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26 de março de 2015

QUADRILHAS DE FAROESTES – O BANDO DE EL ÍNDIO (POR UNS DÓLARES A MAIS)


Sergio Leone
Para seu segundo western – “Por uns Dólares a Mais” (Per Qualche Dollari di Piú) – o diretor Sergio Leone juntou a Clint Eastwood (Manco) o reforço de Lee Van Cleef (Coronel Douglas Mortimer), isto para enfrentar um dos maiores bandos até então reunido num western. No comando do pequeno exército de malfeitores composto por 14 homens, ampliado para 15 no decorrer do filme, estava Gian Maria Volonté (El Índio). Só mesmo um bandido com a personalidade de Volonté para ser obedecido por tipos sádicos como Klaus Kinski, Aldo Sambrell, Benito Stefanelli, Luigi Pistilli, Mario Brega, Frank Braña, Werner Abrolat, Antonio Molino Rojo, Enrique Santiago, Luiz Rodriguez, José Canalejas, Eduardo Garcia, Nazzareno Natale e Pano Papadopulos. Desse grupo de atores, Gian Maria Volonté confirmou-se como um dos grandes atores italianos de seu tempo e Klaus Kinski também se tornou astro de primeira grandeza. Os demais passaram a ser presença constante em outros westerns spaghetti e por essas razões merecem ser lembrados nesta série ‘Quadrilhas dos Faroestes’ que apresenta sete foras-da-lei do bando de El Índio.

Gian Maria Volonté (1933-1994) – El Índio é caçado por dois bounty hunters não só pela recompensa estabelecida (vivo ou morto), mas e principalmente no caso do Coronel Mortimer, para consumar uma vingança. O milanês Gian Maria Volonté estudou Arte Dramática na Academia Romana de Arte Dramática e antes do cinema atuou no teatro e na televisão. Estreou no cinema em “Sob Dez Bandeiras”, drama de guerra produzido na Itália por Dino de Laurentiis. Seu primeiro filme notável foi “A Moça com a Valise”, de Valério Zurlini, com Cláudia Cardinalle. Passou a ator principal em “O Terrorista”, filme político de 1963. No ano seguinte foi chamado por Sergio Leone para interpretar Ramón Rojo em “Por um Punhado de Dólares” (Per um Pugno di Dollari). Nesse tempo Volonté era já um dos mais requisitados atores italianos atuando em westerns como “Gringo” (Quién Sabe?) e comédias como “O Incrível Exército Brancaleone”. Alguns dos principais filmes políticos rodados na Itália nos anos 70 tiveram Volonté como ator principal, entre eles “Sacco e Vanzetti”, “A Classe Operária Vai para o Paraíso”, “O Caso Mattei”, “Giordano Bruno” e “Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita” (1970). Por seu trabalho neste último filme Volonté recebeu o prêmio máximo de cinema da Itália, o David de Donatello, o qual receberia ainda outra vez em 1990. Entre as dezenas de prêmio que recebeu por suas brilhantes interpretações, Volonté levou para casa por duas vezes a Palma de Ouro do Festival de Cannes como Melhor ator. Com exceção de Marcello Mastroianni e Vittorio Gassman, nenhum outro ator conseguiu se rivalizar em talento e reputação a Gian Maria Volonté.

Klaus Kinski (1926-1991) – Wild é um corcunda e dos mais aterrorizantes bandidos do bando de El Índio, entrando em conflito logo no primeiro encontro com o Coronel Douglas Mortimer. Uma frase de Klaus Kinski expressa o que ele sentia pelo cinema:  “Ser ator é uma profissão bem melhor que lavar latrinas”. Kinski escreveu um livro com a maior carga de ataques e denúncias ao mundo do cinema e, claro, o livro foi impedido pela justiça de ser lançado, tantas foram as ações contra o autor. Após a II Guerra Mundial, quando lutou por seu país, Klaus Kinski iniciou sua carreira como ator, primeiro no teatro e em seguida no cinema, no qual estreou em 1948. Seu rosto diabolicamente expressivo não podia deixar de impressionar diretores e produtores, inicialmente no cinema alemão e posteriormente no cinema internacional, inclusive o norte-americano. Fácil reconhecer sua expressão marcante em “O Falso Traidor”, suspense de 1962 com William Holden. Depois de “Winnetou” (1964), veio “Por uns Dólares a Mais” e em seguida “Dr. Jivago” e estava decretado o reconhecimento de Kinski como ator inconfundível. Mesmo com seu temperamento intratável, nunca faltou trabalho para esse ator alemão que com o dinheiro recebido em inúmeros westerns spaghetti adquiriu um castelo na Itália, palco de festas por ele promovidas dignas de Sodoma e Gomorra. Klaus Kinski ganhou novos admiradores com “O Vingador Silencioso” (Il Grande Silenzio) e atingiu o auge de sua carreira como ator ao se encontrar com o diretor Werner Herzog, tão temperamental e desatinado quanto ele próprio. O encontro de Kinski e Herzog se deu com “Aguirre, a Cólera dos Deuses”, seguindo-se “Nosferatu, o Vâmpiro da Noite”, “Woyzeck”, “Fitzcarraldo”, filmado no Brasil, assim como “Cobra Verde” (1987). Neste último filme Kinski e Herzog brigaram o tempo todo das filmagens ameaçando-se reciprocamente de morte. Nesse tempo sua filha Nastassja Kinski, lindíssima atriz, passou a ser tão famosa quanto o pai. Cada vez menos confiável para os produtores e diretores, a carreira de Klaus Kinski entrou em declínio e o ator veio a falecer em 1991. Em 2013 sua filha Pola Kinski denunciou em sua autobiografia que Klaus Kinski abusara sexualmente dela dos cinco aos 19 anos.

