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30 de julho de 2012

O LAÇO DO CARRASCO (Hangman’s Knot), GRANDE SUCESSO DE RANDOLPH SCOTT


Alguns westerns de Randolph Scott são subestimados apenas porque não fazem parte do aclamado lote dirigido por Budd Boetticher. Os sete faroestes da associação entre Scott-Boetticher são considerados, em bloco, como excelentes, o que não implica que outros westerns do veterano mocinho deixem de merecer igual reputação, nada ficando a dever aos melhores títulos da cultuada série. “O Laço do Carrasco” (Hangman’s Knot) é um significativo exemplo disso.


CONFRONTO EXTEMPORÂNEO - Roy Huggins dirigiu apenas um filme em toda sua vida e foi justamente “O Laço do Carrasco”, do qual foi ainda o autor da história. Depois Huggins passou a criar e produzir séries para a TV, as principais delas “Maverick”, “O Fugitivo” e “Arquivo Confidencial”. A história de “O Laço do Carrasco” foge do convencional e passa-se em 1865 quando a Guerra Civil já havia acabado há um mês. Porém essa informação ainda não chegou a um grupo de soldados liderados pelo Major Matt Stewart (Randolph Scott), incumbido de resgatar algumas barras de ouro em poder de um destacamento da União. Após o sucesso da missão o grupo descobre que houve a rendição do Sul e passa a discutir o que fazer com o ouro. São então atacados por bandidos chefiados por Quincey (Ray Teal) que querem se apossar do ouro e encurralam o Major Stewart, seus homens e outras quatro pessoas num posto de diligência situado em local isolado. Os ex-confederados resistem e conseguem liquidar o bando de Quincey. No entanto os comandados pelo Major Stewart são também mortos. Stewart e um jovem soldado, únicos sobreviventes, decidem por questão de honra não ficar com o produto do roubo.

Randy Scott
NORTE X SUL EM TEMPOS DE PAZ - Certamente foi lenta a transição para os tempos de paz após a rendição ocorrida em 9 de abril de 1865 em Appomatox. As notícias demoravam a chegar a pontos mais remotos e muitos confrontos mortais ocorreram após aquela data. Finda a guerra, era hora de contabilizar os prejuízos, monumentais para a quase arrasada Confederação Sulista e, na medida do possível, contar com qualquer tipo de indenização. “O Laço do Carrasco” apresenta essa situação-dilema que é o que fazer com barras de ouro que poderiam garantir um recomeço para o pequeno grupo de ex-soldados sulistas, possibilitando mais um inevitável estudo sobre a cobiça dos homens. Se o Major Matt Stewart (Scott) é apresentado como bravo e digno, seus comandados Cass Browne (Frank Faylen), Rolph Bainter (Lee Marvin) e Egan Walsh (John Call) não pensam como ele. Apenas o jovem Jamie Groves (Claude Jarman Jr.), ainda não corrompido pela ambição, tem dúvidas sobre qual procedimento tomar. A sanha do bando de Quincey (Ray Teal), despida de escrúpulos e de ideais é que acaba demonstrando que o ouro não deve ficar de posse dos vencidos, de aventureiros como Lee Kemper (Richard Denning) e menos ainda em mãos de bandidos.

Acima o laço do carrasco no pescoço
de Frank Faylen; abaixo Jeanette
Nolan e Clem Bevans.
PEQUENO MAS NUNCA VAZIO FAROESTE - O enredo enxuto de Roy Huggins permite ainda reflexões sobre variadas questões como as perdas morais e danos psicológicos da guerra, especialmente com a presença da viúva Margaret Harris (Jeanette Nolan). Privada do marido e filhos que lutaram pelo Norte, Margaret é uma mulher traumatizada e naturalmente revoltada contra a presença de sulistas em sua casa (um posto de troca de cavalos). Molly Hull (Donna Reed), uma ex-enfermeira do Exército da União é obrigada a permanecer dentro da casa sitiada do posto. Lá ela cuida de um soldado ferido que antes de ser sulista é um ser humano, exemplo fácil mas funcional de altruísmo no enredo de Huggins. E a nova América surge ao final promissora na figura do inocente soldado sulista Jamie (Claude Jarman Jr.) que ao lado de Margaret Harris e do idoso agente (Clem Bevans) da estação de diligências se compromete a reconstruir o bem maior que é o país, agora sem irmãos inimigos. Um faroeste de Randolph Scott com 81 minutos de duração não é o ideal para se aprofundar esses temas, mas mesmo assim “O Laço do Carrasco” não faz feio e mais que isso, se integra perfeitamente à ação quase que intensa no decorrer do filme.

A linda Donna Reed.

