UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

8 de setembro de 2011

ANTHONY CARUSO, O AMIGO DE ALAN LADD


Alan Ladd estava no cinema há cinco anos e já havia feito mais de 20 figurações em filmes. Mas a carreira de Alan Ladd não deslanchava de jeito algum. Conseguir uma bolsa no conceituado curso de teatro do Pasadena Playhouse, em Pasadena na Califórnia, seria quase uma garantia de melhores papéis no cinema. Certa manhã de 1935 Ladd estava na fila de inscrição, completamente sem dinheiro e não havia sequer tomado o café da manhã. Ao seu lado, também tentando uma bolsa, estava um rapaz três anos mais jovem que ele chamado Anthony Caruso. Após terem feito a inscrição Anthony convidou o rapaz louro (Alan Ladd) para tomar um café e Ladd confessou que não tinha dinheiro algum. Mesmo assim Anthony insistiu e pagou não apenas o café, mas também um hambúrguer reforçado para aquele rapaz menor que ele e igualmente candidato a ator. Alan e Anthony foram aprovados na audição, receberam bolsas e fizeram o curso no Pasadena Playhouse em turmas diferentes, não mais se encontrando. Anos mais tarde ambos já estavam no cinema quando voltaram a se encontrar. Alan Ladd já havia ficado razoavelmente famoso depois de sua atuação em “Alma Torturada” (This Gun for Hire) e era um dos novos astros da Paramount, sendo o ator principal de “Capitulou Sorrindo” (The Glass Key). Anthony tivera menos sorte e se contentava com papéis menores, como em “Coração de Pedra” (Lucky Jordan), também estrelado por Alan Ladd. Num dos primeiros dias de filmagem avisaram a Anthony Caruso para ele ir até o camarim de Mr. Ladd, o astro do filme. Ao ver a estranheza de Caruso, Alan Ladd lhe perguntou: “Você se lembra quem eu sou?” Caruso respondeu: “Sei, é o Senhor Ladd.” Percebendo que Caruso não se lembrava dele, Alan Ladd disse: “Eu sou aquele cara que você pagou um lanche quando eu estava com fome e sem dinheiro, anos atrás lá no Pasadena Playhouse. Estou feliz de vê-lo por aqui.” Ali começou uma grande amizade pois após esses primeiros filmes na Paramount Alan Ladd se tornou o maior astro do estúdio e sempre achava um jeito de colocar Anthony Caruso em seus filmes, o que aconteceu por onze vezes. Mais que colegas, Tony e Laddie tornaram-se amigos, ambos casados, cujas famílias se visitavam quase semanalmente.

Anthony Caruso, magnífico em
"O Segredo das Jóias"
UM AMIGO DE VERDADE - Anthony Caruso nasceu no dia 7 de abril de 1916, na cidade de Frankfort, em Indiana, filho de imigrantes italianos. Quando o menino Anthony tinha dez anos sua família se mudou para Long Beach, na Califórnia. Anthony queria ser cantor lírico porque acreditava que com aquele sobrenome já era meio caminho andado. Mas foi aconselhado a seguir a carreira de ator pois as oportunidade eram maiores. Logo após terminar o curso no Pasadena Playhouse, Anthony Caruso fez sua estréia no cinema em 1940 no filme “Johnny Apollo”, policial estrelado por Tyrone Power. Antes de seu encontro com Alan Ladd em 1942, em “Coração de Pedra”, Anthony Caruso atuou em diversos filmes, entre eles “Legião de Heróis” (North West Mounted Police), com Gary Cooper; “Os Irmãos Corsos”, com Douglas Fairbanks Jr.; “Sempre em Meu Coração”, com Walter Huston. É fora de dúvida que a amizade com Alan Ladd em muito ajudou Anthony Caruso, mas o certo é que ele nunca deixou de trabalhar pois, a exemplo de Anthony Quinn, seu tipo era perfeito para interpretar as mais diversas etnias. Num filme Caruso era italiano, no outro espanhol ou mexicano, ou ainda grego, ou árabe, pirata, índio e até mesmo um personagem chamado ‘Mongo’ em “Tarzan e a Mulher Leopardo”, com Johnny Weissmuller. Predominavam, porém, na carreira de Anthony Caruso os papéis de gângster em filmes policiais. Um dos melhores filmes em que Caruso atuou nos anos 40 foi “Um Punhado de Bravos”, clássico de guerra com Errol Flynn. Chamado pelo amigo Alan Ladd, Anthony Caruso atuou em “Nunca é Tarde”, “A Dália Azul” e “Minha Morena favorita” (em que ambos fazem pontas). Um grande sucesso de bilheteria em que Anthony Caruso atuou foi “Canção da Índia”, com Sabu e Gail Russell, em 1949. Caruso atuaria também em “Tarzan e a Escrava”, com Lex Barker, em 1950, mesmo ano em que participou de um dos grandes policiais noir do cinema que foi “O Segredo das Jóias”. Foi nesse clássico de John Huston, interpretando ‘Louis Ciavelli’, que Anthony Caruso chamou a atenção da crítica que notou o excelente ator que ele era. Foi então convidado a ser o ator principal, pela primeira vez em sua carreira, no filme “According to Mrs. Hoyle”. O ano era 1951.

