30 de dezembro de 2012

DA DERROTA À VITÓRIA (Westward Ho), ESTRÉIA DE JOHN WAYNE NA REPUBLIC PICTURES


A Republic Pictures foi criada com a fusão dos pequenos estúdios Monogram e Mascot e ainda os pequeníssimos Liberty Pictures, Majestic Pictures e Chesterfield Pictures. John Wayne, que era contratado da Monogram, passou a ser artista do novo estúdio e “Da Derrota à Vitória” (Westward Ho) foi seu primeiro western e um dos primeiros filmes da Republic Pictures. Para os padrões da Poverty Row o 'B' “Da Derrota à Vitória” pode ser considerado uma superprodução. A Poverty Row era uma área de Hollywood, situada na Gower Street, onde se concentravam os estúdios menores. Esses estúdios produziam filmes de baixa qualidade técnica e artística, daí a pejorativa denominação que pode ser traduzida por ‘Rua da Pobreza’, em contraponto com a riqueza dos grandes estúdios.


Superprodução do novo estúdio - Nos anos 30 os faroestes ‘B’ dos pequenos estúdios custavam por volta de cinco mil dólares e eram rodados em cinco dias. John Wayne ganhava na Monogram 2.500 dólares por filme e na Republic assinou contrato por cinco anos passando a receber 400 dólares por semana, totalizando 20.800 dólares por ano. Consta que “Da Derrota à Vitória” custou 34 mil dólares e John Wayne afirmou que esse faroeste deve ter rendido pelo menos 500 mil dólares nas bilheterias. Como fazer para gastar 34 mil dólares num faroeste ‘B’ em 1935? A explicação é fácil pois nenhum outro filme desse tipo reuniu 50 cavalos brancos e um número ainda maior de cavalos escuros. Imagine-se todos envolvidos em cenas de ação e perseguição, devidamente montados por mais de uma centena de cavaleiros. Os cavalos escuros são as montarias dos bandidos e os cavalos brancos as dos mocinhos, todos impecavelmente vestidos com camisas escuras e lenços brancos. Some-se a isso as sequências clássicas de carroça em disparada caindo em despenhadeiro, Yakima Canutt dublando John Wayne e saltando sobre os cavalos assustados colocando em perigo a indefesa mocinha. Rebanho sendo transportado, bem como saloons e ruas apinhados de gente, tudo isso elevou o custo de “Da Derrota à Vitória”, além, é claro de uma história ao gosto das platéias bastante sentimentais das áreas rurais onde o filme fez sucesso. E aos invés de cinco dias o filme consumiu a eternidade de 30 dias em produção.

John Wayne e Frank McGlynn Jr., seu irmão
mais novo em "Da Derrota à Vitória".
Irmão contra irmão - ‘Westward Ho’ é a palavra de ordem do líder das caravanas rumo ao destino nem sempre atingido, como foi o caso da família Wyatt que é atacada por assaltantes. Os bandidos matam seus pais Mark Wyatt (Hank Bell) e Ma Wyatt (Mary McLaren) e o pequeno John Wyatt (Bradley Metcalfe) sobrevive milagrosamente, enquanto seu irmão menor Jim Wyatt (Dickie Jones) é levado pelo bando. Doze anos depois, já terminada a Guerra Civil, John Wyatt (John Wayne) está empenhado em criar um comando para combater o crime que domina a região. John Wyatt tenta mas não consegue o apoio das autoridades locais que alegam não haver recursos para subsidiar o dispendioso projeto. John Wyatt consegue reunir as vítimas dos bandidos e formar um pequeno exército de vigilantes que recebe o nome de ‘Cavaleiros Cantores’. Sob a liderança de John Wyatt os vigilantes conseguem com suas ações acuar os bandidos. O principal deles é Ballard (Jack Curtis), responsável pelo sequestro de Jim Wyatt (Frank McGlynn Jr.), transformado em mais um fora-da-lei. O braço direito de Ballard é Red (Yakima Canutt), capturado por John Wyatt quando este continuava procurando por seu irmão e pelos bandidos que mataram seus pais. Afinal é revelado o segredo aos dois irmãos e Jim se reúne com John e ambos enfrentam a quadrilha de Ballard com a ajuda dos Cavaleiros Cantores. Jim Wyatt é ferido e morre nos braços do irmão John.

