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25 de novembro de 2014

HERÓIS DE BARRO (THEY CAME TO CORDURA), ÚLTIMO E BOM WESTERN DE GARY COOPER


Glendon Swarthout ao lado de Gary Cooper
durante as filmagens de "Heróis de Barro".
Glendon Swarthout foi um professor universitário que participou da II Guerra Mundial como observador e com a missão de recolher informações sobre atos de bravura dos soldados em batalha. Esses soldados, quase sempre mortos em combate, recebiam postumamente a Medalha de Honra do Congresso norte-americano. Swarthout escreveu os livros “7.ª Cavalaria” e “The Shootist”, que foram levados ao cinema em filmes estrelados respectivamente por Randolph Scott e John Wayne. “The Shootist” teve o título nacional “O Último Pistoleiro”. Em 1958 Glendon Swarthout escreveu “They Came to Cordura”, que se tornou imediatamente best-seller e teve os direitos de filmagem adquiridos pelo produtor William Goetz que pagou a Swarthout 250 mil dólares. Esse alto preço foi pago pela certeza que Goetz tinha que “They Came to Cordura” seria um sucesso de público. Sem poupar gastos o produtor contratou Gary Cooper, um dos atores mais bem remunerados de Hollywood. Cooper liderou um elenco com diversos nomes famosos, entre eles Rita Hayworth. A adaptação cinematográfica ficou a cargo de Ivan Moffat (produtor associado de “Os Brutos Também Amam/Shane”) e de Robert Rossen, roteirista e diretor, famoso pelos filmes “A Grande Ilusão” e mais tarde “Desafio à Corrupção”. Rossen foi o diretor de “They Came to Cordura”, que no Brasil recebeu o título “Heróis de Barro”.


Candidatos a heróis - A história de “Heróis de Barro” se passa em 1916 quando a Cavalaria norte-americana investiu contra as forças de Pancho Villa após sofrer um ataque em Columbus, Novo México. O major Thomas Thorn (Gary Cooper) é designado para observar a tomada de um reduto ocupado por villistas e relacionar soldados que tenham cometido atos de bravura para receberem a Medalha de Honra do Congresso. O próprio Thomas Thorn havia, na batalha de Columbus, se acovardado e se escondido durante a refrega. Cumprindo sua missão Thorn testemunha atos de heroísmo por parte do tenente Fowler (Tab Hunter), do sargento Chawk (Van Heflin), do cabo Trubee (Richard Conte), e do soldado Renziehausen (Dick York), indicando-os para a comenda. Outro indicado foi o soldado Hetherington (Michael Callan) por bravura em batalha anterior.  O coronel Rogers (Robert Keith) que comandou a investida contra os villistas pede a Thorn que o indique também para que o Congresso lhe conceda a medalha. Não atendido ordena a Thorn que conduza o grupo de cinco heróis até a base de Cordura. Junto com os militares irá também Adelaide Geray (Rita Hayworth), dona da pousada em Ojos Azules, onde estavam os guerrilheiros mexicanos e considerada prisioneira por ajudar os soldados de Pancho Villa. Durante o trajeto até Cordura o grupo sob as ordens de Thorn descobre a real finalidade da viagem e se revoltam contra o major pois tornar público seus atos de heroísmo contraria seus interesses pessoais. Thorn, no entanto, não abre mão de levá-los à base militar, mesmo com toda sorte de ameaças e agressões que passa a sofrer por parte do grupo. A árdua jornada termina com a chegada do extenuado grupo a Cordura.

Acima Rita Hayworth;
abaixo Gary Cooper e Edward Platt.
Fracasso de bilheteria - “Heróis de Barro” teve uma produção acidentada com mudança forçada de locação durante as filmagens, o que levou o custo do filme a ultrapassar os quatro milhões de dólares. Concluído após dez semanas que esgotaram todos que participaram da produção, o filme foi lançado com 148 minutos de duração em junho de 1959. O esperado êxito de bilheteria se transformou num dos grandes fracassos do ano, o que levou a Columbia a distribuir “Heróis de Barro” com a metragem reduzida para 123 minutos, reeditando o filme contra a vontade do roteirista-diretor Robert Rossen. Mesmo com a redução o público não se interessou pelo western épico que discutia os temas de coragem e covardia. “Heróis de Barro” praticamente desapareceu de circulação, sendo esquecida sua exibição até mesmo pela televisão e só depois de quase 40 anos foi lançado em VHS. Um triste destino para este que foi o 26.º e derradeiro western da carreira de Gary Cooper que viria a falecer em 1961, aos 60 anos de idade.

Acima Richard Conte, Dick York, Michael
Callan e Van Heflin;
abaixo Conte, York e Callan.
Covardia e coragem - No filme os militares que devem receber a comenda pelo heroísmo de suas ações confessam que agiram por impulso e não por se sentir com coragem suficiente. Nenhum deles se considera herói e à medida que passam pelas provações da jornada, parte dela a pé e por uma região árida, afloram as índoles reais de cada um. Revelam-se rancorosos, traiçoeiros e, com a presença de uma mulher entre eles, até mesmo estupradores. Por seu lado, o major Thorn, descoberta sua covardia em batalha passada e torturado por sua própria consciência é quem demonstra coragem. Thorn não só é um homem de inquebrantável fibra no cumprimento do dever, mas a cada ato e palavra demonstra caráter e dignidade diante de situação adversa e de consecução aparentemente impossível. A longa discussão no filme de Rossen a respeito do que é coragem e do que é covardia conclui que nem sempre os heróis são de fato homens de coragem. E que o verdadeiro heroísmo não é demonstrado durante o risco iminente e inerente das batalhas, mas sim em situações em que o moral psicológico e físico é colocado a prova em meio a inimigos que podem estar do mesmo lado.

