lembro que eram mais os seriados e menos os filmes que lotavam as barulhentas sessões dos domingos à tarde nos cineminhas de bairro espalhados pelo Brasil inteiro. Abaixo Clayton Moore em fotos de seriados que participou.

Com Kay Aldridge em "Os Perigos de Nyoka"; em “O Espírito Escarlate” com
Linda Stirling e o Crimson Ghost; com John Compton em 
“A Volta de Jesse James”.

Lutando contra um vilão em “Vingadores do Crime”; com Steve Darrell em“Aventuras de Frank e Jesse James”; com Roy Barcroft em  "O Fantasma do Zorro”.

Em “Cody, o Marechal do Universo”;
lutando contra Roy Glenn em "Tambores Feiticeiros".

Ao lado de Bud Osborne em “O Cavaleiro Relâmpago”;
com Jack Mahone e Lyle Talbot em 
 “O Sinal do Cavalo Branco”.

Clayton Moore ainda à procura
de uma identidade.
Fora do panteão dos grandes mocinhos - Paralelamente aos seriados o jovem e atlético ator de 1,85m de altura desenvolvia bela sequência de atuações, principalmente nos westerns-B. Moore teve que interromper sua carreira ao ser convocado para servir na U.S. Army durante a II Guerra Mundial, lutando por três anos (1943/1945). Antes disso Havia atuado no primeiro filme norte-americano que focalizou o conflito mundial, filme que se chamou “Perigo Amarelo” (Black Dragons), produzido em 1941. Nesse filme Bela Lugosi interpreta um médico nazista que alterava os rostos dos espiões japoneses, transformando-os em norte-americanos. Clayton Moore era o mocinho que derrotava o vilão Lugosi. Voltando da guerra Moore seguiu alternando papéis principais nos seriados com os de coadjuvante nos filmes de média e longa-metragens. Apesar da boa impressão que sempre deixava nos filmes que participava, Moore não conseguia ascender ao panteão dos grandes mocinhos do cinema, lá onde um dia estiveram William S. Hart, Harry Carey, Buck Jones, Ken Maynard e Tom Mix e onde luziam, nos anos 40, Roy Rogers, Rocky Lane, Tex Ritter, Gene Autry, Hopalong Cassidy e Durango Kid. Clayton Moore parecia mesmo fadado a ser apenas mais um mocinho sem a identificação própria como tinham Tim Holt, Bill Elliott e Johnny Mack Brown. Isso mesmo tendo talento que nada ficava a dever aos também famosos cowboys Bob Steele, Buster Crabbe, Rod Cameron, Sunset Carson e Lash LaRue.

Clayton Moore se encontra com
o personagem de sua vida.
Chega o maior inimigo do cinema - A sorte de Clayton Moore iria mudar exatamente em 1949, ano em que todos os mocinhos das matinês dominicais (Saturday afternoons nos States) se viram ameaçados por um inimigo pior que todos os foras-da-lei juntos: a televisão que chegava com força avassaladora prometendo acabar com o hábito de ir ao cinema. O produtor George W. Trendle já havia testado 75 candidatos para interpretar a versão do cavaleiro solitário The Lone Ranger numa série feita para a televisão. Trendle sabia que o novo veículo iria prender cada vez mais pais e filhos em suas próprias salas, esvaziando até mesmo as matinês. Para isso o herói mascarado seria uma grande atração nessa nova mídia. Clayton Moore decidiu se apresentar como candidato, até porque já havia usado máscaras no cinema em alguns seriados. Após o teste de Moore, o produtor George W. Trendle deu a busca por encerrada pois encontrara o tão sonhado e perfeito The Lone Ranger.

