27 de setembro de 2011

ANDRÉ DE TOTH, DIRETOR DE WESTERNS E SUA ESPOSA VERONICA LAKE


Casamentos entre atrizes e diretores de cinema sempre renderam manchetes. Entre os mais importantes da década de 40 estão os matrimônios de Orson Welles e Rita Hayworth (1943-1948) e o de Judy Garland e Vincente Minelli (1945-1951). Ocorreu em Hollywood um outro casamento que foi também bastante noticiado, o enlace de Veronica Lake e André De Toth. De Toth era um quase desconhecido diretor, mas Veronica Lake era uma das atrizes em maior evidência, tanto quanto Rita e Judy, e nenhuma outra ditava a moda entre as mulheres como Veronica. Assim como os outros dois, o casamento de André e Veronica também não durou muito. E assim como aconteceu com Rita e Judy, a felicidade de Veronica se transformaria em enorme tristeza, depressão e dor.

André e Veronica, no início
só felicidade...
UM OLHO EM VERONICA LAKE - André De Toth nasceu na Hungria em 1912 e dirigiu alguns filmes em sua terra natal até o momento em que eclodiu a II Guerra Mundial. Foi então para a Inglaterra onde seus compatriotas irmãos Korda (Alexander e Zoltan) lhe deram trabalho como diretor de segunda unidade nas produções de “O Ladrão de Bagdá” e “Mogli, o Menino Lobo”. Em 1943 De Toth dirigiu seu primeiro filme nos Estados Unidos, intitulado “Passaporte para Suez” seguido de “Ninguém Escapará ao Castigo” e “Águas Tenebrosas”. André De Toth era cego de um olho, o que não o impediu de enxergar a beleza da jovem atriz Veronica Lake, com quem veio a se casar em dezembro de 1944, ele dez anos mais velho que ela e ambos divorciados. De Toth dirigiu Veronica Lake por duas vezes, a primeira em “Fúria Abrasadora”, em 1947 e em “O Furacão da Vida”, em 1949, este último estrelado por Richard Widmark. Quanto mais André De Toth se firmava como diretor admirado pelos tons amargos de seus filmes, mais a estrela de sua esposa se ofuscava. Com a chegada dos anos 50 André descobriu o western tornando-se um dos mais conhecidos diretores do gênero.

SEIS WESTERNS COM RANDY SCOTT - Em 1951 André De Toth se encontrou pela primeira vez com Randolph Scott em “Terra do Inferno” (Man in the Saddle). Seguiram-se “Ouro da Discórdia” (Carson City), também com Randolph Scott; “Renegado Heróico” (Springfield Rifle), com Gary Cooper; “O Sabre e a Flecha” (Last of the Comaches), com Broderick Crawford. Veio então uma série de quatro westerns todos com Randolph Scott como ator principal: “O Pistoleiro” (The Stranger Wore a Gun), “Torrentes de Vingança” (Thunder Over Plains), “Alma de Renegado” (Riding Shotgum) e “Feras Humanas” (The Bounty Hunter), os quatro rodados nos anos de 1953 e 1954. Em 1955 André De Toth dirigiu um de seus melhores westerns que foi “A Um Passo da Morte” (The Indian Fighter), com Kirk Douglas. Demoraria quatro anos para De Toth voltar a dirigir um western, o último de sua carreira e também um dos melhores que foi “Quadrilha Maldita” (Day of the Outlaw), de 1959, com Robert Ryan e Burl Ives num impressionante duelo de grandes interpretações. André De Toth dirigiu um total de onze westerns, alguns bastante bons ainda que nenhum tenha se tornado clássico como “Fúria Abrasadora”, o único estrelado por sua esposa Veronica Lake. Por sinal, em 1952 o casamento entre ambos já havia terminado com o saldo de dois filhos e dois filmes. Em 1953 o diretor húngaro estava casado novamente e desta vez não mais com uma atriz.

Três westerns de André De Toth: Gary Cooper em "Renegado Heróico",
Randolph Scott em "O Pistoleiro",
Jack Lambert e Burl Ives em "Quadrilha Maldita"
André De Toth
FIM DE CARREIRA EM CINECITTÀ - André De Toth é lembrado por ter sido o primeiro diretor a dirigir um filme em 3.ª Dimensão, “Museu de Cera”, com Vincent Price e Charles Bronson. O último bom trabalho de De Toth em Hollywood foi “Contra-Espionagem”, em 1960, estrelado por Ernest Borgnine. Na década de 60 em plena época da “Espada e Sandálias” que precedeu o Spaghetti-western, De Toth foi para a Itália onde dirigiu filmes como “O Rei dos Piratas”, com Steve Reeves; “Os Mongóis”, com Jack Palance; e “Ouro para os Césares”, com Jeffrey Hunter. Depois dessas experiências André De Toth retornou aos Estados Unidos onde passou a lecionar Cinema, coisa da qual ele entendia já que havia passado por todas as áreas de produção, incluída a de escritor.É de sua autoria a história de “O Matador” (The Gunfighter), um dos filmes fundamentais do gênero western. André De Toth faleceu aos 90 anos de idade em 2002.