O novo mocinho John Wayne - Esse é o tipo de trama construída para emocionar o público. E além da história dos irmãos separados dirigida aos espíritos mais sensíveis, situa claramente o bem contra o mal até nas cores bem definidas de mocinhos e bandidos. O experiente diretor Robert N. Bradbury completou os 61 minutos de “Da Derrota à Vitória” com uma história de amor entre o mocinho John Wayne e a mocinha Sheila Bromley. Hollywood precisava de um mocinho para substituir Buck Jones e Tom Mix que já davam mostras do peso dos anos e John Wayne parecia o nome certo, ainda que lhe faltasse algo que só foi encontrado após personificar ‘Ringo Kid’ em “No Tempo das Diligências”, pelas mãos do gênio de John Ford. Curiosamente quem se tornou o cowboy número um dos faroestes foi Gene Autry, que mais que mocinho era um cantor. Mais tarde foi a vez de Roy Rogers, outro cowboy-cantor, se tornar o Rei dos Cowboys do cinema. Naqueles anos John Wayne não era páreo para Gene ou para Roy no gosto dos fãs dos faroestes ‘B’. Wayne teve que subir ao patamar dos filmes ‘A’ para se tornar o maior astro de Hollywood.

Algumas das belas sequências filmadas pela câmara de Archie Stout.


Duke cantando para Sheila Bromley;
abaixo alguns dos Cavaleiros Cantantes.
Sing, Duke, sing - Quando das filmagens de “Da Derrota à Vitória”, os cowboys cantores começavam a cair no gosto do público após Ken Maynard mostrar que os mocinhos também cantavam. E há muita música neste miniépico dirigido pelo pai de Bob Steele, o veterano do cinema mudo Robert N. Bradbury. Enquanto a caravana e o gado caminham lentamente ouve-se a canção ‘Westward Ho’ e não há como não lembrar John Ford no sublime “Caravana de Bravos” (Wagon Master). E há ainda a canção ‘The Vigilantes’ acompanhando a trepidante cavalgada dos 50 vigilantes em seus cavalos brancos espetacularmente filmados pela câmara do cinegrafista Archie Stout. Depois de um início de namoro um tanto hostil, John Wayne conquista a mocinha Sheila Bromley cantando e se acompanhando ao violão. Percebe-se que a voz não é do Duke que foi dublado por Glenn Strange. E o próprio Glenn Strange revelando talento de compositor compôs em parceria com Tim Spencer as canções ‘Westward Ho’ e ‘The Vigilantes’. Tim Spencer, como se sabe foi um dos membros do lendário grupo Sons of the Pioneers. Esta não foi a primeira vez que John Wayne ‘cantou’ no cinema pois já havia feito o mesmo em “O Cavaleiro do Destino” (Riders of Destiny), faroeste em que seu personagem se chamou ‘Singin Sandy’.

Ladrões depauperados - “Da Derrota à Vitória”, assim como quase todos os faroestes ‘B’ dos anos 30 devem ser assistidos destituídos de visão mais crítica pois as incongruências dos roteiros são muitas. Nas décadas seguintes seria inaceitável o que se vê na história deste faroeste como quando o irmão mais novo de John Wayne, doze anos depois, reaparece aparentando ter bem mais de 30 anos e bem mais velho que o jovial Duke. Por sinal o ator Frank McGlynn Jr. lembra bastante Daniel Day-Lewis. Inexplicável também como Ballard, o bandido principal, após tantos anos cometendo crimes de toda natureza se mantenha no estado de pobreza mostrado no filme. E por que os bandidos após assaltar um banco sem disparar um só tiro, montam em seus cavalos e começam a atirar para todo lado quando o normal seria sair sem alarido? E como os Vigilantes Cavaleiros Cantores conseguiram se equipar com tantos cavalos brancos e se uniformizar com roupas elegantes e novas vistos serem todos pessoas simples? Esqueça-se tudo isso e assista-se “Da Derrota à Vitória” como um saboroso pequeno western, muito mais especial ainda por ser estrelado pelo jovem John Wayne.

