29 de setembro de 2011

ANGIE DICKINSON – OS 80 ANOS DE UMA LINDÍSSIMA ATRIZ


John Wayne falando a respeito de Angie Dickinson: “Angie foi uma das melhores atrizes com quem trabalhei. O que eu gostava em Angie é que ela não tinha aquelas frescuras de ‘não desmanche minha maquiagem’ ou ‘cheguei atrasada porque estava arrumando meu cabelo’. Ela estava sempre pronta e sabia exatamente o que fazer e como fazer. E olha que já eu trabalhei com muitas e muitas atrizes. Maureen O’Hara seria o meu equivalente como mulher, pois era durona assim como eu. Gail Russell tinha aquela fragilidade que contrastava com a minha personalidade. Angie não era nem durona e nem frágil. Angie podia ser dura, gentil e muito sexy. Ela era bonita, tinha um tremendo sex-appeal e também cérebro. Olha, Angie Dickinson era aquele tipo de mulher que homem nenhum consegue resistir.”

INÍCIO DE CARREIRA NOS FAROESTES - Angie Dickinson nasceu em 30 de setembro de 1931 no Estado de Dakota do Norte, e seu nome de batismo era Angeline Brown. Ainda adolescente mudou-se com sua família para Burbank, na Califórnia, ganhando todos os concursos de beleza dos quais participou, menos o de Miss América de 1953 em que foi a segunda colocada, numa daquelas injustiças que os brasileiros que se recordam de Martha Rocha conhecem bem. Dos concursos para a TV foi um passo, ainda mais que Angeline se casou com Gene Dickinson, um dos mais famosos astros do futebol americano da época, equivalente a Joe Di Maggio no baseball. Adotando o nome artístico de Angie Dickinson, a jovem estreou no cinema em 1954 numa ponta no musical “Com o Céu no Coração” (Lucky Me), filme estrelado pela maravilhosa atriz-cantora Doris Day. Melhor começo impossível! No ano seguinte Angie faria sua estréia nos faroestes em “A Audácia é Minha Lei” (Tennessee’s Partner), dirigido por Allan Dwan e estrelado por John Payne, Ronald Reagan e Rhonda Fleming. A seguir Angie participou dos westerns “The Return of Jack Slade” (com John Ericson e Mary Blanchard), “Hidden Guns” (com Bruce Bennett) e “Armado até os Dentes” (Man With the Gun), com Robert Mitchum e Jan Sterling nos papéis principais. A sequência de westerns em que a promissora Angie Dickinson participou continuou em 1956 com “Marcados pela Violência” (Tension at Table Rock), dirigido por Charles Marquis Warren e tendo no elenco Richard Egan e uma deslumbrante Dorothy Malone. Também dirigida por Charles Marquis Warren e ao lado de Hugh Marlowe e Colleen Gray, Angie atuou em “O Chicote Negro” (The Black Whip). Nesse mesmo ano de 1956 Angie estava no elenco de “Atirar para Matar” (Gun the Man Down), filme de estréia de Andrew V. McLaglen, diretor que faria muitos outros westerns, e estrelado por um gigantesco ator chamado James Arness que faria muito sucesso na TV.

Angie e Randy Scott em
"No Rastro dos Bandoleiros"
AS PERNAS MAIS BONITAS - Em 1957 Angie Dickinson fez o primeiro papel feminino num faroeste de um dos maiores mocinhos do cinema, Randolph Scott, no western “No Rastro dos Bandoleiros” (Shoot-Out at Medicine Bend), filme que tinha no elenco o simpático e promissor ator James Garner. O diretor Samuel Fuller dirigiu o polêmico western “Renegando meu Sangue” (Run of the Arrow), estrelado por Rod Steiger e pela atriz espanhola Sarita Montiel incapaz de pronunciar ‘thank you’ em Inglês, sendo dublada pela voz suave e sensual de Angie Dickinson. Dirigida pelo mesmo Sam Fuller e ao lado de Gene Barry, Angie Dickinson esteve bem no admirado filme de guerra “No Umbral da China”, que antecipou o que seria a Guerra do Vietnã anos mais tarde. A personagem de Angie nesse filme de Fuller se chama ‘Lucky Legs’ e as belas pernas da atriz chamavam a atenção tanto quanto seu lindo rosto. Em 1957 Angie atuou ao lado de Herb Jeffries, o primeiro mocinho negro do cinema, no musical “Calipso Joe”. A esse trabalho seguiram-se “Grito de Terror”, com James Mason e Rod Steiger e a comédia “I Married a Woman”, em que a atriz principal é Diana Dors. Os produtores de Hollywood muito insistiram para que Angie Dickinson oxigenasse seus cabelos para se tornar mais uma loura burra como Diana Dors, Mamie Van Doren e Jayne Mansfield. No entanto, Angie Dickinson que era morena clara permitiu apenas que seus cabelos fossem clareados mas de forma alguma queria ser mais uma imitadora de Marilyn Monroe. Desnecessário para Angie oxigenar os cabelos quando ela possuía tão lindas pernas, cada vez mais notadas. Marlene Dietrich, Cid Charysse e Ann Miller já não disputavam mais quem era a dona das mais belas pernas de Hollywood pois esse título passava para uma digna e muito mais jovem sucessora chamada Angie Dickinson. E o mundo inteiro percebeu isso num faroeste de John Wayne lançado em 1959.

Alegria permanente em
"Onde Começa o Inferno"
ONDE COMEÇA O PARAÍSO - Muito se discute o que faz “Onde Começa o Inferno” (Rio Bravo) ser considerado uma das obras-primas do gênero. A conclusão a que se chega é que este western de Howard Hawks é um pouco como “Casablanca”, ou seja, um filme onde tudo deu certo. Nenhum outro faroeste é tão agradável de ser visto como “Onde Começa o Inferno”, que tem o cowboy John Wayne em grande forma, Dean Martin revelando-se um ótimo ator, a afiada e engraçada ranzinice de Walter Brennan, a simpatia de Ricky Nelson, as canções na hora certa, ação da melhor qualidade dirigida por Hawks, um elenco de apoio perfeito e ‘Feathers’, a personagem de Angie Dickinson. Todos no elenco adoraram trabalhar com Angie, o que muito deve ter ajudado para “Onde Começa o Inferno” ser lembrado como o “Cantando na Chuva” dos faroestes, um filme deliciosamente perfeito. Alguém já comentou que é um faroeste excessivamente longo e isso talvez se deva ao considerável aumento do papel de Angie Dickinson que era para ser apenas o interesse romântico do Duke o filme mas acabou tendo uma participação menor apenas que a de Wayne, Martin e Brennan. Assim como conquistou Duke, Angie conquistou também Hawks e o resto do elenco num filme feito num clima de total harmonia. O sucesso de bilheteria e de crítica de “Onde Começa o Inferno” foi inevitável e quem mais ganhou com isso foi a carreira de Angie Dickinson.

