UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN

20 de janeiro de 2012

ROBERT MITCHUM DIRIGINDO MARILYN MONROE EM "O RIO DAS ALMAS PERDIDAS"


Robert Mitchum nunca dirigiu um filme, não é mesmo? Oficialmente não, mas foi Mitchum quem dirigiu a maior parte das cenas com Marilyn Monroe em "O Rio das Almas Perdidas", western creditado ao austro-prussiano Otto Preminger. O que levou a isso foi uma incrível sucessão de fatos e encontro de personalidades tão diversas como as de Marilyn, Mitchum e Preminger.

Preminger arrancando
uma grande interpreta-
ção de Sinatra e Kim
Novak observa; abaixo
Otto como ator em
"Inferno 17"
DER GENERAL - Tudo aconteceu após o início das filmagens em 1953, em locações no Banff National Park, em Alberta, no Canadá. O diretor Otto Preminger gostava de se comportar como um verdadeiro general prussiano durante as filmagens e depois do terceiro grito que deu com Marilyn, esta avisou que não conversaria com o diretor. Preminger tinha uma filosofia de trabalho bastante estranha pois ele entendia que deveria tratar os atores da mesma forma que ele trataria Hitler, se isso fosse possível. Informado da decisão de Marilyn, Preminger ligou para Darryl Zanuck, o chefão da 20th Century-Fox exigindo a imediata substituição da estonteante atriz. Zannuck respondeu ao diretor: "Se alguém tiver que sair do filme será você pois Marilyn Monroe significa dinheiro no banco, muito dinheiro. Você que se vire por aí." Preminger ainda estava sob contrato com a Fox e teve que obedecer. A fase não era boa para Preminger e seus últimos filmes não haviam dado boas bilheterias (entre eles "Almas em Pânico" de 1952, com Robert Mitchum e Jean Simmons). Preminger precisava mesmo era de um grande sucesso de bilheteria, assim como fora "Laura", em 1944 e ele sabia que Zanuck estava certo quanto a Marilyn. Preminger ainda procurou reatar relações com a então namorada de Joe Di Maggio, mas esta estava inflexível na sua decisão de não mais falar com aquele homem tão grosseiro. Foi então que Preminger procurou Bob Mitchum e pediu a ele para servir de mediador na comunicação com a temperamental atriz. Robert Mitchum e Otto Preminger já se conheciam e bastante bem pois ator havia trabalhado sob suas ordens em "Alma em Pânico". Preminger nunca mais se esqueceu de Robert Mitchum e jurou que nunca mais trabalharia com ele após o que se passou durante as filmagens desse drama noir da RKO.

A suave beleza de Jean Simmons e o conquistador Howard Hughes;
abaixo Otto Preminger; Jean Simmons e o marido Stewart Granger

Mitchum e Jean Simmons em cena
JEAN SIMMONS, UMA ALMA EM PÂNICO - Otto Preminger, que era contratado da 20th Century-Fox, foi emprestado à RKO a pedido de Howard Hughes que havia adquirido a Radio-Keith-Orpheum Pictures. Hughes era um insaciável conquistador de mulheres, tendo especial predileção pelas morenas. O playboy milionário usava seu poder como dono do estúdio para facilitar seus assédios aumentando sua interminável lista de amantes, entre elas Katharine Hepburn, Jane Russell, Ava Gardner, Faith Domergue, Terry Moore e mais tarde Jean Peters, entre outras. Após ver Jean Simmons em "O Narciso Negro", Hughes logo sonhou em um dia levá-la para a cama. Como Jean Simmons era inglesa e se casou em 1950 com o ator Stewart Granger, esse sonho parecia difícil de acontecer. Porém o obstinado Hughes conseguiu comprar o contrato de Jean Simmons da Rank Organization, cujo dono, J. Arthur Rank 'vendeu' a atriz para a RKO como se ela fosse uma mercadoria. Não precisou de mais de um contato de Jean Simmons com Howard Hughes para que ela o achasse o mais repulsivo dos homens, porém quanto mais Jean o rejeitava mais crescia a obsessão de Hughes. Stewart Granger chegou até a pensar em manda assassinar o milionário, mas optou por processá-lo por assédio, única maneira de conter Hughes. Este então começou a tramar uma cruel vingança contra Jean Simmons. Escalou-a para estrelar "Alma em Pânico" ao lado de Robert Mitchum, que não era nenhum anjo e para dirigir a atriz emprestou da Fox um dos mais sádicos diretores de cinema, justamente Otto Preminger. Hughes orientou Preminger para ele tratar Jean Simmons do mesmo modo que trataria Adolf Hitler, se pudesse. E a crueldade de Preminger parecia não ter fim e Jean Simmons chorava praticamente todos os dias, até que chegou a filmagem da sequência em que Mitchum deveria esbofeteá-la.

