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30 de abril de 2015

GEOFFREY LEWIS, O EXCELENTE COADJUVANTE E AMIGO DE CLINT EASTWOOD


Neste primeiro quadrimestre de 2015 muita gente ligada ao cinema desapareceu. Merecem ser lembrados o eterno ‘Mr. Spock’ Leonardo Nimoy, o mal-encarado Gregory Walcott, o sólido galã australiano Rod Taylor, a exuberante Anita Ekberg, o elegante e cativante Louis Jourdan, o engraçadíssimo James Best que nos fazia rir como o estabanado Roscoe P. Coltrane, Sheriff de Hazzard County e que atuou em muitos faroestes nos anos 50. Outro ator falecido neste ano, exatamente em 15 de abril último foi Geoffrey Lewis, que será sempre lembrado por ter feito parte da ‘Clint Eastwood Stock Company’. Geoffrey atuou em nada menos que sete filmes do seu amigo dono da Malpaso deixando neles suas marca de excelente ator característico.

James Best como o sheriff Roscoe P. Coltrane - Anita Ekberg - Louis Jourdan
Gregory Walcott - Leonard Nimoy

Geoffrey Lewis em 'Bonanza', em 1970
Um beatnick em Hollywood - Geoffrey Bond Lewis nasceu em San Diego, Califórnia, em 31/7/1935 e aos dez anos mudou-se com a família para New Jersey. Na adolescência Geoffrey demonstrou talento artístico o que o levou a estudar Arte Dramática e Dança, iniciando sua vida artística em pequenas casas de espetáculos onde Geoffrey chegou a fazer shows sozinhos contando histórias engraçadas e até cantando e dançando. Eram os tempos dos beatnicks e Geoffrey fez parte desse movimento sócio-cultutal, adotando filosofia de vida despojada de bens materiais. Demorou bastante para Geoffrey ter oportunidade como ator fora dos teatros off-Broadway, inicialmente na televisão, participando de inúmeras séries de TV, a primeira delas num episódio de “Bonanza”, em 1970. Mudando-se para a Califórnia, Geoffrey Lewis passou a atuar também em filmes e em 1971 estreou em “A Máquina de Matar”, estrelado por Joe Don Baker. Em 1972 Geoffrey foi visto em dois westerns: “The Culpepper Cattle Co.”, com Gary Grimes, o rapazinho de “Houve uma Vez o Verão”; o outro faroeste foi “Má Companhia”, com Jeff Bridges. Em 1973 Geoffrey Lewis foi pai pela terceira vez com o nascimento da menina Juliette Lewis e nesse mesmo ano a vida do ator iria mudar com seu encontro com Clint Eastwood. Isso aconteceu em “O Estranho Sem Nome” (High Plains Drifter), nascendo desse encontro uma amizade que perduraria por muitos anos e mais seis filmes estrelados por Eastwood.

Geoffrey Lewis e John Savage; Lewis em "O Estranho Sem Nome".

Olhar de homem mau.
Amizade com Clint Eastwood - Em 1973 ainda, Lewis atuou em “Dillinger”, com Warren Oates interpretando o famoso bandido John Dillinger caçado pelo FBI. Nesse mesmo ano Geoffrey Lewis foi para a Europa juntamente com Henry Fonda, R.G. Armstrong, Leo Gordon e Neil Summers para participar de uma produção de Sergio Leone, amigo de Clint Eastwood. “Meu Nome é Ninguém” (Il Mio Nome è Nessuno) foi o título dessa primeira experiência europeia de Lewis. De retorno a Hollywood, um diretor novato chamado Michael Cimino foi contratado pela Malpaso de Clint Eastwood para dirigir “O Último Golpe”, policial estrelado por Clint e ainda com Jeff Bridges, Catherine Bach (a Daisy Duke da série “The Dukes of Hazzard”) e George Kennedy no elenco; e mais uma vez Geoffrey Lewis estava num filme do amigo Eastwood.

Jeff Bridges, George Kennedy, Clint Eastwood e Geoffrey Lewis em "O Último Golpe";
Lewis barbeando Terence Hill em "Meu Nome é Ninguém".

