Kirk Douglas fazendo malabarismos com seu Colt |
Nos áureos tempos de Hollywood os
grandes astros e estrelas normalmente se recusavam a atuar em produções feitas
para a TV. Mas tudo sempre muda e a televisão acabou sendo uma possibilidade
alternativa de trabalho, por vezes, até mais rentável que o próprio cinema. Lee
Marvin, Rock Hudson, Tony Curtis e tantos outros atores famosos se renderam à
telinha. Afora aparições especiais, Kirk Douglas participou pela primeira vez
de um TV-movie em 1974, protagonizando Dr. Jekyll e Mr. Hyde em uma versão
televisiva da história de Robert Louis Stevenson. Dois anos depois Douglas
atuou em “Vitória em Entebbe”, um TV-movie que foi também exibido nos cinemas
certamente porque no elenco estavam, além de Kirk Douglas, Burt Lancaster,
Elizabeth Taylor, Linda Blair e um ator inglês ainda não tão conhecido de nome
Anthony Hopkins. Para a televisão Douglas faria em seguida “Lembranças de um
Amor”, sobre o holocausto, atuando com seu filho Eric Douglas. E em 1983 a HBO
produziu o western “Draw!” que reuniria mais uma vez Kirk Douglas e Burt
Lancaster. Porém Lancaster adoeceu e foi substituído por James Coburn no filme
(exibido em 1984) que teve o canadense Steve Hilliard Stern como diretor,
western escrito por Stanley Mann. As locações foram feitas em Alberta, no
Canadá e no Brasil esse faroeste recebeu no Brasil o título de “Duelo de
Amigos” isto quando por aqui apareceu em DVD. Circula também uma cópia com o
título “Um Homem para a Forca”.
Kirk Douglas e James Coburn |
O
confronto entre homens lendários - Harry Holland (Kirk Douglas) é um
pistoleiro que tem o apelido de ‘Handsome’ (Bonitão) e que, após cumprir pena
em uma prisão, chega a Bell City. No saloon local Holland participa de uma
rodada de pôquer e com a aposta elevada ele apresenta um Straigth Flush na mão
vencendo Reggie Bell (Derek McGrath), filho do homem mais rico da cidade. Inconformado
por perder Reggie acusa o oponente de trapacear e saca contra Holland que é
mais rápido e o desarma. Tentando reaver a soma perdida Reggie pede ajuda ao
xerife e defrontam-se com Holland que, novamente em legítima defesa, mata o
xerife. Holland é impedido de sair da cidade e permanece num quarto de hotel
mantendo uma atriz Bess (Alexandra Bastedo) como refém. Bess se torna amiga de
Holland e todos em Bell City passam a temer o pistoleiro. O assistente de
xerife Wally Blodgett (Graham Jarvis) e o prefeito sabem que somente Sam
Starrett (James Coburn) é um homem capaz de enfrentar e prender Holland. Wally
então vai ao encontro do decadente Starrett, em uma outra cidade. Starrett, que
faz qualquer coisa por um drinque e ele e Holland são velhos conhecidos. Starrett
aceita a missão pela qual cobra dois mil dólares e chega a Bell City prender ou
mesmo matar Holland. Starrett primeiro conversa com Holland no hotel, ocasião
em que os dois combinam participar de um duelo para resolver a questão. No
confronto Starrett mata Holland e em seguida leva o corpo do pistoleiro para
enterrá-lo em outro local. No caminho, já distante de Bell City, descobre-se
que o duelo não passou de uma farsa com os dois velhos pistoleiros enganando
toda a cidade.