28 de dezembro de 2012

EL BANDOLERO MEXICANO COMPLETA 70 ANOS


O dia 29 de dezembro é um dia de festa para o faroeste em São Paulo pois é comemorado o 70.º aniversário do famoso El Bandolero Mexicano. Membro por mais de 20 anos da Confraria dos Amigos do Western paulistana, esse único bandido do grupo de fãs de faroestes se tornou conhecido no Brasil inteiro através das muitas reportagens divulgadas sobre a confraria. Entre todos os cowboys ele sempre foi o grande destaque pois com seu histrionismo o Mexicano dominava as cenas, mesmo morrendo em quase todas elas. Foi assim na inesquecível reportagem para o ‘Fantástico’, da TV Globo, e em todas as outras que focalizaram a confraria fundada por Aulo ‘Doc’ Barretti. O verdadeiro nome do Bandolero é Carlos Jorge Mubarah e na vida real o engraçado Mexicano é escritor, poeta, cantor, ritmista e ainda ator profissional especializado em filmes publicitários.

Nos tempos de Kid Bronco vemos El Mexicano com Roberto Barretto;
com Sérgio Bill Elliott, Jorge Tyler Cavalcanti e Aulo 'Doc' Barretti; abaixo
com Jorge Tyler, Lazinho Kid Blue, Dionísio Nomellini, Umberto 'Hoppy'
Losso e Nelson Pecoraro; com Dantas Bob Steele e Jorge Tyler.


Kid Bronco como sidekick do Roy Rogers brasileiro Lazinho Kid Blue.


Quando ingressou na Confraria dos Amigos do Western – CAW, Carlos Jorge Mubarah era apenas mais um entre tantos cowboys. Recebeu de Jorge ‘Tyler’ Cavalcanti o apelido de ‘Kid Bronco’, não por sua rudeza, mas por ter vencido a luta contra o cigarro que lhe comprometia os brônquios. No entanto o cowboy ‘Kid Bronco’ não durou muito pois num grupo em que só havia mocinhos, era necessário a presença de pelo menos um bandido. E em que bandido ele se transformou!

El Mexicano estreando seu personagem de bandolero no SESC Pompéia,
em São Paulo, ladeado por Cláudio Caltabiano e Mauro 'Guarda Vingador'.

Mubarah criou um personagem espalhafatoso com os assustadores baleiros cruzados no peito como se fosse Pancho Villa. E ele até gostou de ser chamado de ‘Pancho Villa’, mas muitos o chamavam também de ‘Zapata’ e a confusão acabou quando ele adotou o apelido simples de El Mexicano. A estréia do ‘Bandolero Mexicano’ se deu em 1991 quando ocorreu a exposição, no SESC Pompéia, em São Paulo, de uma cidade cenográfica vinda diretamente da Itália, numa promoção da editora da revista Tex. A presença de El Mexicano causou furor e foram incontáveis os pedidos de autógrafos do público presente. Muitos acreditavam que se tratava do próprio Gian Maria Volonté ou mesmo Aldo Sambrell ou Mário Brega.

Fotos da reportagem da TV Globo para o programa 'Fantástico', em Grataí, SP.
Acima Helena de Grammont entre El Mexicano e Lazinho Kid Blue;
abaixo após a queda digna de Yakima Canutt.

Durante a reportagem para o programa de variedades ‘Fantástico’, El Mexicano impressionou fortemente a repórter Helena de Grammont, sendo dele o melhor momento da reportagem, rolando de uma ribanceira de 20 metros de altura. Em agradecimento a repórter presenteou El Mexicano com um autêntico sombrero e um poncho que ela havia trazido de uma viagem ao México. Muito mais estilizado, o Bandolero recebeu do amigo Lazinho Kid Blue outro presente que completou sua indumentária: uma réplica de Colt Navy trazida dos Estados Unidos.

A foto preferida de El Mexicano.
El Mexicano em desenho do grande artista 'Hoppy' Losso; ao lado Losso e
'Doc' Barretti imobilizando o facínora; abaixo foto de reportagem da
TV Bandeirantes apresentada por Sílvio Luiz à direita do Bandolero.