Angie com Frank Sinatra e em "Onze
Homens e um segredo" e com John
Cassavetes em "Os Assassinos"
SINATRA E LEE MARVIN - A mãe de Angie Dickinson sempre criticou a filha por ela ter seguido a carreira de atriz. Dona Frederica Brown, a mãe de Angie acreditava que ser atriz era sinônimo de prostituta. Sua filha já estava divorciada do jogador de futebol com quem se casara e linda como era tinha muitos namorados, entre eles um com envolventes olhos azuis e uma voz que derretia qualquer coração. Certo dia Angie avisou Dona Frederica e Seu Leo (seus pais), que iria visitá-los levando um namorado, mas não disse o nome do sortudo. Quando a porta se abriu Frederica quase desmaiou pois o namorado da filha era nada menos que Frank Sinatra. Depois disso Dona Frederica passou a afirmar que ser atriz é a melhor profissão do mundo. Angie e Frank foram namorados por muitos anos e ela é a única mulher em meio a um time inteiro de ladrões em “Onze Homens e Um segredo”, filme com todo clã de Sinatra rodeando Angie Dickinson. Outros filmes importantes que Angie fez, agora como atriz principal foram “Um Raio em Céu Sereno”, com Peter Finch e Roger Moore; “O Candelabro Italiano”, de Delmer Daves, com Troy Donahue; “Jessica”, com Maurice Chevalier; “Pavilhão 7”, com Gregory Peck e Tony Curtis, todas grandes produções mas nenhuma com a qualidade artística de um certo filme de orçamento médio dirigido por Don Siegel, refilmagem de um conto de Ernest Hemingway intitulado “Os Assassinos”. Foi nesse violento policial que Angie Dickinson se encontrou pela primeira vez com Lee Marvin, experiência que deve ter causado inúmeros pesadelos à atriz que no filme sofreu muito nas mãos de Lee que em uma das cenas mais espetaculares segura Angie pelos calcanhares ameaçando jogá-la pela janela de um hotel. Em “Os Assassinos” Angie comprovava que além de dona das mais bonitas pernas de Hollywood era também excelente atriz. Seguiram-se outros bons filmes na carreira de Angie, entre eles “Caçada Humana”, com Marlon Brando, porém seu outro grande momento no cinema seria novamente ao lado de Lee Marvin num dos melhores policiais não só da década de 60, mas de todos os tempos, que foi “À Queima-Roupa”. Desnecessário dizer que mais uma vez Lee Marvin descarrega parte de sua maldade em Angie Dickinson. Há uma cena em que Angie bate em Lee Marvin até ficar exausta, após o que o maior vilão do cinema olha com desdém para Angie que está mais linda que nunca.
Angie Dickinson con Lee Marvin em "Os Assassinos" (acima);
em "À Queima Roupa" (à esquerda) e em "Perseguição Mortal"
O CASAMENTO DO ANO - Burt Bacharach era a coqueluche da música norte-americana nos anos 60 compondo clássico atrás de clássico, entre eles “Raindrops Keep Fallin’ on My Head” tema de “Butch Cassidy e Sundance Kid”. Angie e Burt se conheceram, se apaixonaram e realizaram o casamento do ano de 1965 no mundo artístico. Burt compunha e Angie atuava, voltando a fazer faroestes, primeiro “O Pistoleiro do Rio Vermelho” (The Last Challenge), com Glenn Ford e Jack Elam; seguiu-se “Sam Whisky, o Homem de Ouro” (Sam Whiskey), com Burt Reynolds e Clint Walker; e depois “O Pistoleiro Marcado” (Young Billy Young), com Robert Mitchum. Angie Dickinson chegava aos 40 anos ainda muito bonita e sua beleza seria explorada (quem mais senão ele!) por Roger Corman na comédia-policial “A Mulher Metralhadora” (Big Bad Mama), em que Angie interpretando a criminosa Wilma McClatchie tem cenas de nudez cujas fotos foram estampadas em revistas do mundo inteiro para alegria dos admiradores da perfeita plástica feminina. Esse filme é de 1974, mesmo ano em que Angie aceitou estrelar uma série de TV interpretando uma policial caçando bandidos nas ruas, território até então dominado pelos atores.

SERGEANT PEPPER - “Police Woman” obteve sucesso tão inesperado como grande, transformando-se no seriado de TV preferido dos homens em meados dos anos 70 E havia uma razão para isso, ou melhor, uma linda razão, a estrela do seriado Angie Dickinson. Assistir às aventuras da Sargento Suzanne ‘Pepper’ Anderson era uma rotina deliciosamente obrigatória e a audiência masculina manteve o seriado no ar por cinco longos anos, abrindo inclusive, as portas para outras séries estreladas por atrizes como Lynda Carter em “Mulher Maravilha”, o trio de “As Panteras” e outros seriados comandados por jovens heroínas bonitas. Angie Dickinson já estava com 43 anos, em 1974, quando teve início a série “Police Woman”, mas a idade em nada afetava sua beleza e charme que fazia dela uma das mulheres mais desejadas do mundo. Quando a série “Police Woman” saiu do ar parecia que a carreira da cinquentona Angie Dickinson chegava ao fim, mas a vida tem curiosas coincidências. Em “Police Woman” Angie trabalhava sob as ordens de Earl Holliman, ator nascido num dia 11 de setembro. Um jovem diretor, também nascido num 11 de setembro, chamado Brian De palma contratou Angie Dickinson para aquele que seria o mais difícil papel de sua carreira.

Angie em "Vestida para Matar"
DESPIDA PARA EMOCIONAR - Brian De Palma era fã confesso de Hitchcock e em “Vestida para Matar” De Palma praticamente recriou “Psicose” com assassinato no chuveiro e a sequência do Museu com Angie confundindo-se com um quadro. Porém “Vestida para Matar” deixou de se um filme-homenagem para se transformar num clássico do moderno suspense com destacadíssima interpretação de Angie Dickinson nesse que foi o último verdadeiramente grande filme de sua carreira. Haveria ainda o terceiro e último encontro de Angie Dickinson com Lee Marvin que ocorreu em “Perseguição Mortal”, bastante inferior aos dois policiais anteriores. Charles Bronson liderou o elenco deste filme de ação. Em 1981 Angie interpretou Dragoon Queen numa aventura de Charlie Chan (desta vez vivido por Peter Ustinov) intitulada “Charlie Chan e a Maldição da Rainha”. Em 1987 Angie voltaria a ser a criminosa Wilma McClatchie numa continuação de “Big Bad Mama – A Mulher Metralhadora”. Angie, que sempre gostou de atuar na TV, fez parte do elenco de “Era Uma Vez no Texas”, dirigido por Burt Kennedy e com Richard Widmark, Willie Nelson, Chuck Connors, Jack Elam e muitos outros veteranos dos faroestes.