O jovem galã Clayton Moore.
Jovem modelo - Clayton Moore, cujo nome verdadeiro era Jack Carlton Moore, nasceu em Chicago no dia 14 de setembro de 1914, filho de um construtor. Contrariando o desejo do pai que queria que o filho fosse médico, Jack foi, em sua juventude trapezista de circo e ótimo nadador e mergulhador. E não poderia ser de outra forma pois um de seus instrutores era ninguém menos que Johnny Weissmuller. Um acidente que lhe causou uma séria contusão afastou o jovem Jack do circo e da natação, levando-o a se tornar modelo devido à sua bela estampa. Daí para o cinema foi uma questão de (pouco) tempo, momentos em que Jack se distraía ouvindo um dos mais populares programas de rádio dos anos 30, justamente “The Lone Ranger”. Jack Carlton era fascinado pelas histórias do Ranger Solitário e conhecia bastante bem a origem do herói. Adotando o nome artístico de Clayton Moore, o jovem assinou contrato com a Republic Pictures, atuando inicialmente como stuntman e fazendo pontas em filmes.

Louis Hayward e Clayton Moore em
"O Filho de Monte Cristo".
Assumindo o personagem - Em “Kit Carson”, faroeste de 1940 protagonizado por Jon Hall, Moore tem um dos principais papéis, assim como em “O Filho de Monte Cristo” (The Son of Monte Cristo), com Louis Hayward. E para se projetar Moore atuava indistintamente em musicais e comédias. Mais tarde Clayton Moore pode ser visto em westerns-B de Roy Rogers, Charles Starrett, Tim Holt, Don ‘Red’ Barry, Gene Autry e Rocky Lane, isto até ganhar o papel de seu herói preferido na futura série de TV. Então Clayton Moore entregou-se inteiramente ao personagem, assumindo de corpo e alma a figura do The Lone Ranger. Começou treinando a voz para que esta ficasse idêntica à que era conhecida pelos ouvintes da série de rádio, a voz do ator Bruce (Brace) Beemer. Assim como o herói que passou a interpretar, Clayton Moore era íntegro, levava uma vida austera, não fumava nem bebia e não demonstrava interesse por mulheres fora do casamento ou por dinheiro. A vida do ator confundia-se com a do personagem que encarnava na TV, tornando-se um ídolo não apenas das crianças e adolescentes, mas também dos pais, especialmente pelos princípios que norteavam suas palavras e atos.

Biografia de Clayton Moore.
Contratempo inesperado - “The Lone Ranger” não foi a série western pioneira da televisão norte-americana, primazia que ficou para “The Hopalong Cassidy Show”, programa estreado três meses antes do criado por George W. Trendle. No entanto “The Lone Ranger” obteve sucesso muito maior, tanto que a série estrelada por William Boyd seria produzida apenas por duas temporadas, enquanto Clayton Moore teve que protagonizar o mascarado cavaleiro solitário por muitos anos. Das séries westerns produzidas para a televisão, apenas Gunsmoke (640 episódios), “Death Valley Days” (532), Bonanza (440) e “O Homem de Virgínia” (225) tiveram mais episódios produzidos que “The Lone Ranger”, que atingiu 221 episódios. Exibido em muitos países e alcançando enorme sucesso nos Estados Unidos, em 1952 Clayton Moore pediu ao produtor um pequeno e razoável aumento de salário, já que Trendle estava cada vez mais rico com o filão descoberto com o mocinho mascarado e seu companheiro Tonto. Como se sabe produtores são todos avarentos e Trendle não era exceção, negando qualquer reajuste no minguado salário de 500 dólares semanais que Moore recebia. O ator então decidiu lutar por seus direitos e respondeu que com aquele salário irrisório não voltaria a colocar a máscara do cavaleiro solitário. Trendle então contratou John Hart para substituir Moore e a audiência do programa despencou para desespero do produtor. Foram 52 episódios da série “The Lone Ranger” que poucos se interessaram em assistir pois faltava Clayton Moore. Ao final da 4.ª temporada a marca criada por George W. Trendle perdera muito de seu valor e o veterano produtor a vendeu para Jack Wrather, presidente da Wrather Corporation. A primeira providência de Wrather foi dispensar John Hart e recontratar Clayton Moore pagando a ele 1.500 dólares por semana, mas proibindo-o através de clausula contratual de aparecer em público sem a máscara do cavaleiro solitário. Clayton Moore, em seu livro “I Was the Masked Man” nega que sua saída da série tenha sido por questões salariais e sim por diferenças artísticas. Clayton chegou a afirmar que interpretaria The Lone Ranger até de graça e queria que a série tivesse produção mais bem cuidada para enfrentar na audiência as dezenas de séries westerns que passaram a ser produzidas. Recuperando o personagem que era seu, Clayton Moore foi The Lone Ranger até o final da série.

