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30 de dezembro de 2012

DA DERROTA À VITÓRIA (Westward Ho), ESTRÉIA DE JOHN WAYNE NA REPUBLIC PICTURES


A Republic Pictures foi criada com a fusão dos pequenos estúdios Monogram e Mascot e ainda os pequeníssimos Liberty Pictures, Majestic Pictures e Chesterfield Pictures. John Wayne, que era contratado da Monogram, passou a ser artista do novo estúdio e “Da Derrota à Vitória” (Westward Ho) foi seu primeiro western e um dos primeiros filmes da Republic Pictures. Para os padrões da Poverty Row o 'B' “Da Derrota à Vitória” pode ser considerado uma superprodução. A Poverty Row era uma área de Hollywood, situada na Gower Street, onde se concentravam os estúdios menores. Esses estúdios produziam filmes de baixa qualidade técnica e artística, daí a pejorativa denominação que pode ser traduzida por ‘Rua da Pobreza’, em contraponto com a riqueza dos grandes estúdios.


Superprodução do novo estúdio - Nos anos 30 os faroestes ‘B’ dos pequenos estúdios custavam por volta de cinco mil dólares e eram rodados em cinco dias. John Wayne ganhava na Monogram 2.500 dólares por filme e na Republic assinou contrato por cinco anos passando a receber 400 dólares por semana, totalizando 20.800 dólares por ano. Consta que “Da Derrota à Vitória” custou 34 mil dólares e John Wayne afirmou que esse faroeste deve ter rendido pelo menos 500 mil dólares nas bilheterias. Como fazer para gastar 34 mil dólares num faroeste ‘B’ em 1935? A explicação é fácil pois nenhum outro filme desse tipo reuniu 50 cavalos brancos e um número ainda maior de cavalos escuros. Imagine-se todos envolvidos em cenas de ação e perseguição, devidamente montados por mais de uma centena de cavaleiros. Os cavalos escuros são as montarias dos bandidos e os cavalos brancos as dos mocinhos, todos impecavelmente vestidos com camisas escuras e lenços brancos. Some-se a isso as sequências clássicas de carroça em disparada caindo em despenhadeiro, Yakima Canutt dublando John Wayne e saltando sobre os cavalos assustados colocando em perigo a indefesa mocinha. Rebanho sendo transportado, bem como saloons e ruas apinhados de gente, tudo isso elevou o custo de “Da Derrota à Vitória”, além, é claro de uma história ao gosto das platéias bastante sentimentais das áreas rurais onde o filme fez sucesso. E aos invés de cinco dias o filme consumiu a eternidade de 30 dias em produção.

John Wayne e Frank McGlynn Jr., seu irmão
mais novo em "Da Derrota à Vitória".
Irmão contra irmão - ‘Westward Ho’ é a palavra de ordem do líder das caravanas rumo ao destino nem sempre atingido, como foi o caso da família Wyatt que é atacada por assaltantes. Os bandidos matam seus pais Mark Wyatt (Hank Bell) e Ma Wyatt (Mary McLaren) e o pequeno John Wyatt (Bradley Metcalfe) sobrevive milagrosamente, enquanto seu irmão menor Jim Wyatt (Dickie Jones) é levado pelo bando. Doze anos depois, já terminada a Guerra Civil, John Wyatt (John Wayne) está empenhado em criar um comando para combater o crime que domina a região. John Wyatt tenta mas não consegue o apoio das autoridades locais que alegam não haver recursos para subsidiar o dispendioso projeto. John Wyatt consegue reunir as vítimas dos bandidos e formar um pequeno exército de vigilantes que recebe o nome de ‘Cavaleiros Cantores’. Sob a liderança de John Wyatt os vigilantes conseguem com suas ações acuar os bandidos. O principal deles é Ballard (Jack Curtis), responsável pelo sequestro de Jim Wyatt (Frank McGlynn Jr.), transformado em mais um fora-da-lei. O braço direito de Ballard é Red (Yakima Canutt), capturado por John Wyatt quando este continuava procurando por seu irmão e pelos bandidos que mataram seus pais. Afinal é revelado o segredo aos dois irmãos e Jim se reúne com John e ambos enfrentam a quadrilha de Ballard com a ajuda dos Cavaleiros Cantores. Jim Wyatt é ferido e morre nos braços do irmão John.