MOCINHA INESQUECÍVEL - Em pequenos papéis suficientes porém para mostrar sua beleza madura, Angie Dickinson pode ser vista nas refilmagens de “Sabrina” (1995), com Harrison Ford e de “Onze Homens e Um segredo” (2001). O último filme, até agora, que teve a participação de Angie Dickinson foi feito em 2004 e estrelado por Kim Bassinger, com o título de “Elvis Ainda não Morreu”. Hoje, dia 30 de setembro, Angie Dickinson comemora seu octogésimo aniversário e pelo que se vê em fotos recentes continua sendo uma mulher muito bonita, ela que foi sem dúvida uma das mais bonitas, simpáticas e elegantes mulheres do cinema. Angie atuou em apenas um grande faroeste que foi “Onde Começa o Inferno”, mas foi o suficiente para que se tornasse inesquecível para os fãs do gênero.


Estrelas do passado: Angie Dickinson, Nichelle Nichols,
Stephanie Powers e Linda Evans

28 de setembro de 2011

WESTERNTESTEMANIA N.º 2 - ERNEST BORGNINE


1 – Qual origem do nome e da família de Ernest Borgnine?

a) Borgnino - Italiana


b) Borginov – Russa


c) Borgniny – Francesa




2 – Qual o nome da terceira esposa de Ernest Borgnine e quanto durou esse casamento?


a) Ethel Barrymore – 45 dias


b) Ethel Waters – 15 dias


c) Ethel Merman – um mês




3 – Ernest Borgnine ganhou um Oscar de Melhor ator por “Marty”. Quem concorreu ao prêmio com ele?


a) Bing Crosby – Humphrey Bogart – James Mason – Dan O’Herlihy


b) James Dean – Spencer Tracy – Frank Sinatra – James Cagney


c) James Dean – Laurence Olivier – Kirk Douglas – Rock Hudson




4 – Em “Vikings, os Conquistadores”, Ernest Borgnine é pai de:


a) Janet Leigh


b) Kirk Douglas


c) Tony Curtis




5 – Com que Ernest Borgnine mata Lee Marvin em “Sábado Violento”?


a) Com uma lança de ferro


b) Com um tridente


c) Com uma estaca de madeira




6 – Em qual destes westerns Ernest Borgnine é nomeado ajudante de xerife?


a) “Feras Humanas”, de André De Toth


b) “O Pistoleiro”, de André De Toth


c) “Fora das Grades”, de Nicholas Ray




7 – Quem mata Ernest Borgnine em “Johnny Guitar”?


a) Ward Bond


b) Scott Brady


c) Sterling Hayden




8 – Em qual filme Ernest Borgnine interpreta o xerife Lyle ‘Cottonmouth’ Wallace.


a) “Comboio”, de Sam Peckinpah


b) “Chuka”, de Gordon Douglas


c) “O Homem das Terras Bravas”, de Delmer Daves




9 – Em “Hannie Caulder” Ernest Borgnine e Jack Elam formam um trio de bandidos apatetados completado por:


a) Richard Boone


b) Strother Martin


c) Richard Fansworth




10 – Valerie French é a esposa de Ernest Borgnine em “Ao Despertar da Paixão”. De quem a personagem da atriz foi amante no filme?


a) Rod Steiger


b) Glenn Ford


c) Glenn Ford e Rod Steiger






27 de setembro de 2011

ANDRÉ DE TOTH, DIRETOR DE WESTERNS E SUA ESPOSA VERONICA LAKE


Casamentos entre atrizes e diretores de cinema sempre renderam manchetes. Entre os mais importantes da década de 40 estão os matrimônios de Orson Welles e Rita Hayworth (1943-1948) e o de Judy Garland e Vincente Minelli (1945-1951). Ocorreu em Hollywood um outro casamento que foi também bastante noticiado, o enlace de Veronica Lake e André De Toth. De Toth era um quase desconhecido diretor, mas Veronica Lake era uma das atrizes em maior evidência, tanto quanto Rita e Judy, e nenhuma outra ditava a moda entre as mulheres como Veronica. Assim como os outros dois, o casamento de André e Veronica também não durou muito. E assim como aconteceu com Rita e Judy, a felicidade de Veronica se transformaria em enorme tristeza, depressão e dor.

André e Veronica, no início
só felicidade...
UM OLHO EM VERONICA LAKE - André De Toth nasceu na Hungria em 1912 e dirigiu alguns filmes em sua terra natal até o momento em que eclodiu a II Guerra Mundial. Foi então para a Inglaterra onde seus compatriotas irmãos Korda (Alexander e Zoltan) lhe deram trabalho como diretor de segunda unidade nas produções de “O Ladrão de Bagdá” e “Mogli, o Menino Lobo”. Em 1943 De Toth dirigiu seu primeiro filme nos Estados Unidos, intitulado “Passaporte para Suez” seguido de “Ninguém Escapará ao Castigo” e “Águas Tenebrosas”. André De Toth era cego de um olho, o que não o impediu de enxergar a beleza da jovem atriz Veronica Lake, com quem veio a se casar em dezembro de 1944, ele dez anos mais velho que ela e ambos divorciados. De Toth dirigiu Veronica Lake por duas vezes, a primeira em “Fúria Abrasadora”, em 1947 e em “O Furacão da Vida”, em 1949, este último estrelado por Richard Widmark. Quanto mais André De Toth se firmava como diretor admirado pelos tons amargos de seus filmes, mais a estrela de sua esposa se ofuscava. Com a chegada dos anos 50 André descobriu o western tornando-se um dos mais conhecidos diretores do gênero.