El Mexicano com 'Doc' Barretti; rendendo o stagedriver Darci Kit Hodgkin num
assalto a diligência; com Kid Blue, Jorge Tyler e Hoppy; dominado por Dionísio.


Os mocinhos do CAW criaram uma lenda segundo a qual o temido El Bandolero Mexicano tinha medo de cavalos. Foi preciso El Mexicano cavalgar seu cavalo ‘Cafezinho’ para que a intriga, ou melhor, a lenda, não se tornasse fato, como queriam os seguidores de John Ford.

El Mexicano e seu querido Cafezinho.


El Mexicano com o Titã Paulo Miklos entre 'Doc' Barretti e Darci Kit Hodgkin;
El Mexicano como Carlos Jorge Mubarah autografando seu livro de poesias
intitulado "Amar"; com o radialista-cowboy Fausto Canova ;
impecavelmente vestido entre Lazinho Kid Blue e Darci Kit Hodkin.


El Mexicano durante um desfile de carnaval no Sambódromo, em São Paulo,
ao lado de Débora Rodrigues, "A Rainha dos Caminhoneiros"; com uma
das cantoras do grupo Rouge durante a gravação de um clip; em comercial
para TV como navegante; com Adriana Ferreira, produtora da Rede Globo.
Quando se tornou necessário um espaço maior para as comemorações da Confraria dos Amigos do Western, El Mexicano abriu as portas da sua hacienda para as fiestas. Esses eventos contavam com a presença de quase 100 pessoas, todas confortavelmente acomodadas. Enquanto mulheres e crianças comiam e bebiam à vontade, os mocinhos e o bandido travavam seus duelos em espaços abertos que lembravam Corriganville, ou mesmo sob as frondosas árvores do grande quintal da hacienda. Foram as maiores e inesquecíveis festas da confraria.

Grupos de cowboys reunidos no quintal da Hacienda de El Mexicano
em dias de congraçamentos.
Cantor e ritmista El Mexicano levando alegria para as festas em sua Hacienda.

Não por acaso El Mexicano nasceu entre o Natal e o Ano Novo, tempo de festas e comemorações. Talvez daí venha sua contagiante alegria e seu talento para tornar esses momentos ainda mais felizes, muitos deles divididos com seus amigos cowboys. Ao querido El Mexicano, representante brasileiro dos imprescindíveis bandidos do cinema, o blog WESTERNCINEMANIA deseja muitas felicidades e muitos anos de vida.





26 de dezembro de 2012

DE HOMEM PARA HOMEM (Gun Belt) – O DIRETOR RAY NAZARRO ESBARRA EM SEUS LIMITES


Quatro atores foram os responsáveis por suprir o mercado cinematográfico com faroestes nos anos 50. São eles Randolph Scott, Joel McCrea, Audie Murphy e George Montgomery. Juntos fizeram quase uma centena de westerns e a contribuição de George Montgomery foi muito grande, ainda mais se for considerado que nesse período ele nunca foi dirigido por um grande diretor. Ray Nazarro, que passou anos na série ‘Durango Kid’, foi um dos inexpressivos diretores responsáveis por alguns dos faroestes estrelados por Montgomery. Em “De Homem para Homem” (Gun Belt), produzido em 1953, o resultado poderia ter sido acima da média e ficado entre os melhores westerns do ator-escultor George Montgomery.


A família 'Ringo': John Dehner, Tab Hunter e
George Montgomery.
Ringos, Earps e Ike Clinton - Lançado no Brasil em 1954, o western de Ray Nazarro recebeu o título “Pistola”, equivocada tradução do original ‘Gun Belt’, que significa cinturão. Ao ser exibido na TV, passou a se chamar “De Homem para Homem”, criando certa confusão entre o público. Seja com qualquer dos dois títulos, ‘Gun Belt’ possui uma história tortuosa, digna dos filmes noir dos anos 40. E para confundir ainda mais o espectador, os nomes de alguns personagens lembram os de figuras históricas do Velho Oeste. Há três ‘Ringos’, mas nenhum deles o verdadeiro Johnny Ringo. E o facínora principal chama-se ‘Ike Clinton’ e não ‘Ike Clanton’ personagem importante no tiroteio travado no OK Corral em 1881. Os irmãos Wyatt e Virgil Earp são os responsáveis por manter a ordem em Tombstone e imediações, como a cidade de Alamitos. Meio assim como um ‘samba do crioulo doido’, a complicada história escrita por Arthur E. Orloff e roteirizada por Jack DeWitt e Richard Schayer é desenvolvida exigindo muita atenção do espectador.