Aldo Sambrell (1931-2010) – Cucillo (Aldo Sambrell) é um dos homens menos violentos do bando de El Índio, mas sua morte é violenta pois é vítima de traição. Aldo Sambrell nasceu em Madrid e a família Sambrell se mudou para o México devido à Guerra Civil Espanhola. E foi no México que Sambrell iniciou sua carreira como... jogador de futebol. Do futebol Aldo passou para a música, como cantor, ocupação que o levou de volta à Espanha onde foi contratado para uma ponta em “O Rei dos Reis”. Finalmente Aldo Sambrell encontrou a profissão que exerceria pelos próximos 50 anos. O primeiro euro-western que contou com a presença de Sambrell foi “Por um Punhado de Prata” (Três Hombres Bueños), filmado na Espanha. Sambrell participou do primeiro western de Sergio Leone e o regista o convocaria para todos os demais faroestes que realizaria a seguir. São dezenas os westerns spaghetti nos quais o simpático ator é expressivo coadjuvante.

Benito Stefanelli (1928-1999) – Chamado pelo nome Hughie (Benito Stefanelli), esse membro do bando é de confiança de El Índio que o incumbe de algumas ações. Conta-se que Sergio Leone não falava nada em Inglês, assim como quase toda a italianada no set de filmagem de “Por um Punhado de Dólares”. Quem possibilitou a comunicação entre Leone e Clint Eastwood foi um stuntman chamado Benito Stefanelli, que dominava razoavelmente o Inglês. As carreiras de Benito como ator e dublê e a de Leone como assistente de diretor e escritor seguiam paralelas e eles só foram se encontrar quando do primeiro western do diretor. Benito Stefanneli era, além de dublê perfeito, exímio conhecedor de armas de fogo e atuava como consultor nos filmes quanto à utilização de revólveres e rifles nos filmes em que participava. Tamanha era a confiança de Leone em Benito Stefanneli que a ele foi delegada a função de coordenador dos dublês em “Era Uma Vez na América”, filme de 1984 rodado nos Estados Unidos. Como ator Stefanelli participou de aproximadamente 30 westerns spaghetti.

Luigi Pistilli (1929-1966) – O único homem do bando que chega perto da inteligência de El Índio é Groggy (Luigi Pistilli), que ao final por pouco não ludibria o chefe. Ator italiano com formação teatral, Luigi Pistilli estreou no cinema em 1961 e foi em seu segundo trabalho no cinema em “Por Uns Dólares a Mais” que passou a ser notado. Pistilli foi dirigido novamente por Sergio Leone em “Três Homens em Conflito” (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo), interpretando um padre. No mesmo ano (1968) em que atuou em “A Morte Anda a Cavalo” Luigi Pistilli criou o bandido Pollicut no clássico “O Vingador Silencioso” (Il Grande Silenzio). Luigi Pistilli participou indistintamente de dramas e filmes policiais mesmo no auge da produção dos westerns spaghetti e entre os filmes mais importantes em que atuou com destaque está “Cadáveres Ilustres”, de Francesco Rosi. Luigi Pistilli cometeu suicídio devido à depressão resultante de uma separação amorosa.

Mario Brega (1923-1994) – Quem cuida com desvelo de El Índio, cobrindo-o quando este está sob efeito de drogas é o brutamontes Niño (Mario Brega). Mario Brega foi um dos grandes, na mais completa acepção do termo, atores característicos do cinema italiano, sendo bastante utilizado nos westerns spaghetti ainda que tenha se destacado em comédias e dramas. Do início de carreira de Mario Brega, o grande destaque é “Marcha Sobre Roma”, filme de Dino Risi, em que Brega tem um dos principais papéis ao lado de Vittorio Gassman e Ugo Tognazzi. Presente em todos os filmes da Trilogia dos Dólares de Sergio Leone, o diretor não esqueceu de Brega em “Era Uma Vez na América”. Entre os principais westerns spaghetti em que Brega atuou estão “Bounty Killer, o Pistoleiro Mercenário” (El Precio de un Hombre), “O Seu Nome Clamava Vingança” (Il Suo Nome Gridava Vendetta) e especialmente “O Vingador Silencioso” (Il Grande Silenzio). Segundo Giulio Petroni, pessoalmente Mario Brega era o autêntico romano: falastrão, abrutalhado, provocador e antipaticamente autossuficiente.

Frank Braña (1934-2012) – Blackie (Frank Braña) é um dos três bandidos escalados por El Índio para acompanhar Manco até Santa Cruz. E esta acabará sendo a última missão de Blackie que se defrontará com o caçador de recompensas da cigarrilha na boca. A primeira profissão do espanhol Francisco Braña Perez foi a de minerador, trabalho árduo que o rapaz trocou pela profissão de ator. O produtor Samuel Bronston decidiu rodar a superprodução “O Rei dos Reis” na Espanha, contratando centenas de espanhóis que levavam jeito para ator. Assim como seu conterrâneo Aldo Sambrell, Braña também fez parte do elenco desse épico, participando depois dos euro-westerns produzidos pelos espanhóis no início dos anos 60. Quando a Itália descobriu o filão dos faroestes, deu ocupação a atores que já tinham ‘experiência’ nesse gênero de filmes. Francisco Braña era um deles e, na onda dos nomes adaptados, mudou o seu para Frank Braña. Bem apessoado, Braña não teve dificuldades para continuar no cinema ao término do ciclo dos westerns spaghetti, fixando-se na Espanha e atuando até 2008, ano de seu último trabalho como ator.


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