O novo mocinho John Wayne - Esse é o tipo de trama construída para emocionar o público. E além da história dos irmãos separados dirigida aos espíritos mais sensíveis, situa claramente o bem contra o mal até nas cores bem definidas de mocinhos e bandidos. O experiente diretor Robert N. Bradbury completou os 61 minutos de “Da Derrota à Vitória” com uma história de amor entre o mocinho John Wayne e a mocinha Sheila Bromley. Hollywood precisava de um mocinho para substituir Buck Jones e Tom Mix que já davam mostras do peso dos anos e John Wayne parecia o nome certo, ainda que lhe faltasse algo que só foi encontrado após personificar ‘Ringo Kid’ em “No Tempo das Diligências”, pelas mãos do gênio de John Ford. Curiosamente quem se tornou o cowboy número um dos faroestes foi Gene Autry, que mais que mocinho era um cantor. Mais tarde foi a vez de Roy Rogers, outro cowboy-cantor, se tornar o Rei dos Cowboys do cinema. Naqueles anos John Wayne não era páreo para Gene ou para Roy no gosto dos fãs dos faroestes ‘B’. Wayne teve que subir ao patamar dos filmes ‘A’ para se tornar o maior astro de Hollywood.

Algumas das belas sequências filmadas pela câmara de Archie Stout.


Duke cantando para Sheila Bromley;
abaixo alguns dos Cavaleiros Cantantes.
Sing, Duke, sing - Quando das filmagens de “Da Derrota à Vitória”, os cowboys cantores começavam a cair no gosto do público após Ken Maynard mostrar que os mocinhos também cantavam. E há muita música neste miniépico dirigido pelo pai de Bob Steele, o veterano do cinema mudo Robert N. Bradbury. Enquanto a caravana e o gado caminham lentamente ouve-se a canção ‘Westward Ho’ e não há como não lembrar John Ford no sublime “Caravana de Bravos” (Wagon Master). E há ainda a canção ‘The Vigilantes’ acompanhando a trepidante cavalgada dos 50 vigilantes em seus cavalos brancos espetacularmente filmados pela câmara do cinegrafista Archie Stout. Depois de um início de namoro um tanto hostil, John Wayne conquista a mocinha Sheila Bromley cantando e se acompanhando ao violão. Percebe-se que a voz não é do Duke que foi dublado por Glenn Strange. E o próprio Glenn Strange revelando talento de compositor compôs em parceria com Tim Spencer as canções ‘Westward Ho’ e ‘The Vigilantes’. Tim Spencer, como se sabe foi um dos membros do lendário grupo Sons of the Pioneers. Esta não foi a primeira vez que John Wayne ‘cantou’ no cinema pois já havia feito o mesmo em “O Cavaleiro do Destino” (Riders of Destiny), faroeste em que seu personagem se chamou ‘Singin Sandy’.

Ladrões depauperados - “Da Derrota à Vitória”, assim como quase todos os faroestes ‘B’ dos anos 30 devem ser assistidos destituídos de visão mais crítica pois as incongruências dos roteiros são muitas. Nas décadas seguintes seria inaceitável o que se vê na história deste faroeste como quando o irmão mais novo de John Wayne, doze anos depois, reaparece aparentando ter bem mais de 30 anos e bem mais velho que o jovial Duke. Por sinal o ator Frank McGlynn Jr. lembra bastante Daniel Day-Lewis. Inexplicável também como Ballard, o bandido principal, após tantos anos cometendo crimes de toda natureza se mantenha no estado de pobreza mostrado no filme. E por que os bandidos após assaltar um banco sem disparar um só tiro, montam em seus cavalos e começam a atirar para todo lado quando o normal seria sair sem alarido? E como os Vigilantes Cavaleiros Cantores conseguiram se equipar com tantos cavalos brancos e se uniformizar com roupas elegantes e novas vistos serem todos pessoas simples? Esqueça-se tudo isso e assista-se “Da Derrota à Vitória” como um saboroso pequeno western, muito mais especial ainda por ser estrelado pelo jovem John Wayne.

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