SEIS WESTERNS COM RANDY SCOTT - Em 1951 André De Toth se encontrou pela primeira vez com Randolph Scott em “Terra do Inferno” (Man in the Saddle). Seguiram-se “Ouro da Discórdia” (Carson City), também com Randolph Scott; “Renegado Heróico” (Springfield Rifle), com Gary Cooper; “O Sabre e a Flecha” (Last of the Comaches), com Broderick Crawford. Veio então uma série de quatro westerns todos com Randolph Scott como ator principal: “O Pistoleiro” (The Stranger Wore a Gun), “Torrentes de Vingança” (Thunder Over Plains), “Alma de Renegado” (Riding Shotgum) e “Feras Humanas” (The Bounty Hunter), os quatro rodados nos anos de 1953 e 1954. Em 1955 André De Toth dirigiu um de seus melhores westerns que foi “A Um Passo da Morte” (The Indian Fighter), com Kirk Douglas. Demoraria quatro anos para De Toth voltar a dirigir um western, o último de sua carreira e também um dos melhores que foi “Quadrilha Maldita” (Day of the Outlaw), de 1959, com Robert Ryan e Burl Ives num impressionante duelo de grandes interpretações. André De Toth dirigiu um total de onze westerns, alguns bastante bons ainda que nenhum tenha se tornado clássico como “Fúria Abrasadora”, o único estrelado por sua esposa Veronica Lake. Por sinal, em 1952 o casamento entre ambos já havia terminado com o saldo de dois filhos e dois filmes. Em 1953 o diretor húngaro estava casado novamente e desta vez não mais com uma atriz.

Três westerns de André De Toth: Gary Cooper em "Renegado Heróico",
Randolph Scott em "O Pistoleiro",
Jack Lambert e Burl Ives em "Quadrilha Maldita"
André De Toth
FIM DE CARREIRA EM CINECITTÀ - André De Toth é lembrado por ter sido o primeiro diretor a dirigir um filme em 3.ª Dimensão, “Museu de Cera”, com Vincent Price e Charles Bronson. O último bom trabalho de De Toth em Hollywood foi “Contra-Espionagem”, em 1960, estrelado por Ernest Borgnine. Na década de 60 em plena época da “Espada e Sandálias” que precedeu o Spaghetti-western, De Toth foi para a Itália onde dirigiu filmes como “O Rei dos Piratas”, com Steve Reeves; “Os Mongóis”, com Jack Palance; e “Ouro para os Césares”, com Jeffrey Hunter. Depois dessas experiências André De Toth retornou aos Estados Unidos onde passou a lecionar Cinema, coisa da qual ele entendia já que havia passado por todas as áreas de produção, incluída a de escritor.É de sua autoria a história de “O Matador” (The Gunfighter), um dos filmes fundamentais do gênero western. André De Toth faleceu aos 90 anos de idade em 2002.



VERONICA LAKE



Veronica e Joel McCrea
em "Contrastes Humanos"
Quando se casou com André De Toth, Veronica Lake vivia seu grande momento como estrela de cinema. Nascida em 14 de novembro de 1922, no Brooklyn, em Nova York, a família da menina verônica se mudou para a Califórnia onde aos 16 anos ela passou a estudar Arte Dramática e aos 17 anos estreava no cinema. Em 1941, aos 19 anos, Veronica Lake obteve o principal papel feminino em “Contrastes Humanos”, hoje clássica comédia de Preston Sturges, estrelada por Joel McCrea (foto ao lado). No ano seguinte, em 1942 Veronica Lake se encontrou pela primeira vez com Alan Ladd em “Alma Torturada”, policial noir de enorme sucesso. A Paramount percebeu a química perfeita entre Veronica e Alan Ladd, além, é claro do tamanho de ambos, uma vez que Veronica media apenas 1,51m de altura,na medida para contracenar com Ladd. A dupla chamada de “Ladd-Lake” estrelou juntos mais três filmes: “Capitulou Sorrindo”, “A Dália Azul” e “Saigon”. A dupla apareceu também em outros três filmes promocionais da Paramount usando suas próprias identidades.

THE PEEK-A-BOO GIRL - Veronica Lake recebeu o apelido de “The Peek-a-boo Girl” devido ao penteado que lançou com parte de seus longos cabelos louros cobrindo seu olho direito. A moda ‘peek-a-boo’ pegou pra valer e todas as mulheres imitavam o penteado de Veronica Lake, isto num tempo em que os homens estavam quase todos lutando na II Grande Guerra, substituídos nas fábricas pelas mulheres. Se há algo que não combina é máquina e cabelo comprido, ainda mais sobre os olhos, o que fez crescer assustadoramente o número de acidentes. O Pentágono estudou a questão e baixou uma ordem proibindo aquele tipo de penteado nas fábricas. A obediente Paramount, em mais um esforço de guerra proibiu Veronica Lake de usar aquele penteado nos filmes ou fora deles, ecretando o fim da moda ‘peek-a-boo’. Coincidentemente, após mudar o estilo de seu cabelo, os filmes que Veronica fez não tiveram mais a qualidade dos primeiros e ela deixou de ser a grande atração que era à medida que seus trabalhos foram perdendo o brilho inicial. A exceção foi “Casei-me com uma Feiticeira”, em que Veronica foi dirigida pelo francês Renè Clair e no qual ela teve excelente desempenho. Mesmo casada com André De Toth desde 1944, Veronica somente filmaria sob as ordens do marido em 1947 naquele que seria seu melhor do período pós-‘peek-a-boo’-hair, o western “Fúria Abrasadora”. André e Veronica tiveram dois filhos mas as coisas decididamente não andava bem para eles, tanto que o casal solicitou voluntariamente falência na Justiça, tendo a casa em que moravam sido confiscada para pagamento das dívidas do casal com o Imposto de Renda. Em seguida André e Veronica se divorciaram.
André e Veronica em restaurante luxuoso e na Corte de Justiça
Perdida a beleza, Veronica em "Flesh Feast" (à direita)
SAI A BELEZA, ENTRA O ÁLCOOL - Em 1953, aos 31 anos Veronica Lake era uma pálida lembrança da mulher mais imitada dos Estados Unidos. Sua graça e beleza desapareceram e ela não mais encontrou trabalho no cinema, passando a beber e tornando-se alcoólatra, o que ajudu na sua deterioração física. Veronica Lake se casou novamente em 1955 com um compositor chamado Joseph McCarthy, evidentemente apenas um homônimo do nefasto político que perseguiu artistas na Caça às Bruxas. O casamento com McCarthy durou até 1959 e durante esses anos Veronica foi presa por diversas vezes por dirigir embriagada e por conduta imprópria provocando desordens e desacatando policiais. Para sustentar seu vício Veronica teve que trabalhar como garçonete num restaurante de Nova York, tendo o fato sido intensamente noticiado por jornais e revistas. 15 anos depois de seu último trabalho no cinema, foi oferecido um papel a Veronica no filme canadense “Footsteps in the Snow”, em 1966, e que não deu sequência à carreira da atriz. Seu último trabalho no cinema foi em 1970, no filme “Flesh Feast”, cujo enredo falava de um grupo de nazistas que conseguiu encontrar o corpo de Adolf Hitler, pretendendo revivê-lo para mais uma vez tentar conquistar o mundo. Veronica era a atriz principal desse filme que foi devidamente execrado pela crítica e que deve ter ajudado a tornar o fim de Veronica mais próximo.