George Montgomery e Helen Westcott.
Trama emaranhada - Billy Ringo (George Montgomery) é um ex-fora-da-lei regenerado que vive num rancho com seu sobrinho Chip Ringo (Tab Hunter), enquanto Matt Ringo (John Dehner) o pai de chip e irmão de Billy cumpre pena em Yuma. Matt Ringo foge da penitenciária federal e com seu bando é contatado por Douglas Fraser (Hugh Sanders) para praticar um assalto aos 500 mil dólares que deverão chegar de um grande banco, quantia vultosa que será distribuída aos bancos da região sem fluxo de caixa. Ocorre que Fraser quer a presença de Billy Ringo na quadrilha. Billy, porém, está de casamento marcado e não que voltar ao crime, sendo vítima de um engenhoso plano arquitetado por seu irmão Matt, que o torna suspeito de um assalto ao pequeno banco de Alamitos. Revoltado Billy luta com o irmão Matt e acaba disparando contra este acidentalmente, passando a ser procurado pelos irmãos Wyatt e Virgil Earp (James Millican e Bruce Cowling). Surge então Ike Clinton (William Bishop), sócio de Fraser que não quer a participação de Billy Ringo no assalto. Chip Ringo, que passa a ser chamado de 'Kid Ringo' quer vingar a morte do pai acertando as contas com seu tio Billy Ringo. Kid Ringo é contratado por Ike Clinton para ajudá-lo no próximo roubo. Billy Ringo precisa provar sua inocência e ganha a confiança dos irmãos Earp, tornando-se um espião infiltrado na quadrilha de Clinton. Numa operação arriscada Billy Ringo consegue desbaratar o bando e ainda reconquistar a confiança do sobrinho. O dinheiro dos dois assaltos é recuperado, Ike Clinton é preso e Billy pode finalmente realizar seu projeto de casamento com Arlene Reach (Helen Westcott).

William Bishop à frente de seu bando.
A pouca competência de Nazarro - Apesar de um pouco confuso, “De Homem para Homem” é razoavelmente bem realizado por Ray Nazarro, faltando-lhe no entanto o know-how necessário para grandes cenas de ação. Os dois melhores momentos do filme que seriam o assalto ao posto de troca de cavalos e a sequência seguinte do encontro de Billy Ringo com os homens de Clinton são fracos, sem emoção e previsíveis. A cena em que Kid Ringo simula atirar no tio antes de ser alvejado por Ike Clinton é patética e digna dos piores dias de Ray Nazarro nos 'bezinhos' da Colúmbia dirigindo Durango Kid. Há diversas mortes, como as de Dixon (Douglas Kennedy), Kolloway (Jack Elam) e Curley (William Phillips), nada convincentes, além do desperdício da presença de stuntmen como Chuck Roberson e Boyd ‘Red’ Morgan, capazes de criar grandes emoções nas cenas de ação que não acontecem. Nazarro se satisfaz com resultados simplificados e compromete um filme que poderia ser muito, mas muito mesmo acima da média.

