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7 de abril de 2012

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE MAZZAROPI, O GRANDE XERIFE DO FAROESTE CABOCLO


Foram duas as incursões de Mazzaropi pelo faroeste em suas 32 comédias. Oportunista, o ator-produtor-diretor abordava temas em moda e fez filmes falando de futebol, do cangaço, de rua da moda, de personagem de novela de TV, respectivamente em “O Corintiano”, “O Lamparina”, “O Puritano da Rua Augusta” e “Betão Ronca Ferro”. No final dos anos 60 Mazzaropi decidiu que era hora de parodiar os spaghetti-westerns que faziam sucesso entre o público brasileiro ‘remendando’ o já lendário personagem criado por Sergio Corbucci.

SURGE DJECA - Django já havia tido uma série de imitações na própria Itália que exportou faroestes com aventuras dos mais diversos djangos como por exemplo em: “Uma Bala para Django”, “Django e Sartana Estão Chegando... É o Fim”, “Django Desafia Sartana”, “Django não Perdoa”, “Django, o Último Matador”, “Django Dispara Primeiro”, “Django, o Bastardo”, “Djurado”, “Viva Django!”, “Django, Adeus”, “Um Homem Chamado Django”, “Não Espere, Django, Dispara!”, “O Filho de Django”, “Alguns Dólares para Django”. Quando parecia que já se havia extraído a última gota de sangue de Django, eis que ali em Taubaté, nos estúdios da PAM, na Fazenda Santa, Mazzaropi decidiu criar, em 1969, a versão brasileira de Django em “Uma Pistola para Djeca”. O Djeca de Mazzaropi chamou-se Gumercindo e lutou contra o poderoso fazendeiro Coronel Arnaldo e seus homens. Muito bem recebido pelo público, como era de se esperar, essa paródia não pode ser relacionada entre os melhores trabalhos de Mazzaropi, mas os fãs não precisaram esperar muito tempo para ver assistir a outro bang-bang valeparaibano.

O XERIFE INÁCIO POROROCA – Em 1972 Mazzaropi lançou “O Grande Xerife”, comédia em que se transformou no chefe do correio de Vila do Céu, cidade que se assusta com a chegada do facínora João Bigode que mata o xerife local. O próprio João Bigode nomeia então Inácio Pororoca como xerife acreditando que possa fazer o que quiser com o novo homem-da-lei. Acontece que, assim como já havia ocorrido com Charles Winninger em “Atire a Primeira Pedra” (Destry Rides Again), o novo xerife se enche de coragem e enfrenta o malvado mustachudo. Mas ao contrário do simpático xerife de Bottleneck, amigo de Destry (James Stewart), que morre no filme de George Marshall, Inácio Pororoca expulsa o vilão da cidade, onde a paz volta a reinar.

FAROESTE-CABOCLO - O argumento de “O Grande Xerife” é de autoria de Marcos Rey e encontrou Mazzaropi excepcionalmente inspirado como mocinho-caipira. Fazendo uso de sua ‘espingarda de matar veado na curva’, o grande cômico está mais engraçado que nunca nessa comédia com ritmo perfeito. Muitos anos antes, “Matar ou Correr”, havia sido produzido pela Atlântida em 1953, era uma paródia do Velho Oeste norte-americano. Paralelamente surgiu “O Cangaceiro”, da Vera Cruz, iniciando o ciclo dos nordesterns, faroestes passados no cangaço. Com “Da Terra Nasce o Ódio”, “Homens Sem Paz” e “A Lei do Sertão”, inicia-se o faroeste-caboclo no interior de São Paulo, do qual “Meu Nome é Tonho” de Ozualdo Candeias, pode ser considerado um clássico. Muitos dos faroestes-caboclo derraparam para o riso, seja pelas atuações amadorísticas dos atores, seja pela cenografia bizarra. “O Grande Xerife” nunca deixa esquecer que é uma comédia e a presença de Mazzaropi com seu humor que vai do ingênuo ao malicioso é a garantia de gostosas gargalhadas, num exemplo autêntico de faroeste-caboclo do cinema brasileiro. Uma pena que este tenha sido o derradeiro filme de Mazzaropi no gênero.

TALENTO RECONHECIDO - O tão desdenhado Mazzaropi se tornou uma quase unanimidade nacional, consagrado especial-mente após sua morte, em 13 de junho de 1981. Máximo Barros era a voz solitária lembrando das qualidades de Mazzaropi não só como ator mas também como produtor e criador de gags. Com o passar dos anos foi aumentando o número daqueles que se diziam admiradores de Mazzaropi e dos personagens por ele criado. Entre aqueles que fizeram uma méa culpa lembro de Ignácio de Loyola Brandão que com humildade reconheceu que não havia dado o devido valor que Mazzaropi sempre mereceu. Nascido no dia 9 de abril de 1912 em São Paulo, na Rua Vitorino Carmilo, na Barra Funda, Amacio Mazzaropi mudou-se ainda pequeno com a família para Taubaté. Depois de atuar no circo, no rádio e na TV Mazzaropi consagrou-se como o maior nome das bilheterias do cinema nacional, ídolo das camadas mais humildes da população e fez também seus faroestes. No dia de hoje comemora-se o centenário de nascimento do caipira mais famoso e engraçado do Brasil, Amacio Mazzaropi. WESTERNCINEMANIA presta a ele esta homenagem.