Lake-Ladd, dupla inesquecível
O MITO VERONICA LAKE - Veronica Lake viria a falecer aos 50 anos de idade, em 7 de julho de 1973, vítima de hepatite e falência renal, o que colocou fim aos mais de 20 anos de sofrimento e esquecimento por parte do mundo cinematográfico. Veronica teve quatro filhos, um casal de seu primeiro casamento (o menino faleceu prematuramente) e outro casal de filhos com André De Toth. Antes de falecer ela escreveu sua autobiografia intitulada “Veronica”. Tão marcante foi a presença de Veronica Lake nas telas que nos anos 80 teve início um processo de reviver sua imagem e personalidade através de músicas, filmes e quadrinhos. Elvis Costello escreveu uma canção intitulada “Veronica”, falando da atriz; o mesmo fez Barry Smolin com a canção “Veronica Lake”. O grupo de rock Hellacopters também gravou uma música intitulada “Veronica Lake”. A personagem ‘Jessica Rabbit’ do filme “Uma Cilada para Roger Rabbit” era uma mescla de Veronica Lake e Rita Hayworth. Kim Bassinger recebeu um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante ao recriar na tela a imagem de Veronica Lake no filme “Los Angeles – Cidade Proibida”. No filme “Manhattan”, Woody Allen diz que vai assistir a um filme de Veronica Lake. Cineastas da importância de Alfred Hitchcock e Billy Wilder colocaram em seus filmes “A Sombra de uma Dúvida” e “A Incrível Suzana”, frases falando de Veronica Lake. As histórias em quadrinhos Picapau e Pernalonga já fizeram menções a Veronica Lake. Curiosamente, Allan Ladd e Veronica Lake faleceram aos 50 anos de idade depois de terem conhecido o sucesso e a fama, insuficientes para lhes trazer a felicidade.



26 de setembro de 2011

FÚRIA ABRASADORA (RAMROD), CLÁSSICO WESTERN NOIR


Nos anos 40 foi criado o gênero cinematográfico denominado filme noir que resultou em obras-primas irretocáveis como “Pacto de Sangue”, “O Terceiro Homem” e “Relíquia Macabra”. E tanto a fórmula de roteiro e diálogo quanto a estética do filme noir influenciaram até mesmo os westerns e os exemplos mais lembrados são “Sangue na Lua” (Blood on the Moon), de Robert Wise, “Sua Única Saída” (Pursued) e “Golpe de Misericórdia” (Colorado Territory), estes dois dirigidos por Raoul Walsh. Menos conhecido mas não menos importante é “Fúria Abrasadora” (Ramrod), também conhecido por “A Abrasadora”, dirigido por André De Toth em 1947, baseado em história original de Luke Short que é ainda o autor da história de “Sangue na Lua”.


Don DeFore e Arleen Whelan
AMBIÇÃO DESMEDIDA - Em “Fúria Abrasadora” Connie Dickason (Veronica Lake) tenciona se casar com Walt Shipley (Ian MacDonald) um criador de ovelhas. Com isso Connie contraria a vontade de seu pai Ben Dickason (Charles Ruggles) pois este quer que a filha se case com o poderoso criador de gado Frank Ivey (Preston Foster). Com medo de Ivey, o acovardado Walt Shipley abandona a região deixando sua propriedade para Connie Dickason que passa a enfrentar Frank Ivey contando para isso com a ajuda do cowboy Dave Nash (Joel McCrea) e de seu amigo Bill Schell (Don DeFore). Connie Dickason é não só uma mulher ambiciosa mas também fria e manipuladora, procurando enredar Schell e Nash conforme seus interesses. A ambição desmedida de Dickason leva à morte alguns homens que para ela trabalham, bem como componentes do bando de Frank Ivey. Ao final Connie fica sozinha pois Dave Nash descobre toda a maldade que domina Connie Dickason. A história de “Fúria Abrasadora” é bastante complexa na melhor linha dos filmes noir, ainda que os personagens sejam bastante bem delineados, quase todos distantes de um caráter exemplar. Ben Dickason, o pai de Connie é repulsivamente interesseiro e sua filha mais ainda, porém dotada de invulgar determinação de enriquecer. Frank Ivey, o barão de gado, é o personagem menos complexo usando seu poder para exercer a dominação completa da região. O xerife Jim Crew (Donald Crisp) é a autoridade imparcial, justa e até mesmo paternal objetivando manter a paz em sua cidade. Dave Nash (McCrea), é um cowboy que procura na bebida esquecer sua vida repleta de desgraças familiares; Bill Schell é um pistoleiro misterioso e amado pela doce costureira Rose Leland (Arleen Whelan), no entanto a amizade entre Nash e Schell é estranha, ambígua, intrigante e acima de tudo leal, a ponto de Schell sacrificar a própria vida pelo amigo. Dave Nash sabe que apenas Rose Leland pode lhe trazer a paz que ele tanto busca. Pairando acima de todos, submetendo-os aos seus desígnios está Connie Dickason, insinuante, pérfida e maligna, mulher cuja única derrota é não conseguir o amor de Dave Nash, o que para ela seria apenas um complemento de sua ilimitada ambição.


Veronica Lake
FASCINANTE MULHER FATAL - Este foi o primeiro western do húngaro André De Toth que passaria a dirigir na década de 50 uma série de faroestes medianos muitos deles estrelados por Randolph Scott e nenhum com a mesma dramaticidade de “Fúria Abrasadora”. Este western e os citados anteriormente neste artigo formam um conjunto de filmes de certa forma responsável pela vertente psicológica que dominaria irreversivelmente o gênero nos anos seguintes. Casado à época com Veronica Lake, De Toth fez um filme para a estrela e surpreendentemente Veronica se sai esplendidamente como Connie Dickason, personagem que em tudo lembra a Phyllis Dietrichson (Barbara Stanwyck) de “Pacto de Sangue”. Connie leva inúmeros homens à morte em sua insidiosa trajetória de realização pessoal. Diferentemente de Barbara Stanwyck, Veronica Lake surge na tela como uma mulher insegura, e frágil, mas à medida que o filme se desenvolve cresce a fúria abrasadora de sua personagem, certamente uma das mulheres mais fascinantes dos faroestes dos anos 40, até porque louras fatais eram encontradas mais facilmente nos filmes noir como ela própria apareceu diversas vezes formando a famosa dupla ‘Ladd-Lake’, com Alan Ladd. As muitas tomadas noturnas acentuam o tom dark de “Fúria Abrasadora” magnificamente fotografado por Russell Harlan e marcado pela música de Adolph Deutsch que foge das trilhas convencionais dos faroestes. Uma curiosidade deste western de André De Toth é ter sido ele produzido por Harry Sherman, nome bastante conhecido dos fãs de faroestes como produtor da série Hopalong Cassidy.