Rita
Final piegas - A primeira meia hora de “Heróis de Barro” é bastante movimentada com a Cavalaria atacando os mexicanos na pousada de Adelaide Geary em Ojos Azules. É quando ocorre a denúncia da fabricação de heróis para estimular o alistamento de norte-americanos visando a inevitável entrada dos Estados Unidos na I Guerra Mundial. Esse início promissor para quem aprecia filmes de ação se dilui em sequências bastante dialogadas nas quais a tensão está presente nos conflitos entre os pseudos heróis e o major Thorn. A presença de Adelaide Geray é parte importante no aumento da crise entre os homens, espécie de estopim aceso prestes a explodir o desejo incontido. Adelaide é uma norte-americana acusada de traição por abrigar inimigos villistas que prisioneira tenta escapar e chega a se oferecer ao major Thorn. Este rejeita a companhia da mulher que no decorrer da jornada será a única pessoa a ajudá-lo e em quem o major confiará. O filme se torna mais dramático a cada conflito e com o crescente suplício do major Thorn, desaguando, infelizmente, num final piegas que compromete o bom trabalho de Robert Rossen. A intenção meio lírica, meio idealista em busca de uma inesperada singeleza seria emulada em 1960 com o igualmente caricato final de “O Passado Não Perdoa” (The Unforgiven), de John Huston.

O sofrimento de Gary Cooper, ajudado somente por Rita Hayworth.

Rita e Gary
Rita, uma atriz de verdade - Este tipo de filme é tudo que os atores normalmente desejam pois possibilitam criar personagens com aprofundamento psicológico e a exposição de deformidades morais. Van Heflin é o mais odioso dos personagens de “Heróis de Barro” e está ótimo como o sargento brutal que rejeita a medalha para não ser reconhecido por crime praticado quando vivia em Albuquerque. Richard Conte desempenha bem o cabo que propõe a troca do segredo da covardia do major Thorn para satisfazer sua avidez sexual com Adelaide. Tab Hunter que poderia ser o destaque entre os coadjuvantes desperdiça boa oportunidade para mostrar que não era só mais um galã em Hollywood. Dick York, Michael Callan e o excelente Robert Keith completam o elenco principal que tem ainda a presença de Edward Platt antes de se tornar o chefe dos atrapalhados Agentes 86 e 99 em “Get Smart”. Motivo de enorme contentamento é ver Rita Hayworth demonstrar a excelente atriz que era, ela que se celebrizou pela beleza e sensualidade. Adelaide Geray é um papel perfeito para Rita com certas semelhanças com a própria vida da atriz, no qual marcaram presença o álcool e a violência masculina. Aos 40 anos de idade e doze anos depois de “Gilda”, Rita havia perdido parte da fulgurante beleza, mas o poder de sedução se mostrava inalterado.

No alto Rita Hayworth e Van Heflin; Michael Callan e Rita Hayworth;
abaixo Rita com Tab Hunter e Richard Conte.

Gary Cooper
Gary Cooper para ninguém colocar defeito - Não são poucos aqueles que consideram Gary Cooper um ator de um único personagem: ele próprio. O método de atuar de Cooper não arrebata mas “Heróis de Barro” é outra prova do talento interpretativo de Gary. Certo que não foi uma escolha das melhores para o personagem do major Thorn, que no livro de Glendon Swarthout é homem de pouco mais de 30 anos. Por isso mesmo Cooper encontrou dificuldade para dar credibilidade ao personagem. Mais sofrido ainda que em sua criação como ‘Will Kane’, Cooper padeceu de terríveis dores nas costas durante toda a filmagem de “Heróis de Barro”, o que tornou mais realista sua interpretação como o major Thorn. E para os fãs de faroestes, seus últimos trabalhos no gênero mostraram Gary Cooper ainda melhor que em “Matar ou Morrer”. A suas grandes performances em “O Homem do Oeste” (Man of the West) e “A Árvore dos Enforcados” (The Hanging Tree) soma-se este épico sobre a coragem humana. Cooper e Rita se completaram brilhantemente sob a direção de Robert Rossen. Atenção para a trilha sonora que mesmo sinfônica resulta funcional e até agradável. A fotografia de Burnett Guffey é outro ponto de destaque deste filme que imerecidamente não fez sucesso.


A maravilhosa Rita Hayworth em momentos de "Heróis de Barro".

4 comentários:

  1. Olá, Darci!
    Assisti hoje este bom western desconhecido, movimentado na primeira parte, mas meio arrastado na segunda. Boa fotografia em CinemaScope, assim como o desempenho dos atores. O personagem de Cooper demonstra ter um raro equilíbrio mental ao lidar com tantas adversidades, especialmente em relação aos seus rebeldes comandados. Rita perdeu a estonteante beleza de Gilda, mas brilha em sua atuação. Ao contrário de você, gostei do final. Achei que depois do sofrimento, a glória ao avistarem Cordura veio bem a calhar e fechou bem o filme.
    um abraço!

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  2. Muito bom filme,A lendária Rita HAYWORTH está lindíssima neste filme.

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