UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

26 de setembro de 2014

TOP-TEN WESTERNS DO COWBOY-SERESTEIRO JORGE CAVALCANTI ARAÚJO FILHO


No Planalto da Borborema, região semiárida de Pernambuco situa-se Brejão, pequeno município próximo de Garanhuns. A população de Brejão mal chega atualmente a nove mil habitantes e nos anos 50 era certamente muito menor. Mesmo pequena a cidade possuía um cinema naquela década o Cine Brejão que exibia filmes trazidos das cidades maiores pelo senhor Jorge Cavalcanti Araújo. Esses filmes faziam a alegria da garotada de Brejão, especialmente do filho de ‘Seo’ Jorge que lá começou a gostar de cinema, carregando o prazer de assistir filmes por toda sua vida. O Cine Brejão exibia filmes que já haviam rodado o Brasil inteiro e, por isso mesmo, demoravam para chegar àquele recôndito. Entre os muitos filmes que Jorge Cavalcanti Araújo Filho assistiu no Cine Brejão dois o marcaram para sempre. O primeiro foi o “O Homem de Aço” (Adventures of Captain Marvel), seriado da Republic Pictures de 1941 mas que só foi exibido em Brejão quase dez anos depois. O menino Jorge não perdeu um só dos 12 episódios e depois de tanta emoção elegeu seu maior ídolo: o ator Tom Tyler, o Capitão Marvel do seriado. O outro filme que Jorge nunca esqueceu e que assistiu sentado numa das 150 poltronas de madeira do Cine Brejão foi “Paixão dos Fortes” (My Darling Clementine). Acostumado com os westerns-B com Rocky Lane, Tom Mix, Buck Jones, Bill Elliott e outros, Jorge percebeu que certos faroestes tinham outra concepção artística, no caso da obra-prima “Paixão dos Fortes”, a maneira poética de John Ford contar uma história do Velho Oeste.

Tom Tyler, o grande herói de Jorge Cavalcanti.

Um jovem e sorridente Jorge Cavalcanti
ao lado de seus pais.
Revela-se o westernmaníaco - O pequeno Jorge mudou-se para o Rio de Janeiro em meados dos anos 50, indo viver na casa de sua avó. Algum tempo depois Jorge veio com a família para São Paulo, mais exatamente para o bairro de Vila Prudente. No início da adolescência, em 1957, Jorge já estava em outra cidade, a enorme São Paulo que tinha a inacreditável população de dois milhões de habitantes. Com tanta gente assim o que não faltava era cinema nessa metrópole, na década de 50 o principal entretenimento, ao lado do rádio, das famílias que viviam na capital paulista. Os cinemas que Jorge mais frequentou nessa época eram o Cine Amazonas e o Cine Vila Prudente. Foi quando alguém chamou o jovem Jorge de ‘cinemaníaco’ devido às tantas vezes que ele ia aos cinemas querendo assistir ao maior número de filmes possível. O certo mesmo deveria ser chamá-lo de westerncinemaníaco pois Jorge assistia a todos os faroestes que eram exibidos nos cinemas da Zona Leste, região em que morava. Quando começou a trabalhar e ter alguns cruzeiros no bolso Jorge dividia o suado dinheirinho entre cinema e gibis. Tanto quanto de cinema, Jorge era apaixonado pela histórias em quadrinhos, colecionando todas as revistas que podia, especialmente aquelas que traziam aventuras do Capitão Marvel. Mas as pilhas de gibis de Rocky Lane, Cavaleiro Negro, Flecha Ligeira, Buffalo Bill e outros mocinhos não paravam de aumentar, juntando-se aos clássicos “O Lobinho”, “Aí Mocinho!” e “Reis do Faroeste”. Já faltava espaço na casa dos Cavalcanti Araújo.



