Esta grande enquete feita pelo Westerncinemania chega ao seu final e se depara com uma clara e grave distorção: a presença de um acentuado número de opinadores que
têm pouca ou nenhuma familiaridade ou simpatia pela safra de faroestes produzidos na Europa, mais especificamente na Itália. Pejorativamente apelidados de ‘Spaghetti-Westerns’ eles podem ser melhor
chamados de vertente do gênero e são poucos os cinéfilos mais antigos que se propuseram a conhecer ao menos alguns dos aproximadamente 500 filmes produzidos entre os anos de 1964 a 1974. Posso falar a respeito
com certo conhecimento de causa por ter pertencido por 18 anos ao grupo de apaixonados por faroestes que se reuniam semanalmente em São Paulo no clube fundado pelo médico Dr. Aulo Barretti, o Clube Amigos do
Western, mais tarde rebatizado como Cineclube Amigos do Western (CAW). Especialmente no primeiro deles era terminantemente proibida a exibição de westerns-spaghetti, todos, sem exceção abominados
pelos membros da confraria. Só o fato de, entre centenas de títulos programados através dos anos, nenhum faroeste Made-in-Italy ter sido exibido é a prova cabal da ojeriza que eles despertavam ao
grupo. Era repulsa mesmo e pobre daquele que em discussões ousasse defender a vertente italiana de westerns.
|
Grupo de sócios do Clube Amigos do Western; quase todos repudiavam os westerns-spaghetti |
Nesta enquete 22 dos participantes foram membros do CAW e dentre os 220 filmes apontados por eles apenas quatro eram da safra westerns-spaghetti: “C’Era una Volta Il West” (votos
de Giulio Cesare de Castro Pandolfi e Joaquim Romão Gomes); “Por um Punhado de Dólares” (voto de Osvaldo Poitier de Paulo) e “O Vingador Silencioso” (voto de Darci Fonseca). Nem mesmo
a presença de Clint Eastwood na trilogia dirigida por Sergio Leone comoveu os programadores do clube a exibir tais filmes, até porque nenhum sócio se atrevia a solicitar tal programação.
Por outro lado, entre os demais 54 participantes da enquete, num total de 540 filmes indicados, houve 56 menções a westerns-spaghetti, ou seja, eles foram citados em média de um por lista. A maior parte
dessas citações foram para “C’Era Una Volta Il West” e para “Três Homens em Conflito”, unanimidades como os melhores Made-in-Italy de todos os tempos nesta enquete. E o resultado
apontado por estes números evidenciam um radicalismo exacerbado por parte do grupo de participantes que pertenceu à mais antiga e maior confraria de fãs de faroestes do Brasil. No meu entender, como todo
radicalismo, leva mais à perda do que a algum ganho.
|
Osvaldo 'Poitier' de Paulo, um dos raros cinéfilos do CAW que não rejeitavam westerns-spaghetti |
Eu conheço cinéfilo apreciador de westerns que jamais assistiu a um western-spaghetti, recusando-se a assisti-los. É o caso típico do absurdo ‘não vi
e não gostei’. Um dos argumentos daqueles que não apreciam westerns-spaghetti é que exceto meia dúzia de títulos o que sobra é um conjunto de faroestes muito ruins, o que é
um risível exagero e que remete à conhecida frase de Sergio Leone: “Dizem que eu sou o pai dos spaghettis. Se isso é verdade, sou o pai de um monte de filhos-da-puta”.
A produção de faroestes norte-americanos é incomparavelmente maior que os 500 exemplares italianos produzidos. E nem todos os westerns rodados na América chegam próximos dos grandes clássicos
de John Ford, Anthony Mann, Sam Peckinpah, John Sturges e outros mais. Faroestes ruins existem dos dois lados. Ao criar o blog tive contato com um tipo de seguidores com profundo conhecimento de faroestes, inteligentes, cultos
e, posso dizer, de gosto apurado. Em comum todos eles tinham o fato de gostar igualmente dos westerns produzidos nos Estados Unidos e dos chamados westerns-spaghetti. Vinicius Le Marc, Joailton de Carvalho, Edelzio Sanches,
Aprigio Alves de Oliveira e Thomaz Antônio de Freitas são alguns deles, a quem agradeço a paciência e perseverança nos tantos debates que travamos neste Westerncinemania.
|
Sergio Leone, considerado o pai dos westerns-spaghetti |
Como compensar a presença desse numeroso grupo de amigos do blog refratários aos westerns-spaghetti? E não falo apenas dos que pertenceram ao CAW, mas também dos muitos
que igualmente não simpatizavam com os filmes de Leone, Corbucci, Solima, Enzo Barboni, Gianfranco Parolini, Ferdinando Baldi e outros. A fórmula que encontrei foi acrescentar à enquete quatro listas de
aficionados por faroestes, todos os quatro especilizados em westerns-spaghetti. Essas listas foram publicadas no livro “Once Upon a Time in the Italian West”, de autoria do norte-americano Howard Hughes (não
confundir com o milionário aviador diretor de “O Proscrito” (The Outlaw, 1946). Abaixo breve apresentação de cada um dos quatro cinéfilos que tiveram suas listas publicadas no livro
de Hughes:
‘Sir” Christopher Frayling, inglês, historiador, escritor, crítico e Reitor do Royal College of Arts de Londres. Com mais de
20 livros publicados sobre Literatura, História, Educação e Cinema, merecem destaque ‘Sergio Leone, Something to do with Death’, ‘Clint Eastwood’, ‘American Westerners’
e ‘Mad, Bad and Dangerous: The Scientist and the Cinema’.
