24 de setembro de 2011

CLIFF ROBERTSON INTERPRETANDO ‘SHAME’ CONTRA BATMAN & ROBIN


O Oscar de Cliff Robertson,
duplamente valioso pois
recebido de Gregory Peck
Em 1972 Cliff Robertson declarou que nenhum outro ator havia feito mais filmes ruins que ele. E Cliff até que começou com o pé direito no cinema, onde estreou em “Férias de Amor” (Pic-Nic). Concorrendo com Jack Lemmon, Gig Young, Tony Curtis e Rock Hudson pela vaga de Cary Grant que, em meados dos anos 50, deixava aberta a disputa para substituí-lo como galã charmoso, simpático e engraçado, Cliff Robertson acabou fora dessa corrida justamente pela falta de bons filmes, ao contrário de Rock Hudson e Tony Curtis. Nas poucas boas oportunidades que teve Cliff Robertson mostrou o excelente ator que era, como em “Os Dois Mundos de Charly”, em que interpretando um retardado mental acabou recebendo o Oscar de Melhor Ator de 1968. Em meio a tantos filmes medíocres em que teve que atuar, Cliff Robertson decidiu ele próprio escrever, dirigir e atuar. E fez um filme sobre rodeios intitulado “Rodeio com a Morte” (J.W. Coop) que apesar de elogiado não teve boas bilheterias. Os fãs de westerns certamente se lembrarão de Cliff Robertson em “Sem Lei e Sem Esperança” (The Great Northfield Minnesota Raid), dirigido por Philip Kaufman em 1972, em que Cliff interpretou o bandido Cole Younger ao lado de Robert Duvall que viveu Jesse James. Hoje um western Cult.

Cliff Robertson faleceu no último dia 10 de setembro, um dia depois de completar 88 anos pois nasceu em 9 de setembro de 1923. Foi casado por duas vezes, primeiro com a ex-esposa de Jack Lemmon e seu segundo casamento foi com a atriz Dina Merrill. Em 1971 Cliff Robertson processou David Begelman, presidente da Columbia, por este haver fraudado sua assinatura em um cheque. Begelman perdeu o cargo na Columbia e aparentemente Cliff saiu vitorioso nesse caso, mas a moral podre do mundo cinematográfico falou mais alto e o ator passou a ter dificuldade em encontrar trabalho em outros filmes, mesmo com um Oscar a seu crédito. David Begelman, por sua vez, tornou-se presidente da Metro Goldwyn Mayer. Isto é Hollywood!

Num dos momentos ruins de sua carreira, Cliff Robertson aceitou participar de episódios da série “Batman” que alcançava grande audiência na TV. Justamente ele que nunca havia feito um western teve que interpretar uma paródia do Cavaleiro dos Vales Perdidos do clássico de George Stevens, Shame. A tradução de Shame é ‘vergonha’ e assistindo aos episódios percebe-se que Cliff está pouco à vontade como ‘Shame’, mesmo tendo a companhia de uma linda ‘Okie Anie’, outra brincadeira desta vez com Annie Oakley, lendária atiradora do Velho Oeste. Neste deboche não faltou sequer o garotinho, chamado de ‘Andy’ gritando “Shaaaaame, come back!”. O episódio intitulou-se justamente “Come Back, Shame” e deve ter batido recorde de audiência quando foi ao ar em 30 de novembro de 1966. A volta de Shame, que comanda dois bandidos estúpidos, faz com que o Comissário Gordon convoque a dupla dinâmica para enfrentar Shame, primeiro numa briga no saloon e mais tarde num duelo ao meio-dia. O traiçoeiro Shame não resiste aos pow!, sock!, boff! e splatt! desferidos pelo Homem Morcego e seu amiguinho, o Menino Prodígio, verdadeiros brutos muito piores que os Irmãos Ryker. Batman e Robin prendem Shame, Messy James, Rip Snorting e Okie Anie. Entrega-os ao Chefe O’Hara e a paz volta a reinar em Gotham City sem a presença nefasta de Shame.


Os dois episódios até que são engraçados, mas Cliff Robertson bem que merecia melhor sorte em seus trabalhos. Depois de seu encontro com os personagens criados por Bob Kane, décadas depois eis que Robertson virou um personagem de Stan Lee. Quando Cliff não esperava mais nada de sua carreira, em 2002 surgiu a oportunidade de interpretar o ‘Tio Ben Parker’ em “O Homem Aranha”, papel que repetiu nas duas continuações, a última em 2008, certamente menos engraçado que a paródia de “Shane” e também certamente não muito digna de um ator como Cliff Robertson.

High Noon em Gotham City e Shame duela com a Dupla Dinâmica

9 comentários:

  1. 1 comentários:
    Faroeste disse...
    A vida é, foi e continuará sendo o eterno rosário de injustiças, ingratidões, protecionismo e, sobretudo, lei do mais forte.
    Lamentavelmente Robertson não foi e nem será o ultimo a passar por tais situações. A crueldade e a tirania neste nosso mundo é como uma faca sempre muito afiada em constante sintonia com o mal e diretamente apontada para alguém que incomoda.
    É a lei da vida,a lei dos homens. Claro que dos homens sem caráter, egoistas e despreparados para enfrentar um mundo onde ele "pensa" que o tem sozinho nas mãos e que seu comodismo triunfará sempre sobre todos à sua volta.
    Lamentavelmente é tudo assim. Foi e será sempre assim.
    Nada mudará jamais. A não ser que as cabeças pequenas e infectadas se desconectem do seio de tanta paseudo superioridade.
    E Hollywood é o local certinho para que tais situações nasçam e perdurem.
    Gosto mais de Robertson em O Heroi do Pt 109, e nunca assisti a Sem Lei e Sem Esperança, fita muito comentada e que anda em meus planos ve-la.
    jurandir_lima@bol.com.br

