UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

14 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE DARCI FONSECA

 


    Muitos seguidores do WESTERNCINEMANIA através destes anos todos nos quais perdurou a pesquisa Top-Ten Westerns cobraram a publicação da minha lista dos melhores faroestes. De certa forma fugi dessa responsabilidade porque não é tarefa fácil deixar de fora alguns faroestes magníficos e fui adiando minha lista. A enquete chegou ao fim e não há mais como ‘esconder’ meus western favoritos. Lamento não ter incluído entre eles “Pistoleiros do Oeste” (Lonesome Dove) porque originalmente foi produzido como série de TV e ao ser editado para ser exibido nos cinemas, com redução de 170 minutos perdeu muito do original. “Lonesome Dove" estaria no meu Top-Ten, não fosse contrariar a regra de considerar somente filmes e não séries. “Rastros de Ódio” é o faroeste que eu mais gosto e talvez gostar nem seja o verbo que exprima o que eu sinto por esse western grandioso. Muitos amigos que elaboraram suas listas adicionaram uma sequência de mais 10 e até 20 westerns (os runners up), o que faço também para poder citar a admiração que tenho, especialmente por Anthony Mann e John Sturges, e por westerns que ficaram fora dos meus dez melhores e que são nada menos que excepcionais.

 

Natalie Wood e John Wayne em
"Rastros de Ódio", de John Ford

  1.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

  2.º) Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), 1969 - Dir.: Sam Peckinpah

  3.º) O Homem que Matou o Facínora (The Man who Shot Liberty Valance), 1962 - Dir.: John Ford

  4.º) Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 - Dir.: Howard Hawks

  5.º) Paixão dos Fortes (My Darling Clementine), 1946 - Dir.: John Ford

  6.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - Dir.: John Ford

  7.º) Matar ou Morrer (High Noon), 1952 - Dir.: Fred Zinneman

  8.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio), 1968 - Dir.: Sergio Corbucci

  9.º) Pacto de Justiça (Open Range), 2003 - Dir.: Kevin Costner

10.º) O Cavaleiro Solitário (Pale Rider), 1985 - Dir.: Clint Eastwood

 

Robert Ryan e James Stewart em
"O Preço de um Homem", de Anthony Mann

 Outros 20 westerns que poderiam perfeitamente estar no meu Top-Ten Westerns:

 

Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident), 1942 - Dir.: William A. Wellman

Rio Vermelho (Red River), 1948 - Dir.: Howard Hawks

Legião Invencível (She Wore a Yellow Ribbon), 1949 - Dir.: John Ford

O Preço de um Homem (The Naked Spur), 1953 - Dir.: Anthony Mann

Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

Vera Cruz (Vera Cruz), 1954 - Dir.: Robert Aldrich

Homem sem Rumo (Man Without a Star), 1954 - Dir.: King Vidor

Um Certo Capitão Lockhart (The Man from Laramie), 1955 - Dir.: Anthony Mann

Sete Homens Sem Destino (Seven Men from Now), 1956 - Dir.: Budd Boetticher

Galante e Sanguinário (3:10 to Yuma), 1957 - Dir.: Delmer Daves

Estigma da Crueldade (The Bravados), 1958 - Dir.: Henry King

Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill), 1959 - Dir.: John Sturges

Minha Vontade é Lei (Warlock), 1959 - Dir.: Edward Dmytryk

O Passado não Perdoa (The Unforgiven), 1960 - Dir.: John Huston

Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), 1960 - Dir.: John Sturges

Pistoleiros do Entardecer (Ride the High Country), 1962 - Dir.: Sam Peckinpah

Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più), 1965 - Dir.: Segio Leone

Era uma Vez no Oeste (C’Era una Volta il West), 1966 - Dir.: Sergio Leone

Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 - Dir.: Clint Eastwood

Bravura Indômita (True Grit), 2010 - Dir.: Ethan Cohen/Joel Cohen

 

Jeff Bridges como 'Rooster Cogburn'
no remake de "Bravura Indômita"


12 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS - UMA QUADRA DE SPAGHETTI WESTERNS

 


    Esta grande enquete feita pelo Westerncinemania chega ao seu final e se depara com uma clara e grave distorção: a presença de um acentuado número de opinadores que têm pouca ou nenhuma familiaridade ou simpatia pela safra de faroestes produzidos na Europa, mais especificamente na Itália. Pejorativamente apelidados de ‘Spaghetti-Westerns’ eles podem ser melhor chamados de vertente do gênero e são poucos os cinéfilos mais antigos que se propuseram a conhecer ao menos alguns dos aproximadamente 500 filmes produzidos entre os anos de 1964 a 1974. Posso falar a respeito com certo conhecimento de causa por ter pertencido por 18 anos ao grupo de apaixonados por faroestes que se reuniam semanalmente em São Paulo no clube fundado pelo médico Dr. Aulo Barretti, o Clube Amigos do Western, mais tarde rebatizado como Cineclube Amigos do Western (CAW). Especialmente no primeiro deles era terminantemente proibida a exibição de westerns-spaghetti, todos, sem exceção abominados pelos membros da confraria. Só o fato de, entre centenas de títulos programados através dos anos, nenhum faroeste Made-in-Italy ter sido exibido é a prova cabal da ojeriza que eles despertavam ao grupo. Era repulsa mesmo e pobre daquele que em discussões ousasse defender a vertente italiana de westerns.

 

Grupo de sócios do Clube Amigos do Western;
quase todos repudiavam os westerns-spaghetti

    Nesta enquete 22 dos participantes foram membros do CAW e dentre os 220 filmes apontados por eles apenas quatro eram da safra westerns-spaghetti: “C’Era una Volta Il West” (votos de Giulio Cesare de Castro Pandolfi e Joaquim Romão Gomes); “Por um Punhado de Dólares” (voto de Osvaldo Poitier de Paulo) e “O Vingador Silencioso” (voto de Darci Fonseca). Nem mesmo a presença de Clint Eastwood na trilogia dirigida por Sergio Leone comoveu os programadores do clube a exibir tais filmes, até porque nenhum sócio se atrevia a solicitar tal programação. Por outro lado, entre os demais 54 participantes da enquete, num total de 540 filmes indicados, houve 56 menções a westerns-spaghetti, ou seja, eles foram citados em média de um por lista. A maior parte dessas citações foram para “C’Era Una Volta Il West” e para “Três Homens em Conflito”, unanimidades como os melhores Made-in-Italy de todos os tempos nesta enquete. E o resultado apontado por estes números evidenciam um radicalismo exacerbado por parte do grupo de participantes que pertenceu à mais antiga e maior confraria de fãs de faroestes do Brasil. No meu entender, como todo radicalismo, leva mais à perda do que a algum ganho.