James Coburn e Graham Jarvis |
Duelo
e gargalhadas - A história de “Duelo de Amigos” não deixa de lembrar o
clássico “Galante e Sanguinário” (3:10 to Yuma), de Delmer Daves, baseado em
texto de Elmore Leonard, não falatndo sequer o trem chegando a Bell City para
criar maior suspense. A grande diferença é que “Duelo de Amigos” tem um tom de
western-comédia, o que deixa Kirk Douglas bem à vontade, ele que poucos anos
antes havia feito “Cactus Jack, o Vilão”, outro western-comédia. Douglas
iniciava a decadência de sua carreira nos anos 80 e já havia passado o bastão
para o filho Michael Douglas que fazia muito mais sucesso que ele. O veterano
ator viu com este faroeste uma nova oportunidade de dividir a tela com o amigo
Burt Lancaster, mas isto acabou não acontecendo porque Lancaster adoeceu e
desistiu do filme. O papel do ex-xerife alcoólatra ficou com James Coburn,
menos engraçado mas mantendo a presença física marcante que levou à tela como
‘Pat Garrett’ em 1973 no faroeste de Sam Peckinpah que recontouo a vida de
Billy the Kid. A inovação de “Duelo de amigos” fica por conta da reviravolta
após o esperado duelo em que Douglas leva a pior. Asim como havia ocorrido, deliberadamente,
com ele em “O Último Pôr-do-Sol” (The Last Sunset). Neste western-comédia não
caberia um final com a morte do herói e o filme se encerra mesmo é com debochadas
gargalhadas.
James Coburn; Kirk Douglas |
Kirk Douglas e James Coburn |
Desfazendo
mitos “Duelo de Amigos” tem sua primeira parte sem
provocar maior emoção ou graça, porém tudo muda com a entrada em cena do
personagem de James Coburn. É quando o filme melhora e o confronto maior da
história não é entre quem é mais rápido mas sim a disputa sobre quem foi melhor
e qual deles ainda é o mais rápido no passado. Ambos, porém, tem oportunidade de demonstrar
que ainda são ágeis no saque da arma, até porque Reggie e seus paus-mandados
não são páreos para Holland e Starrett. Eles sabem que já não se faz mais
pistoleiros como nos tempos lendários de Jesse James e outros e igualmente
famosos e não só saboreiam as lendas em torno de seus nomes como se aproveitam
para ganhar dinheiro com isso. É a transição pela qual passou o Velho Oeste e
que levou à mitificação de tantos e tantos homens famosos por saberem sacar e
atirar com destreza. Mas em certo momento não se deixa de lembrar que nem tudo
era verdade e que Billy the Kid, por exemplo, não fazia jus à fama que cercou
seu nome.
Kirk Douglas e James Coburn |
Kirk Douglas e James Coburn |
Mais
um bom TV-movie - Kirk Douglas se diverte e diverte o
espectador enquanto o sisudo James Coburn faz um contraponto quase perfeito. O
quase é porque fica-se a imaginar Burt Lancaster e Kirk trocando sarcasmos como
sempre gostaram de fazer quando atuaram juntos, o que viria a acontecer pela
sexta e última vez em 1986 quando se reuniram em ‘Os Últimos Durões”. Mas
Coburn não decepciona com a boa dose de cinismo que incute em Sam Starrett. Douglas
tem oportunidade de demonstrar, aos quase 70 anos de idade, que estava em excelente
forma física dispensando dublê em boa parte da sequência em que domina os
cavalos de uma diligência em disparada. E
ainda cria o momento de erotismo quando Handsome Harry Holland fazendo
jus ao nome dorme com Bess, a atriz que declama Shakespeare. Ela é Alexandra
Bastedo e poderia ter seu papel dimensionado, o que não acontece. O elenco de
apoio, especialmente Graham Jarvis e Derek McGrath carecem da graça que sobra
na dupla principal. “Duelo de Amigos” é mais um filme que ajudou a desfazer o
preconceito contra os TV-movies. Não chega a ser um western-comédia
inesquecível mas supera a expectativa e merece ser visto.
Kirk Douglas e Alexandra Bastedo |
Faltou aí, Duelo em Diablo Canyon (Duel at Diablo), de 1966. Um grande western com James Garner e Sidney Poitier.
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