Inácio Pororoca e a carabina de matar veado na curva...

13 comentários:

  1. Coincidência, Darci!

    Estou com o gatilho pronto pra "uma Pistola para Djeca". Ia assistir, ontem mas não deu. Hoje, eu acho que meus miudinhos não vão deixar passar. Eles gostam do Mazzaropi e já estão me aperreando para vermos juntos.

    Abraço!

    Lemarc

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  2. Quanto a essa espingarda torta, eu não estou lembrando agora, mas já vi provavelmente num western italiano.

    Lemarc

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  3. Vinicius, ri muito mais com O Grande Xerife. Mas na dúvida vale à pena assistir os dois faroestes do caboclo Mazza.
    Darci

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  4. Mazzaropi, o Chaplin do Brasil
    Grande Post Darci,
    Lembro-me de ter visto essa comédia a muitos anos, na companhia do meu falecido pai, que era grande fã desse tão conceituado ator.
    Possuo em coleção seus filmes mais antigos, os cinco primeiros, feitos nos anos 50, mas aos poucos procurarei adquirir os demais...

    Grande abraço

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  5. Jefferson, também acreditei por muito tempo que os filmes bons de Mazzaropi fossem aqueles rodados na Vera Cruz. Muitos filmes já da fase da PAM são bastante bons e comprovam o talento do Mazza.
    Darci

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  6. Reconheço que o nome Mazzaroppi era uma inanimidade nacional.
    E dos seus 32 filmes cheguei a ver uns doze ou treze deles.
    Mas tenho de confessar; ele nunca foi meu ator preferido nas comédias brasileiras, mesmo fazendo filmes interessantes e até muito inteligentes.

    Preferia Ankito, Oscarito, Grande Otelo e até Zé Trindade, à frente dele.

    Ainda assim considero sua Casinha Pequenina o que de melhor fez em sua carreira, considerando-o um homem inteligente e lutador pelo seu trabalho.
    Era ele quem produzia seus filmes, era ele quem cuidava de tudo para baratear suas produções, quem administrava as distribuições e até andei lendo que era ele quem marcava, mesmo antes de fazer, as datas em que seus filmes seriam lançados.

    Em resumo era um brigador pelo seus produtos, valorizando-os por todos os campos, criando hospedagem no estudio para seus empregados afim de não haver atrasos na produção, e até indo, ou mandando pessoas suas, às portarias dos cinemas para ver se tudo corria certinho nas movimentações de vendas de ingressos e se entrava gente sem pagar.

    Um homem de luta, que fazia fitas ao gosto do povo e que sabia exatamente o que o publico queria e gostava de ver, daí ter entrado, férreo, no gosto popular.Conheço fãs que são loucos por tudo o que Mazzaropi fazia.

    Infelizmente não vi nenhum dos dois seus nordesterns, embora tenha grande chance de ve-los, já que a TV está comemorando o centenário de seu nascimento e reprisando muitos filmes seus.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  7. Lemarc;

    Pois faça então isso, amigo.
    Não perca a oportunidade de ver filmes com os seus pequeninos. Ao menos é um bom caminho que os faz seguir, já que os esportes e as artes tornam as pessoa sempre gente sem riscos de nos dar dores de cabeça no futuro.

    Independente de serem deliciosos momentos.
    Jurandir_lima@bol.com.br

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    1. Caro Jurandir,

      Gosto de estar próximo da garotada. Se pra mim é bom, imagine pra eles. Todos temos que nos esforçar pra dar atenção à nossa meninada, à família...

      Abraço!

      Lemarc

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  8. Jurandir, você se equivocou. Se pudermos classificar as comédias de Mazzaropi que resvalaram no faroeste seria o faroeste-caboclo, subgênero que tem muitos filmes, inclusive o Ciclo Campineiro dos anos 50. Chamou-se de nordestern os filmes sobre o cangaço que muitoso insistiam em dizer que eram verdadeiros faroestes nordestinos. Há livros que classificam O Cangaceiro de Lima Barreto como um faroeste. E muita gente viu semelhanças entre Dragão da Maldade e o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha, com os westerns-spaghetti. Como havia o spaghetti, chamado por alguns jocosamente de western-polenta, chegaram a chamar os faroestes nacionais de faroestes-feijoada, que ainda bem não pegou. Faroeste Caboclo é bastante simpático e tem um pouco a cara do Mazzaropi. Se você encontrar Meu Nome é Tonho, de Ozualdo Candeias, não deixe de avisar. Em troca posso disponibilizar Alma Mercenária, faroeste de 2002, rodado em São Paulo, dirigido por Sann Mendes, não confundir com o Sam Mendes diretor norte-americano.

