UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

9 de novembro de 2012

TOP-TEN WESTERNS DO PESQUISADOR EVALDO BRAZ


Evaldo Braz tem entre suas leituras favoritas o estudo da história do Velho Oeste, aprofundando-se nas biografias dos pistoleiros e dos homens da Lei. E como não poderia deixar de ser o cinema complementa essas leituras, o que faz com que Evaldo seja grande fã de faroestes. Nascido em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Evaldo reside em Santa Catarina, mas como pesquisador de florestas naturais viaja com frequência à Amazônia, onde desenvolve sua atividade profissional. Evaldo atendeu gentilmente à solicitação de WESTERNCINEMANIA, relacionando seu Top-Ten Westerns que são publicados a seguir, cada um deles acompanhado de um breve comentário de autoria do próprio Evaldo.

1.º) Rio Vermelho (Red River), 1948 – Howard Hawks
Este é um western que por sua importância e por ser muito conhecido dispensa maiores comentários.

2.º) O Último Pistoleiro (The Shootist), 1976 – Don Siegel
O Ultimo Pistoleiro é uma condensação maravilhosa do código do Oeste, principalmente no duelo final, onde cada duelista espera sua vez dentro do saloon. Note-se que não atacam John Wayne juntos. Não querem apenas ganhar, mas lutar limpo. Perfeito deste ponto de vista histórico com relação a gunfighters.

3.º) Parceiros da Morte (The Deadly Companions), 1961 Sam Peckinpah
Filme perfeito sobre perdedores, mas maravilhoso e ambientado no Far West.

4.º) Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country), 1962 – Sam Peckinpah
Outro filme perfeito que condensa a homenagem ao Oeste do passado que está desaparecendo e aos atores, já velhos e em um momento. O filme bem realista, sai um pouco do realismo para homenagear  os bang-bangs do tempo de Tom Mix. É na cena final em que Randy desce a ravina a galope, de pé sobre os estribos e atirando de encontro à casa onde estão os bandidos. Mostra que Randy, em sua ultima cavalgada cinematográfica era bonzão no cavalo. 

5.º) Fibra de Heróis (Buchanan Rides Alone), 1958 – Budd Boetticher
Filme hipnótico, delicioso. Tu nunca sabe o que vai acontecer. Personagens diferentes.

6.º) Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 – Howard Hawks
Uma aula de cinema e ambientação de Howard Hawks.

7.º) O Último Tiro (Firecreek), 1968 – Vincent McEveety
Um farwest perfeito. Imperdível a atuação conjunta dos veteranos Stewart e Fonda. James Stewart não quer mais ser de uma cidade de "perdedores", de indecisos. O filme vale para os dias de hoje onde o banditismo campeia e ninguém, autoridades ou população, fazem nada.

8.º) O Homem que Luta Só (Ride Lonesome), 1959 Budd Boetticher
Western maravilhoso. Cinema puro. No final você fica com o coração na mão, torcendo para que Scott fique de bem com Pernell Roberts que tem excelente atuação. Uma aula do diretor Budd Boetticher.

9.º) Galante e Sanguinário (3:10 to Yuma), 1957 – Delmer Daves
Uma versão insuperável. Um assaltante/pistoleiro, preso, passa aos poucos a admirar um pequeno lavrador que é responsável por encaminhá-lo à prisão em Yuma. A admiração chega ao ponto do pistoleiro ajudar ao lavrador conseguir finalizar seu trabalho (conduzi-lo à prisão). É um dos melhores filmes já feitos. Tem uma direção de cena e câmera aprimoradíssima.

10.º) Um Homem Difícil de Matar (Monte Walsh), 1970 – William A. Fraker
Com Lee Marvin e Jack Palance, um filme que todo amante do Oeste deveria ver pois é perfeito.

O Top-Ten de Evaldo Braz sofreu uma alteração de última hora quando ele retirou da lista enviada “Sem Lei e Sem Alma” (Gunfight at the OK Corral), faroeste de 1957 dirigido por John Sturges. Fica consignada então a alteração para lembrar que esse é também um dos westerns favoritos de Evaldo.