 

Osvaldo 'Poitier' de Paulo, um dos raros cinéfilos
do CAW que não rejeitavam westerns-spaghetti

    Eu conheço cinéfilo apreciador de westerns que jamais assistiu a um western-spaghetti, recusando-se a assisti-los. É o caso típico do absurdo ‘não vi e não gostei’. Um dos argumentos daqueles que não apreciam westerns-spaghetti é que exceto meia dúzia de títulos o que sobra é um conjunto de faroestes muito ruins, o que é um risível exagero e que remete à conhecida frase de Sergio Leone: “Dizem que eu sou o pai dos spaghettis. Se isso é verdade, sou o pai de um monte de filhos-da-puta”. A produção de faroestes norte-americanos é incomparavelmente maior que os 500 exemplares italianos produzidos. E nem todos os westerns rodados na América chegam próximos dos grandes clássicos de John Ford, Anthony Mann, Sam Peckinpah, John Sturges e outros mais. Faroestes ruins existem dos dois lados. Ao criar o blog tive contato com um tipo de seguidores com profundo conhecimento de faroestes, inteligentes, cultos e, posso dizer, de gosto apurado. Em comum todos eles tinham o fato de gostar igualmente dos westerns produzidos nos Estados Unidos e dos chamados westerns-spaghetti. Vinicius Le Marc, Joailton de Carvalho, Edelzio Sanches, Aprigio Alves de Oliveira e Thomaz Antônio de Freitas são alguns deles, a quem agradeço a paciência e perseverança nos tantos debates que travamos neste Westerncinemania.

 

Sergio Leone, considerado o pai dos westerns-spaghetti

          Como compensar a presença desse numeroso grupo de amigos do blog refratários aos westerns-spaghetti? E não falo apenas dos que pertenceram ao CAW, mas também dos muitos que igualmente não simpatizavam com os filmes de Leone, Corbucci, Solima, Enzo Barboni, Gianfranco Parolini, Ferdinando Baldi e outros. A fórmula que encontrei foi acrescentar à enquete quatro listas de aficionados por faroestes, todos os quatro especilizados em westerns-spaghetti. Essas listas foram publicadas no livro “Once Upon a Time in the Italian West”, de autoria do norte-americano Howard Hughes (não confundir com o milionário aviador diretor de “O Proscrito” (The Outlaw, 1946). Abaixo breve apresentação de cada um dos quatro cinéfilos que tiveram suas listas publicadas no livro de Hughes:

 

  ‘Sir” Christopher Frayling, inglês, historiador, escritor, crítico e Reitor do Royal College of Arts de Londres. Com mais de 20 livros publicados sobre Literatura, História, Educação e Cinema, merecem destaque ‘Sergio Leone, Something to do with Death’, ‘Clint Eastwood’, ‘American Westerners’ e ‘Mad, Bad and Dangerous: The Scientist and the Cinema’.

         Alex Cox, inglês, escritor, diretor, ator, documentarista e apresentador. Dirigiu “Sid and Nancy”, “Straight to Hell” e “Repo Man”, entre outros. Cox escreveu diversos livros, merecendo destaque “10,000 Ways to Die: A Director's Take on the Spaghetti Western”.

         Tom Betts, norte-americano, editor do fanzine ‘Western All’Italiana, publicado na California desde 1983.

         Howard Hughes, norte-americano, tem mais de 30 livros publicados sobre assuntos diversos, com destaque para o cinema: ‘Stagecoach to Tombstone: The Filmgoer’s Guide to Great Westerns’; ‘Cinema Italiano: The Complete Guide from Classics to Cults’; ‘Once Upon a Time in the Italian West: The Filmgoers' Guide to Spaghetti Western’; ‘Spaghetti Westerns’; ‘Outer Limits: The Filmgoers' Guide to the Great Science-Fiction Films’; ‘When Eagles Dared: The Filmgoers' History of World War II’; ‘Aim for the Heart: The Films of Clint Eastwood’.

  

Sir Christopher Frayling, Alex Cox, Tom Betts
e Howard Hughes

TOP-TEN WESTERNS DE CHRISTOPHER FRAYLING

   1.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West),

  1968 - Dir.: Sergio Leone

  2.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo),

  1966 - Dir.: Sergio Leone

  3.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio), 1967

  - Dir.: Sergio Corbucci

  4.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più),

  1965 - Dir.: Sergio Leone

  5.º) Django Vem para Matar (Se Sei Vivo, Spara),

  1967 - Dir.: Giulio Questi

  6.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti), 1966

  - Dir.: Sergio Solima

  7.º) Django (Django), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci

  8.º) Meu Nome é Ninguém (Il Mio Nome è Nessuno),

  1968 - Dir.: Tonino Valerii

  9.º) Os Violentos Vão para o Inferno (Il Mercenario),

  1968 - Dir.: Sergio Corbucci

10.º) Gringo/Uma Bala para o General (Quien Sabe?),

  1966 - Dir.: Damiano Damiani

  

TOP-TEN WESTERNS DE ALEX COX

   1.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio),

  1967 - Dir.: Sergio Corbucci

  2.º) Gringo/Uma Bala para o General (Quien Sabe?),

  1966 - Dir.: Damiano Damiani

  3.º) Django Vem para Matar (Se Sei Vivo, Spara),

  1967 - Dir.: Giulio Questi

  4.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più),

  1965 - Dir.: Sergio Leone

  5.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West),

  1968 - Dir.: Sergio Leone

  6.º) Os Cruéis (I Crudeli), 1967 - Dir.: Sergio Corbucci

  7.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti),

  1966 - Dir.: Sergio Solima

  8.º) Réquiem para Matar (Requiescant),

  1967 - Dir.: Damiano Damiani

  9.º) Django (Django), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci

10.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto,

  Il Cattivo), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci

 

 TOP-TEN WESTERNS DE TOM BETTS

   1.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West),

  1968 - Dir.: Sergio Leone

  2.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più),

  1965 - Dir.: Sergio Leone

  3.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto,

  Il Cattivo), 1966 - Dir.: Sergio Leone

  4.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti), 1966

  - Dir.: Sergio Solima

  5.º) A Morte Anda a Cavalo (Da Uomo a Uomo),

  1967 - Dir.: Giulio Petroni

  6.º) Um Dólar para Matar (Bandidos), 1967

  - Dir.: Massimo Dallamano

  7.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio),

  1967 - Dir.: Sergio Corbucci

  8.º) O Pistoleiro da Ave Maria (Il Pistolero dell’Ave

  Maria), 1969 - Dir.: Ferdinando Baldi

  9.º) Procurado Vivo ou Morto (Lo Voglio Morto),

  1968 - Dir.: Paolo Bianchini

10.º) Sartana, o Matador (Sono Sartana, il Vostro

  Becchino), 1969 - Dir.: Giuliano Carmineo

 