Personagens da história dos tapas
em "Alma em Pânico"
VUNCE MORE! VUNCE MORE! - Durante as filmagens Robert Mitchum tornou-se amigo de Jean Simmons e ao dar o tapa no rosto da atriz o fez sem força para não machucá-la. Preminger se aproximou de Mitchum e disse ao ator que a câmara estava fechada no rosto de Jean e que ele deveria fazer a cena parecer real, batendo com toda força no rosto dela. Mitchum repetiu o tapa  e ouviu Preminger gritar: "Mais forte!" Mitchum deu outro tapa e Preminger deu outro grito no seu Inglês prussiano: "Vunce more" (once more/outra vez); outro tapa e outro grito "Vunce more"... "Vunce more". Depois do sexto tapa na infeliz Jean Simmons que estava com o rosto inchado, Preminger gritou novamente "Vunce more". Foi quando Mitchum falou: "Otto, você quer 'vunce more', então tome..." E desferiu uma forte e sonora bofetada no rosto de Preminger. As filmagens foram suspensas e foi quando o diretor afirmou que não continuaria a dirigir o filme com Mitchum no elenco, não retornando ao estúdio. Duas noites depois, Preminger estava em seu apartamento quando apareceram dois homens que o levaram para dar um passeio noturno por Los Angeles. Ninguém sabe exatamente o que se passou, mas na manhã seguinte Preminger estava na RKO para concluir o filme esquecendo-se de Mitchum e das bofetadas.


COMENDO O LANCHE DE NORMA JEANE - Pouco mais de um ano depois a 20th Century-Fox iniciava um projeto especial para Marilyn Monroe, um western filmado no Canadá. Zanuck contratou Robert Mitchum para contracenar com Marilyn. Para dirigir Zanuck escalou seu contratado Otto Preminger. O diretor a princípio se recusou a cumprir esse trabalho mas Zanuck ameaçou processá-lo por quebra de contrato e a contragosto e com muito medo Preminger foi para o Canadá onde se encontrou com Bob Mitchum. O ator lhe esticou a mão e o ressabiado Preminger teve que ouvir o ator lhe dizer: "No hard feelings, Otto?" (Sem ressentimentos, Otto?). Bob Mitchum e Marilyn já se conheciam indiretamente pois Bob chegou mesmo a comer comida preparada por ela. Isso aconteceu quando Mitchum trabalhava na fábrica de aviões Lockheed, antes de ser ator e tinha como colega de trabalho James Dougherty um jovem cuja esposa de 16 anos se chamava Norma Jeane. Dougherty percebeu que muitas vezes  o colega de olhar sonolento não trazia marmita pois as coisas não iam bem entre o colega Bob e a esposa Dorothy. Depois de dividir a marmita algumas vezes com Mitchum, Dougherty passou a pedir a sua esposa Norma Jeane que fizesse sempre um lanche para o amigo de trabalho. No ano seguinte Mitchum conseguiu oportunidade numa série de westerns B estrelada por Hopalong Cassidy e sua situação financeira melhorou, deixando a Lockheed e deixando de comer a bóia feita por Norma Jeanne Dougherty.

MEMORIZANDO DIÁLOGOS PARA MARILYN - Sem saída lá no Canadá, Otto Preminger não teve outro jeito senão recorrer a Robert Mitchum pedindo a ele para que transmitisse tudo que Marilyn deveria fazer nas cenas durante as filmagens. Mitchum nunca teve interesse por Marilyn, sendo ela uma das poucas atrizes com quem Bob não manteve relacionamento mais íntimo, mas se tornaram bons amigos e ele a tratava como se fosse uma irmã mais nova. Possivelmente Robert Mitchum tenha sido o ator com a maior capacidade de memorização que houve no cinema. Mesmo após as noites bebendo e fumando, no dia seguinte logo cedo dava uma rápida olhada no roteiro e dizia todas suas falas. Contracenando com Marilyn ele sabia também todas as falas dela uma vez que Marilyn sempre teve uma dificuldade enorme para decorar diálogos com mais de uma linha. Era Robert Mitchum dirigindo a estrela Marilyn Monroe. E foi assim que Preminger conseguiu chegar até o fim, não de "O Rio das Almas Perdidas" mas de seu contrato com a 20th Century-Fox. Nesse mesmo dia ele abandonou as filmagens, sendo as cenas restantes completadas pelo romeno Jean Negulesco, com quem Marilyn conversava normalmente.

