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3 de setembro de 2011

O MORRO DA TRAIÇÃO (THE YELLOW MOUNTAIN), WESTERN QUE TRAI QUEM O ASSISTE


A Universal International Pictures foi o estúdio que mais produziu faroestes no ano de 1954, num total de 11 filmes desse gênero que foram os seguintes: “A Taberna dos Proscritos” (Border River), e “Belo e Indomável” (Black Horse Canyon) ambos com Joel McCrea; “Dinastia do Terror” (Dawn at Socorro) e “O Derradeiro Assalto” (Four Guns to the Border), os dois com Rory Calhoun; “Traição Cruel” (Ride Clear of Diablo) e “Tambores da Morte” (Drums Across the River), ambos com Audie Murphy “A Grande Audácia” (War Warron), com Jeff Chandler; “Herança Sagrada” (Taza, Son of Cochise), com Rock Hudson; “Pacto de Honra” (Saskatchewan), com Alan Ladd; “Senda de Sangue” (Rails into Laramie), com John Payne. O western que completa essa lista é “O Morro da Traição” (The Yellow Mountain), com Lex Barker, sério candidato a pior western de 1954 entre os onze produzidos pela Universal.


ROTEIRO ROTINEIRO - A produção bastante caprichada de “O Morro da Traição” é de Ross Hunter (produtor dos grandes sucessos da dupla Doris Day-Rock Hudson). A direção de arte é do lendário Alexander Golitzen, com excelente utilização da cidade cenográfica dos estúdios da Universal tendo a rua principal totalmente enlameada e sequências rodadas no Deserto de Mojave, na Califórnia. As cenas de estúdio tem interiores perfeitamente decorados e os atores principais elegantemente ou adequadamente vestidos. A música original é de Henry Mancini, compositor que valoriza qualquer filme. O que então não teria dado certo em “O Morro da Traição”? A melhor explicação seria o roteiro fraquíssimo que lembra bastante aqueles roteiros dos “Bs” produzidos nos pequenos estúdios nos anos 30 e 40. E Jesse Hibbs não é exatamente um diretor capaz de fazer milagres com um roteiro desses, cujos autores são George Zuckerman e Russell S. Hughes. A história fala de dois antigos amigos Pete Menlo (Howard Duff) e Andy Martin (Lex Barker) que gostam de trocar socos para demonstrar a amizade. Eles se tornam sócios numa mina que pertence de fato a Jackpot Wray (William Demarest), mina essa que é disputada ainda pelo escroque Bannon (John McIntire). O velho Jackpot Wray tem uma bonita filha chamada Nevada Wray (Mala Powers) que também é disputada pelos amigos Menlo e Martin. Um homem mau chamado Drake (Leo Gordon) é o chefe do bando que trabalha para Bannon que no final são vencidos pelos amigos Menlo e Martin. Estes, numa última, fraterna e amigável luta disputam quem ficará com a mocinha Nevada. Andy é o vencedor e o elegante Menlo fica feliz com a felicidade do amigo.

Acima Lex e Mala na cidade enlameada;
Barker e Duff em uma das muitas brigas;
McIntire e Leo Gordon contra Barker
SERÁ QUE FELLINI ASSISTIU? - Na falta de assunto, o jeito é inventar cenas de ação e o coitado do Leo Gordon apanha o filme inteiro de Lex Barker que por cinco vezes faz demonstração de sua força física comprovando que não sem razão havia sido Tarzan. Está certo que Leo Gordon nunca foi flor para ser cheirada, mas era muito forte para apanhar a toda hora e com facilidade. Bem mais fraco, Howard Duff vestido como um dandy, consegue empate técnico nas duas vezes em que luta com Lex Barker. E nos 77 minutos de filme ainda há espaço para tiroteios e no meio deles Mala Powers faz de tudo para conquistar Lex Barker. O veterano William Demarest só sai da mesa de pôquer quando fica liso, chegando a perder até sua preciosa mina para Denver Pyle. Tanta ação pode dar a impressão de um filme bastante movimentado, mas os excessivos e mal construídos diálogos, por vezes inócuos, tornam o filme lento, além de provocar visível desinteresse dos atores. Howard Duff será sempre lembrado pelos dramas noir que fez no início de sua promissora carreira, como “Brutalidade” e “Cidade Negra”, clássicos de Jules Dassin ou ainda “Dinheiro Maldito” (Private Hell 36), de Don Siegel em que atuou com sua esposa Ida Lupino. William Demarest, por sua vez, era o ator preterido de Preston Sturges, participando dos principais filmes do cultuado diretor. John McIntire a cada interpretação reafirmou sempre o excelente ator que era. Duff e McIntire atuam em “O Morro da Traição” com visível desdém como que se o filme não merecesse seus talentos. É Demarest quem demonstra extremo profissionalismo e comprova que foi um brilhante ator característico. Federico Fellini deve ter assistido a este western e depois não teve dúvidas quem seria o canastrão norte-americano marido de Anita Ekberg em “La Dolce Vita”, considerando que o papel só podia ser de Lex Barker. A simpática Mala Powers é o interesse romântico de Duff e Barker no filme. Depois de “O Morro da Traição” Lex Barker ainda atuaria nos westerns “Tambores Chamam para a Guerra” (War Drums), “Os Caçadores de Fronteira” (The Deerslayer) e “Caravana da Morte” (The Man from Bitter Ridge). Depois disso fez as malas e se tornou o mais internacional dos atores, chegando a filmar até mesmo no Brasil. O ex-Tarzan se consagrou como Old Shatterhand, na série Winnetou, do alemão Karl May.

2 comentários:

  1. Sempre achei que o Lex Barker merecia uma maior projeção. Mas ele não passou de filmes baratos.

    O Falcão Maltês

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  2. Assisti 18 filmes com o insosso Lex Barker. E este filme está entre eles. Graças a Deus não me lembro de nada dele, pois o vi lá pelos idos de 1956 e nunca mais o revi. Mas Leo Gordon, Intire e a bela Mala Powers devem ter salvo alguma coisa do filme.
    Tenho porém um comentário para fazer sobre este terrivel ator, Lex Barker. Vi um filme de Tarzan com ele, não recordo o nome, onde ele atua de sapatilha. Que horror! Nunca havia visto um Tarzan que não descalço. Mas Barker quebrou esta tradição.
    jurandir_lima@bol.com.br

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