Evaldo Braz não inseriu nenhum western-spaghetti em sua lista, mas enviou a WESTERNCINEMANIA um depoimento explanando o que pensa dos faroestes produzidos na Europa, reflexões relatadas abaixo.

DUELOS MÍTICOS NOS WESTERNS-SPAGHETTI

        No passado, quase na época que fizeram os grandes faroestes americanos, eu só concebia, só acreditava em faroeste americano. É o seguinte: erroneamente eu pensava que somente a civilização que produzisse determinada cultura poderia reproduzi-la. Então alemães, franceses ou italianos, povos fascinados pelo farwest não teriam capacidade de entender o Oeste do passado e ainda mais reproduzir arte com esta matéria.
        Quase vinte anos depois descobri, graças a meu filho mais velho
, que na verdade os italianos, por exemplo, tinham entendido tanto o código do Oeste que podiam fazer até melhor que o americano (às vezes...). O americano, pós-decada de 40, claro, se preocupava muito com realismo, denúncia social, denúncia racial, etc e grandes interpretações e locações e perfeição na mecânica dos tiros e cavalhadas, mas reduzia a quase zero o Fator Mito, ou mítico da história (tirando Shane”, claro). Na construção, raras vezes  davam bola para a música, ou a utilizavam de maneira errada (tirando o final de Rastros de Ódio).

      O Western-Spaghetti elevou o duelo à categoria de arte. Que homenagem, a mais bela, há no duelo em Os Quatro da Ave Maria”. Os realizadores de Westerns-Spaghetti souberam fundamentalmente "estilizar" o Oeste! É isso!
        Bem
, quando vi a utilização de Ennio Morriconi e a elevação ao grau máximo dos míticos duelos, vi que os italianos principalmente tinham "devorado" a cultura americana e devolvido de maneira fantástica. Quando conheci com mais detalhe Sérgio Corbucci ou Sérgio Leone, entre outros, vi, senti, que eles, só eles, viam a cultura americana do farwest com os "nossos" olhos de guri, se me faço entender, viam com os olhos de fã, viam com os olhos que as populações rurais viram as primeiras histórias de heróis e o prazer de reproduzir e narrar. E que narrativa tinham estes filmes! Que deleite! Alguns exemplos mais? Keoma, com Franco Nero; “Quando Explode a Vinçança”, com James Coburn e Rod Steiger (é do ciclo ‘Revoluções, mas considero western); Companheiros com Franco Nero (também do ciclo Western-Revolução) é uma dos mais belos filmes, digo sobre qualquer categoria de filme, já feitos!
        “Meu Nome é Ninguém é uma clara homenagem ao farwest americano, onde se misturam o humor de Trinity do Spaghetti-Western e a pesada seriedade do western americano. Fonda e Terence Hill estão perfeitos. Se observam, parecem que dirigidos por diretores diferentes e, no final, a fundição dos dois sistemas de cinema: Fonda faz uma ação contra os 40 bandidos à moda do farwest italiano. Aliás, o personagem feito  pelo que se cognomina ‘Ninguém (Trinity para nós) conduz delicadamente Fonda a isto, como quem diz aos diretores americanos: "Viu, façam como a gente, ou era assim que queríamos os heróis, adoramos vocês, etc., etc...), e Fonda, ou o cinema americano, ou eu  próprio, nos rendemos ao farwest italiano.
                                                                                                  Evaldo Braz


Nas fotos acima parte da biblioteca de Evaldo Braz com muitos livros
importados sobre a história do Velho Oeste norte-americano.
Interessante notar que Evaldo guarda com enorme carinho a edição
do Almanaquinho dos Reis do Faroeste de 1965.



Evaldo Braga presenteou o editor deste blog com o livro de Otávio de Faria
"A Significação do Faroeste". Esse raríssimo livro editado pelo Ministério da
Educação e Saúde em 1952 é provavelmente obra pioneira a tratar desse
gênero cinematográfico no Brasil. Obrigado, Evaldo.