Veronica Lake com Joel McCrea nos braços
lança provocante olhar a Don DeFore;
DeFore e McCrea com Veronica;
Sarah Padden, de camisola, esconde dois
homens do violento Preston Foster
VIOLÊNCIA INCOMUM - “Fúria Abrasadora” tem um inusitado componente de violência raramente visto no gênero western nos anos 40, exemplificado com as cenas em que Don DeFore queima a mão de Ed Burma (Ray Teal) com um charuto, o espancamento de Curley (Nestor Paiva) e o confronto final entre Nash (McCrea) e Ivey (Foster) em que Nash alveja Ivey com uma espingarda de grosso calibre. Por outro lado há uma sequência engraçadíssima em que a semi-despida Sarah Paddden esconde Nash e Schell atrás de uma porta, protegendo-os de Frank Ivey e seus homens. John Ford sempre soube criar momentos cômicos em seus westerns e De Toth usou magnificamente esse expediente num filme intensamente dramático. Além da admirável atuação de Veronica Lake, “Fúria Abrasadora” tem a costumeira e convincente sobriedade de Joel McCrea, um dos maiores e nem sempre reverenciados mocinhos do cinema de todos os tempos. Os veteranos Donald Crisp e Charles Ruggles estão bastante bem, especialmente Ruggles desempenhando um personagem (pusilânime) incomum em sua carreira de tantos pais e avôs simpáticos. Preston Foster, notório vilão, é outro destaque com ótima presença. Quem fica com o mocinho McCrea ao final é Arleen Whelan, bonita e boa atriz de carreira pouco marcante. Muito boa a atuação de Don DeFore, galã que prometia muito nos anos 40, mas que a exemplo de Arleen Whelan não atingiu maior sucesso. O elenco de apoio de “Fúria Abrasadora” é uma festa para o espectador que gosta de reconhecer não só os astros do filme, trazendo Ray Teal, Nestor Paiva, Lloyd Bridges, Ian MacDonald, Trevor Bardette, Jeff Corey, Hal Taliaferro e Lane Bradford, entre outros rostos comuns aos faroestes. “Fúria Abrasadora” é um filme fundamental e certamente admirado pelos fãs dos filmes noir.




25 de setembro de 2011

DOC BARRETTI COMPLETA 89 ANOS


O médico-ginecologista Aulo Barretti é a mais importante
figura do cenário do faroeste brasileiro. Iniciou em
1977 o CAW (confraria dos amigos do western) e assim
reuniu pela primeira vez (em sua casa) os apaixonados por faroestes.
Doc Barretti, como gosto de chamá-lo, nasceu em 25 de setembro de 1922
e completa hoje seu 89.º aniversário, motivo de grande júbilo
para todos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo, privar de
sua amizade e com ele aprender a amar o faroeste. Parabéns, Doc!

PS - O Doutor Aulo Barretti continua sacando e atirando com destreza.

24 de setembro de 2011

CLIFF ROBERTSON INTERPRETANDO ‘SHAME’ CONTRA BATMAN & ROBIN


O Oscar de Cliff Robertson,
duplamente valioso pois
recebido de Gregory Peck
Em 1972 Cliff Robertson declarou que nenhum outro ator havia feito mais filmes ruins que ele. E Cliff até que começou com o pé direito no cinema, onde estreou em “Férias de Amor” (Pic-Nic). Concorrendo com Jack Lemmon, Gig Young, Tony Curtis e Rock Hudson pela vaga de Cary Grant que, em meados dos anos 50, deixava aberta a disputa para substituí-lo como galã charmoso, simpático e engraçado, Cliff Robertson acabou fora dessa corrida justamente pela falta de bons filmes, ao contrário de Rock Hudson e Tony Curtis. Nas poucas boas oportunidades que teve Cliff Robertson mostrou o excelente ator que era, como em “Os Dois Mundos de Charly”, em que interpretando um retardado mental acabou recebendo o Oscar de Melhor Ator de 1968. Em meio a tantos filmes medíocres em que teve que atuar, Cliff Robertson decidiu ele próprio escrever, dirigir e atuar. E fez um filme sobre rodeios intitulado “Rodeio com a Morte” (J.W. Coop) que apesar de elogiado não teve boas bilheterias. Os fãs de westerns certamente se lembrarão de Cliff Robertson em “Sem Lei e Sem Esperança” (The Great Northfield Minnesota Raid), dirigido por Philip Kaufman em 1972, em que Cliff interpretou o bandido Cole Younger ao lado de Robert Duvall que viveu Jesse James. Hoje um western Cult.

Cliff Robertson faleceu no último dia 10 de setembro, um dia depois de completar 88 anos pois nasceu em 9 de setembro de 1923. Foi casado por duas vezes, primeiro com a ex-esposa de Jack Lemmon e seu segundo casamento foi com a atriz Dina Merrill. Em 1971 Cliff Robertson processou David Begelman, presidente da Columbia, por este haver fraudado sua assinatura em um cheque. Begelman perdeu o cargo na Columbia e aparentemente Cliff saiu vitorioso nesse caso, mas a moral podre do mundo cinematográfico falou mais alto e o ator passou a ter dificuldade em encontrar trabalho em outros filmes, mesmo com um Oscar a seu crédito. David Begelman, por sua vez, tornou-se presidente da Metro Goldwyn Mayer. Isto é Hollywood!