Retorno ao cinema - Durante a temporada em que esteve afastado do personagem que ele adorava, Clayton Moore voltou a participar de filmes, atuando em onze filmes em 1952, dez deles westerns, sem contar os seriados. Clayton Moore teve a oportunidade de interpretar William F. Cody, o Búfalo Bill, no western “Búfalo Bill e os Índios” (Buffalo Bill in the Tomahawk Territory). Muito mais importante foi “Os Brutos Também Amam” (Shane), clássico em que Clayton Moore tem uma pequena participação, quase figuração, como um dos capangas dos irmãos Ryker. Moore sequer foi creditado nesse trabalho. É dessa fase ainda “Tambores Feiticeiros”, um dos melhores seriados produzidos para o cinema quando o gênero agonizava. O sucesso da série “The Lone Ranger” levou o produtor Jack Wrather a produzir dois longa-metragens. O público pode então ver em cores e em tela grande o garboso herói mascarado montando Silver, seu portentoso cavalo branco, ao lado de Tonto, o fiel companheiro de aventuras. Em 1956 os fãs da série puderam assistir “The Lone Ranger” (Zorro e o Ouro do Cacique) e em 1958 foi a vez de “The Lone Ranger and the Lost City of Gold” (Zorro e a Cidade Perdida do Ouro). Finda a série de TV em 1957 a identificação de Clayton Moore com o personagem era tamanha que o ator recusou diversas ofertas de trabalho para interpretar personagens que não condiziam com a imagem por ele criada na televisão e no cinema. O único trabalho que Clayton Moore aceitou fazer nessa época foi aparecer como convidado especial num episódio da série “Lassie”, em 1959, interpretando The Lone Ranger.

Clayton Moore em cenas de "Buffalo Bill e os Índios".
Acima Clayton Moore interpretando o personagem 'Ray D'Arcy' em
"Intrépido Xerife" (Sheriff of Wichita) ao lado de Rocky Lane; outra vez
com Rocky Lane em "Estalagem Misteriosa (Marshal of Amarillo).

Clayton Moore rendendo Hopalong Cassidy num episódio da série de TV
de Hopalong; dando uma lição a um malfeitor.

Clayton Moore como 'The Hawk', em "O Gavião do Rio Bravo"
(The Hawk of Wild River), western de Durango Kid (Charles Starrett).


Os leitores brasileiros tinham dois heróis
chamados 'Zorro' para se emocionar.
Os dois Zorros no Brasil - Será que Clayton Moore tomou conhecimento da confusão criada no Brasil, onde The Lone Ranger recebeu o nome do herói de capa-e-espada ‘Zorro’? Curiosamente os fãs brasileiros aceitaram com naturalidade essa associação dos personagens, sabendo distinguir perfeitamente um do outro e vibrando indistintamente, ainda que o ‘Zorro do Velho Oeste’ tenha tido um apelo muito maior, seja pela série de TV exaustivamente reprisada, seja pelas aventuras quadrinizadas que foram publicadas no Brasil por mais de 30 anos. A Editora responsável pelas edições do ‘Zorro’ foi a Editora Brasil América Ltda que presenteou os brasileiros com os admiráveis desenhos de Charles Flanders. A Editora Abril passou a publicar simultaneamente anos depois as aventuras do herói criado por Johnston McCulley com Don Diego de La Veja como o alter-ego do Zorro de capa-e-espada.