 TOP-TEN WESTERNS DE HOWARD HUGHES

   1.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto,

  Il Cattivo), 1966 - Dir.: Sergio Leone

  2.º) Django (Django), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci

  3.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti),

  1966 - Dir.: Sergio Solima

  4.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro

  in Più), 1965 - Dir.: Sergio Leone

  5.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio),

  1967 - Dir.: Sergio Corbucci

  6.º) Sabata (Eh amico... C’É Sabata, Hai Chiuso!),

  1969 - Dir.: Gianfranco Parolini

  7.º) Joe, o Pistoleiro Implacável (Navajo Joe),

  1966 - Dir.:Sergio Coorbucci

  8.º) Eles me Chamam Trinity (Lo Chiamavano Trinità),

  1970 - Dir.: Enzo Barboni

  9.º) Os Violentos Vão para o Inferno (Il Mercenario),

  1968 - Dir.: Sergio Corbucci

10.º) Sangue nas Montanhas (Un Fiume di Dollari),

  1966 - Dir.: Carlo Lizzani


10 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE RUY CASTRO


         Nenhum outro autor, seja nacional ou não, ocupa mais espaço na minha estante que Ruy Castro. São livros de gêneros diversos, alguns já lidos e relidos, outros ainda por adquirir até porque Ruy não para de escrever mesmo depois de merecidamente vestir o fardão da Academia Brasileira de Letras. Independentemente dessa honraria Ruy seria para mim um ‘imortal’ das letras. Encontro com ele quatro vezes por semana na sua coluna na Folha de S. Paulo, certamente a coluna mais lida do jornal, coluna que é lida não querendo que acabe de tão saborosa, mesmo quando o assunto é espinhoso. Comecei a admirar os textos de Ruy Castro na jamais igualada revista ‘Senhor’, edições que, cheio de arrependimento, delas me desfiz. Mas tenho ainda algumas páginas por ele escritas que destaquei daquela publicação. Com o passar dos anos tudo que Ruy escrevia, geralmente sobre cinema, eu arquivava e minha pasta dessas magníficas matérias de página inteira na Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e novamente na Folha é um dos meus tesouros, tão valioso quanto todo o conjunto de livros sobre cinema. Se ele trocava a Folha pelo Estadão, lá ia eu assinar o jornal dos Mesquitas. Sem falar quando assinava artigos na Playboy e em outras revistas. E claro, se Ruy lança um livro sobre cinema sou dos primeiros a adquirir. Ruy, posso dizer, moldou meu gosto, ainda que por vezes (raríssimas vezes) discorde do que ele escreve. Ruy acha que Garrincha foi melhor que Pelé e que a Semana de Arte de 22 não teve muita importância.

 

O extraordinário escritor, biógrafo, cronista e
colunista e parte de sua obra

         A bem da verdade, o Western não é o gênero que mais contribuiu para as dezenas e dezenas de publicações de Ruy Castro nos referidos jornais. E sabemos que os musicais, os policiais, dramas noir, as grandes aventuras e tudo de Billy Wilder formam a preferência de Ruy Castro. Porém, ao escrever sobre faroestes, sobre John Wayne, Henry Fonda, Clint Eastwood ou mesmo sobre os mocinhos dos westerns-B, o texto inimitável que informa, opina e delicia vale mais que muitos livros que se pretendem definitivos. Minha dívida com Ruy é do tamanho do amor que ele tem pelo cinema e pela música, ou seja, enorme. E como não há jeito de pagar essa dívida, presto esta pequena homenagem publicando seu Top-Ten Westerns. Em 1988 a Folha de S. Paulo fez uma enquete com uma dúzia de renomados jornalistas, entre eles Paulo Francis, Sérgio Augusto, Orlando Lopes Fassoni, Inácio Araújo e Ruy Castro. E nessa enquete Ruy elegeu seus faroestes preferidos. É certo que a lista poderia soar defasada passados quase 40 anos de sua publicação, mas fora o efêmero renascimento do gênero com “Dança com Lobos”, “Os Imperdoáveis”, “Tombstone” e poucos outros mais, pode-se dizer que eles são pouco próximo às dezenas e dezenas de clássicos do faroeste dos anos 30 aos anos 70. Daí a lista de Ruy Castro se manter atual e ser escolhida para encerrar esta grande enquete. Eis o Top-Ten Westerns eleito por Ruy Castro em 1988:

 


  1.º) O Homem que Matou o Facínora (The Man who Shot Liberty Valance), 1962

         - Dir.: John Ford

  2.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - Dir.: John Ford

  3.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

  4.º) Paixão dos Fortes (My Darling Clementine), 1946 - Dir.: John Ford

  5.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

  6.º) O Matador (The Gunfighter), 1950 - Dir.: Henry King

  7.º) Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), 1969 - Dir.: Sam Peckinpah

  8.º) Conspiração do Silêncio (Bad Day at Black Rock), 1954 - Dir.: John Sturges

  9.º) A Marca do Zorro (The Mark of Zorro), 1940 - Dir.: Rouben Mamoulian

10.º) Johnny Guitar (Johnny Guitar), 1954 - Dir.: Nicholas Ray

9 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE PAULO ANTÔNIO LUI

 


      O Shopping Jaraguá, em Indaiatuba, cidade do interior de São Paulo, possui em sua entrada, em forma de praça, uma bela fonte, local que recentemente recebeu o nome de ‘Praça Paulo Lui’. Poucas homenagens são tão merecidas como essa prestada a um homem que por décadas e décadas têm levado entretenimento e cultura através do cinema à população indaiatubense. Paulo Lui é o simpático e atencioso senhor responsável pelo Cine Topázio (Multiplex), no Shopping Jaraguá em Indaiatuba. Há uma diferença entre ser proprietário de cinema e ser exibidor e Paulo Lui ilustra com perfeição essa diferença. Cinema é um empreendimento como outro qualquer, porém deixa de ser assim quando se pensa em cinema com amor, amor de toda uma vida, amor herdado do pai, Guerino Lui e que ‘Seu Paulo’ (ou ‘Paulinho’, como muitos o chamam) não só jamais perdeu mas sim desenvolveu de um modo ímpar que emociona a quem conhece mais inteiramente essa sua longa jornada. Daí a razão que leva a chamar Paulo Lui de ‘Exibidor’, rótulo que merece apenas quem, como ele, faz programações que atendam a faixas de público específicas sem jamais se preocupar com a bilheteria. Tendo esse modo de pensar como princípio, Paulo Lui criou para seu querido Cine Topázio diferentes tipos de programação de filmes entre eles a ‘Manhã Nostálgica’, a ‘Quarta Charmosa’ e o ‘Cine Materna’. E ainda abriu espaço para o Cineclube Indaiatuba, para o Festival de Filmes Italianos e para a sessão ‘Faroeste e Afins’.

 

Inauguração da Praça Paulo Antônio Lui,
no Shopping Jaraguá, em Indaiatuba

      Uma das sessões mais concorridas entre as criadas por Paulo Lui é a ‘Manhã Nostálgica’, na qual os grandes clássicos do cinema podem ser revistos com toda a qualidade de som e imagem que os modernos equipamentos do Cine Topázio produzem. As cabeças brancas certamente dominam essas sessões, mas muitos jovens também acorrem para poder ver a beleza desses filmes em tela grande. E aí está a razão principal que levou Paulo Lui a criar esse segmento de programação: quase todo cinéfilo tem em sua estante seus filmes ‘de cabeceira’ no formato de DVD, muitos exibidos em home-theaters com televisores de até 80 polegadas. Nada, porém, se compara a ver ou rever um filme em tela grande com os recursos que a moderna tecnologia oferece, ou melhor, que Paulo Lui nos presenteia. À parte a questão do deslumbramento que é assistir a esses filmes nas sessões programadas por Paulo Lui, há ainda o aspecto do seu incansável trabalho filantrópico. O ingresso em muitas dessas sessões é um quilo de mantimentos não perecíveis que ‘Seu Paulo’ encaminha para as entidades assistenciais que sobrevivem graças a pessoas como o querido Exibidor do Cine Topázio.