    Setembro 24, 2011 7:33 AM

    Postar um comentário

    ResponderExcluir
  2. Olá, Jurandir. Gostaria também de rever "sem Lei e Sem Esperança". Eu possuía esse filme em VHS selado. Não gostei muito à época e acabei reutilizando a fita gravando outros filmes em cima, coisa meio irracional, mas aconteceu. Não tenho informação se esse western foi lançado em DVD, mas hoje considero obrigatório revê-lo. Lembre-se que o diretor Philip Kaufman é o mesmo que Clint Eastwood despediu em "Josey Wales". Um abraço - Darci

    ResponderExcluir
  3. Sr. Darci
    Primeiramente agradeço por me adicionar ao seu facebook, acabei mandando uma mensagem em seu espaço e não obtive resposta, mas tudo bem.

    Independente disso, admiro muito seu blog que ilustra muitas curiosidades a respeito do Western, e fez mister em lembrar de um grande talento que se foi há poucos dias, Cliff Robertson.

    Só vim a conhecer MESMO seu intenso trabalho na medida que fui amadurecendo meu gosto pelo cinema,e por estranho que seja o primeiro trabalho dele que conheci foi justamente o personagem "Shame" (alusão a Shane, com Alan Ladd) já que quando criança era fã do seriado "Batman". Não posso negar que ele me fez rir muito com aquele personagem, e como sabemos,atuar em comédia é muito mais difícil do que atuar em dramas, e Robertson explorou ao máximo sua veia cômica como ninguém.

    Sei que não era o papel esperado para um ator de tão alto gabarito e sei que ele não gostou, mas seus fãs (e sobretudo os fãs do Homem Morcego) certamente aplaudiram seu desempenho
    Cliff Robertson merece todas nossas reverências e aplausos. Obrigado e me perdoe por qualquer coisa.

    Saudações

    Paulo Néry - Filmes Antigos Club

    ResponderExcluir
  4. Olá, Paulo, bem-vindo ao território do westernmania. Já lhe respondi no Facebook e conheço seu excelente blog. Cliff Robertson merecia melhor sorte no cinema, sem dúvida. Com todo respeito ao seriado 'camp' irreverentemente delicioso que foi Batman, Robertson era capaz de coisas muito melhores. Mas vale lembrar que outros atores famosos também passaram por Gotham City. Rio muito com essa série. Um abraço do Darci

    ResponderExcluir
  5. Não sabia desta participação de Cliff Robertson na série clássica Batman.

    Além dos filmes que você citou, Robertson teve ainda alguns bons papéis como no filme de guerra "Assim Nascem os Heróis" de Robert Aldrich e no suspense "Os Três Dias do Condor" de Sydney Pollack.

    Abraço

    ResponderExcluir
  6. Grande Darci, excelente textualização.
    Fiquei triste pela partida de Cliff Robertson, não sei se ele tem razão no que disse sobre a carreira. Quem será capaz de fazer Shame ou um Tio Ben com tanta simpatia?

    Abraço.

    ResponderExcluir
  7. Olá, Darci, parabéns por WESTERMANIA, que já virou minha mania, claro, como apreciador de cinema e séries também. Recordo poucos filmes sobre política que tenham um texto tão primoroso como a série "West Wing". E recomendo aos amigos "Deadwood", faroeste de 1ª, com roteiros densos, impactantes e ótimo elenco. Como já disseram, ri muito quando criança de Batman e, devo confessar, rio muito mais agora, quando descobri os dois níveis de "leitura" da série, o herói infantil e o humor adulto, destacado por ti, aliás.
    Cliff voltou ao seriado com mais 2 epis.:"The Great Escape" e a continuação "The Great Train Roberry". Solicitou um papel p/ Dina Merrill que fez "Calamity Jan". Ele conta que, mesmo sendo um ator de vários filmes, sua filha, com 5 anos à época, após conhecer Adam West, disse: "Não sabia que você conhecia gente tão importante!" Cliff e seu cowboy covarde deixam saudades. Termino com uma frase de Victor Buono sobre a série: "Batman me permitiu fazer o que todo ator adora, mas não pode: exagerar!"
    Um abraço.

    ResponderExcluir
  8. Olá, Ivan. Não assisti às outras duas participações do Cliff Robertson na série, mas acredito que você possua esses episódios. Já pensou em colocar no YouTube? Seria muito interessante, isto além de poder (re)ver a bela Dina Merrill. Agora cá pra nós, Ivan, o Victor Buono era a mais completa tradução do 'exagero'. Um abraço com asas de morcego.

    ResponderExcluir
  9. Tenho os epis. em inglês no computador, para curtir melhor as interpretações dos atores convidados e ainda em VHS os dublados. Este personagem do Cliff foi criado especialmente para a série, não tem sua origem nos gibis. O roteirista ao criá-lo, pensava em Clint Eastwood para o papel, mas no tom satírico necessário, acho que Cliff foi a escolha mais indicada.
    Está ótimo o teu post sobre o vilão "Calvera" e a história engraçada do sombrero. Pois Eli Wallach também esteve em Batman como um dos três atores que interpretaram "Mr. Freeze".
    Darci, existe no youtube esses epis. com a Dina. Procure com o título em inglês que informei anteriormente.
    Um bat-abraço.

    ResponderExcluir