Tab Hunter
O pior cowboy jovem dos anos 50 - Outro pecado de “De Homem para Homem” é o desaparecimento prematuro de John Dehner com apenas 20 minutos de filme, dando vez para o careteiro William Bishop que criou um vilão ao estilo de Dan Duryea. A diferença é que Bishop não é Duryea. Sem o ótimo John Dehner o filme perde bastante e seu personagem poderia ser ‘esticado’. Jack Elam e Douglas Kennedy fazem apenas figuração para as presenças dos atores principais. George Montgomery jamais sai de sua persona íntegra enquanto Tab Hunter leva o prêmio de pior cowboy jovem dos anos 50. A mais interessante subtrama deste western é a da relação amizade-ódio entre o tio Billy e o sobrinho Chip, que não é melhor aprofundada pelo diretor. A bela Helen Westcott, de “O Matador”, tem papel irrelevante como a noiva de Billy Ringo. Para uma produção bastante modesta, “De Homem para Homem” tem boa fotografia e música, podendo agradar o fã de faroestes que for menos exigente. Mas certamente este espectador também ficará com a impressão que nas mãos de diretores como Budd Boetticher ou André De Toth, o resultado seria infinitamente melhor.



Acima à esquerda John Dehner, que sai cedo do filme; à direita John Dehner e
Jack Elam; embaixo George Montgomery e John Dehner; Douglas Kennedy.



O mocinho George Montgomery em "De Homem para Homem".

24 de dezembro de 2012

OS PRESENTES DE NATAL MAIS DESEJADOS PELOS GAROTOS DOS ANOS 50


Quando criança morei no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. O cineminha das matinês de domingo era o Cine Marconi, a duas quadras da famosa Rua José Paulino tradicional rua das lojas dos judeus que vendiam roupas até a prestação para toda a família. Encravada entre as centenas de estabelecimentos dos Isaacs, Abrahãos e Jacós havia a Casa Samuel que vendia artigos diversos para presentes. A meninada do bairro adorava ir à Casa Samuel pois havia uma vitrine exclusiva de artigos para fãs de faroestes. E deslumbrados os meninos olhavam as caixas de cinturões e revólveres expostos. Havia o cinturão de Roy Rogers (o mais bonito), de Gene Autry, Hopalong Cassidy, Durango Kid e alguns outros sem identificação de heróis. E só restava sonhar com a chegada do Natal. Mas primeiro precisava 'passar de ano' (ser aprovado) no Grupo Escolar Prudente de Morais, até hoje no mesmo lugar na Avenida Tiradentes, ao lado da Pinacoteca do Estado, ambos vizinhos das centenas de árvores do maravilhoso Jardim da Luz. Ah, vale dizer para quem não conhece São Paulo e nem aquela região, que a Rua José Paulino começa na tradicional Estação da Luz. Alguns garotos felizardos encontravam no dia 25 de dezembro uma caixa que certamente embalava o cinturão pedido ao Papai Noel. Outros, com menos sorte e de pais mais modestos, ganhavam um simples revólver de espoleta, daqueles cor grafite e com o cabo branco com a figura de um touro em relevo. Ganhei muitos desses. E o dia de Natal era sempre uma inesquecível festa para as crianças que, mais que nunca, se sentiam como se fossem seus heróis, os queridos mocinhos das matinês e dos gibis. Nas fotos abaixo alguns dos brinquedos que fizeram a felicidade das crianças dos anos 50 e 60.

Hopalong Cassidy tinha muitos fãs, talvez o maior deles fosse Umberto 'Hoppy'
Losso, um dos patronos deste blog. Entre os produtos licenciados com a marca
do mocinho dos cabelos brancos estavam, além dos cinturões, um painel de
tiro-ao-alvo, a lancheira e um rádio para escutar as aventuras do mocinho
criado por Clarence E. Mulford, veiculado com sucesso em programa de rádio.


Qual menino não queria ter sua bicicleta? Nos Estados Unidos a bicicleta mais
vendida era a de Hopalong Cassidy que, infelizmente, não chegou ao Brasil.

A marca 'Hopalong Cassidy' vendia desde botas, cintos, relógios e máquinas
fotográficas. Mesmo se ser sheriff havia a estrela com a figura de Hopalong.


Levar o lanche numa lancheira 'Hopalong Cassidy' fazia inveja aos demais garotos.
E na hora de comer a petizada limpava o prato só para ver Hopalong montado
no Topper. Claro que as canecas dos fãs tinham de ser com a figura de Hoppy.

