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4 de março de 2014

ANTRO DE DESALMADOS (The Wild and the Innocent), ESTRELADO POR AUDIE MURPHY E SANDRA DEE


Sandra Dee
Nos anos 50 Audie Murphy era o investimento mais seguro da Universal Pictures, investimento com retorno garantido em especial se o filme fosse um faroeste. O lucro com os westerns do ex-herói de guerra possibilitava ao estúdio produzir filmes de arte como “A Marca da Maldade” (The Touch of Evil) e “Psicose (Psycho). E Sandra Dee, a atriz preferida não só dos adolescentes mas de muita gente mais madura também, rendia igualmente muito dinheiro à Universal. Nascida em 1942, aos 16 anos Sandra era muito famosa graças a filmes como “Brotinho Indócil”, “Maldosamente Ingênua” e, mais que todos, a nova versão de “Imitação da Vida”, estrelado por Lana Turner. Presa sob contrato à Universal Pictures, foi a contragosto que Sandra Dee teve que aceitar a ideia do estúdio de fazê-la contracenar com Audie Murphy num western. Acostumada aos modelos elegantes usados em outros filmes, Sandra iria nesse filme usar um vestido de algodão e aparecer na tela suja e com os cabelos desgrenhados. Além disso Sandra teria como pai Strother Martin, ela que havia tido no cinema pais aristocráticos como Rex Harrison e Arthur O’Connell, bem mais educados que Martin. O novo filme teve o provocativo título “The Wild and the Innocent” (O Selvagem e a Inocente), que no Brasil foi chamado de “Antro de Desalmados”.


Audie Murphy com Sandra Dee
e com Joanne Dru (abaixo).
Um simplório entre dois amores - Yancy (Audie Murphy) é um jovem caçador que vai à cidade de Casper vender peles e se vê seguido por Rosalie (Sandra Dee), adolescente que foge do pai Ben Stocker (Strother Martin). Rosalie sabe que o pai pretende dar a filha em casamento com o primeiro homem que aceitar trocá-la por algumas peles. Sem conseguir se livrar da moça Yancy chega a Casper durante as comemorações da independência num 4 de julho. Durante os festejos o tímido Yancy se apaixona pela prostituta Marcy (Joanne Dru), enquanto Rosalie desperta duplo desejo no xerife Paul (Gilbert Roland). Paul se sente atraído por Rosalie e quer que ela trabalhe no seu saloon depois de passar por sua cama, ele que mesmo como representante da lei, explora o lenocínio. Após algumas desavenças com o valentão Chip (Peter Breck), Yancy descobre que Marcy não é mulher para ele e percebe que Rosalie o ama e não merece ser uma nova Marcy. Porém para tirar Rosalie das mãos do xerife Paul, Yancy tem que enfrentá-lo e quando isso ocorre Yancy leva a melhor, matando Paul. Yancy e Rosalie retornam então, como namorados e futuros esposos, à vida simples de caçadores, longe das tentações e maldades da cidade.

Gilbert Roland assediando Sandra Dee.
Temas pouco edificantes - “Antro de Desalmados” poderia ter sido mais um daqueles filmes para toda família no melhor estilo criado pelos estúdios Disney. No entanto a história escrita por Sy Gomberg toca, ainda que sem maior aprofundamento, nos temas da exploração de lenocínio, corrupção de menor, e mostra (lugar comum) um vilão travestido em homem da lei. O diretor Jack Sher conseguiu a proeza de, esbarrando nesses assuntos nada edificantes, realizar um filme tão leve e agradável quanto previsível, para alegria dos fãs de Audie Murphy e de Sandra Dee. Sem muitos momentos de ação, “Antro de Desalmados” mostra um Audie Murphy apaixonado pela saloon girl e que sofre ao descobrir um tipo de mulher que ele ainda desconhecia, a mulher de todos que podem pagar. O personagem Yancy se aproxima, pela ingenuidade, do Tom Destry que Audie Murphy interpretou em “Antro da Perdição” (Destry), western de 1954. Mas o que torna “Antro dos Desalmados” mais interessante são as mulheres do filme.

O xerife dono do saloon (Roland) tentando uma nova saloon-girl (Sandra Dee).

Acima Joanne Dru; abaixo à esquerda
Wesley Marie Tackitt e Betty Hartdord.
Todo poder ao bandido - Além de Sandra Dee (Rosalie) que passa pouco convincentemente de garota humilde a uma quase saloon girl, há ainda no filme de Jack Sher outras presenças femininas que superam em importância os homens do filme: Joanne Dru (Marcy), outra vez e ótima como mulher fácil; Wesley Marie Tackitt é a cafetina Ma Ransome, braço direito de Paul na administração do saloon, isto é, da casa de tolerância; e Betty Hartford como a senhora Forbes que domina implacavelmente o marido (Jim Backus, antes dominado também em "Juventude Transviada") e lidera o preconceito contra as meretrizes de Casper. E a população dessa cidade não difere em nada de tantas outras comunidades que, por medo ou comodismo ou ambos, assiste passivamente um homem vil se tornar o mais poderoso da cidade. Ele é vivido por Gilbert Roland, que está pouco preocupado em atuar, fazendo pose o tempo todo com a indefectível cigarrilha na boca e olhar de conquistador latino, sua marca registrada desde o início do cinema falado.

Peter Breck e Frank Wolff.
Audie Murphy cantando - Este 26.º filme de Audie Murphy tem uma atração extra que é a presença de Strother Martin criando o tipo desprezível com o qual brilharia em tantos outros filmes. Peter Breck, fortíssimo com seus 1,85 de altura, é a vítima da vez dos punhos do diminuto Audie Murphy. George Mitchell é 'Uncle Lije', o tio caipira de Yancy e que canta em dueto com Audie Murphy a canção “Touch of Pink”. Fãs dos westerns-spaguetti devem procurar por Frank Wolff em início de carreira, antes de se firmar no cinema europeu participando de obras-primas do faroeste como “Era Uma Vez no Oeste” e “O Vingador Silencioso”. Frank Wolff cometeu suicídio aos 43 anos, em 1971. Sandra Dee por quatro anos seguidos, de 1960 a 1963, esteve na lista dos Top-Ten Moneymakers do cinema norte-americano e depois de “Antro de Desalmados” faria ainda três filmes de muito sucesso que foram “Amores Clandestinos” (com Troy Donahue), “Retrato em Negro” (com Lana Turner e Anthony Quinn) e “Quando Setembro Vier” (com Gina Lollobrigida, Rock Hudson e seu então marido, o cantor Bobby Darin). Depois disso a carreira de Sandra Dee entraria em decadência e a graciosa atriz desapareceria do cenário cinematográfico, até ser lembrada com a canção “Look at Me, I’m Sandra Dee”, no filme “Nos Tempos da Brilhantina”. Audie Murphy prosseguiria fazendo pequenos filmes bem sucedidos nas bilheterias, com os quais mantém até hoje um número enorme de fãs.

O janota Audie Murphy e a desglamourizada Sandra Dee.

Final feliz com Audie cantando "Touch of Pink" para Sandra Dee.



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