Clayton Moore no tempo em que
não podia vestir a máscara que
usou no cinema e na televisão.
Um castigo para Clayton Moore - Com o fim da série de TV em 1957, que teve muitas reprises nos anos seguintes, nos anos 60 Clayton Moore passou a levar a figura do Lone Ranger a festivais, paradas, feiras, comerciais e shows de televisão. Não havia inauguração de shopping centers no Oeste e Meio-Oeste que não contasse com a presença de Clayton Moore vestido como The Lone Ranger ou pelo menos com a máscara e o chapéu do justiceiro mascarado. Isso começou a incomodar Jack Wrather que, entre outras coisas, pretendia lançar um longa-metragem com as aventuras do The Lone Ranger interpretado por um ator mais jovem. Antes do lançamento de “A Lenda do Cavaleiro Solitário” (The Legend of the Lone Ranger), com o desconhecido Klinton Spilsbury como o cavaleiro mascarado, a Wrather Corporation acionou a Justiça para impedir que Clayton Moore continuasse a usar a imagem do The Lone Ranger. A Justiça reconheceu o direito da empresa e Clayton Moore foi então proibido de ser o herói que tanto amava. Moore iniciou então uma verdadeira cruzada na qual conseguiu o engajamento de milhares de fãs que escreveram aos jornais demonstrando indignação com a proibição. O caso retornou aos tribunais onde depois de cinco anos de batalha judicial uma corte da Califórnia devolveu a Clayton Moore o direito de usar a identidade que de fato e agora de direito, era dele. O fracasso de “The Legend of the Lone Ranger” pesou nessa decisão pois refletiu o repúdio do grande público a qualquer outro ator que quisesse ser The Lone Ranger em lugar de Clayton Moore.

Iron Eyes Cody, Clayton Moore (de óculos), Roy Rogers, Gene Autry
e Pat Buttram: encontro de ídolos dos faroestes.

Clayton com a esposa Sally.
Óculos como máscara - Enquanto esteve proibido de usar a máscara Clayton Moore jamais tirou do rosto os óculos com grandes lentes escuras, forma que encontrou para evitar ter seu rosto visto e fotografado sem o disfarce, o que só ocorreu em raríssimas ocasiões. Nos anos seguintes Moore continuou a viajar pelas cidades norte-americanas, o que foi aos poucos deixando de fazer, iniciando sua merecida aposentadoria em 1994. Em 1986 Clayton Moore recebeu um duro golpe com a morte da esposa Sally Allen, mãe de sua única filha e com quem estava casado desde 1943. Sally acompanhou toda sua trajetória como o cavaleiro solitário. Antes Moore fora casado por dois anos com Mary Moore. Após o falecimento da esposa Sally, Clayton se casou mais uma vez e esse casamento durou apenas três anos. A quarta e última esposa de Clayton Moore chamava-se Carlita com quem o ator viveu os últimos anos na residência que possuía em Calabasas, Los Angeles.

Clayton Moore entre a esposa Sally e Violet, mãe do ator;
à direita com Sally e os cães da família.

Paradoxo: crianças usando a máscara do The Lone Ranger e Clayton Moore
de óculos escuros sem poder usá-la por decisão da Justiça.

A estrela na Calçada da Fama.
Homenagem a figuras lendárias - Clayton Moore faleceu no dia 28 de dezembro de 1999 vitimado por um ataque cardíaco quando estava com 85 anos. Recebeu como homenagem uma estrela colocada na Calçada da Fama em Hollywood, sendo o único ator que, além do próprio nome, teve inscrito o nome do personagem que o tornou famoso. Em agosto de 2009 o serviço postal norte-americano homenageou Clayton Moore/The Lone Ranger com um selo. Merecidamente Clayton Moore foi conduzido, no ano de 1987, ao National Cowboy Hall of Fame em Oklahoma. E até seus últimos dias aos 85 anos, quando sofreu um ataque cardíaco que o vitimou fatalmente, Clayton Moore somente fez lembrar e enaltecer a figura do grande herói que, ao invés de morrer com Moore, se perpetuou com ele pois ambos sempre serão lembrados como uma só figura lendária galopando pelas pradarias e deixando seu imortal grito HI-YO, SILVER!!!


O selo homenageando o Cavaleiro Solitário; Clayton Moore no final
de sua vida vestido como o herói com quem se identificou inteiramente.

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