O bando chefiado por Ray Teal;
Monte Blue atrás da moita.
A COMPETÊNCIA DE YAKIMA CANUTT - O western de Huggins se inicia, sem o clássico logotipo da Columbia e sem os créditos que só aparecem no terceiro minuto de filme. Ao invés deles o filme se começa com uma cena de emboscada, seguindo-se perseguições, tiroteios, tentativa de enforcamento e uma violenta briga entre Randolph Scott e Lee Marvin, ou seja, tudo que o fã de faroestes quer. As excelentes sequências de ação sob responsabilidade de Yakima Canutt são interrompidas por diálogos concisos, inteligentes e tensos. Tudo isso distribuído por um elenco dos melhores em que se sobressaem as ótimas Donna Reed e Jeanette Nolan. Além delas há Richard Denning, Clem Bevans e Frank Faylen, bastante bons, ficando Claude Jarman Jr. em plano inferior. Guinn ‘Big Boy’ Williams, Frank Yaconelli e principalmente Monte Blue formam o quase patético bando de celerados comandados pela expressiva atuação de Ray Teal.

Lee Marvin assediando Donna Reed.
LEE MARVIN GANHAN-DO RESPEITO - Há uma tese segundo a qual os westerns de Randolph Scott são bons ou ruins dependendo dos vilões escalados, que fazem crescer não só o filme mas também a atuação de Randy. Com sua imagem de integridade, fibra e lealdade, mesmo quando em papéis ambíguos, Scott domina a tela com sua persona, menos quando entra em cena Lee Marvin. Ainda em início de carreira, Lee já era reconhecido como ladrão de cenas, mas em “O Laço do Carrasco” o famoso durão está bastante contido, o que não o impede de criar alguns dos melhores momentos do filme. Seu personagem Rolph Bainter é praticamente isento de complexidade psicológica, distante, por exemplo do inesquecível Bill Masters de “Sete Homens Sem destino”, rodado quatro anos depois. Cruel, sempre pronto a disparar sua arma com sádico prazer, Lee Marvin faz seu personagem crescer e de sexto nome nos créditos deixa entrever facilmente o estupendo ator que o cinema ganhava.

SUCESSO DE BILHETERIA - “O Laço do Carrasco” foi o maior sucesso de bilheteria entre os filmes produzidos por Randolph Scott em parceria com Harry Joe Brown, computados inclusive os westerns dirigidos por Budd Boetticher. Esse sucesso é bastante merecido uma vez que “O Laço do Carrasco” é um daqueles westerns B quase perfeitos e o quase fica por conta de merecer ser um pouco mais longo e poder contar com uma produção mais elaborada. Culpa exclusiva de Roy Huggins que realizou um pequeno e belo western com características de Classe A.



5 comentários:

  1. Roy Huggins foi um diretor do qual vi muitos poucos filmes. E, pelo seu trabalho nesta fita com o Scott, O Laço do Carrasco, o vejo como sendo um homem com algum cuidado no seu trabalho, tendo em vista o bom faroeste que este construiu.

    Me restam poucas lembranças desta fita, pois a vi apenas uma vez e muitos anos atrás. Entetanto, recordo de um assalto que Randy faz com seu grupo de guerra, achando que ainda estavam em combate (guerra da Secessão), quando esta já havia terminado há cerca de um mes.

    Me reaparece à frente dos meus olhos a imagem do belo rosto de Donna Reed, algo vago de Marvin (que sempre está perfeito, mesmo em inicio de carreira, já que é um filme de 52) e do formidável cawboy Scott, sempre pontuado nos trabalhos que faz, principalmente depois deste, onde faz uma série de fitas com o Booeticher.

    Não consigo baixar filmes na Internet como alguns colegas o fazem para rever tais fitas e assim fazer um comentário mais justo.

    Também não corro mais o risco de mandar apanhar no Sul, pois estou em SSA, e pouco tempo atrás selecionei 20 filmes, mandei buscar e somente tres deles eu aproveitei. Um desastre e uma total falta de caráter de quem faz negócios desta forma desonesta.

    Tenho então de ficar no aguardo de que passem na TV, como esta semana, que passou Reinado de Terror/58, do Lewis, com Heyden. Muito fraco, por conseguinte.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. Jurandir, Roy Huggins, como é explicado no texto, dirigiu apenas um filme. Mas é um nome importante pelo trabalho como escritor e produtor de TV. - Darci

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  3. Darci;

    Tem razão quanto ao Huggins.
    Entretanto vou lhe explicar uma coisa. Detalhe apenas, nada demais, mas tenho de lhe falar isto; muitas vezes eu faço meus comentários sem ler a reportagem.