Jorge e Doc Barretti afagando a Duquesa
Irene Losso, a Rainha da Confraria.
Faroestes no consultório médico - O colecionador de gibis Jorge Cavalcanti Araújo Filho era um dos frequentadores da ‘Livraria Gibi’, de Ademário de Mattos, localizada num prédio da Rua Conselheiro Crispiniano, esquina com a Av. São João, bem próximo da sede do Quartel General da 2.ª Região Militar do Exército. Foi na ‘Livraria Gibi’ que Jorge ouviu falar, pela primeira vez, que havia um médico na Lapa que reunia amigos em sua própria casa para assistir faroestes. Jorge procurou o médico, chamado Dr. Aulo Barretti, para se unir ao grupo e foi informado que eles passariam a se reunir aos sábados no consultório do médico, para vibrar com os filmes em 16 mm que o ginecologista exibia com seu projetor. Como o grupo não parava de crescer, o endereço seguinte da confraria dos amigos de faroestes foi o do FotoCineClube Bandeirante que funcionava no bairro da Aclimação. Naquele imponente casarão o grupo se reunia e Jorge logo passou a ser um dos membros mais destacados do grupo. Acompanhando o que fez pioneiramente o sócio santista Umberto ‘Hoppy’ Losso, Jorge também passou a frequentar a confraria vistosamente vestido como cowboy. E nas muitas reportagens que eram feitas com o grupo, Jorge era o preferido para as entrevistas, não só pelo visual perfeito de cowboy, mas também pela espontaneidade, simpatia e clareza com que falava para o público. Ah, e Jorge também cantava, acompanhando-se ao violão.

Acima encenação de cena de faroeste vendo-se Lazinho Kid Blue, Jorge
Cavalcanti, Sergio Bill Elliott, Doc Barretti e El Mexicano Jorge Mubarah.
Abaixo Mauro, Fernando, Jorge abraçando Fausto Canova, Cláudio
Caltabiano, Daniel Zanini e Armando.

A confraria ganha um cowboy-cantor - O amor pela música veio lá de sua terra, onde o rádio sintonizava não só as principais emissoras pernambucanas, mas também as Rádios Nacional e Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro. Desde cedo Jorge formou seu gosto musical ouvindo Orlando Silva, Francisco Alves, Sílvio Caldas, Nélson Gonçalves e outros cantores de vozes incomparáveis. O samba-canção era o gênero que mais fazia sucesso e o baiano João Gilberto começava a mostrar uma batida diferente em seu violão, prenunciando a bossa-nova. Mas Jorge gostava mesmo era das antigas e pungentes serestas de letras quilométricas que Jorge sabia de cor para espanto dos amigos e familiares que o ouviam cantar. Quem fazia sucesso também nos anos 50 era Bob Nelson que cantava canções de cowboy com um inimitável ‘odilei’ que os brasileiros jocosamente parodiavam dizendo ‘tira-o-leite'. A bela e melodiosa voz de Jorge Cavalcanti e seu senso rítmico perfeito se ajustaram também às músicas de cowboys e nos encontros da confraria o querido pernambucano era sempre requisitado a cantar aquele gênero alegre de canções. Começou a ser chamado então de Cowboy-Cantor pelos amigos da confraria que se reunia aos sábados à tarde para assistir faroestes.

Jorge Cavalcanti entre Dionísio Nomellini, Hoppy Losso,
Lazinho Kid Blue e Nelson Pecoraro.

Acima dois vídeos em que Jorge Cavalcanti dá uma pequena mostra
de suas qualidades como cantor e violonista.


Artista pré-Photoshop - Jorge era de fato um cowboy-cantor, mas intimamente preferia ser chamado de George Tyler, lembrando de seu grande ídolo Tom Tyler. Mas nenhum apelido ‘pegou’ em Jorge, justamente ele que era o especialista em colocar apelidos nos amigos da confraria. ‘Kid Blue’, ‘Yellow Kid’, ‘Diamond Silver’, ‘Guarda Vingador’, ‘Hoppy Losso’, ‘Duquesa’ (Irene Losso), ‘Sérgio Bill Elliott’, ‘Nélson Pecos Bill’ e ‘Bob Sritter’ foram alguns dos muitos apelidos carinhosamente criados por Jorge Cavalcanti para que os sócios da confraria se sentissem mais ‘mocinhos’... Trabalhando com publicidade, Jorge Cavalcanti aprendeu os truques das montagens artísticas e, muito antes da invenção do Photoshop, mostrava seu trabalhos colocando os cowboys da confraria ao lado de seus ídolos da tela. E num tempo em que os livros sobre western eram raridade, concentrados nas mãos de uns poucos afortunados, Jorge passou a fazer cópias xerografadas dos livros que possuía, permitindo assim que os amigos pudessem, a preço módico, ter acesso àquela literatura. A confraria dos amigos do western era, antes, durante e após a exibição de faroestes e seriados, palco de saudáveis debates sobre filmes, artistas e mesmo a parte técnica. Nesses momentos Jorge demonstrava seu profundo conhecimento dos filmes em capítulos, bem como dos westerns B e daqueles de maior orçamento, enriquecendo cada discussão em pé de igualdade com experts como Clóvis Ribeiro, Umberto Losso, Aulo Barretti, Dionísio Nomellini e Nélson Pecoraro, entre outros.