WESTERN DE SUCESSO - "O Rio das Almas Perdidas" foi um dos grandes sucessos de bilheteria de 1954 e certamente o público lotava os cinemas era para ver Marilyn Monroe e não Bob Mitchum, Rory Calhoun ou o menino Tommy Rettig. Marilyn Monroe viria a ter em sua curta carreira outros diretores como o genial Billy Wilder, John Huston, Joshua Logan, Laurence Olivier e George Cukor, mas certamente nenhum deles foi tão amigo da atriz como Bob Mitchum que verdadeiramente a dirigiu no western "O Rio das Almas Perdidas".


30 comentários:

  1. Ótimas histórias de bastidores, Darci, usual no blog.
    Havia mais uma bomba prestes a estourar nas filmagens desse western: Natasha Lytess. Uma orientadora que Marilyn gostava de trabalhar, ajudando-a nos diálogos, dando-lhe sugestões, um apoio para a já fragilizada atriz. Se isso não bastasse, Natasha dirigiu-se a outros atores. Imagina um fato desses com qualquer diretor, mas logo com o ditatorial Preminger? Ele proibiu a entrada dela nos estúdios, mas sua ordem foi revogada, por pressão de Marilyn junto a Zanuck.
    Apenas como curiosidade, além de George Sanders e Eli Wallach, Preminger também interpretou "Mr. Freezer" em Batman.
    Discutiu com o diretor do episódio a respeito de uma cena.
    E foi com prazer que Alan Napier (Alfred) o viu esquecer uma fala em um close. Quando isso acontecia no filme "Entre o Amor e o Pecado" (Forever Amber - 1947), Napier lembrava que "o horrível Otto Preminger aproximava-se do ator e dizia: - Por que você não se concentra? Foi a minha natureza de cavalheiro que não me permitiu dizer-lhe o mesmo."
    Contam que a principal atriz desse filme, Linda Darnell, quando filmava "Quem é o Infiel?" (A Letter to Three Wives - 1949), precisava em uma cena fazer uma expressão de nojo.
    Visando o melhor desempenho dela, o diretor Mankiewicz entregou-lhe uma foto de Preminger.

    Não gosto desse faroeste, Darci, e como não foi um projeto autoral de Preminger, pois foi obrigado a dirigi-lo, não é só na sua conta que cobro o resultado final.
    Errou muito como diretor, mas deixou grandes filmes.
    Além do citado no artigo, Laura, destaco apenas mais um, Anatomia de um Crime com James Stewart.
    E a mão forte do diretor esteve presente, demitindo Lana Turner e apostando em Lee Remick.
    Lee está muito bem e Stewart magistral, lembrando suas ótimas atuações em A Felicidade Não se Compra e no faroeste O Preço de um Homem.

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  2. Ivan, a presença de Natasha Lytess no set de "O Rio das Almas Perdidas" merece um artigo especial falando só dela. Imagine o irascível e soberbo Preminger sem poder dirigir Marilyn e ainda vendo a aproveitadora de M.M. querer dirigir até outros atores. Quando Preminger expulsou Natasha do set proibindo sua presença ali, Marilyn se trancou em seu camarim e não saiu mais de lá, até conseguir a volta de Natasha. Esse western pode não ser grande coisa mas as histórias de bastidores são saborosas (e verdadeiras). Você está certo quando diz que Preminger fez grandes filmes. Mesmo "Carmen Jones" para mim é ótimo ainda que a crítica não tenha gostado muito. E não é que Otto se apaixonou por Dorothy Dandridge? Mas quem não se apaixonaria?

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  3. Gosto muito desses posts sobre os bastidores, Darci. É interessante notar que algumas brigas acabam com um filme e
    outros resistem a um diretor que nem fala com o ator principal.
    Estão aqui no blog, exemplos disso no faroeste.
    Casablanca foi o sucesso que conhecemos e sem roteiro fixo, enquanto imitações dele podem ter tido a maior paz e organização no set e não funcionaram.
    Lembro do ótimo Blade Runner e a exigência dos produtores para uma narração. Harrison Ford disse que ficou tão irritado que a fez de forma desleixada.
    Para mim, no cinema e depois de saber o fato, sempre soa como melancólica, perfeita para o filme.