Ernest Borgnine e Tony Caruso em
"O Homem das Terras Bravas"
ANTHONY CARUSO EM “SHANE” - Os laços de amizade entre Caruso e Alan Ladd eram cada vez mais fortes. Laddie não gostava de festas e pouco saía de casa quando não estava filmando. O que mais o deixava feliz era, juntamente com a esposa Sue Carol, receber o casal Caruso (Tony e Tonia Valente) e ficar conversando por horas a fio. Numa dessas reuniões Ladd disse a Caruso que iria fazer um western com George Stevens e que havia um lugar para ele no filme, interpretando um bandido chamado Wilson. Caruso gostou da idéia mas havia o problema desse filme chamado “Shane” (Os Brutos Também Amam) ser rodado em Jackson Hole, no Wyoming, justamente quando Caruso faria pela primeira vez um principal papel masculino em “According to Mrs. Hoyle”, filme para o qual já assinara contrato. O papel do pistoleiro Wilson acabou ficando para Jack Palance nesse que é considerado um dos melhores westerns de todos os tempos. Isso para azar de Anthony Caruso pois o filme que ele ‘estrelou’ era um daqueles esquecíveis complementos de programas duplos. Filmado em 1951, “Shane” só seria lançado em 1953 mas havia a certeza que seria um grande sucesso de bilheteria.

Ladd e Caruso em "Nenhuma Mulher
Vale Tanto" (acima) e em
Pacto de Honra" (abaixo)
A FASE DOS WESTERNS JUNTOS - Após essa escolha errada, Alan Ladd então intimou o amigo Caruso a atuar com ele em “Nenhuma Mulher Vale Tanto”, em que Ladd interpretou o personagem lendário de Jim Bowie. Anthony Caruso teve um ótimo papel nesse filme e voltou a atuar com Alan Ladd em “Legião do Deserto” e em “Horas Sombrias” (Hell on Frisco Bay). Veio então a fase dos westerns, alguns deles produzidos pela Jaguar Productions, a produtora de Alan Ladd. São dessa fase “Pacto de Honra” (Saskatchewan) e “Rajadas de Ódio” (Drum Beat). Em todos esses filmes rodados em locação, as esposas e filhos de Tony e Laddie visitavam os maridos. Depois de “Rajadas de Ódio”, rodado em 1954, Anthony Caruso e Alan Ladd esperariam até 1957 para se reencontrarem no western “Encontro com o Diabo” (The Big Land). Em seguida veio “O Homem das Terras Bravas” (The Badlanders), em 1958, western que marcou o encontro final dos amigos Alan Ladd e Anthony Caruso nas telas. Na vida real Tony e Laddie continuavam grandes amigos. Não havia ninguém com quem o introvertido Alan Ladd gostasse mais de conversar que Tony Caruso. Ladd já bebia além da conta e Tony era uma espécie de psicólogo que ajudava o ator de “Shane” a superar seus complexos. Tony, por sua vez, era uma pessoa bastante alegre, educada, bem humorada e todos nos sets de filmagem o adoravam.
Caruso acima em "Terra Maravilhosa" e com Joel McCrea em
"The Oklahoman"; abaixo com Forrest Tucker em "O Forte do Massacre"

Anthony Caruso, um dós mais versáteis
atores dos westerns
ATOR INCANSÁVEL - Anthony Caruso era desses atores incansáveis e participava de um filme atrás do outro, bem como era convidado para participar de episódios nas incontáveis séries de TV. Com seu tipo durão Caruso interpretava gângsters ou policiais com igual facilidade, mas Caruso gostava muito de atuar em westerns entre estes vale lembrar de “Aço de Boa Têmpera” (The Boy from Oklahoma); “Sob a Lei da Chibata” (Passion), com Cornel Wilde e Yvonne De Carlo; “Massacre Traiçoeiro” (Santa Fé Passage), com John Payne; “A Audácia é Minha Lei” (Tennessee’s Partner), com John Payne e Ronald Reagan; “Montana, Terra do Ódio” (Cattle Queen of Montana), com Barbara Stanwyck; “Honra de Selvagens” (Walk the Proud Land), com Audie Murphy; “Quando as Pistolas Decidem" (The Oklahoman), com Joel McCrea; “Império do Gatilho" (The Lawless Eighties), com Buster Crabbe; “Joe Dakota”, com Jock Mahoney; “O Forte do Massacre” (Fort Massacre), com Joel McCrea; “Terra Maravilhosa” (Wonderful Country), com Robert Mitchum, todos na década de 50. Anthony Caruso teve a honra de atuar no último faroeste do Rei dos Cowboys na Republic Pictures, em 1951, que foi "Reduto de Assassinos" (Palls of the Golden west), em que também atuou Roy Barcroft. Entre os anos 50 e 70, Anthony Caruso atuou em episódios de 125 séries de TV, sendo que na série “High Chaparral” Caruso interpretou ‘El Lobo’, bandido mexicano que apareceu em três episódios em três diferentes anos. A série em que mais Anthony Caruso atuou foi “Gunsmoke”, com nada menos de 14 participações. Em “Bonanza” Caruso atuou em quatro episódios, todos eles em papéis de índios. Já nos anos 70 e mesmo com intensa atividade na TV, Anthony Caruso não abandonava o cinema, atuando em inúmeros filmes, alguns deles westerns como “Fúria Audaciosa” (Flap), com Anthony Quinn; “El Sabor de la Venganza”, com Cameron Mitchell, filmado no México; “Na Trilha do Caçador” (The Legend of Earl Durand), com Peter Haskell; “Missão para a Glória” (Mission to Glory), com Richard Egan; e “Terra Sangrenta” (Tierra Sangrenta), produção mexicana rodada em 1979 em que Caruso é o ator principal.