14 comentários:

  1. José Fernandes de Campos9 de novembro de 2012 às 23:28

    Uma escolha bem diferente da que estamos acostumados a ler, mas gosto é uma coisa que nunca devemos discutir. Você mencionou um filme que nunca mais revi, mas está marcado no meu cadeno de anotaçoes: Parceiros da Morte. Um western bem pacato do velho Peckinpah com um momento que considero clássico. O que mais me chamou a atenção é que são filmes (na sua Maioria) com personagens que não esperam mais nada da vida (perdedores, como você mencionou). Mas a presença da dama Maureen O'Hara já vale o filme. O seu relacionamento com Brian Keith é terno e muito interessante). MONTE WALSH é um filme que nunca mais revi, mas Fraker que sempre foi montador não se deu bem na direção, mas vou reve-lo para ver se mudo minha opinião.Mas do resto, temos a oportunidade de ver relacionado na sua lista filmes ótimos e outros que merecem uma revisão como O ULTIMO TIRO. Parabéns e até derepente no blog.

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    1. pois é, não da para acreditar muito na crítica oficial (de jornais ou revistas) ou fases dos diretores: Monte Walsh é um faroeste real, e Ultimo Tiro um Matar ou Morrer muitíssimo mais dramatico!

      evaldo

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  2. Tenho chegado sempre um pouco atrasado para comentar; embora eu tenha colocado na milha lista de atualizações do blogger o Westerncinemania, ela insiste em se desprogramar. Mas, enfim, vamos ao top do cinéfilo Evaldo.
    Gostei de ler o Top-Ten do Evaldo, por demonstrar certa preferência por filmes que têm a atmosfera que me agrada, além de tecer comentários bem interessantes, sobretudo sobre o eurowestern.
    Muitos filmes são ótimos, são clássicos, e têm qualidade quase indiscutível, mas há certos filmes que têm um refinamento, um requinte que os torna muito belos e agradáveis. E o gênero western tem muitos exemplares assim. Só numa breve lista como essa vejo um bom número. Há aí pelo menos cinco, para não dizer oito ou nove filmes assim. Rio Vermelho não me surpreende como o número um; é um filme pelo qual tenho grande apreço, e até comentei em algum lugar que o Montgomery não deveria ter desistido do gênero, mas, enfim... Gosto quando o Evaldo usa o termo hipnótico; acho que é um ótimo adjetivo para descrever filmes que têm um algo a mais, que nos tocam e nos fazem sentir mais humanos, distanciando-nos do que nos circunda e mergulhando-nos no que nos faz ser. Acho ainda muito bacana ler que pai e filho positivamente descobrem o mundo juntos, percebendo que nossas verdades são apenas isso, se não estivermos dispostos a crescer e a compreender a cada dia aquilo que cremos consumado. Há coisas imutáveis, mas não é este o caso. Quanto ao eurowestern, eu nunca olhei para ele como algo desprezível e concordo com a explanação do Evaldo quando à contribuição, em termos gerais, dessa vertente, para o gênero. Não é por acaso que coloco um eurowestern como meu filme número um. Simplificando, eu sempre digo que o eurowestern é uma declaração de amor ao gênero, mesmo que alguns realizadores talvez nem tenham atentado para isso. É que o amor, todos sabemos, é difícil, genioso, e sempre incompreensível. Ainda acho digna de nota a referência feita pelo Evaldo à situação atual de desmando em nosso país, em que as pessoas, sem uma noção mais precisa dos problemas que afetam a comunidade, e acreditando em ideias e coisas inócuas, não se mobilizam para mudar o rumo. Darci, você poderia pensar na possibilidade de fazer uns PDFs de livros difíceis de encontrar, como esse que você ganhou do Evaldo, livros que só vocês, essa turma clássica que realmente conhece western, tem em coleções.
    Excelente postagem!
    Ah, já ia esquecendo: há no SC um wallpaper bem básico de Galante e Sanguinário - um filme que também me agrada demais - para seus admiradores, como o Evaldo, para alterar uns dias a aparência do desktop, dando-lhe um ar mais westernmaníaco.

    Abraço a todos!