"Dillinger": Warren Oates, Harry Dean Stanton, Geoffrey Lewis e John P. Ryan;
Cloris Leachman, Geoffrey Lewis, Michelle Phillips e Warren Oates.

Giuliano Gemma ameaça Geoffrey Lewis.
Western com Giuliano Gemma - Geoffrey Lewis teve participações destacadas em “Quando as Águias se Encontram” (com Robert Redford) e em “O Vento e o Leão” (com Sean Connery), assim como em “Os Aventureiros do Lucky Lady” (com Gene Hackman e Burt Reynolds). A continuação das aventuras de John Morgan (Richard Harris) intitulada “O Retorno do Homem Chamado Cavalo”, teve Geoffrey Lewis em importante participação. De passagem pela Europa, Geoffrey Lewis fez um pequeno papel em “Sela de Prata” (Sella d’Argento) estrelado pelo astro dos westerns spaghetti Giulianno Gemma. Se Clint Eastwood era um amigo com a cabeça no lugar e que se tornara o astro mais rentável nas bilheterias, os demais amigos de Geoffrey Lewis, ex-beatnicks ou hippies, faziam parte de um grupo de malucos capazes de perpetrarem as aventuras cinematográficas mais esquisitas. Entre esses filmes esteve o western “Shoot the Sun Down”, com Christopher Walken, com Lewis no principal papel.

Clint Eastwood e Geoffrey Lewis.
Clint, Geoffrey e um chimpanzé - Em 1978 Clint Eastwood contrariando alguns conselhos decidiu produzir uma comédia em que contracena com um chimpanzé. O filme foi “Doido para Brigar... Louco para Amar”, com Geoffrey Lewis como irmão de Clint, ambos filhos da irresistível Ruth Gordon. Essa comédia que tinha praticamente toda a ‘Clint Eastwood Stock Company’ no elenco bateu recordes de bilheteria, gerando a continuação “Punhos de Aço, com o mesmo elenco central. A continuação reuniu, entre outros, Roy Jenson, Bill McKinney, John Quade, Dan Vadis, aqueles atores que estavam em quase todos os filmes de Clint Eastwood. O público lotou os cinemas para ver mais uma vez o trio Clint, Geoffrey e Clyde (o chimpanzé) levando broncas da mãe Ruth Gordon. Mas se esses filmes da Malpaso foram sucesso, o contrário se deu com “O Portal do Paraíso”, monumental fracasso dirigido por Michael Cimino e que teve a participação de Geoffrey Lewis, quase irreconhecível como um montanhês.

Fotos de "Doido para Brigar... Louco para Amar", Clint, Geoffrey,
Beverly D'Angelo e o chimpanzé Clyde.

Filhos, filhos e mais filhos - O poderoso Clint Eastwood tudo podia e fazia o que queria, com sua Malpaso e outro filme diferente de Clint foi “Bronco Billy”, uma singela ode aos artistas circenses que nostalgicamente lembravam os heróis do Velho Oeste. Também em “Bronco Billy” Geoffrey Lewis estava ao lado de Eastwood, com quem fazia uma dupla cada vez mais constante. “Tom Horn” foi o penúltimo filme de Steve McQueen que teve também a presença de Geoffrey Lewis no elenco. Separado da primeira esposa que gerou três filhos em três anos de casamento, Lewis logo se casou outra vez e... continuou a aumentar a prole, encomendando mais crianças com a nova mulher. Seis é o total de filhos de Geoffrey Lewis, embora haja fontes que indiquem que ele teve dez filhos. Afastado do amigo Clint Eastwood, Geoffrey Lewis passou a atuar mais na televisão, retornando ao cinema com destaque em “Dez Minutos para Morrer”, policial com Charles Bronson. Em 1985 Lewis fez parte do elenco, ao lado de Divine, Tab Hunter, Cesar Romero, Henry Silva e Woody Strode de “A Louca Corrida do Ouro”, amalucada comédia que não fez o sucesso esperado.

Geoffrey Lewis e a filha Juliette Lewis num set de filmagem; Geoffrey e Tab Hunter.