 

Paulo Antônio Lui diante de uma das salas
do Multiplex Cine Topázio

      De Guerino Lui o ‘Sr. Paulo’ herdou a paixão pela arte de representar que o levou a quando mais jovem liderar diversas atividades teatrais. A administração do Cine Alvorada, empreendimento anterior da família Lui, exigia quase todo o tempo de Paulo Lui e a arte teatral teve que ser posta de lado, até porque não deixava de ser o cinema uma das mais importantes formas de comunicação artística. Assim, ao lado dos filmes que atraíam o grande público, Paulo Lui admirava os filmes chamados ‘de arte’, quase sempre mais difíceis para o grande público. E esse segmento até hoje é brindado com filmes como o clássico italiano “Arroz Amargo’ (1949) programado para este setembro de 2024. E quem mais, senão Paulo Lui poderia abrir espaço para o gênero western, praticamente esquecido pelos produtores mas que sobrevive na lembrança de muitos que teimosamente o cultuam. A cada dois meses os fãs lotam uma das salas do Cine Topázio para rever clássicos como “Os Brutos Também Amam” e outros de igual quilate e mesmo westerns-spaghetti como “Companheiros” têm espaço nessas sessões. Ele próprio, o Exibidor Paulo Lui, é fã de westerns uma vez que pertence a uma geração que teve a felicidade de ver nas telas dos cinemas os mocinhos como Roy Rogers, Rocky Lane e Hopalong Cassidy e, mais tarde, exibindo em seus cinemas, faroestes estrelados por John Wayne, Clint Eastwood, Gary Cooper e outros grandes atores que cavalgaram pelo Velho Oeste. ‘Seu Paulo’ gentilmente atendeu à solicitação para relacionar os seus dez westerns preferidos, que são os seguintes:

 

Cowboys da confraria dos cowboys paulistas
durante uma sessão Faroestes e Afins

  1.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

  2.º) Os Profissionais (The Professionals), 1966 - Dir.: Richard Brooks

  3.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

  4.º) Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), 1960 - Dir.: John Sturges

  5.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West), 1968 - Dir.: Sergio Leone

  6.º) Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the OK Corral), 1957 - Dir.: John Sturges

  7.º) Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill), 1959 - Dir.: John Sturges

  8.º) Revanche Selvagem (The Scalphunters), 1968 - Dir.: Sydney Pollack

  9.º) Ninho de Cobras (There Was a Crooked Man), 1970 - Dir.: Joseph L. Mankiewicz

10.º) Sublime Tentação (Friedly Persuasion), 1956 - Dir.: William Wyler

 

Burt Lancaster, Lee Marvin, Robert Ryan e
Woody Strode em "Os Profissionais"


6 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE ANTÔNIO DA CUNHA PENNA

 


  Antônio da Cunha Penna é mineiro de Santa Bárbara, uma das cidades históricas do ciclo do ouro de Minas Gerais, e aos doze anos de idade se mudou com a família para Indaiatuba. Poucos indaiatubenses amam mais essa cidade que Antônio, ou Penna como ele é mais conhecido devido a suas múltiplas atividades, quase todas elas relacionadas com a cultura. Depois de assistir “Blow-Up”, filme inglês de 1966 em que o ator David Hemmings interpreta um fotógrafo, Penna decidiu que queria ser fotógrafo, passando a clicar suas objetivas Nikon ou Mamiya pelas décadas seguintes. Essa atividade o levou a viver o dia a dia de Indaiatuba, registrando com suas lentes praticamente tudo que acontecia na cidade. A fotografia é uma arte, mas Penna não se contentava com as fotos caprichadas que fazia e não conteve outros dons nos quais demonstrou excelência igual à do fotógrafo. Enveredou então pela música e pela literatura tornando-se compositor e autor, tendo sido lançado recentemente seu quarto livro, intitulado “Retrovisões”. Escreveu crônicas para a ‘Revista da Tribuna’, posteriormente publicadas no livro “Só Dói Quando Dou Risada”. Figura das mais conhecidas de Indaiatuba, Penna ocupou cargos importantes em praticamente todos os órgãos culturais da cidade e não se afastando da fotografia foi cofundador do Fotoclube ‘Olhar Fotográfico’, da Casa da Memória e do Cineclube Indaiatuba. Como escritor Penna gosta e muito de escrever sobre o cotidiano da cidade que o acolheu e o referido “Retrovisões” escrito em forma dos saudosos almanaques, faz um levantamento das atividades culturais desenvolvidas por lá desde o início do século passado, com destaque para o cinema.

 

Alguns dos livros de Antônio da Cunha Penna;
e o premiado fotógrafo de tantas e tantas exposições

         Em “Retrovisões” acompanha-se semana a semana as programações dos desaparecidos Cine Rex e Alvorada, até chegar ao Cine Topázio com seus programas especiais dedicados à faixa de público que viveu os dias esplendorosos do Rex e do Alvorada. E Penna não esconde a saudade dessas décadas e dos grandes filmes que assistiu. Curiosamente, a primeira imagem que viu em um cinema o assustou: era Charles Starrett como Durango Kid, imenso na tela montado em seu cavalo branco chamado ‘Raider’. Depois o menino se acostumou e passou a vibrar com os mocinhos como Roy Rogers com quem logo simpatizou e que, segundo Penna, “...Tinha cara de pediatra, era casado e pouco atlético. Diferente dos demais: antes de reagir apanhava além do necessário. Quando menos se esperava começava a cantar... Os outros heróis eram solteiros e cheios de espertezas. Partiam logo para a briga e não titubeavam em sacar a arma. Se bem que gostasse deles, Roy Rogers me parecia familiar”. Esse livro contendo muita informação é entremeado pelas observações argutas, objetivas, muito sinceras e não raro irônicas do autor. E não é que o Penna lembra que Lorna Gray (Adrian Booth) como a vilã ‘Vultura’ era mais sensual que a insípida e tão querida pelo público Kay Aldridge, do seriado “Perigos de Nyoka”? Mais adiante Penna confessa que foi apaixonado por Deborah Kerr (quem não foi?) e que ficou tomado de ciúmes ao vê-la com Burt Lancaster na sequência do beijo na praia em “A Um Passo da Eternidade”. Com o cinema presente em quase todas as páginas com pelo menos um tópico em cada uma delas, o autor relembra ter criado a primeira locadora de Indaiatuba e antes de ser cofundador do Cineclube Indaiatuba ele quase fez parte da célebre confraria chamada de ‘Legionários’, que se reunia semanalmente para assistir filmes e seriados que os cinemas não mais exibiam. Saboroso de forma geral pelo estilo de escrever do autor, “Retrovisões” desperta certa melancolia quando Penna fala do fim dos Cine Rex e Alvorada, tristeza logo superada ao citar o Cine Topázio com seus imperdíveis programas promovidos pelo exibidor Paulo Lui.