The Lone Ranger, 'Zorro', aqui no Brasil também era muito querido pela garotada
e muitos itens foram fabricados com a marca do Cavaleiro Solitário. No quadro
vemos um belo binóculos, lancheira, pistola de tiro-ao -alvo, lanterna e um
relógio de bolso onde se vê Lone Ranger e Tonto.

Este coldre e revólver do Cavaleiro Solitário é um item raríssimo, mesmo
no mau estado de conservação. O revólver perdeu as laterais da coronha
e o cinturão sofreu o desgaste do tempo ou das brincadeiras de mocinho.


O 'Rei dos Cowboys" foi o campeão da venda de produtos para a garotada que
queria se sentir o próprio Roy Rogers. Os mais bonitos cinturões expostos nas
vitrines eram os de Roy. Havia até mesmo uma caixa com revólver, estrela
e esporas. Será que Roy Rogers algum dia usou a pequena pistola que foi
também licenciada em seu nome? Quem usava as Derringers eram s bandidos...


O curioso revólver 'Flash Draw' que disparava um facho de luz simulando
um disparo.


Máquina fotográfica Roy Rogers no modelo da nossa Kapsa; revólver de
pulso e jogo com diligência e cabana, tudo para os fãs de Roy Rogers.

Muito vendidas também no Brasil a lancheira do Rei dos Cowboys, quase
sempre com Dale Evans, Trigger e Bullet.


Nos anos 40 somente um mocinho rivalizou com Roy Rogers na preferência da
meninada. Era Gene Autry e disso se aproveitavam as fábricas de brinquedo
para lançar cinturões e revólveres 'iguais' aos de Gene Autry.

Outros modelos para os pequenos 'Gene Autrys'.




LESLIE-HENRY COMPANY

O maior fabricante norte-americano de brinquedos do gênero western era a Leslie-Henry Company, sediada na Pensilvânia. Ninguém mais que essa empresa levou tanta alegria para as crianças que idolatravam seus ídolos do cinema e da TV. Os brinquedos que sobreviveram são muito disputados por colecionadores e por essa razão tornaram-se itens valiosíssimos, como pode ser contatado em sites como a e-Bay e congêneres. 

Belos Colts que tornavam os petizes verdadeiros mocinhos do cinema e dos gibis.

Jogo de cinturão e revólveres de Buffalo Bill, e das séries de TV Wild Bill Hickok
e Caravana, esta última sucesso também no Brasil.


Quem aprendeu a gostar de faroestes assistindo as séries de TV também
podia ganhar presentes licenciados como "O Homem do Rifle", "O Rebelde
Johnny Yuma", "Caravana" e "Gunsmoke".

Que se saiba nunca foi fabricada a caixa homenageando Rocky Lane, mas os
milhões de fãs do grande mocinho podiam ter um canivete de seu ídolo.
O belo revólver da foto maior é do Paladino do Oeste; os menores da série
de TV Maverick; e os nostálgicos fãs de Buck Jones tinham seu canivete.


Fãs brasileiros também possuem seus 'brinquedos' como o colecionador
André Bova, acima com parte de sua coleção voltada para o Velho Oeste
no quadro ao lado. Abaixo o Roy Rogers brasileiro, Lazinho Kid Blue com
seus Peacemakers de cano longo; à direita 'Hoppy' Losso, o Hopalong
Cassidy de Santos com seu maravilhoso par de réplicas de Colt 45.


Ninguém empunha réplicas com mais autoridade que Aulo 'Doc' Barretti,
o fundador da confraria dos amigos do western, em São Paulo; abaixo
Doc Barretti com uma réplica de Winchester.

El Bandolero Mexicano com seu Colt Navy da Civil War.
Curioso que mesmo com esse poderoso trabuco El Mexicano
sempre morria nas brincadeiras de mocinho e (ele) bandido.


Lau Shane Mioli empunhando uma réplica de rifle de repetição para, caso seja
necessário, dar uma ajuda a Shane e a Joe Starrett; o sorriso de Hoppy Losso
explica a felicidade de quem possui os brinquedos da foto;
abaixo Lazinho Kid Blue e o editor do Westerncinemania, prontos para
enfrentar os Lee Marvins, Dan Duryeas e Jack Elans que surgirem.