UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

12 de maio de 2013

O PRESTÍGIO DE “SHANE” ABALADO PELO MELHOR CRÍTICO DO MUNDO


André Bazin

Parece que listas dos melhores não têm outra função senão a de provocar polêmicas. Recentemente o site Complex.com publicou a lista dos ‘25 Melhores Críticos Cinematográficos de Todos os Tempos’. O site não explica qual foi a metodologia para a escolha que leva alguém a ser considerado o melhor do mundo. O critério poderia ter sido o poder de influência das críticos com suas análises; ou a importância dos livros publicados pelo crítico; ou ainda seu estilo de escrever; poderia ser também o conjunto dos prêmios recebidos. Poderia a Complex.com observar que uma escolha desse tipo só pode ser subjetiva, mas nem isso é dito. Nada é explicado. A Complex.com apenas comenta, referentemente ao primeiro colocado que “Não há nenhum livro sobre cinema tão obrigatório como ‘O Que é Cinema?”, de autoria de Bazin. Indispensável nas aulas sobre Cinema, esse livro é a explicação definitiva do que é uma narrativa visual. Bazin foi o responsável pela ‘Teoria do Autor’, que contextualizou filmes clássicos feitos pelos grandes diretores”.

Os críticos Roger Ebert, Andrew Sarris,
Pauline Kael e J. Hoberman.
Os melhores críticos - Os cinco primeiros colocados na lista dos ‘25 Melhores Críticos de Todos os Tempos’, segundo o site Complex.com são: 1.º) André Bazin; 2.º) Roger Ebert; 3.º) Andrew Sarris; 4.º) Pauline Kael; 5.º) J. Hoberman. André Bazin foi um dos fundadores da influente publicação francesa “Cahiers du Cinema”, que tinha como críticos, além de Bazin, os jovens Éric Rommer, Jean-Luc Godard, François Truffaut, Jacques Rivette e Claude Chabrol. Todos os cinco se tornaram cineastas. André Bazin faleceu em 1958, aos 40 anos de idade, quando era o mentor indiscutível do “Cahiers du Cinema” e após criar a ‘Teoria do Autor’ que, de certa forma mudou a maneira de se fazer cinema. Os artigos de Bazin foram reunidos em dois livros intitulados “O Que é o Cinema?”, obra essencial e que faz parte das bibliotecas de todos aqueles que querem compreender melhor a 7.ª Arte.

James Stewart em "O Preço de um
Homem", de Anthony Mann.
Direto para as prateleiras - Entre as críticas de autoria de André Bazin contidas em “O Que é o Cinema?” estão as referentes aos faroestes “Os Brutos Também Amam” e “Sete Homens Sem Destino”. Segundo Bazin, esses filmes são exemplares em demonstrar as diferenças entre dois tipos de produção de westerns. Bazin explica que, Shane é uma superprodução ambiciosa da Paramount concebida para celebrar o 40.º aniversário desse estúdio e também para comemorrar os 70 anos de Adolph Zukor, o presidente daquela empresa. Shane é um filme que nasceu para ser saudado como uma obra-prima. Por outro lado, Sete Homens Sem Destino, western muito superior ao de Stevens, vai passar despercebido e provavelmente vai voltar para as prateleiras da Warner Bros., de onde vai sair apenas para completar programação”. Ao escrever sobre o filme de Budd Boetticher, André Bazin disse: “Minha admiração por Sete Homens Sem Destino não vai me levar a concluir que Budd Boetticher é o maior diretor de filmes de faroeste - hipótese que não descarto - mas simplesmente este seu filme é talvez o melhor western que eu já vi desde o fim da guerra (II Guerra Mundial). O que me faz ser reticente nessa questão é lembrar dos westerns O Preço de um Homem e Rastros de Ódio. (Crítica publicada no “Cahiers du Cinema” n.º 74, de setembro de 1957)

Oscar 'Budd' Boetticher Jr.
Elogio de Sergio Leone - O entusiasmo de André Bazin por “Sete Homens Sem Destino” acabou por tornar o western de Budd Boetticher um filme verdadeiramente Cult no mais amplo sentido que essa palavra possa ter. A profecia de Bazin quanto ao destino do primeiro dos sete filmes que Budd Boetticher fez com Randolph Scott, acabou não acontecendo. Devido a questões de direitos de distribuição “Sete Homens Sem Destino” que foi produzido pela Batjac de John Wayne, desapareceu de circulação e não foi mais exibido nem como complemento em sessões duplas e nem mesmo na televisão por mais de 40 anos. O universo dos fãs de faroestes parecia dividido entre aqueles orgulhosos cinéfilos que assistiram “Sete Homens Sem Destino” e aqueles que sonhavam um dia poder ver esse filme. Segundo Jim Kitses, outro crítico e historiador de cinema apaixonado pelos filmes de Budd Boetticher, havia uma única cópia muito desbotada de “Sete Homens Sem Destino” que clandestinamente circulava em cineclubes e em festivais de menor expressão. E foi num desses festivais que, após a exibição de um western de Boetticher, Sergio Leone se levantou e, de onde estava, dirigindo-se a Boetticher com a característica expansividade, gritou para todos ouvirem: “Oscar, eu roubei tudo de você!” (O nome do diretor era Oscar Boetticher Jr.).

Alan Ladd
Sacarina santificação de Shane - Voltando a André Bazin, sua opinião sobre “Rastros de Ódio” fez com que um tanto tardiamente esse western de John Ford ganhasse cada vez mais admiradores, isto a partir da década de 70. E como Bazin admirava igualmente os filmes de Anthony Mann, em especial seus faroestes, a obra de Mann ganhou contornos de clássica. Para muitos “O Preço de um Homem” citado por Bazin é a obra-prima da parceria Mann-Stewart. Quando escreveu sobre “L’Homme des Vallées Perdues” (título francês de “Shane”), Bazin apontou senões que faziam desse western “um filme afetado e sem espontaneidade, excessivamente preocupado com a sacarina santificação do pistoleiro dos vales perdidos”. Certamente devido em parte à crítica de André Bazin, “Os Brutos Também Amam” deixou de ser a unanimidade que vinha sendo com seu título senpre acompanhado do epiteto ‘o maior faroeste do cinema’. E mesmo reputados por Bazin como ‘os três melhores faroeste já produzidos’, nem mesmo “Rastros de Ódio”, “O Preço de um Homem” ou “Sete Homens Sem Destino” obtiveram a referida unanimidade entre os cinéfilos.

Randolph Scott e Gail Davis, artistas do elenco de "Sete Homens Sem Destino".


3 comentários:

  1. Grande Darci,
    Muito interessante esse post.
    Adquiri esses dias um box com alguns filmes da BATJAC e entre eles SETE HOMENS SEM DESTINO. Gostei do filme mas não o vi como um dos melhores faroestes já realizados....
    Essa questão de melhores críticos, melhores filmes é bem particular e como sempre, bem polêmica!

    ResponderExcluir
  2. Olá, Jefferson
    Você tem razão na sua observação. Mas é impossível não refletir sobre a opinião de Bazin. Ele ficou impressionadíssimo com Sete Homens Sem Destino e com Budd Boetticher. Uma pena Bazin ter ido tão cedo.
    Um abraço do Darci

    ResponderExcluir
  3. Acho que Bazin tinha razão . Vim assistir este filme sòmente agora nos anos 2000 . Me empolguei com êle . Budd Boetticher e
    Randolph Scott estão muito bem !! É sem dúvida,na minha opinião o melhor da dupla !! Abraços !!

    ResponderExcluir