 

Durango Kid montado em Raider; Kay Aldridge,
a Nyoka com o punhal; o pensativo Roy Rogers;
e a maravilhosa Deborah Kerr

         “Shane” é o faroeste preferido de Penna que em seu “Retrovisões” escreve  “...Os Brutos Também Amam esconde tanto quanto explícita. É a arte sublimando a realidade. Só grandes artistas conseguem tal façanha sem soar falso. É, sem dúvida, um clássico absoluto”. Em outro trecho Penna fala da música de “Shane”: “...Não sei o que há na música ‘The Call of the Faraway Hills’ (O chamado das colinas distantes), de Victor Young. Seu caráter reverente e ritmo em sintonia com a cadência do cavaleiro solitário chegando à pradaria me levam para aquele mundo onde, uma hora e 59 minutos depois, dou por mim com os olhos úmidos em razão dos gritos desesperançados do menino Joey”. Da primeira imagem de Durango Kid à do cavaleiro dos vales perdidos do filme de George Stevens, Antônio da Cunha Penna assistiu a um número incontável de faroestes e para o blog Westerncinemania ele relacionou o seu Top-Ten Westerns que é este:

  

Penna diante do cenário de seu faroeste preferido

  1.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

  2.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

  3.º) Matar ou Morrer (High Noon), 1952 - Dir.: Fred Zinnemann

  4.º) O Homem que Matou o Facínora (The Man who Shot Liberty Valance), 1962 - Dir.: John Ford

  5.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - Dir.: John Ford

  6.º) Era Uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West), 1968 - Dir.: Sergio Leone

  7.º) Sete Homens Sem Destino (Seven Men from Now), 1956 - Dir.: Budd Boetticher

  8.º) O Último Pôr-do-Sol (The Last Sunset), 1961 - Dir.: Robert Aldrich

  9.º) Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 - Dir.: Clint Eastwood

10.º) A Face Oculta (One-Eyed Jacks), 1960 - Dir.: Marlon Brando

 

Penna com o grande amigo Laudney Mioli no 'Pingado, Pão e Manteiga" semanal que ocorre aos sábados em Indaiatuba


4 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE NELSON PECORARO

 


  É difícil, senão impossível, falar de Nelson Pecoraro sem usar superlativos. Entrando para o Clube Amigos do Western em 1981, Nelson rapidamente, pelo seu amplo conhecimento tecnológico, passou a dominar a área mais importante da confraria, que era a projeção de filmes. Antes de Nelson as sessões ocorriam com a projeção em 16mm dos poucos e já desgastados filmes do acervo do fundador do clube, Dr. Aulo ‘Doc’ Barretti. Nelson conseguiu adquirir um lote enorme de filmes que a TV Cultura repassou para Ademar Carvalhaes, crítico e professor de Cinema, que havia falecido. No pacote Nelson pediu para ser incluída uma das máquinas de telecinagem e com isso mudou a vida de todos aqueles aficionados por faroestes, filmes clássicos (todos em preto e branco) e alguns seriados. Chegou o tempo do Vídeo Cassete Record e quando muitos nunca haviam sequer ouvido falar dessa modernidade, Nelson já passava os filmes telecinados para as fitas VHS que eram exibidas no clube com qualidade e variedade imensamente superior às projeções em 16mm. Passou-se mais um tempo e surgiu o DVD e com ele a possibilidade do uso de projetores modernos. O que era uma minúscula telinha virou uma tela muito maior que Nelson instalou para alegria dos sócios do CAW. Não só membros da confraria ficaram felizes com os conhecimentos de Nelson Pecoraro, mas também Paulo Tardin, comerciante de filmes do Rio de Janeiro e que visitando Nelson tomou aulas de como fazer telecinagens e cópias de filmes que passou a vender como água. Nelson, por seu lado, não tinha interesse nesse tipo de comércio e somente atendia os amigos quando estes lhe pediam determinadas cópias de filmes que só ele possuía. A preço de custo e não aos valores extorsivos que se praticava,

 

Nelson com os antigos projetores que tantos filmes
exibiram no clube dos cowboys paulistanos

           Com toda essa importãncia é de se imaginar que Nelson fosse uma pessoa que se presumisse insubstituível. Mas não era assim pois a personalidade de Nelson Pecoraro era a de um homem discreto, quase sempre escondido atrás de um projetor ou no fundo da sala, raramente emitindo alguma opinião entre os tantos sabichões que havia no clube. Justamente ele que dos nove aos 20 anos de idade, depois de se mudar da cidade de Ibitinga (interior de São Paulo) para a Vila Prudente (bairro de SP), não deixava jamais, a não ser por razão de força maior, de frequentar o Cine Dom Bosco no seu bairro ou os cinemas maiores da vizinha São Caetano do Sul. Em sua conta foram mais de 500 sessões e muitas delas com programa duplo. O conhecimento como cinéfilo de Nelson não era fruto apenas das sessões que ele frequentava, mas também dos livros e revistas sobre cinema que ele desde cedo passou a colecionar. Quem pensa que Nelson, por ser apaixonado por tecnologia áudio-visual trabalhasse nessa área, se engana. Nelson durante toda sua idade adulta foi um representante comercial respeitadíssimo na empresa onde trabalhou por décadas, até se aposentar.

 

Nelson 'Pecos' Bill e 'Doc' Barretti, respectivamente
o pioneiro e o fundador do Clube Amigos do Western

           E da mesma forma que Nelson amava o cinema, ele gostava de música e até mesmo de cantar, soltando a voz em árias que ele conhecia bem ou nos boleros que era seu gênero musical preferido. Seu vasto acervo, então o maior da confraria continha centenas de LPs e depois CDs. E filmes de gêneros variados e a prova disso é que só de filmes mexicanos, da fase áurea estrelada por Dolores Del Rio, Pedro Armendáris, Maria Félix, Emílio Fernández, Columba Dominguez e muitos outros, Nelson possuía quase uma centena de filmes. Um fato que muito alegrou os autor destas linhas foi quando da publicação da edição da revista ‘Pardner’ biografando Nelson Pecoraro. Logo a seguir à publicação, Nelson me pediu cinco cópias da revista para presentear filhos e parentes próximos. A própria filha de Pecoraro fez questão de agradecer dizendo-se emocionada ao ler o extenso relato sobre seu pai. Assim era Nelson Pecoraro, a viga mestra do Clube Amigos do Western, a quem o clube deve muito de sua existência e a quem os membros da confraria devem muito, igualmente. Se tivesse que definir Nelson Pecoraro eu diria: ‘Um Homem Generoso’. Um homem generoso, sempre pronto a ajudar no que fosse preciso a quem precisasse. Cowboy especial o Nelson Pecoraro. Muito especial.