Jean-Claude Van Damme e Geoffrey.
Séries de TV - Nove anos depois de “Bronco Billy”, Geoffrey Lewis voltou a trabalhar com Clint Eastwood em “O Cadillac Cor-de-Rosa”. Em 1992 uma das filhas de Geoffrey, a jovem Juliette Lewis de 19 anos foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu desempenho em “Cabo do Medo”. Como filha de Nick Nolte, Juliette foi aterrorizada por um diabolicamente vingativo Robert De Niro. Claro que o papai Lewis saboreou o sucesso da filha. Os produtores sabiam da versatilidade de Geoffrey Lewis e de suas excelentes caracterizações, lembrando dele para filmes como “Tango e Cash”, com Sylvester Stallone e Kurt Russell; “Duplo Impacto”, com Jean-Claude Van Damme; “O Passageiro do Futuro”, com Pierce Brosnan; “O Homem Sem Face”, com Mel Gibson e com o mesmo Gibson e James Garner “Maverick”. A série de TV “In the Heat of the Night”, estrelada por Carroll O’Connor durou oito temporadas e Geoffrey Lewis participou da série desde seu início, em 1988, até 1993, atuando em 110 episódios da série. Geoffrey retornaria à TV, desta vez como astro principal, da série “Land’s End”, que durou apenas uma temporada. Em 1997 Geoffrey Lewis estava com 62 anos quando Clint Eastwood (então com 67 anos), chamou o amigo para participar de “Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal”, filme que Clint somente dirigiu e produziu. Foi o último encontro cinematográfico dos dois amigos.

Cena de "O Cadillac Cor-de-Rosa", com Clint, Lewis e Bernadette Petters;
Mel Gibson aponta a arma para Geoffrey Lewis em "Maverick".

Geoffrey Lewis já nos anos 2000.
Adepto da Cientologia - Geoffrey Lewis nunca deixou de atuar, seja em filmes ou em episódios de séries para a televisão, mesmo quando os primeiros sintomas do Mal de Parkinson começaram a se manifestar, no início do ano 2000. Lewis era adepto da Cientologia, crença que ensina que os homens são seres imortais e professando essa crença criou o grupo “Navegações Celestiais”, que produzia vídeos, tendo Geoffrey como narrador. Em 2012 Geoffrey Lewis e Richard Roundtree estrelaram o drama de guerra “Retreat!”, que parecia ser o último trabalho de Lewis como ator. O agravamento da doença de Geoffrey ocorreu em 2012 quando foi diagnosticada também a demência, o que dificultou o término do filme “High and Outside” em que Lewis é o ator principal. O site IMDb informa que esse filme será lançado em maio de 2016. Na manhã de 15 de abril de 2015, aos 79 anos de idade, Geoffrey Lewis que estava hospitalizado há algum tempo faleceu nos braços da filha Brandy. Segundo contou sua filha, mesmo doente, Geoffrey jamais perdeu o bom humor e a alegria de viver o que transmitiu a todos que o conheceram. Para os fãs ficará para sempre a imagem do irrepreensível ator de voz bonita e que era capaz de ser tanto um vilão sádico como o mais humano dos personagens.

Geoffrey e a filha Juliette; Geoffrey e a esposa Paula Hochhalter;
abaixo no hospital Geoffrey recebe a visita dos músicos Chick Corea e Geoff  Levin,
também cientologistas e uma das filhas; na outra foto Juliette Lewis e o marido
juntos com Geoffrey e a esposa Paula.



2 comentários:

  1. Faço uma ressalva: Juliette Lewis era filha de Nick Nolte e aterrorizada por Robert de Niro no filme "Cape Fear" de 1992. O outro é de 1962 com Gregory Peck fazendo o pai e Robert Mitchum fazendo o psicopata.

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  2. Nossa, Helder... Que 'trocada de bolas'...
    Em 1962, quando da filmagem de "O Círculo do Medo", Geoffrey Lewis não era nem casado ainda, quanto mais Juliette Lewis nascida. Claro que eu quis me referir ao remake de Martin Scorsese e só posso creditar o erro por gostar muito mais do filme de 1962 com Gregory Peck e Roberrt Mitchum, que tem ainda no elenco a ótima Polly Bergen.
    Agradeço bastante a correção que você fez, mostrando que é leitor atento.
    Um abraço do Darci.

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