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  4. Ótimo Post, Gosto muito desse filme, acho que é um faroeste diferente mas mesmo assim bem interessante.
    Nem imaginava que o diretor Preminger era carrasco dessa maneira. Tentar tirar Monroe do filme foi mesmo uma ideia infantil da parte dele...

    Parabéns pelo Texto, muito interessante.

    Abraços

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  5. Nobre Darci...

    Este post é espetacular!

    Embora reconheça a importância de Preminger e de admirar pouquíssimos de seus trabalhos, de fato, o homem era uma peste. Também não esta entre meus cineastas favoritos. Acho que ele sim, estava muito mais para Hitler do que os atores que ele dirigiu. Santa paciência!!!

    Pelo que li em tão informativa matéria, o que ocorreu com a Jean Simmons foi muito mais grave do que os desentendimentos entre Otto e a Marilyn. A Começar, Howard Hughes, este tremendo ser doentio. Sequer respeitou a condição de casada de Jean Simmons, e fez de tudo para que ela fosse trabalhar para ele. Sem dúvida, Jean, além de atriz talentosa e dinâmica, também tinha grande caráter e personalidade ao dar ao Seu Hughes um não sonoro. E me desculpem: e o que este FDP do Seu Howard fez???- contratou um diretor, que no mínimo, era tão doentio e sem caráter como Otto Preminger, para desestabilizar emocionalmente a inigualável Jean Simmons.

    ROBERT MITCHUM, que tudo bem, NÃO ERA NENHUM ANJO, mas sabia ser justo,e ironicamente, foi a própria arma de Preminger não contra a bela Jean, mas contra ele mesmo, que se dependesse de mim, se eu fosse Bob Mitchum, seriam 20 tapas em dois tempos para nunca mais esquecer. Mitchum e Simmons foram amigos durante toda a vida, até Bob morrer em 1997.

    STEWART GRANGER, apesar de aparentar uma simpatia tremenda nas telas, no fundo era um tremendo pavio curto se diga de passagem. Ele, na verdade, chegou a falar com a própria esposa, a Jean, que pudessem achar um meio de matar Hughes, pois ele acabaria com suas vidas e carreiras. Felizmente, Granger agiu com sabedoria ao processar este infeliz "pobre menino rico", pois se fizesse o que pensou, certamente o mundo estaria privado de suas atuações como "Scaramouche" e "O Prisioneiro de Zenda". Mas Granger era ciumento, e parece que durante as filmagens de O MANTO SAGRADO, Richard Burton se meteu a engraçado com Jean Simmons, e ele um dia chegou armado no set, chegando a apontar o revólver na direção de Burton. Ironicamente, Granger seria "morto" por Burton em 1978, no filme OS SELVAGENS CÃES DE GUERRA.

    SOBRE MARILYN E ESTE MAGNÍFICO WESTERN, que em verdade, é meu filme favorito da atriz, deu para entender um pouco mais minha admiração pela fita, pois não tem tanto a mão de Preminger, e gostei em saber que Robert Mitchum ajudou na direção e no trabalho de Marilyn. Foi um verdadeiro Gentleman para com uma mulher de índole sensível e cresceu ainda mais minha admiração por este magnífico ator.

    Abraços Darci, ótimo Domingo

    Paulo Néry

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  6. Um detalhe que esqueci...

    Mitchum era TÃO CAVALHEIRO que ainda estendeu a mão para Preminger, o próprio dito cujo contra quem desferiu uns belos e merecidos safanões em solidariedade a Jean Simmons. Além disso, foi tremendamente profissional.

    Abraços.

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  7. Olá, Paulo. Em Hollywood poucos eram santos. Jean Simmons desperta em todos os fãs uma enorme simpatia. E o final de vida dela não foi nada feliz pois lamentavelmente tornou-se alcoólatra e chegou a comentar isso numa entrevista que deu ao Rubens Ewald Filho, na casa dela. Eu gostaria de encontrar "Almas em Pânico" que Jean-Luc Godard listou certa vez entre os dez melhores filmes que ele assistiu na vida.
    Não sabia que até o Richard Burton se deixou levar pelos encantos e Jean Simmons. O Stewart Granger é que não tinha sossego na vida com aquele amor de mulher...
    Um abraço.