 

Edição da revista 'Pardner' biografando Nelson
Pecoraro e ele desenhado por Umberto 'Hoppy' Losso

   1.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

  2.º) Paixão dos Fortes (My Darling Clementine), 1946 - Dir.: John Ford

  3.º) Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 - Dir.: Howard Hawks

  4.º) O Galante Aventureiro (The Westerner), 1940 - Dir.: William Wyler

  5.º) Região do Ódio (The Far Country), 1954 - Dir.: Anthony Mann

  6.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - Dir.: John Ford

  7.º) Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the OK Corral), 1957 - Dir.: John Sturges

  8.º) Matar ou Morrer (High Noon), 1952 - Dir.: Fred Zinnemann

  9.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

10.º) O Intrépido General Custer (They Died with Their Boots On), 1941 - Dir.: Raoul Walsh



3 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE ACHILLES HUA

 


           Se há algo que deixa alguém satisfeito é encontrar um amigo com quem se pode conversar sobre música, futebol e cinema. E assim é o paulistano Achilles Hua, com quem cada contato é um aprendizado, dada suas abalizadas opiniões sobre essas áreas de entretenimento. Se o assunto é cinema Achilles discorre sobre os grandes (e pequenos também) filmes da época de ouro da 7.ª Arte. Como Achilles fez parte da confraria que se reunia semanalmente para assistir faroestes e seriados, também sobre esses tipos de filmes ele demonstrava seu profundo conhecimento. Prova disso são os magníficos artigos que Achilles escreveu para a revista ‘Pardner’, trazendo não só informações como análises críticas bem fundamentadas. Primorosas as matérias que esse cinéfilo escreveu sobre westerns entre elas resenha “A Lei do Mais Forte” (The Oklahoma Kid), 1939; “Flechas de Fogo” (Broken Arrow), 1950; “Matar ou Morrer” (High Noon), 1952; “E o Sangue Semeou a Terra” (Bend of the River), 1952. Ou ainda matérias imperdíveis como ‘Faroestes de Michael Curtiz’ e ‘Faroestes de William A, Wellman. Daí sua lista ‘Top-Ten Westerns’ ser das mais aguardadas e na qual se constata que Achilles tem gosto apurado para esse gênero de filmes.

 

 

Achilles desenhado por Umberto 'Hoppy' Losso

          Quem quiser conhecer um pouco mais sobre Achilles Hua poderá ler, neste blog WESTERNCINEMANIA, a publicação ‘Cine Saudade’ focalizando nostalgicamente o cinema onde ele assistiu aos primeiros filmes e seriados. Difícil não se emocionar com o relato, muito parecido com os que viveram aqueles nascidos nas décadas de 40 e 50, com uma diferença: o imóvel onde funcionou o cineminha citado no ‘Cine Saudade’, o Cine Urquinha, ainda existe. Tal fato mais aumenta a nostalgia de quem o frequentou e lá vibrou com os seriados “Flash Gordon no Planeta Mongo” (Flash Gordon), 1936 ou “O Fantasma Voador” (The Phantom), 1943, apenas dois dos muitos seriados que o menino Achilles assistiu no ‘Urquinha’, como era chamado o cinema. Depois do seriado chegavam a galope Tim Holt, George O’Brien e outros colocando os foras-da-lei na prisão e fazendo a paz voltar ao Velho Oeste. Das centenas de filmes que Achilles assistiu naqueles tempos do Urquinha, aquele que ele costuma citar como um dos seus preferidos é “Sempre em meu Coração” (Always in my Heart, 1942). Nesse enternecedor drama romântico, ouve-se a versão de ‘Siempre in mi Corazón’, bolero de Ernesto Lecuona. E pode-se dizer que aí tenha-se iniciado a paixão de Achilles por esse gênero musical, o bolero.

 

"O Fantasma Voador" (acima) e "Sempre em Meu
Coração" (abaixo); à direita James Cagney em
"A lei do Mais Forte" e George O'Brien

                    Entre as muitas contribuições de Achilles na confraria, além de com sua fidalguia demonstrar seu conhecimento sobre cinema, está uma que poucos conhecem. Pois foi ele, ao lado dos também sócios Clóvis Ribeiro e Jáder Jesus Donato e do editor deste blog, quem deu início às reunões pós-sessões de cinema da confraria, reuniões que ocorriam em pizzarias e quando os debates e cantorias eram tanto ou mais saborosos que as próprias pizzas.. Esse era o complemento perfeito para as reuniões semanais do Clube Amigos do Western e que continuou a ocorrer pelos anos afora. Assim é Achilles Hua que gentilmente listou seus faroestes preferidos por ordem de ano de produção.

 

 

Aqui começaram as pizzas da confraria dos amigos do
Oeste: Achilles, Jáder jesus Donato e Clóvis Ribeiro

Consciências Mortas (The Ox-Bow Incident), 1942 - Dir.: William A. Wellman

Matar ou Morrer (High Noon), 1952 - Dir. Fred Zinnemann

Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

Punidos pelo Próprio Sangue (Backlash), 1956 - Dir.: John Sturges

Da Terra Nascem os Homens (The Big Country), 1958 - Dir.: William Wyler

Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill), 1959 - Dir.: John Sturges

A Noite da Emboscada (The Stalking Moon), 1968 - Dir.: Robert Mulligan

Os Imperdoáveis (Unforgiven), 1992 - Dir.: Clint Eastwood

Pacto de Justiça (Open Range), 2003 - Dir.: Kevin Costner




2 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE ANTONIO DE OLIVEIRA RIBEIRO

 


 

  Em sua edição de número 12 (junho/2000), a revista ‘Pardner’, do Clube Amigos do Western biografou o sócio Antônio de Oliveira Ribeiro, o ‘Toninho’. A chamada da capa da revista dizia: “Um Cowboy com o ‘B’ nas veias”. Poucos no CAW conheciam tanto e tão bem sobre os B-westerns como Toninho, faroestes de produção econômica que dominavam as telas dos cinemas de bairros das grandes cidades ou cineminhas de cidades pequenas como Eldorado Paulista (antiga Xiririca), onde Toninho viveu sua infância nas décadas de 30 e 40. Posteriormente, trabalhando para os Correios, setor Seviço Regional de Correspondência Ambulante (SRCA) , Toninho viajava de trem de cidade em cidade do interior de São Paulo e conhecia todos os cineminhas dos lugarejos por onde passava. E feliz da vida porque nessa função não precisava fugir das mordidas dois cachorros como todo carteiro fazia.

 

Antônio de O. Ribeiro biografado na revista 'Pardner'

  Aos poucos juntou a Charles Starrett, Tim Holt e Hopalong Cassidy, que eram seus mocinhos preferidos, os astros de westerns mais bem produzidos, com destaque para Glenn Ford e Audie Murphy, cujos filmes procurava não perder. Vindo para a capital paulista a diversão principal de Toninho continuou a ser assistir filmes, de preferência os faroestes. Onde fosse exibido um faroeste estrelado por Glenn Ford ou Audie Murphy, Toninho ia atrás. De John Wayne Toninho nunca foi muito fã e mesmo assim presenciou o lançamento no Brasil de “Rastros de Ódio” (The Searchers), em 1956. Entre John Wayne e John Payne Toninho preferia este último, até porque ficou vuvamente impressionado com o westerns “Homens Indomáveis” (Silver Lode, 1954), dirigido por Allan Dwan. Mas o western que Toninho mais gostou foi mesmo “Os Brutos Também Amam) (Shane, 1953), faroeste que viu e reviu incontáveis vezes sempre que reprisado e mais tarde na TV e em VHS.

