A Republic Pictures foi criada com a
fusão dos pequenos estúdios Monogram e Mascot e ainda os pequeníssimos Liberty Pictures,
Majestic Pictures e Chesterfield Pictures. John Wayne, que era contratado da
Monogram, passou a ser artista do novo estúdio e “Da Derrota à Vitória” (Westward
Ho) foi seu primeiro western e um dos primeiros filmes da Republic Pictures. Para
os padrões da Poverty Row o 'B' “Da Derrota à Vitória” pode ser considerado uma
superprodução. A Poverty Row era uma área de Hollywood, situada na Gower
Street, onde se concentravam os estúdios menores. Esses estúdios produziam
filmes de baixa qualidade técnica e artística, daí a pejorativa denominação que
pode ser traduzida por ‘Rua da Pobreza’, em contraponto com a riqueza dos
grandes estúdios.
Superprodução
do novo estúdio - Nos anos 30 os faroestes ‘B’ dos
pequenos estúdios custavam por volta de cinco mil dólares e eram rodados em
cinco dias. John Wayne ganhava na Monogram 2.500 dólares por filme e na
Republic assinou contrato por cinco anos passando a receber 400 dólares por
semana, totalizando 20.800 dólares por ano. Consta que “Da Derrota à Vitória”
custou 34 mil dólares e John Wayne afirmou que esse faroeste deve ter rendido pelo
menos 500 mil dólares nas bilheterias. Como fazer para gastar 34 mil dólares
num faroeste ‘B’ em 1935? A explicação é fácil pois nenhum outro filme desse
tipo reuniu 50 cavalos brancos e um número ainda maior de cavalos escuros.
Imagine-se todos envolvidos em cenas de ação e perseguição, devidamente
montados por mais de uma centena de cavaleiros. Os cavalos escuros são as
montarias dos bandidos e os cavalos brancos as dos mocinhos, todos
impecavelmente vestidos com camisas escuras e lenços brancos. Some-se a isso as
sequências clássicas de carroça em disparada caindo em despenhadeiro, Yakima
Canutt dublando John Wayne e saltando sobre os cavalos assustados colocando em
perigo a indefesa mocinha. Rebanho sendo transportado, bem como saloons e ruas
apinhados de gente, tudo isso elevou o custo de “Da Derrota à Vitória”, além, é
claro de uma história ao gosto das platéias bastante sentimentais das áreas
rurais onde o filme fez sucesso. E aos invés de cinco dias o filme consumiu a eternidade de 30 dias em produção.
John Wayne e Frank McGlynn Jr., seu irmão mais novo em "Da Derrota à Vitória". |
O
novo mocinho John Wayne - Esse é o tipo de trama construída
para emocionar o público. E além da história dos irmãos separados dirigida aos espíritos mais sensíveis,
situa claramente o bem contra o mal até nas cores bem definidas de mocinhos e
bandidos. O experiente diretor Robert N. Bradbury completou os 61 minutos de
“Da Derrota à Vitória” com uma história de amor entre o mocinho John Wayne e a
mocinha Sheila Bromley. Hollywood precisava de um mocinho para substituir Buck
Jones e Tom Mix que já davam mostras do peso dos anos e John Wayne parecia o
nome certo, ainda que lhe faltasse algo que só foi encontrado após personificar
‘Ringo Kid’ em “No Tempo das Diligências”, pelas mãos do gênio de John Ford.
Curiosamente quem se tornou o cowboy número um dos faroestes foi Gene Autry, que
mais que mocinho era um cantor. Mais tarde foi a vez de Roy Rogers, outro
cowboy-cantor, se tornar o Rei dos Cowboys do cinema. Naqueles anos John Wayne
não era páreo para Gene ou para Roy no gosto dos fãs dos faroestes ‘B’. Wayne teve
que subir ao patamar dos filmes ‘A’ para se tornar o maior astro de Hollywood.
Duke cantando para Sheila Bromley; abaixo alguns dos Cavaleiros Cantantes. |
Ladrões depauperados - “Da
Derrota à Vitória”, assim como quase todos os faroestes ‘B’ dos anos 30 devem
ser assistidos destituídos de visão mais crítica pois as incongruências dos
roteiros são muitas. Nas décadas seguintes seria inaceitável o que se vê na
história deste faroeste como quando o irmão mais novo de John Wayne, doze anos
depois, reaparece aparentando ter bem mais de 30 anos e bem mais velho que o jovial Duke. Por sinal o
ator Frank McGlynn Jr. lembra bastante Daniel Day-Lewis. Inexplicável também
como Ballard, o bandido principal, após tantos anos cometendo crimes de toda natureza se
mantenha no estado de pobreza mostrado no filme. E por que os bandidos após
assaltar um banco sem disparar um só tiro, montam em seus cavalos e começam a
atirar para todo lado quando o normal seria sair sem alarido? E como os
Vigilantes Cavaleiros Cantores conseguiram se equipar com tantos cavalos
brancos e se uniformizar com roupas elegantes e novas vistos serem todos pessoas simples? Esqueça-se tudo isso e
assista-se “Da Derrota à Vitória” como um saboroso pequeno western, muito mais
especial ainda por ser estrelado pelo jovem John Wayne.
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