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    1. Esta informação sobre Burton, Simmons e Granger, encontra-se no site IMDB. Digite THE ROBE, e vá a parte de TRIVIA. Esta em inglês, mas em tradução diz: "Richard Burton já foi ameaçado com uma arma por Stewart Granger causa de um caso que estava tendo com a mulher de Granger, Jean Simmons, durante as filmagens".

      Não sabia que ela chegou a este ponto, em cair no alcoolismo. Sei que ninguém é santo neste mundo, muito menos em Hollywood. Talvez o "problema" é que costumamos admirar ou endeusar tantos os nossos artistas preferidos, seja com seus carismas ou em suas interpretações, que esquecemos que como todo ser humano tem seus problemas ou suas limitações. Mas é uma realidade. Abraços

      Paulo Néry

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  8. Olá, Jefferson, você tem razão. Em 1953 Marilyn já havia posado para a Playboy, namorava o Pelé do baseball norte-americano e dava toda pinta que seria a maior estrela do seu tempo (ou de sempre?). Você me fez lembrar Billy Wilder quando Tony Curtis todos os dias reclamava de MM que ela sempre se atrasava e não lembrava as falas. Billy disse a Tony que tinha uma tia que possuía uma memória extraordinária e era pontualíssima. Só que ninguém queria ver a tia dele...
    Um abraço.

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  9. Paulo, desconheço se existe alguma biografia sobre Jean Simmons, mas a vida dela não foi nenhum mar de rosas. Sabe-se que ela era o que se pode chamar de ninfomaníaca, o que não faz de Burton um herói por ter dormido com Jean. Mas Jean teve a dignidade de repudiar o asqueroso e poderoso Howard Hughes. Ao conhecer Richard Brooks em "Elmer Gantry" eles se casaram e parece que a inglesa sossegou. Brooks afirmou que escreveu e dirigiu "Tempo de amar, tempo para esquecer", que é sobre uma dona de casa alcoólatra, inspirado em sua então esposa Jean Simmons que fez o papel principal. O site IMDb diz que ela ainda mora em Santa Monica, mas a doce Jean faleceu há exatamente dois anos, em 22 de janeiro de 2010.

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  10. Trabalhar com Preminger devia ser um inferno, por sinal seu papel de nazista em "Inferno nº 17" deve ter sido bem fácil de interpretar.

    Apesar das desavenças, o filme "O Rio das Almas Perdidas" ficou interessante.

    Abraço

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  11. Hugo, também acho que ele não se esforçou muito e foi o mais natural possível como o comandante do campo de concentração, mas cá pra nós, ele esteve hilariante. Lembro do Robert Strauss nesse filme, o 'Animal', muito engraçado, mas quando Preminger entra em cena ele toma conta...

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  12. O Paulo comentou que dos filmes da Marilyn ser esse faroeste o seu favorito.

    Eu prefiro Quanto Mais Quente Melhor.

    Agora, pensando apenas no seu desempenho como atriz, acho que vale destacar Torrente de Paixão e Os Desajustados.

    Pobre Marilyn, buscou a vida inteira respeito como atriz e um filho. Um ótimo crítico de cinema aqui do sul, Goida, escreveu sobre sua morte:
    "Morreu solitária, nua, na cama, tentando alcançar o telefone. O mundo não chegou a ouvir o seu pedido de socorro."

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  13. Já havia ouvido falar no ditador que Preminger era. E não poderia, nem deveria, receber melhor resposta do Zanuck. Que se virasse o casca de ferida. E os dois caras que pegaram o sádico foi para ter com ele uma "conversinha" de convencimento, como fazem os gangsteres. Num instantinho o "Sr. Vunce More" voltou ao seu posto de trabalho caladinho caladinho. Que tipo asqueroso, odioso e covarde!
    Quer dizer então que o que eu pensava estava errado! Nunca gostei do Preminger e até me admirei ele fazer um filme belo e tão bom quanto aquele. E não é que "não" foi o miserável quem fez tudo aquilo? A fita foi, na verdade, diriga a seis mãos(Mitchum, o sádico e Negulesco).
    Quer dizer que o Granger pensou em mandar matar o peste do Hughes, heim? Pois ele deveria ter feito sim, mas foi o que o Bob Mitchum fez no doente do Preminger; dar nele uns bons Vunce More. Que doente este Aviador! Mandar bater na moça so como vingança por ela não te-lo aceito! Que canalha!
    Mas ao final o que sobrou foi um belo e muito gostoso filme. Talvez até pelo Mitchum, porém achei um dos melhores trabalhos da loura Monroe. Ela está linda e cheia de sensualidade. As cenas na barca são muito bem feitas e conseguiram fazer um dos mais bonitos filmes da Fox.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  14. Caro Peixoto (Ivan);