VERONICA LAKE



Veronica e Joel McCrea
em "Contrastes Humanos"
Quando se casou com André De Toth, Veronica Lake vivia seu grande momento como estrela de cinema. Nascida em 14 de novembro de 1922, no Brooklyn, em Nova York, a família da menina verônica se mudou para a Califórnia onde aos 16 anos ela passou a estudar Arte Dramática e aos 17 anos estreava no cinema. Em 1941, aos 19 anos, Veronica Lake obteve o principal papel feminino em “Contrastes Humanos”, hoje clássica comédia de Preston Sturges, estrelada por Joel McCrea (foto ao lado). No ano seguinte, em 1942 Veronica Lake se encontrou pela primeira vez com Alan Ladd em “Alma Torturada”, policial noir de enorme sucesso. A Paramount percebeu a química perfeita entre Veronica e Alan Ladd, além, é claro do tamanho de ambos, uma vez que Veronica media apenas 1,51m de altura,na medida para contracenar com Ladd. A dupla chamada de “Ladd-Lake” estrelou juntos mais três filmes: “Capitulou Sorrindo”, “A Dália Azul” e “Saigon”. A dupla apareceu também em outros três filmes promocionais da Paramount usando suas próprias identidades.

THE PEEK-A-BOO GIRL - Veronica Lake recebeu o apelido de “The Peek-a-boo Girl” devido ao penteado que lançou com parte de seus longos cabelos louros cobrindo seu olho direito. A moda ‘peek-a-boo’ pegou pra valer e todas as mulheres imitavam o penteado de Veronica Lake, isto num tempo em que os homens estavam quase todos lutando na II Grande Guerra, substituídos nas fábricas pelas mulheres. Se há algo que não combina é máquina e cabelo comprido, ainda mais sobre os olhos, o que fez crescer assustadoramente o número de acidentes. O Pentágono estudou a questão e baixou uma ordem proibindo aquele tipo de penteado nas fábricas. A obediente Paramount, em mais um esforço de guerra proibiu Veronica Lake de usar aquele penteado nos filmes ou fora deles, ecretando o fim da moda ‘peek-a-boo’. Coincidentemente, após mudar o estilo de seu cabelo, os filmes que Veronica fez não tiveram mais a qualidade dos primeiros e ela deixou de ser a grande atração que era à medida que seus trabalhos foram perdendo o brilho inicial. A exceção foi “Casei-me com uma Feiticeira”, em que Veronica foi dirigida pelo francês Renè Clair e no qual ela teve excelente desempenho. Mesmo casada com André De Toth desde 1944, Veronica somente filmaria sob as ordens do marido em 1947 naquele que seria seu melhor do período pós-‘peek-a-boo’-hair, o western “Fúria Abrasadora”. André e Veronica tiveram dois filhos mas as coisas decididamente não andava bem para eles, tanto que o casal solicitou voluntariamente falência na Justiça, tendo a casa em que moravam sido confiscada para pagamento das dívidas do casal com o Imposto de Renda. Em seguida André e Veronica se divorciaram.
André e Veronica em restaurante luxuoso e na Corte de Justiça
Perdida a beleza, Veronica em "Flesh Feast" (à direita)
SAI A BELEZA, ENTRA O ÁLCOOL - Em 1953, aos 31 anos Veronica Lake era uma pálida lembrança da mulher mais imitada dos Estados Unidos. Sua graça e beleza desapareceram e ela não mais encontrou trabalho no cinema, passando a beber e tornando-se alcoólatra, o que ajudu na sua deterioração física. Veronica Lake se casou novamente em 1955 com um compositor chamado Joseph McCarthy, evidentemente apenas um homônimo do nefasto político que perseguiu artistas na Caça às Bruxas. O casamento com McCarthy durou até 1959 e durante esses anos Veronica foi presa por diversas vezes por dirigir embriagada e por conduta imprópria provocando desordens e desacatando policiais. Para sustentar seu vício Veronica teve que trabalhar como garçonete num restaurante de Nova York, tendo o fato sido intensamente noticiado por jornais e revistas. 15 anos depois de seu último trabalho no cinema, foi oferecido um papel a Veronica no filme canadense “Footsteps in the Snow”, em 1966, e que não deu sequência à carreira da atriz. Seu último trabalho no cinema foi em 1970, no filme “Flesh Feast”, cujo enredo falava de um grupo de nazistas que conseguiu encontrar o corpo de Adolf Hitler, pretendendo revivê-lo para mais uma vez tentar conquistar o mundo. Veronica era a atriz principal desse filme que foi devidamente execrado pela crítica e que deve ter ajudado a tornar o fim de Veronica mais próximo.