    Vinícius Lemarc

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    1. Vinícius,

      grato pela resposta.Ótima! Desculpe o tempo em respoder (muitíssimas viagens de trabalho)!
      Manda teu endereço completo para em , acho, 20 dias teres copia deste belho trabalho de um brasileiro sobre o western.
      Darci,tens o email do Vinícius?
      Pra quem pensa que western é bobagem agora mesmo leio MATAR ou MOrrer, livro de Phillip Drummond da Universidade dee Londres.Estudo sobre texto e significação.
      Sobre Os Brutos Também Amam tem o trabalho de nosso filósofo Paulo Perdigão.

      abraço

      evaldo

      evaldo_braz@hotmail.com


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    2. Ôpa! quero ver esse wallpaper sobre o Galante Sanguinario!


      evaldo

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  3. Olá, Vinicius - Tenho uma norma que é a de não comentar as listas publicadas no blog. Claro que gosto mais de umas listas que de outras. Quando vejo vários filmes que também estão na minha lista pessoal, não posso evitar a satisfação e dá até vontade de comentar. Mas ver listas sem nenhum western de John Ford entristece de verdade. Anteontem passava na TV Rio Grande, que revi pela enésima vez, poesia pura. No caso do Evaldo Muñoz Braz, creio que propositalmente ele deixou de fora os filmes que repetidamente aparecem em todas as listas e elaborou um Top-Ten com westerns menos lembrados. É um critério, sem dúvida.
    A mudança operada no gosto do Evaldo através dos anos e por influência do filho, faria por merecer que um western-spaghetti (ou euro-western) constasse da lista. Há alguns merecedores de figurar em qualquer Top-Ten e você citou alguns. Não canso de elogiar O Grande Silêncio, de Corbucci, citado por você.
    Quanto ao livro, a idéia é muito boa, até porque ele tem apenas 60 páginas. Acredito que seja uma verdadeira raridade e o Evaldo verdadeiramente premiou o blog com o presente.
    Vou publicar aqui o walpaper de O Galante e Sanguinário, como sempre um belíssimo trabalho seu.
    Grande abraço do Darci

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    1. Darci,

      Meu DEUS, spo fã dee John Ford,...mas fiquei perdisdo entre vários faroestes que eu queria divulgar!

      FOI puro esquecimento...esquercer o "Homem que matou o facínora", ou "Rastros dee Ódio" , ou aquele , melhor filme sobre como é uma "posse" (grupo de buca), com John Wayne, Pedro Armendares,... aquele que remete aos 3 reis magos , o nome é...puxa, o Pampa, as férias , a cerveja, esqueço o nome...

      evaldo

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    2. OLá, Evaldo - Você fala de E o Céu Mandou Alguém. De fato um western muito bonito e diferente de quase todos. Poquíssimo comentado também. - Um abraço - Darci

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    3. Tem razão Darci. Meu filho disse a mesma coisa. Porque não incluiu um faroeste italiano , Pai? Difícil com apenas 10. Tiraria o Rio Vermelho e colocaria

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  4. Darci,

    Eu também senti falda de John Ford, mas calculei mais ou menos isso que você comentou. Como é algo muito pessoal e também não-definitivo, cumpre-nos, creio, tentar apenas apreciar a visão do colega cinéfilo.
    Quanto ao livro, sem dúvida é um material precioso, muito bom para os amantes do gênero e para pequisadores.
    Sobre o wallpaper, pode publicar à vontade, ele ou qualquer outro.

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  5. Grato por todas as opiniões.Ótimas, todas de espcialistas. É, o Darci sabe..levei tempo em decidir e ...claro, esqueco John Ford! Falei até em Top 11 ou top 12 ...ou Top 100 westerns...Também está certo quem diz que quiz mostrar mais bons westerns dos 1o normalmente sugeridos. Mas acho sensacionais os que sugeri.

    Evaldo

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  6. Esqueci John Ford...barbaridade! Mas todo mundo sabe que Rastros de Ódio e O Homem que matou o facinora são perfeitos!

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  7. Esse Evaldo é dos bons. Cara você é dos bons. Que sensibilidade para perceber que a estética ritualística nos duelos dos spaghetti não passa de um apaixonada homenagem ao mito do velho oeste americano construído pelos westerns de Ford, Mann, Hawks, Boetticher, etc. Devoraram o mito e devolveram com extrema beleza

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