    Será que já em 53/54 a Monroe já apresentava sinais do desequilibrio que a levou ao seu fim? Cedo, não?
    Bem; como andei lendo que sua genitora sofreu de mal semelhante ao dela, fica fácil imaginar que seu caso houvesse sido algo de nascença, de herança genética.
    Quanto à sua preferencia pelo filme de Preminger, também ando de acordo contigo. Anatomia de um Crime é algo anormal para o anormal e doente diretor. Grande fita.
    Concordo também contigo que a Remick está muito boa no filme. Mas, quanto ao Stewart, eu acredito que poderia ser dispensável um elogio a ele nestes dois filmes citados, já que Jimmy nunca desestabilizou uma fita, ou seja, ele conseguiu transformar muitos filmes que seriam ruins em ótimas peliculas. Ele simplesmente era espetacular. Quer ver uma coisa, amigo? Veja com ele "Minha Querida Brigite". Irás ver o que é um ator interpretando. Fantastico o magricelo.
    Abraços, amigo.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  15. Amigo Nery;

    Ótimo suas incursões no comentário do Darci, ao por mais pimenta no que já estava bem ardiloso.
    Desconhecia, por exemplo, o pavio curto do Granger, assim como seu lado ciumento, conforme cita o Darci em resposta ao seu comentário. Eu, apesar de nunca ter tido o Granger lá como grande coisa, aprovei seu trabalho em A Ultima Caçada. E sou franco em o elogiar expepcionalmente em o Belo Brummel. Se não viu esta fita ainda, encontre uma forma de assisti-la, pois se trata de uma pelicula com teor e muita qualidade.
    Quanto a O Rio das Almas Perdidas (um dos mais belos titulos de filmes que conheço, como tb adoro O Destino me Persegue e Meu Pecado Foi Nascer - desculpe, mas valorizo muito um belo titulo), ele também é um de meus filmes favoritos da Monroe. Mas sua atuação em Os Desajustados foi algo que fica até dificil crer que era a Marilin quem estava ali fazendo aquelas cenas e travando aqueles diálogos, tal tão perfeita ela está. Acho que, se o Houston teve muito trabalho para faze-la funcionar, não deve ter se arrependido do resultado final. Foi algo assim como se sua despedida da tela, como um adeus com validade e muita dignidade. Ela foi perfeita demais!
    Referindo-se ao cavalheirismo do Mitchum, não esquecendo também sua lembrança dos tempos em que comia da comida de Marilin, fica fácil se crer o porque de sua carreira tão bela e sua vida tão longa e boa.
    É que quando praticamos atos da espécie dos que ele praticou, muitos olhos apanham as ocorrencias, muitos olhos se voltam para ele com positividade. Então resultados somativos na vida surgem de todos os lados, como podemos confirmar como foi sua existencia e carreira. Sem falar que um outro par de olhos especiais vêm muito mais que todos; os Dele.
    Fica com Deus, amigo. E observe; "sempre fazer o bem e sem olhar a quem". Isto é um dever nosso, uma obrigação de quem vive, um dever civico e humano. Este foi, é e será sempre minha forma de viver e de ver a vida.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  16. Amigo Darci;

    A Simmons era uma lindeza de mulher, fato que justifica os olhos gordos sobre ela. Só que imaginei que o Burton apenas havia flertado com a mesma. Não sabia que o mesmo a havia levado para a cama, conforme li num destes comentários acima, já que este post está encharcado de bons comentários e de belas informações adicionais às do amigo editor.
    E, conforme esplanou perfeitamente o nosso Nery, nossos astros e estrelas, que os vemos como deuses,como especiais, que os enxergamos com olhos outros, não passam de pessoas normais e com todos os defeitos e virtudes que NÓS, do lado de cá da tela. Portanto, além de colocar que o alcoolismo é uma doença, um mal como outro qualquer, nem mesmo nossos herois estão isentos de passarem por privações como esta. Fato ocorrido com a Simmons, com a Gail Russel e com muitas outras/os astros e estrelas tão amados por todos nós. Faz parte da vida, companheiro. A vida!
    Fica com meu abraço, caro editor.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  17. Olá, Jurandir. Você tem razão ao observar que apesar da fama e da riqueza, ou talvez até em decorrência disso, não é incomum o alcoolismo entre nossos ídolos. É uma pena que isso aconteça pois gostaríamos de sabê-los felizes e sem esses problemas. Um abraço.