Quatro dos maiores cowboys da Confraria dos Amigos do Western:
Jorge Cavalcanti, Clóvis Ribeiro, Dionísio Nomellini e José Correia Dantas.

Um dos últimos seresteiros - Além de cantor Jorge Cavalcanti é também compositor, sendo de sua autoria duas canções sobre os heróis do faroeste do cinema e dos quadrinhos. Essas canções são “Voltei à Sela Novamente” e “Esconderijo de Heróis”, sempre solicitadas pelos amigos com quem Jorge se reúne, além, é claro, de inúmeras outras canções que falam dos cowboys do cinema. Expoente da ‘Golden Age’ da confraria dos amigos do western, Jorge Cavalcanti tem se dedicado nos últimos anos mais à carreira de cantor, espaço no qual ele é um dos últimos remanescentes do gênero seresta. Os grandes seresteiros como Orlando Silva, Carlos Galhardo, Sílvio Caldas e Altemar Dutra nos deixaram há muitas décadas. Carlos José chegou aos 80 anos e deixou de se apresentar. Noite Ilustrada e Jair Rodrigues, sambistas que também cantavam serestas faleceram mais recentemente, mas Jorge Cavalcanti continua levando ao público as maravilhosas e imortais composições do nosso cancioneiro popular. Jorge Cavalcanti e Noite Ilustrada eram grandes amigos e coube a Jorge entoar no velório de Noite Ilustrada a canção “Minha Rainha”, uma das mais lindas músicas de sucesso do repertório do falecido cantor.

Jorge Cavalcanti solta a voz acompanhado pelo pandeiro de
El Mexicano Carlos Jorge Mubarah.

Filmes preferidos - Conhecedor da arte cinematográfica, Jorge tem entre seus filmes de cabeceira “Luzes da Cidade”, de Chaplin;”As Aventuras de Robin Hood”, com Errol Flynn; “Sansão e Dalila”, de Cecil B. DeMille; “Cantando na Chuva”; “A Companheira de Tarzan”, com Johnny Weissmuller e Maureen O’Sullivan. E suas atrizes preferidas são Merle Oberon, Barbara Stanwyck, Virginia Mayo e Maureen o’Hara. A elas Jorge junta Linda Stirling e Frances Gifford, heroínas dos inesquecíveis seriados da Republic Pictures. A pedido de WESTERNCINEMANIA, Jorge Cavalcanti listou os dez faroestes que considera os melhores entre os produzidos pelo cinema norte-americano. Segue o Top-Ten westerns de Jorge Cavalcanti Araújo Filho.












Jorge Cavalcanti com Hoppy Losso e Sergio Bill Elliott;
à direita com Darci Fonseca e Aulo 'Doc' Barretti.
Jorge Cavalcanti ao lado de Clóvis Ribeiro, Sérgio Pereira e Mauro de Castro.

Jorge Cavalcanti entre Sérgio Pereira, Clóvis Ribeiro, Aulo 'Doc' Barretti
Darci Fonseca e Mauro Texsaú.


Jorge Cavalcanti em recentes apresentações, sempre acompanhando-se
ao violão e agradando ao público.

5 comentários:

  1. Tive a felicidade de conhecer Jorge Cavalcanti pessoalmente na casa de um casal muito simpático Darci e Lili; Jorge Cavalcanti além de esbanjar muito talento é a simpatia em pessoa. Em matéria de westerns já vi que ele é um excelente conhecedor Nota dez no seu TOP TEN.
    Abraços de Joaquim Romão Gomes

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  2. Belo TOP TEN - Os grandes clássicos estão na lista do Jorge ! A surpresa foi Tombstone !! Abraço ao cantor e amigo !!!

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  3. Tom Tyler is my greatest hero too, he was pretty unique in Hollywood, and is alive and well in cyberspace. aventurasdetomtyler.com

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  4. IInfelizmente nos deixou esta semana aos 79 anos m,"George Tyler" Jorge Cavalcanti,pessoa de excelente tato e qualidade artistica ao qual eu amo como meu avô,feliz por este blog eternizar a memoria desses grandes amigos q infelizmente em grande parte ja nao estao mais entre nós.

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