 

Apelidado de 'Toninho Ford-Murphy' na capa de um gibi antigo

  E com que alegria Toninho descobriu em 1989 o Clube Amigos do Western, ao qual se associou e pode rever as aventuras dos mocinhos que vira na infância, como Buck Jones cujas aventuras no seriado “Àguia Branca” (White Eagle, 1941) nunca saíram de sua memória. Para Toninho os melhores seriados que assistiu foram “A Legião do Zorro” (Zorro’s Fighting Legion, 1939) e “A Adaga de Salomão” (Secret Service in Darkest Africa, 1943), este último opinião compartilhada com Steven Spielberg, que inspirado nele filmou sua saga ‘Indiana Jones’. Conhecedor como poucos dos astros e estrelas, Toninho reconhecia de imediato qualquer coadjuvante que surgisse na tela da confraria, atores como Andrew Duggan, John Doucette e outros ainda menos conhecidos. Toninho era fã ardoroso de Glenn Ford e de Audie Muphy e suas atrizes preferidas eram Breanda Marshall e Jody Lawrence. Toninho falava o que sentia e sempre dizia que detestava Barbara Stanwyck, Bette Davis e Joan Crawford. Curiosamente um de seus westerns preferidos é estrelado justamente por Barbara Stanwyck, “Aliança de Aço”. Antônio Ribeiro mencionou para a revista ‘Pardner’ seus westerns favoritos que o blog WESTERNCINEMANIA transcreve e que são os seguintes:

 

Antônio de O. Ribeiro

  1.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

  2.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - Dir.: John Ford

  3.º) Winchester 73 (Winchester 73’), 1950 - Dir.: Anthony Mann

  4.º) Vera Cruz (Vera Cruz), 1954 - Dir.: Robert Aldrich

  5.º) Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 - Dir.: John Ford

  6.º) Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 - Dir.: Howard Hawks

  7.º) Aliança de Aço (Union Pacific), 1939 - Dir.: Cecil B. DeMille

  8.º) Jornadas Heróicas (The Plainsman), 1936 - Dir.: Cecil B. DeMille

  9.º) Galante e Sanguinário (3:10 to Yuma), 1957 - Dir.: Delmer Daves

10.º) O Último Duelo (The Cimarron Kid), 1952 - Dir.: Budd Boetticher

 

"Aliança de Aço", faroeste que Antônio Ribeiro
assistiu em sua adolescência

1 de setembro de 2024

TOP-TEN WESTERNS DE IONALDO A. CAVALCANTI

 


        Em seu período áureo o Clube Amigos do Westerns chegou a congregar 50 aficionados que se reuniam semanalmente, aos sábados à tarde, na sede da Rua José Getúlio, no bairro da Aclimação, em São Paulo. Entre esses tantos associados havia advogados, professores, radialistas, jornalista, artistas, representantes comerciais, toda sorte enfim de apaixonados por faroestes. Um dos sócios era um artista na acepção do termo, ele que era (e é) verbete em muitos dicionários de arte e têm suas obras em museus diversos do Brasil e do Exterior. 

Multi-artista ou Cowboy? Por que não os dois...

        Com seu bigode a la Salvador Dali, Ionaldo Cavalcanti era a modéstia em pessoa, apesar de ser famoso no meio das artes plásticas. desenhista, gravurista e pintor, o pernambucano Ionaldo era ainda escritor, sendo de sua autoria os dois excelentes livros sobre personagens e autores de história em quadrinhos, obras fundamentais e que não podem faltar em nenhuma biblioteca de admiradores dessa arte atualmente bem mais valorizada. E Ionaldo era ainda apaixonado pela música brasileira e seu falecimento impediu que completasse e publicasse as pesquisas que fez por anos a fio.

Obras fundamentais para fãs das HQs,
de autoria de Ionaldo

          Ionaldo exerceu também o jornalismo e o autor destas linhas teve a honra de ser contemporâneo de Ionaldo no jornal Última Hora, de São Paulo, ele na redação, como principal diagramador e eu, como linotipista, na gráfica. Posteriormente trabalhamos ainda ao mesmo tempo na Imprensa Oficial do Estado, eu sempre como linotipista na gráfica e Ionaldo na direção do magnífico “Leitura”, caderno de cultura que hoje a Imesp não mais edita. Mas foi no Clube Amigos do Western que meu contato com Ionaldo se estreitou, quando eu aproveitava todas as oportunidades para com ele conversar e aprender sobre as diversas vertentes culturais que Ionaldo dominava como ninguém. Entre elas a arte cinematográfica que aos sábados se desviava para um subgênero que só mesmo naquele clube era desenvolvido, os faroestes ‘B’ e os seriados. 

O maravilhoso vitral do saguão de entrada da FAAP,
em São Paulo, com destaque para o vitral de Ionaldo

        Com que alegria aquele homem com ar sisudo discorria sobre seus mocinhos preferidos e os inesquecíveis seriados que ele revia em capítulos no CAW, isto após ter assistido a muitos deles nos cinemas de sua terra natal. Guardo como um verdadeiro tesouro um esboço de história em quadrinhos com desenhos de fazer inveja a Will Eisner, Alex Raymond, Hal Foster e outros gigantes dos criadores de comic books, esboço esse que Ionaldo me presenteou. E quando do lançamento da revista ‘Pardner’, Ionaldo foi o escolhido para ser o primeiro entrevistado, falando de suas preferências cinematográficas. Foi justamente nessa ocasião durante o longo bate-papo que Ionaldo relacionou os faroestes de sua preferência e que agora, em forma de Top-Ten, são publicados neste blog. Eis as preferências de Ionaldo Cavalcanti|:

 

  1.º) Matar ou Morrer (High Noon), 1952 - Dir.: Fred Zinnemann

  2.º) Conquistadores (Western Union), 1941 - Dir.: Fritz Lang

  3.º) Os Brutos Também Amam (Shane), 1953 - Dir.: George Stevens

  4.º) Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the OK Corral), 1957 - Dir.: John Sturges

  5.º) Indomável (The Spoilers), 1942 - Dir.: Ray Enright

  6.º) O Passado não Perdoa (The Unforgiven), 1960 - Dir. John Huston

  7.º) No Tempo das Diligências (Stagecoach), 1939 - Dir.: John Ford

  8.º) Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), 1960 - Dir.: John Sturges

  9.º) Os Imperdoáveis (Unforgiven), 19__ - Dir.: Clint Eastwood

10.º) Duelo de Titãs (Last Train from Gun Hill), 1959 - Dir.: John Sturges

  

"O Passado não Perdoa", que Ionaldo reputa como
um dos melhores westerns de todos os tempos

Abaixo texto publicado no número um da revista ‘Pardner’, que teve Ionaldo Andrade Cavalcanti como biografado.

 

O artista-cowboy Ionaldo visto pelo também artista-cowboy
Umberto 'Hoppy' Losso

          Início dos anos 80, fui consultar meu dicionário “O Mundo dos Quadrinhos” e percebi que várias páginas haviam sido arrancadas do livro. Autor do vandalismo: o filho caçula, punido com corte de mesada por várias semanas, até que o custo de um novo exemplar fosse coberto. Esse livro até hoje é consultado com satisfação por pai e filho, mesmo porque é obra única no gênero, no Brasil. Na contracapa havia a foto do bigodudo autor: Ionaldo A. Cavalcanti. Mais de uma década depois, lá estávamos, meu filho e eu, na pequena sala de projeção do Clube Amigos do Western, sentados ao lado daquele salvadordaliano bigode. Era, em pessoa, o próprio Ionaldo. Custamos a acreditar, mas passado o momento de estupefação, até conversamos com ele, que se revelou simpático e atencioso. Desse dia para cá uma sucessão de informações a respeito desse pernambucano ‘arretado’ foi conseguida e só fez aumentar a admiração pelo autor de “O Mundo dos Quadrinhos”. Foi seu amor pelos velhos faroestes que fez com que se juntasse aos cowboys do CAW. E sua paixão pelas histórias em quadrinhos fez com que escrevesse também “Esses Incríveis Heróis de Papel”.