Lake-Ladd, dupla inesquecível
O MITO VERONICA LAKE - Veronica Lake viria a falecer aos 50 anos de idade, em 7 de julho de 1973, vítima de hepatite e falência renal, o que colocou fim aos mais de 20 anos de sofrimento e esquecimento por parte do mundo cinematográfico. Veronica teve quatro filhos, um casal de seu primeiro casamento (o menino faleceu prematuramente) e outro casal de filhos com André De Toth. Antes de falecer ela escreveu sua autobiografia intitulada “Veronica”. Tão marcante foi a presença de Veronica Lake nas telas que nos anos 80 teve início um processo de reviver sua imagem e personalidade através de músicas, filmes e quadrinhos. Elvis Costello escreveu uma canção intitulada “Veronica”, falando da atriz; o mesmo fez Barry Smolin com a canção “Veronica Lake”. O grupo de rock Hellacopters também gravou uma música intitulada “Veronica Lake”. A personagem ‘Jessica Rabbit’ do filme “Uma Cilada para Roger Rabbit” era uma mescla de Veronica Lake e Rita Hayworth. Kim Bassinger recebeu um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante ao recriar na tela a imagem de Veronica Lake no filme “Los Angeles – Cidade Proibida”. No filme “Manhattan”, Woody Allen diz que vai assistir a um filme de Veronica Lake. Cineastas da importância de Alfred Hitchcock e Billy Wilder colocaram em seus filmes “A Sombra de uma Dúvida” e “A Incrível Suzana”, frases falando de Veronica Lake. As histórias em quadrinhos Picapau e Pernalonga já fizeram menções a Veronica Lake. Curiosamente, Allan Ladd e Veronica Lake faleceram aos 50 anos de idade depois de terem conhecido o sucesso e a fama, insuficientes para lhes trazer a felicidade.



5 comentários:

  1. Não consigo ver tanta beleza em Lake como via em Gail Russel, ambas padecentes do mesmo mal e sofrendo as penas do alcoolismo (prisão, degredo, solidão, falta de oportrunidades de trabalho,etc).
    Incrivel como atores e atrizes que se atiram no vicio etilico se vão cedo demais, haja visto a linda Russel ter nos deixado aos 36 e Lake aos 50! Viveu um pouco mais, no entanto deve ter sofrido as penas do vicio muito mais.
    Lamentável! Duramente lamentável se observar tão lindos rostos e talentos sendo engolidos por este vicio maldito, qua a tantas vidas já destruiu e que ainda muitas exterminará.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  2. Estranho destino

    Além de combinarem na tela, Ladd e Lake tiveram fins trágicos. Nisso também tinham em comum e ambos morreram com 50 anos.

    Andre de Toth foi um grande cineasta, embora de repercussão menor se o compararmos a um John Ford, Cecil B.DeMille ou George Stevens. Contudo, sua parceria nos westerns com Randolph Scott lhe mereceram a notoriedade. Abraços.

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  3. Andre De Toth também filmou em 3D "Feras Humanas", mas nunca teria sido exibido nesse formato. Alguma informação extra sobre o motivo, Darci?
    Apenas como curiosidade, McCartthy personificou o triste período de "Caça às Bruxas", até mesmo como também ficou conhecido: macartismo. Ele denunciava e perseguia pessoas em órgãos do governo, inclusive militares, uma das razões de seu ocaso. Hollywood sofreu em outra comissão investigativa do congresso, sob o comando de outros políticos.
    Um abraço.

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  4. Ivan, acredito que "Feras Humanas" tenha sido lançado em 3D porque alguns posters indicam isso; tenho lembrado sempre que possível da Caça às Bruxas porque foi o fato mais abominável já ocorrido em Hollywood. Sabemos que em regimes totalitários isso sempre ocorreu, mas naquele país que se diz tão democrático. Quer saber, Ivan, Caça às Bruxas existe em todo lugar...

    Jurandir, parece que quase todas as histórias dos nossos artistas têm algo de trágico, não é? Creio que Hollywood era tão podre que só com muita personalidade para sair ileso...

    Filmes Antigos Club - André De Toth tem tido um bom espaço aqui no Cinewesternmania e ainda há muito dele e de seus filmes para se falar.

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  5. Post indicado aos leitores do Grupo de Blogs de Cinema Clássico:
    http://blogsdecinemaclassico.blogspot.com/2011/10/links-da-semana-de-26-de-setembro-2-de.html

    Boa semana!

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