Alex Cox, inglês, escritor, diretor, ator, documentarista e apresentador. Dirigiu “Sid and Nancy”, “Straight to Hell” e
“Repo Man”, entre outros. Cox escreveu diversos livros, merecendo destaque “10,000 Ways to Die: A Director's Take on the Spaghetti Western”.
Tom Betts, norte-americano, editor do fanzine ‘Western All’Italiana, publicado na California desde 1983.
Howard Hughes, norte-americano, tem mais de 30 livros publicados sobre assuntos diversos, com destaque para o cinema: ‘Stagecoach
to Tombstone: The Filmgoer’s Guide to Great Westerns’; ‘Cinema Italiano: The Complete Guide from Classics to Cults’; ‘Once Upon a Time in the Italian West: The Filmgoers' Guide to Spaghetti Western’; ‘Spaghetti Westerns’; ‘Outer Limits: The Filmgoers' Guide to the
Great Science-Fiction Films’; ‘When Eagles Dared: The Filmgoers' History of World War II’; ‘Aim for the Heart: The Films of Clint Eastwood’.
|
Sir Christopher Frayling, Alex Cox, Tom Betts e Howard Hughes |
TOP-TEN WESTERNS DE CHRISTOPHER FRAYLING
1.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West),
1968 - Dir.: Sergio Leone
2.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo),
1966 - Dir.: Sergio Leone
3.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio), 1967
- Dir.: Sergio Corbucci
4.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più),
1965 - Dir.: Sergio Leone
5.º) Django Vem para Matar (Se Sei Vivo, Spara),
1967 - Dir.: Giulio Questi
6.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti), 1966
- Dir.: Sergio Solima
7.º) Django (Django), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci
8.º) Meu Nome é Ninguém (Il Mio Nome è Nessuno),
1968 - Dir.: Tonino Valerii
9.º) Os Violentos Vão para o Inferno (Il Mercenario),
1968 - Dir.: Sergio Corbucci
10.º) Gringo/Uma Bala para o General (Quien Sabe?),
1966 - Dir.: Damiano Damiani
TOP-TEN WESTERNS DE ALEX COX
1.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio),
1967 - Dir.: Sergio Corbucci
2.º) Gringo/Uma Bala para o General (Quien Sabe?),
1966 - Dir.: Damiano Damiani
3.º) Django Vem para Matar (Se Sei Vivo, Spara),
1967 - Dir.: Giulio Questi
4.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più),
1965 - Dir.: Sergio Leone
5.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West),
1968 - Dir.: Sergio Leone
6.º) Os Cruéis (I Crudeli), 1967 - Dir.: Sergio Corbucci
7.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti),
1966 - Dir.: Sergio Solima
8.º) Réquiem para Matar (Requiescant),
1967 - Dir.: Damiano Damiani
9.º) Django (Django), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci
10.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto,
Il Cattivo), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci
TOP-TEN WESTERNS DE TOM BETTS
1.º) Era uma Vez no Oeste (C’Era Una Volta Il West),
1968 - Dir.: Sergio Leone
2.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Più),
1965 - Dir.: Sergio Leone
3.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto,
Il Cattivo), 1966 - Dir.: Sergio Leone
4.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti), 1966
- Dir.: Sergio Solima
5.º) A Morte Anda a Cavalo (Da Uomo a Uomo),
1967 - Dir.: Giulio Petroni
6.º) Um Dólar para Matar (Bandidos), 1967
- Dir.: Massimo Dallamano
7.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio),
1967 - Dir.: Sergio Corbucci
8.º) O Pistoleiro da Ave Maria (Il Pistolero dell’Ave
Maria), 1969 - Dir.: Ferdinando Baldi
9.º) Procurado Vivo ou Morto (Lo Voglio Morto),
1968 - Dir.: Paolo Bianchini
10.º) Sartana, o Matador (Sono Sartana, il Vostro
Becchino), 1969 - Dir.: Giuliano Carmineo
TOP-TEN WESTERNS DE HOWARD HUGHES
1.º) Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto,
Il Cattivo), 1966 - Dir.: Sergio Leone
2.º) Django (Django), 1966 - Dir.: Sergio Corbucci
3.º) O Dia da Desforra (La Resa dei Conti),
1966 - Dir.: Sergio Solima
4.º) Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro
in Più), 1965 - Dir.: Sergio Leone
5.º) O Vingador Silencioso (Il Grande Silenzio),
1967 - Dir.: Sergio Corbucci
6.º) Sabata (Eh amico... C’É Sabata, Hai Chiuso!),
1969 - Dir.: Gianfranco Parolini
7.º) Joe, o Pistoleiro Implacável (Navajo Joe),
1966 - Dir.:Sergio Coorbucci
8.º) Eles me Chamam Trinity (Lo Chiamavano Trinità),
1970 - Dir.: Enzo Barboni
9.º) Os Violentos Vão para o Inferno (Il Mercenario),
1968 - Dir.: Sergio Corbucci
10.º) Sangue nas Montanhas (Un Fiume di Dollari),
1966 - Dir.: Carlo Lizzani