Num dos momentos ruins de sua carreira, Cliff Robertson aceitou participar de episódios da série “Batman” que alcançava grande audiência na TV. Justamente ele que nunca havia feito um western teve que interpretar uma paródia do Cavaleiro dos Vales Perdidos do clássico de George Stevens, Shame. A tradução de Shame é ‘vergonha’ e assistindo aos episódios percebe-se que Cliff está pouco à vontade como ‘Shame’, mesmo tendo a companhia de uma linda ‘Okie Anie’, outra brincadeira desta vez com Annie Oakley, lendária atiradora do Velho Oeste. Neste deboche não faltou sequer o garotinho, chamado de ‘Andy’ gritando “Shaaaaame, come back!”. O episódio intitulou-se justamente “Come Back, Shame” e deve ter batido recorde de audiência quando foi ao ar em 30 de novembro de 1966. A volta de Shame, que comanda dois bandidos estúpidos, faz com que o Comissário Gordon convoque a dupla dinâmica para enfrentar Shame, primeiro numa briga no saloon e mais tarde num duelo ao meio-dia. O traiçoeiro Shame não resiste aos pow!, sock!, boff! e splatt! desferidos pelo Homem Morcego e seu amiguinho, o Menino Prodígio, verdadeiros brutos muito piores que os Irmãos Ryker. Batman e Robin prendem Shame, Messy James, Rip Snorting e Okie Anie. Entrega-os ao Chefe O’Hara e a paz volta a reinar em Gotham City sem a presença nefasta de Shame.


Os dois episódios até que são engraçados, mas Cliff Robertson bem que merecia melhor sorte em seus trabalhos. Depois de seu encontro com os personagens criados por Bob Kane, décadas depois eis que Robertson virou um personagem de Stan Lee. Quando Cliff não esperava mais nada de sua carreira, em 2002 surgiu a oportunidade de interpretar o ‘Tio Ben Parker’ em “O Homem Aranha”, papel que repetiu nas duas continuações, a última em 2008, certamente menos engraçado que a paródia de “Shane” e também certamente não muito digna de um ator como Cliff Robertson.

High Noon em Gotham City e Shame duela com a Dupla Dinâmica

23 de setembro de 2011

DOIS ‘HOMBRES MALOS’ DOS FAROESTES: ALFONSO BEDOYA E RODOLFO ACOSTA


Muitos atores mexicanos triunfaram no cinema norte-americano.
Mais que todos Anthony Quinn, seguido de Ricardo Montalbán e
Gilbert Roland. Há porém, na lista dos atores mexicanos que foram
bem aproveitados por Hollywood dois que curiosamente tiveram
carreiras encurtadas por mortes prematuras. Eles são Alfonso Bedoya
e Rodolfo Acosta, ambos bastante conhecidos pelos fãs de faroestes.

DISTINTIVOS FEDORENTOS - Alfonso Bedoya conseguiu seu passaporte para Hollywood com uma frase que se tornou célebre e que o American Film Institute considerou a 36.ª frase mais importante da história do cinema norte-americano: “Ayyy, we don’t need no stinks badges!” (...nós não precisamos de distintivos fedorentos), frase pronunciada pelo bandido mexicano ‘Gold Hat’ respondendo a Humphrey Bogart, a quem depois cortaria o pescoço em “O Tesouro de Sierra Madre”. ‘Gold Hat’ foi interpretado por Alfonso Bedoya, ator mexicano nascido na pequena Vila de Vicam em Sonora, em 16 de abril de 1904. Alfonso contava que sua mãe teve 20 filhos e que aos 14 anos deixou a família pois não havia comida para todos na pobre casa em que morava. De cidade em cidade Alfonso acabou em Houston, no Texas. Nem tudo que Bedoya contava podia ser levado a sério pois ele afirmava, entre outras coisas, ser filho do misterioso B. Traven, autor da história de “O Tesouro de Sierra Madre”. Traven era um escritor de quem pouco se sabia e que teria vivido no México, onde escreveu a famosa história sobre a cobiça filmada por John Huston. Como B. Traven era alemão, olhando bem para Bedoya não se percebe nenhum traço germânico… De retorno ao México o jovem Alfonso passou a trabalhar como ator na prolífica industria de filmes mexicana.

Um dos piores bandidos que Humphrey Bogart enfrentou


TRÊS WESTERNS COM RANDOLPH SCOTT - Quando foi chamado para atuar em “O Tesouro de Sierra Madre”, dirigido por John Huston, Bedoya era já um ator experiente tendo atuado em 56 filmes produzidos em Churubusco, o último deles o clássico “La Perla”, dirigido por Emílio Fernández. Depois de impressionar críticos, público e colegas atores com seu personagem ‘Gold Hat’ em “Sierra Madre” Alfonso Bedoya era sempre lembrado para papéis de bandidos mexicanos, especialmente em westerns, como ocorreu em “Angel in Exile”, de Allan Dwan (1948); “Mosqueteiros do Mal” (Streets of Laredo), com William Holden (1949); “Terra do Inferno” (Man in the Saddle), “O Pistoleiro” (The Stranger Wore a Gun) e “Arizona Violenta”, os três estrelados por Randolph Scott; “A Taberna dos Proscritos” (Border River), com Joel McCrea. Alfonso Bedoya era também requisitado para outros gêneros de filmes como “Mercado Humano” (Border Incident), estrelado por Ricardo Montalbán e dirigido por Anthony Mann; “As Aventuras do Capitão Blood”, com Louis Hayward; “A Rosa Negra”, com Tyrone Power; “Stronghold”, com Veronica Lake; “O Fidalgo da Califórnia” (California Conquest), com Cornel Wilde e Teresa Wright; “Sombrero”, com Ricardo Montalbán e Vittorio Gassman; “Os Piratas Negros”, com Anthony Dexter.

Bedoya em seu último western,
"Da Terra Nascem os Homens"
O VÍCIO DO ÁLCOOL - Em 1956 Alfonso Bedoya deixou Hollywood e voltou para o México onde participou do filme “A Donzela de Pedra”, com Elsa Aguirre. Nessa época Bedoya carregava a fama de ótimo ator e também a de ótimo copo. Há anos ele havia se tornado alcoólatra e o vício começou a deixar suas marcas, destruindo rapidamente seu organismo. Em 1957, quando atuou em “Da Terra Nascem os Homens” (The Big Country), seu último filme, era visível a decadência física de Bedoya que veio a falecer em dezembro de 1957. Bedoya sequer chegou a assistir “Da Terra Nascem os Homens”, que foi lançado em outubro de 1958. Alfonso Bedoya receberia uma tocante homenagem de Alfonso Arau em “Meu Ódio Será Sua Herança” (The Wild Bunch) quando Arau afirmou que sua interpretação era uma cópia do modo de atuar de seu ídolo Alfonso Bedoya. Com sua morte, Alfonso Bedoya, o engraçado bandido mexicano deixou aberta uma vaga no cinema que seria preenchida por Rodolfo Acosta.