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  18. Sim, Jurandir, um grande ator, sem dúvida. Mas imagina John Ford escolhendo o cast de "O Homem que Matou o Facínora". Daria para inverter as personagens entre ele e John Wayne?

    Lá estaria o grande ator, fazendo seu trabalho dignamente, mas acho que por melhor que Stewart seja, ele cresce quando o papel parece ter sido escrito para ele. Foi isso que pensei quando citei os filmes e poderia ter citado o seu "Ramsom Stoddard" também.

    Sabe Jurandir, o Stewart esteve no Brasil e bem humorado comentou que a maioria dos diretores pedia: -Fale mais rápido!
    Ele tentava e depois os diretores mostravam-lhe a cena e comentavam que ainda não estava bom, que a cena estava cansada.

    Nessa mesma entrevista, um repórter perguntou sobre uma frase de Hitchcock que Preminger endossaria: "Os atores são como gado".
    Jimmy confirmou e mesmo Hitchcock pensando que os atores deveriam ser tratados como gado, "nunca nos sentimos assim".

    Contou uma história ótima: "No último filme que fizemos juntos, Vertigo, comunicamos a Hitch que o havíamos indicado para a Galeria da Fama dos maiores cowboys de todos os tempos."

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  19. Ivan, fico imaginando Hithcock montado num cavalo, com Stetson na cabeça, lenço no pescoço, botas e esporas, tocando o 'gado' em "Rio Vermelho"...

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  20. Muito boa, Darci. Mas de um jeito ou outro, ele apareceria se tivesse dirigido um faroeste...

    Assisti ao filme que comentastes, Jurandir, "Dear Brigitte". Mais uma boa lembrança do talento do Stewart, embora não gostei muito do filme.

    O menino apaixonado por Brigitte Bardot era o ator Bill Mumy, o "Will" de Perdidos no Espaço. Ele conta que tinha fotos de vários momentos de sua carreira espalhados em quadros pela sua casa. Quando resolveu tirar todas e guardá-las, apenas uma ficou: a cena do encontro com sua paixão, interpretada pela própria Brigitte no filme.
    Mas um importante detalhe: a foto era da cena que nunca foi exibida.
    Porque os produtores acharam que aquela paixão platônica da criança não combinava com os seios quase à mostra no decote da francesa, e toda cena foi refeita mais tarde.

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  21. Amigos cinéfilos, westernmaníacos ou não: eu bem avisei que o menino gaúcho Ivan Peixoto sabe tudo. Ele não é dos que matam a cobra e mostram o pau; ele mostra a cobra com a cabeça rachada...

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  22. Darci, buscando aprender com o verdadeiro mestre, alguma informação extra sobre Henry Fonda, como Mitchum, agredindo John Ford, na pele de Preminger, no filme "Mister Roberts"?

    Este seria o verdadeiro motivo da substituição do diretor por Mervyn LeRoy. Caso já tenha abordado o tema, desculpe e indique o post, por favor.

    Nessa batalha de egos em Hollywood, a dificuldade para administrá-las não deve ter sido nada fácil.

    Preminger não deixou nenhum legado nesse ponto. Mas fico imaginando o ditador diante de Susan Hayward e Bette Davis decidindo no cara e coroa qual personagem morreria, no filme "Escândalo na Sociedade."
    Alguém poderia morrer engasgado com uma moeda...

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  23. Ivan, se bem entendi a pergunta, o que ocorreu foi exatamente o contrário. Fonda vinha de anos interpretando o Tenente Roberts na Broadway, dirigido por Joshua Logan. Quando a peça foi filmada, até porque o assunto é a Marinha (Ford como se sabe se tornou Almirante por sua participação na II Grande Guerra) a Warner optou por John Ford que queria alterar o modo como Fonda concebeu Roberts na peça, com extraordinário sucesso. Ford teve uma daquelas crises de autoritarismo durante as filmagens, discutiu com Fonda que o chamou de son-of-a-bitch old man e John Ford respondeu com um uppercut que derrubou Fonda. O ator não reagiu, ainda bem, pois Ford estava doente, passou mal e teve que ser afastado do filme, sendo substituído por Mervyn LeRoy. Nunca mais se falaram ou filmaram juntos, até que Dan Ford fez o documentário "The American West of John Ford" e os reuniu juntamente com James Stewart. Fonda foi o xodó de Ford nos anos 40, com Vinhas da Ira My Darling Clementine, Domínio de Bárbaros e Fort Apache. Fonda afastou-se do cinema devido a suas posições políticas contrárias à criminoso movimento da direita. Nunca foi 'caçado' explicitamente pelas bruxas, mas ninguém o chamava para bons papéis. Refugiou-se no teatro, reduto dos verdadeiros grandes atores.
    Que me recordo foi mais ou menos isso. Mas é sempre bom ficar com o legado artístico de cada um, especialmente quando trabalharam juntos. Um abraço.