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  9. Darci;

    Citei, inicialmente, que sempre preferi os outros comediantes a Mazzaropi.
    Nunca liguei muito para suas graças, pois o achava completamente sem graça alguma.
    Mas não o desvalorizava ou criticava quem a ele adorava. Afinal era o que tinhamos e cada qual tem seu gosto.

    Assim, mesmo tendo visto alguns filmes dele, e até dando algum crédito a Casinha Pequenina, vou me esquivar de comentar e considerar seus filmes Campineiros como western caboclo.

    Ainda ontem assisti a Jeca Tatu. Se aquilo ali, que é uma das piores coisas que já vi na vida, é considerado um western, mesmo um western campineiro, então quase tudo que ele fez foi assim. Mazzaropi quase nunca saiu de uma fazenda fazendo seus filmes. Não estou certo?

    Agora; eu observei sobre aqueles dois western (imitação) que ele fez e que até eu poderia ver, pois a TV está reprisando 70% do que fez, no seu centenário de vida.
    E, se passarem, eu os conferirei. Mesmo já antevendo o que irei ver.

    Uma observação para não ser taxado de critico demais do Mazzaropi;
    "Achei horrivel Jeca Tatu. Sem graça, sem diálogos, sem interpretações, sem direção, sem qualquer qualidade, sem NADA.
    Entretanto, como este e outros filmes seus, tenho que reconhecer que foram filmes feitos quase sessenta anos atrás e que era aquilo ali que tinhamos e podiamos fazer, embora Watson Macedo fizesse filmes muito agradáveis de ver.

    Visto hoje, até os que eu adorava, muita gente irá acha-los horriveis, sem graça e passiveis de passarem sem os assistir.

    Mas...o que fazer? Era o nosso cinema,era o que existia por aqui. Exatamente como Hollywood fazia seus musicais, que hoje detesto, mas que na época era coisa de ponta e eu via a todos.

    O passar do tempo é o culpado de tudo isso. E nós, eu principalmete, preciso levar isto em conta. E faço isso muito pouco!
    jurandir_lima@bol.com.br

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  10. Darci,

    Lindissima foto do bom "A Última Carroça", fita a qual, cada quadro daria um belissimo fotograma para abertura do blog, já que seu cenário é estupendo!

    Pabarens pela foto.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  11. Caro Bom Baiano Jurandir
    Nenhuma das duas paródias que Mazzaropi fez de faroestes são do Ciclo Campineiro, que teve nos irmãos Antoninho Hossri e Maurício Morey Hossri seus expoentes na tentativa pioneira de fazer faroestes ambientados no interior paulista. Mais tarde, já em pleno apogeu dos spaghetti-westerns, alguns cineastas criaram o que se pode chamar de Faroeste Caboclo que não eram paródias mas sim tentativas de fazer filmes que expressassem a violência que ocorria em determinadas regiões do Brasil. Algo parecido com o Velho Oeste norte-americano tão decantado pelo cinema (inclusive europeu) com seus mitos e lendas.
    O que Mazzaroppi fez foram duas paródias de faroestes em 1969 e 1971, coincidentemente período em que abundavam os euro-westerns. Chamei Mazzaropi de O Grande Xerife do Faroeste Caboclo juntando o título de um de seus bons filmes ao gênero que então teve alguns exemplares. Mazzaropi nunca se pretendeu um cowboy e não podemos pensar nele assim.
    Acredito que o tipo por ele criado a partir exatamente do famoso personagem de Monteiro Lobato seja mais facilmente compreendido no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. O interiorano do Norte e Nordeste difere bastante do caipira aqui de São Paulo e talvez por isso o humor de Mazzaroppi não consiga o mesmo efeito mais ao Norte do Brasil.
    Seja lá como for, Mazzaroppi foi um fenômeno do cinema brasileiro, um artista consagrado e um empresário muitíssimo bem sucedido num ramo onde quase todos que se aventuram perdem tudo. Possuo quase todos os filmes de Mazzaropi (alguém tem O Gato da Madame?) e não há como negar que nem tudo que ele fez teve qualidade. Em alguns ele se superou e provocava risos o filme todo. O que eu pretendi foi não deixar passar em branco a data tão importante que foi o centenário de nascimento de Amácio Mazzaropi.
    Um abraço do Darci

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  12. Na fazenda ou não pra mim ele fez filmes extraordinàrios,pensem naquela época com pouca tecnologia ele conseguia com muita simplicidade;nos trazer alegria,emoção.Sei que muitos o acham brega e daí tantos bregad tem por aí e todos acham o máximo.Ah só pra lembrar ele teve filmes fora da fazenda;sai da frente e Portugal minha saudade são dois deles. Eu tenho o filme o gatinho de madame que também não foi feito na fazenda abraços a todos.

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