Publicidade do "Masquers Club"
em 1928; Caruso foi presidente
por 23 anos
TONY CARUSO, 'HARLEQUIN' DO THE MASQUERS CLUB - Anthony Caruso decidiu se aposentar como ator em 1990, após 50 anos de carreira e sempre ao lado de sua esposa Tonia, com quem se casou em 1940, tendo o casal dois filhos. Caruso tinha como hobbies a jardinagem e a cozinha italiana, na qual era mestre na arte de preparar talvez o melhor spaghetti de Hollywood. Anthony Caruso foi eleito 'Harlequin', uma espécie de presidente do tradicionalíssimo The Masquers Club, entidade que existe desde 1925 e cujo lema é “The Best Thing in This Troubled World is Laugh” (A melhor coisa a fazer neste mundo conturbado é rir), clube que tem como associados atores de Hollywood. Outros 'Harlequins' foram Frank Morgan, Edward Arnold, Pat O’Brien, Joe E. Brown, Robert Armstrong, Alan Mowbray, Harry Joe Brown, Lou Costello, Charles Cobburn, Gene Autry, Charles Kemper, Rhys Williams, Frank Faylen e Joe Pasternak. A gestão de Anthony Caruso como 'Harlequin' do The Masters Club durou 23 anos (de 1979 até 2002). Alan Ladd não frequentava o The Masquers Club e pode-se dizer que Ladd teve uma vida triste que culminou com o suicídio em 1964 quando estava com 50 anos. Seu grande amigo Tony Caruso, menos rico e menos famoso viveu feliz até os 86 anos, quando faleceu de causas naturais em 4 de abril de 2003. Anthony Caruso sempre fez questão de lembrar que sua melhor interpretação no cinema foi como o italiano expert em cofres de “O Segredo das Jóias”, assim como sempre lembrou que um de seus melhores amigos foi Alan Ladd, aquele que muito o ajudou na sua brilhante carreira como ator.

5 comentários:

  1. Belo blog temático, parabéns! Saudações de Portugal.

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  2. Uma amizade bonita, pura e sincera, que durou quase que uma vida, a de Allan Ladd.
    Assisti a quase todos os titulos deste post, porém jamais liguei o nome Anthony Caruso ao tipo sempre caracterizado como vilão.
    Quanto a Ladd o imaginava ser um homem da vida noturna, uma vez vi uma reportagem onde ele estava num clube deste tocando um instrumento e dançando. Porém, é muito bom ler e saber de coisas desta espécie, pois elas terminam por colocar cada coisa no seu lugar no nosso imaginativo.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  3. Parabéns pelo texto!
    Há aqui neste espaço fascinante a biografia de Alan Ladd? Se não, vale a sugestão...
    Valeu!

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  4. Olá, Natálio. Sei que em Portugal adora-se faroestes.
    Jurandir - Anthony Caruso está na lista dos homens maus e recebeu vários votos.
    Hadson - Alan Ladd foi um dos mais queridos mocinhos da tela e quando o blog fala dos "menos falados", acaba sempre falando de Ladd e dos outros astros.

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  5. Realmente Anthony Caruso foi um tipo inesquecivel para os fãs
    de Westerns, suas atuações geralmente como vilão era bastante
    convintes. Não sabia de sua amizade intima com Alan Ladd o que
    comprova o valor desse blog sempre acrescentando novos conhecimentos para seus seguidores. Sobre Alan Ladd acho que a sugestão de sua biografia é bem vinda. Apesar que Alan Ladd
    foi um tipo de homem inconformado com sua propria sorte e teve
    um fim tragico e solitario.

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