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  24. Este teu relato confere com o do IMDB. Como a saudosa revista Cinemin, numa matéria sobre a filmografia de James Cagney, colocou Henry Fonda como o agressor, pensei que haveria mais histórias de bastidores sobre esse fato. Obrigado.

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  25. Marilyn Monroe deu uma outra dimensão ao filme. Sem ela, O RIO DAS ALMAS PERDIDAS teria sido um filme diferente, com mais ação e menos conteúdo. Um western classe " A ", mas ocasional. Ela transformou o faroeste de Otto Preminger num filme de Marilyn Monroe. Deixou sua marca nas locações reais do Canadá. Impôs sua personalidade em cada fotograma. E fez uma dupla e tanto com Robert Mitchum! E, além do mais, Marilyn nunca precisou ser dublada nas canções em toda a sua carreira: era uma excelente cantora! Suas interpretações de " One Silver Dollar ", " Down in the Meadow ", " I'm Gonna File My Claim " e da canção título " River of no Return " são antológicas. Numa crítica sobre esse filme, quando programado na TV, Luiz Carlos Merten mencionou o fato de ele nos transmitir uma alegria verdadeiramente selvagem ! Marilyn está deslumbrante, apaixonantemente linda. As canções que ela interpreta são definitivas. Robert Mitchum, seu amigo, até a dirigiu na película ( conforme é apresentado aqui )e Rory Calhoun está perfeito como o trapaceiro! Sem contar Tommy Rettig, muito bem como o filho de Mitchum que se apega à personagem de Marilyn.
    Por várias razões, O RIO DAS ALMAS PERDIDAS ( título nacional perfeito, muito superior ao orginal ) é um dos melhores faroestes da Sétima Arte. Também Inácio Araújo, crítico, roteirista, cineasta ocasional e historiador de cinema, atesta o mesmo.

    Adriano Miranda-Franca-SP

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  26. Olá, Adriano - Percebe-se que você é fã incondicional de Marilyn Monroe. - Darci Fonseca

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  27. Olá Darci! Agradeço pelo espaço! Você está certo: não posso e não devo esconder que sou mesmo apaixonado por Marilyn Monroe, que despertou em mim a cinefilia aos 9 anos de idade! Confesso que sou realmente fã incondicional de Marilyn há 30 anos! Assisti a todos os seus filmes ( com exceção de " Scudda Hoo, Scudda Hay ", o primeiro, de 1947 ). Mas sou um fã incondicional de westerns também. Randolph Scott é , para mim, o arquético do homem do oeste. Além dele, Gary Cooper, Audie Murphy, Dan Dureya, Richard Widmark, Glenn Ford, James Stewart e, claro, John Wayne, estão entre meus ídolos de carteirinha. Também adoro os heróis das matinês dos anos de 1930 a 1940, no estilo de Bob Steele e Johnny Mack Brown. Meu pai me apresentou ao mundo do western e nunca mais deixei de curtir esse gênero " cinematográfico por excelência ". Agora, eu ganho a vida lecionando História na rede pública de ensino. Quando quero mostrar a realidade dos EUA no século XIX aos meus alunos, prefiro exibir-lhes um " Spaghetti Western " : os faroestes italianos, por incrível que pareça, tinham uma visão bem mais aproximada do que foram os EUA naqueles tempos. Diretores como Ferdinando Baldi, Sergio Corbucci, Romolo Guerrieri, Sergio Sollima, Sergio Leone,Leopoldo Savona, Giorgio Ferroni e Tonino Valerii foram, num certo sentido, historiadores do gênero!
    Adriano Miranda-Franca-SP

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  28. Olá, Adriano - Tanto é verdade o que você diz, que o western norte-americano se tornou revisionista após os anos 70, com visível influência dos Western-Spaghettis no figurino dos homens do Velho Oeste. Raros westerns modernos em que os cowboys não usam capas, sempre vistas nos faroestes de Leone. - Um abraço do Darci

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