RODOLFO ACOSTA

Rodolfo Acosta nasceu em El Chamizal, Chihuahua, parte do México que ainda era disputada por México e Estados Unidos. Quando ainda era pequeno a família Acosta se mudou para a Califórnia. O jovem Rodolfo estudou Arte Dramática na UCLA (Universidade da Califórnia) e com a eclosão da II Guerra Mundial Rodolfo entrou para a Inteligência Naval da Marinha Norte-Americana. Finda a guerra Rodolfo Acosta foi para o México conseguindo trabalho no cinema, estreando como um gângster em “Soy un Prófugo”, comédia de Cantinflas, isto em 1946. Em seguida Acosta fez uma ponta em “Domínio de Bárbaros” (The Fugitive), filmado por John Ford no México, em que mais importante que sua participação foi a amizade que fez com Emílio Fernández que era assistente de direção de Ford no filme. Rodolfo Acosta se achava um perfeito galã com bigodinho a la Robert Taylor e tudo, mas teve que se acostumar com os papéis de vilão que lhe davam um após o outro. Seu amigo Emílio Fernández seria decisivo na carreira de Acosta quando o chamou para interpretar ‘Paco’, um cafetão que explora Marga López no filme “Salón México”, dirigido por El Índio Fernández. Este drama foi um sucesso e chamou a atenção de Budd Boetticher que iniciava as filmagens de “Paixão de Toureiro”, no México, estrelado por Robert Stack e que contou com varios atores mexicanos no elenco, entre eles Rodolfo Acosta. Estava aberto o caminho para mais um ator mexicano no cinema norte-americano.

Rudy Acosta e Elvis Presley
ÍNDIOS E MEXICANOS EM MUITOS WESTERNS - O mesmo Budd Boetticher dirigiu Rodolfo Acosta em “Império do Pavor” (Horizons West), com Robert Ryan, primeiro de uma longa lista de westerns em que Acosta atuaria. Interpretando índios ou mexicanos com igual naturalidade, Rodolfo Acosta pode ser visto nos faroestes “Bandeira da Desordem” (San Antone), com Rod Cameron; “Revolta do Desespero” (Wings of the Hawks), outra vez com Budd Boetticher na direção, estrelado por Van Heflin; “Cidade do Mal” (City of the Badmen), com Dale Robertson e Richard Boone; “Caminhos Ásperos” (Hondo), com John Wayne; “Sob a Lei da Chibata” (Passión), com Cornel Wilde; “Rajadas de Ódio” (Drumbeat), com Alan Ladd; “Escravo do Ouro” (The Broken Star), com Howard Duff; “À Borda da Morte” (The Proud Ones), com Robert Ryan; “Bandido”, com Robert Mitchum; “Vingança no Coração” (Trooper Hook), com Joel McCrea e Barbara Stanwyck; “Apache Warrior”, com Keith Larsen; “Caçada Humana” (From Hell to Texas), com Don Murray. Rodolfo Acosta fecharia essa sua primeira década em Hollywood interpretando um índio em “Estrela de Fogo” (Flaming Star), o bom western de Don Siegel estrelado por Elvis Presley.

Acosta acima em "Rio Conchos" com Richard
Boone, Jim Brown, Edmond O'Brien e Stuart
Whitman; abaixo com El Índio Fernández
O TERRÍVEL BLOODSHIRT - Os anos 60 começariam em grande estilo para Rodolfo Acosta que interpretou um capitán dos Rurales em “A Face Oculta” (One-Eyed Jack), o fascinante western dirigido e interpretado por Marlon Brando. Veio depois “Quadrilha do Inferno” (Posse from Hell), com Audie Murphy; uma ponta em “A Conquista do Oeste” (How the West Was Won); uma aventura com o filho do cão ‘Old Yeller’ chamada “Savage Sam”, com Brian Keith; o chefe apache Bloodshirt no excelente “Rio Conchos”, estrelado por Richard Boone; Acosta se reencontrou com John Wayne em “Os Filhos de Katie Elder” (The Sons of Katie Elder); “Viagem para a Morte” (The Reward), western com o bergmaniano Max Von Sydow; “A Volta dos Sete Magníficos” (Return of the Seven), ao lado de Emílio Fernández e dirigido por Burt Kennedy; “Os Bravos Nunca Morrem” (The Legend of Custer), com Wayne Maunder; “O Pistoleiro Marcado” (Young Billy Young), com Robert Mitchum.

'Vaquero' na série Chaparral
‘VAQUERO’ EM CHAPARRAL - Rodolfo Acosta, ou Rudy Acosta, como muitos o chamavam atuou bastante na TV participando como ator convidado em dezenas de séries. Nas temporadas 1967/68 e 1968/69 de “Chaparral” (The High Chaparral), Acosta tornou-se personagem constante interpretando o mexicano ‘Vaquero’. O western-comédia “Fuga Audaciosa” (Flap), estrelado por Anthony Quinn, apesar de pouco memorável teve algumas peculiaridades como ter sido dirigido por Sir Carol Reed, diretor da obra-prima “O Terceiro Homem” e reunir no elenco Anthony Caruso, Claude Akins e Rodolfo Acosta. Outra lembrança desse filme é como Acosta aparece bastante abatido e magro, sinal que sua doença começava a deixar marcas. O sucesso de “Sete Homens e Um Destino” foi tão grande que gerou diversas sequências, a última delas em 1972, com Lee Van Cleef interpretando o agora Marshal Chris Adams. Rodolfo Acosta interpretou um personagem chamado Juan de Toro e este seria o último filme de Rudy Acosta que passava agora a lutar contra um câncer.

HOMENAGEADO PELOS LATINOS - Rodolfo Acosta viajou para Acapulco com a esposa e cinco filhos para ver sua mãe que ainda vivia. No entanto Acosta precisou retornar às pressas do México devido ao agravamento de seu estado de saúde, sendo internado no Motion Pictures Hospital, em San Fernando, na Califórnia, onde faleceu em 7 de novembro de 1974. Acosta recebeu uma homenagem da fundação dos artistas latinos através das palavras de Ricardo Montalbán. Nesse dia o cinema perdeu um de seus melhores atores característicos, especialmente pelas interpretações como índios de Rodolfo Acosta, diferentes dos estereótipos que os faroestes costumam apresentar. Rudy, aos 54 anos foi se juntar ao outro grande ator mexicano Alfonso Bedoya que ao falecer estava com 53 anos. Sem Bedoya e sem Acosta ficou muito mais fácil para os mocinhos…


Rodolfo Acosta com os mexicanos Katy Jurado e Gilbert Roland