          E que jornalista que é o Ionaldo! Dos poucos capazes de redigir, ilustrar e diagramar com igual perfeição, o que fez ao longo de quase 40 anos de carreira. E seus predicados artísticos parecem não ter fim, já que foi como extraordinário artista plástico que viu seu nome ultrapassar as fronteiras dos países ditos de Primeiro Mundo, para com suas telas disputar espaços com mestres internacionais em afamados museus como o MASP (Museu de Arte de São Paulo) e MAM (Museu de Arte Moderna), para falar só dos mais conhecidos e que ficam aqui em São Paulo. Ionaldo é daqueles artistas que conseguiram o respeito do público e crítica criando arte original e voltada para os variados temas da cultura brasileira. Como ninguém aborda as coisas do nosso país, temperando suas tintas com talento, sensibilidade e amor. E haja amor, tanto que extrapola a pintura e chega à música, à nossa legítima música popular, com suas importantes variantes, cujo carro-chefe é o samba. Do nosso samba Ionaldo é profundo estudioso, possuindo arquivo de dados de fazer inveja a qualquer Tinhorão.

          Quem observa o circunspecto Ionaldo, com sisudez apenas aparente, assistindo aos faroestes do nosso clube, mal é capaz de imaginar o múltiplo artista que ele é, com versatilidade só comparável a Mário de Andrade. Porém ele só fala de si quando perguntado e, mesmo assim, com a simplicidade dos grandes espíritos, sempre cativando simpatia. Certo que vez por outra lança um olhar feroz e reprovador para aqueles que conversam com insistência durante as projeções, fato que ajuda a dissimular ainda mais o homem espirituoso e brincalhão que com seu grupo particular de amigos se diz pertencer à ‘Cortina de Jabá’, alusão feita por Ignácio de Loyola Brandão às origens nordestinas da leva que aportou no extinto jornal ‘Última Hora’ no final dos anos 50. E quase nada escapa ao seu humor inteligente, nem mesmo a doença que recentemente o acometeu e, que depois de superada, foi comunicada aos amigos com o significativo e esclarecedor aviso: “Venci o filho da puta”. Com quase 40 anos de São Paulo, Ionaldo conserva a elegância e o charme da juventude, os quais, segundo consta, fizeram dele um galã que arrebatava os corações femininos. Esse nosso pardner que cavalgou do Recife até nosso clube é um inesgotável baú de inteligência, conhecimento e sensibilidade, baú esse que nos permitimos remexer para levar aos demais companheiros muito mais sobre um cowboy que, como nenhum outro, saca rápido do pincel ou da pena para enriquecer nossa cultura.

          Foi lá pelos anos de 1942/43, em Recife, sua cidade natal, que Ionaldo começou a ir ao Cine Politheama, muitas vezes tendo que burlar a vigilância dos porteiros quando a censura era para menores de 10 anos. Dos filmes que viu nesse tempo lembra-se pouco, mas ainda estão em sua memória os seriados que faziam a alegria maior da garotada, como “Perturbadores dos Prados” (Wild West Days, 1937), com Johnny Mack Brown, “Cavaleiros da Morte” (Riders of Death Valley, 1941), com Dick Foran e Buck Jones, “Bandoleiros do Vale do Fogo” (Rustlers of Red Dog,1935), com Johnny Mack Brown. E também seriados não ambientados no Velho Oeste. Desses seriados vinha a inspiração para brincar de mocinho encarnando Buck Jones, por quem o menino de Recife tinha especial carinho, afeição aumentada pela traumática morte do ator. Mas às vezes o menino gostava de ser também George O’Brien, admiração compartilhada também pelo pai de Ionaldo que, a exemplo daquele ator, tinha físico privilegiado de atleta.

          Enquanto a matinê de domingo não chegava Ionaldo encontrava-se com outros heróis nos gibis que as bancas de jornais e revistas vendiam, preciosidades como ‘O Gibi Mensal’, ‘Globo Juvenil Mensal’, ‘o Mirim’ e ‘O Guri’, entre outros que ele lia avidamente. e cedo começou a ensaiar seus primeiros traços ilustrando roteiros que um amiguinho fazia. Era o pintor que nascia e que tinha especial preferência em desenhar Titan, o Homem Mistério, de Al Camy, que era publicado pelo ‘Gibi Mensal’. mais que simples preferência, o jovem pernambucano tinha verdadeira paixão por Titan, a quem copiava, bem como os inimigos desse heroi como O Caveira, O Homem Pantera, O Homem Fera e outros.Pouco tempo depois Ionaldo já identificaria O Espírito (The Spirit), de Will Eisner e O Príncipe Valente, de Harold Foster, como os maiores clássicos das Histórias em Quadrinhos.

          Os ídolos da tela do garoto Ionaldo ficaram para trás, dando lugar a astros como John Wayne, Clint Eastwood, Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor, que estrelaram as grandes produções cinematográficas das décadas seguintes. Mas, curiosamente, seus filmes preferidos não são interpretados por gente tão famosa. Entre os filmes inesquecíveis de Ionaldo estão “Sapatinhos Vermelhos” (Red Shoes, 1948, de M. Powell-E. Pressburger), “Somos Todos Assassinos” (Nous Sommes Tous des Assassins, 1952, de André Cayatte), “O Ano Passado em Marienbad” (L’Année Dernière à Marienbad, 1961, de Alain Resnais), “A Morte num Beijo” (Kiss Me Deadly, 1955, de Robert Aldrich) e “Pânico nas Ruas” (Panic in the Streets, 1952, de Elia Kazan. A paixão pelos faroestes nunca deixou de existir e Ionaldo considera como exemplares clássicos do gênero “Matar ou Morrer” (High Noon, 1952), “Conquistadores”, (Western Union,1941), “Os Brutos Também Amam” (Shane, 1953), “Sem Lei e Sem Alma” (Gunfight at the OK Corral, 1957), “Indomável ” (The Spoilers, 1942), “Duelo de Titãs” (Last Train from Gun Hill, 1959), “No Tempo das Diligências” (Stagecoach, 1939) e “Sete Homens e um Destino” (The Magnificent Seven, 1960). Ionaldo julga “O Passado Não Perdoa” (The Unforgiven, 1960), como um dos mais importantes faroestes do cinema, verdadeiro divisor de águas pela temática abordada e clássico por sua narração e grandes interpretações. Isento de qualquer tipo de preconceito, gosta muito dos filmes de Clint Eastwood e do tipo de personagem que ele interpreta, definição quase perfeita do verdadeiro homem do oeste, como em “Os Imperdoáveis” (Unforgiven, 1992).

 

Ionaldo A. Cavalcanti não chegou a exercitar os recursos
digitais aplicados à arte, mas certamente com eles criaria
ainda muito mais do tanto que nos deixou