19 de abril de 2020

EXPIAÇÃO (PANHANDLE) – LESLEY SELANDER COMPROVANDO SUA MAESTRIA


Lesley
Selander e
Blake

Edwards

Lesley Selander dirigiu 133 filmes em sua carreira como diretor iniciada em 1936 e que se encerrou em 1968. Foram dirigidos por Selander praticamente todos os ‘mocinhos’ do cinema, de Buck Jones a Audie Murphy, passando por Hopalong Cassidy, cuja série teve em Lesley Selander um dos mais frequentes diretores. Ao lado de William Witney, Lesley Selander é considerado como o mais importante entre os cineastas que faziam ‘milagres’ com pequenos orçamentos, como é o caso deste “Expiação”, western que recebeu esse título nada funcional aqui no Brasil. O título original ‘Panhandle’ faz menção à formação de áreas territoriais sob o domínio de um homem poderoso e os autores da história e também roteiristas foram John C. Champion e Blake Edwards, dois jovens de respectivamente 22 e 25 anos. Eles ainda juntaram 40 mil dólares de suas economias para produzirem na Allied Artists este western, primeiro trabalho dos dois no cinema. Blake Edwards se tornaria nas décadas seguintes um extraordinariamente bem sucedido diretor, produtor e roteirista. É de Blake Edwards a série de filmes ‘The Pink Panther’, entre muitos outros sucessos, ele que foi casado com Julie Andrews por 41 anos, até sua morte em 2010. John C. Champion continuou produzindo filmes, um deles “O Bandoleiro Temerário” (The Texican), estrelado por Audie Murphy e que, curiosamente, conta a mesma história de “Expiação”.


Rod Cameron
A vingança completa - John Adams (Rod Cameron) é um ex-pistoleiro que decidiu se aposentar e se torna comerciante. Essa nova vida tranquila é alterada com a notícia que seu irmão Billy Sands foi assassinado na cidade de Sentinel que é dominada por Matt Garson (Reed Hadley). Garson comanda seus pistoleiros do seu saloon ‘Last Frontier’ tendo sido ele o assassino de Billy Sands. John Adams conhece Jean ‘ Dusty’ Stewart, ex-namorada de seu irmão. Dusty teve o pai assassinado por Matt Garson e confirma ter sido ele o responsável pela morte de seu então noivo. June O’Carroll (Anne Gwynne) é a secretária de Garson e se enamora de John Adams que também gosta dela. Garson sabe que o intento de Adams é vingar a morte de seu irmão e pacientemente aguarda o momento melhor de liquidar Adams. Porém Floyd Schofield (Blake Edwards), o mais jovem de seus pistoleiros desafia Adams para vencê-lo num duelo e se tornar famoso. Adams enfrenta num duelo a tiros Schofield e os capangas de Garson e os vence, fazendo o mesmo com Matt Garson, consumando sua vingança. Entre as duas moças que o cortejam Adams decide ficar com June o’Carroll.

Blake Edwards
Clichês do jovem roteirista - Muitos espectadores são atraídos pelos títulos dos filmes, até mais que pelos atores e atrizes ou diretores. Certamente “Expiação” não foi uma boa escolha como título, sendo muito melhores o francês “O Justiceiro das Serras”, o italiano “O Plano da Morte” e o espanhol “O Império do Crime”. Porém Rod Cameron era já, com seus quase dois metros de altura e rosto que lembrava muito o de Randolph Scott na integridade, um dos cowboys preferidos do cinema entre aqueles que faziam filmes um pouco mais bem elaborados que os rotineiros das séries como as de Roy Rogers, Rocky Lane e outros. Por trás desse título nacional bizarro e do mocinho canadense que interpretara o inesquecível ‘Rex Bennett’ no seriado “A Adaga de Salomão”, estava Lesley Selander em momento inspirado. O roteiro dos estreantes Champion e Edwards contém alguns clichês como o ‘botão denunciador’ que caíra da roupa de Matt Garson e a clássica história de vingança, desta vez de um irmão (geralmente vingava-se o pai ou a mãe ou ambos). E o noviciado do roteirista Blake Edwards é notório com o personagem que ele próprio interpreta, vaidoso e vestido afetadamente, parecendo mais que Edwards queria brincar de mocinho em um filme. O vilão principal (Matt Garson), para não ficar atrás, esmera-se igualmente nas vestimentas com botas de fazer inveja a Roy Rogers, Rex Allen e Gene Autry.

Cathy Downs
Briga de tirar o fôlego - O roteiro de “Expiação”, à parte esses pequenos senões, prende o interesse do espectador, especialmente quanto à disputa pelo coração de John Adams, disputa surda entre June O’Carroll e Dusty. June mais tarimbada não tem a doçura de Dusty mas é, afinal, a escolhida. John Adams enfrenta, antes do confronto de morte com Garson, uma sucessão de situações perigosas como os duelos a tiros e principalmente uma encarniçada luta de socos contra o fortíssimo capanga Jack (Jeff York). Nessa briga, uma das melhores já vistas em filmes de pequenos orçamentos leva os contendores a praticamente destruir o saloon e só vai terminar na rua com Adams vencendo o oponente. Visivelmente o dublê de Rod Cameron é mais baixo que ele e, depois de uma briga selvagem que dura mais de cinco minutos, John Adams na sequência seguinte não apresenta uma marca sequer no rosto que levou muitos socos do brutamontes Jack. Cochilo de Selander...

Jeff York e o dublê de Rod Cameron

Reed Hadley
Morte antológica na mesa de pôquer - A direção de Selander é admirável em algumas sequências como quando John Adams e June O’Carroll se agarram libidinosamente no chão do quarto, o que não é pouco para um western ‘B’ de 1948. Ou ainda quando o mesmo Adams narra ao deslumbrado Schofield o encontro que teve com Billy the Kid. Sem esquecer dos duelos finais travados sob uma chuva intensa, algo raro em faroestes e, mais que todas as demais boas sequências, a da rodada de pôquer que leva à morte um dos jogadores (Francis Macdonald) que sucumbe deixando sobre a mesa seu ‘full house’ perfurado pelo tiro disparado por Matt Garson. Assistir a tantos excelentes momentos em um western ‘B’ é mais do que compensador. Fazendo de “Expiação” um programa imperdível.

Rod Cameron e Anne Gwynne

Anne Gwynne
Anne Gwynne, doce mulher-fatal - Rod Cameron se impõe pelo tamanho e pelo estilo discreto de atuar. Cathy Downs, a suave Clementine de “Paixão dos Fortes” perde a disputa do amor de John Adams para Anne Gwynne e não poderia ser de outra forma. A linda Anne (do seriado “Flash Gordon Conquista o Universo”) está excelente como uma mulher-fatal que age com firmeza e correção. Reed Hadley, que foi Zorro em seriado da Republic e se dividia entre interpretações e ser narrador com sua bela voz, faz vilão um tanto forçado enquanto Blake Edwards consegue provocar mais risos como um caricato bandido do que temor em John Adams/Rod Cameron que mais parece um gigante perto de Edwards. Jeff York tem boa oportunidade como o capanga corpulento e sai-se bem na espetacular luta contra Cameron (e seu dublê). Ótima fotografia de Harry Neumann com muitas sequências noturnas sem que isso canse o espectador tornando o filme sombrio demais. Rex Dunn responde pelo fundo musical. Esqueça o título e assista a este belo western ‘B’ pois vale a pena!


Rod Cameron

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