    Este expediente eu utilizo quando são reportagens as quais eu pressinto não ter muito a falar sobre ela diretamente, como foi o caso dos lançamentos de Rastros de Ódio, Shane e Matar ou Morrer.
    Em resenhas assim eu solto o que me sai da memória e depois volto e leio o trecho completo.

    Novamente quanto ao Higgens, procurei por mais filmes dele nos meus arquivos (tenho cada filme de cada diretor por escrito, assim como cada filme visto pelos atores e algumas atrizes individualmente).
    E dele não achei nada exceto O Laço do Carrasco.

    Como não é um nome desconhecido por mim, e temendo ter me passado sem anotar algum filme, deixei o termo como o coloquei inicialmente, já que raramente faço pesquisas na Internet para fazer comentários, me valendo sempre do que tenho na mente ou nos meus escritos.
    Modestia à parte, mas eu tenho uma mente muito boa, instantânea e ativa. Muitas vezes eu me surpreendo comigo mesmo no atinente às minhas lembranças, já que tenho memorizado cada diretor, ano de filme e atores de determinadas peliculas. Quase nunca me engano,embora cometa alguns lapsos
    vez por outra.

    Assim, por ser algo sem muita importancia, deixei passar a observação do Huggins sem alterar o escrito anterior.

    Mas veja; nada de imaginar que não leio os escritos. Claro que os faço sim. Mas, normalmente, quando é de algo que não tenho muito a dizer, o faço de minha cabeça para depois ler o conteudo do texto.

    Para ilustrar melhor, veja um exemplo;
    Em o lançamento de Matar ou Morrer, que escrevi sem ler o escrito, podes observar que meu trecho fala quase que apenas dos cinemas e distribuidora.
    Depois, lendo todo o texto, senti vontade de por mais um comentário sobre Gary Cooper e seu modo de fazer os contratos para estrelar as fitas.

    O bom negociante, excelente nos numeros e meu ator predileto, sempre se dava melhor que os outros ao selar seus contratos, ganhando até mais que diretores e produtores.

    Recorda que o mesmo expediente ele utilizou em Vera Cruz, enchendo as burras de dólares com a renda exuberante do filme?

    Pois é, caro amigo.
    Este tipo de comportamento eu utilizo sempre para testar a mim próprio, comentando primeiro e lendo depois alguns dos posts.

    Entretanto não é a atitude correta e nem eu faço disso uma constante, pois tem matérias que leio e fico completamente empolgado com tantas novidades, minuncias e dados relevantes, que até chego a falar para ti da fantastica escrita em elogios.

    Me desculpo por este deslize, assim como por outros que devo andar cometendo nos meus dilatados comentários.
    jurandir_lima@bol.com.br



    Mas me limitei a deixar somente o principal

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  4. A introdução da matéria diz tudo: é um dos melhores westerns com Randolph Scott. E a boa bilheteria foi merecida. Esse era um dos mais reprisados na antiga "Sessão da Tarde". Como disse outras vezes, Randolph Scott é meu mocinho preferido e seus filmes de pequeno orçamento são sempre prazerosos de se assistir. Até mesmo os ruins chegam a ser... bons. Mas sou suspeito por ser fã radical do cara. Penso que seus westerns resumem bem o sucesso do gênero na década de 50, sua época de ouro antes do declínio da década seguinte.

    Jurandir somos opostos no que se refere à memória. Eu não lembro de nada. Só de fragmentos e sensações. E não só em relação a filmes ou livros. Por um lado isso é ótimo pois sempre que revejo determinados filmes é quase como se fosse a primeira vez e costumo me surpreender ainda com o desenvolvimento e desfecho da trama. Mas invejo profundamente as memórias prodigiosas como a sua e a do Darci. Minha vida seria bem mais fácil se eu tivesse memória igual.

    Edson Paiva

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  5. Uai, quem diria que o valentão Lee Marvin seria liquidado pelo garotinho meigo de "Virtude Selvagem"? Enquanto Randy Scott ficou dando mole ao ser demasiadamente piedoso com alguém que definitivamente não merecia, coube a Claude Jarman Jr. de fato mostrar como se faz as coisas. Claude Jarman Jr., o homem que matou o facínora! Coisas do cinema...
    E em tempo: O filme se inicia sem o clássico logotipo da Columbia (e também se encerra sem ele) muito provavelmente devido ao péssimo costume das distribuidoras brasileiras independentes de DVD (piratas legalizadas) limarem os logos das companhias produtoras nas aberturas dos filmes. Isso ocorre muito com a Continental, Ocean e Classic Line. Até mesmo a "respeitável" Versátil Home Video limou o logotipo da Fox na abertura de "A Mocidade de Lincoln", substituindo-o pelo patético "Versátil Home Video Apresenta". Vergonha!

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