O mais
famoso duelo da história do Velho Oeste norte-americano foi aquele travado no
Curral OK às três horas da tarde do dia 26 de outubro de 1881. De um lado, com
distintivos de representantes da lei, estavam três irmãos Earp e Doc Holliday
que enfrentaram o cowboy Billy Clairbone, os irmãos Ike e Billy Clanton e os
também irmãos Tom e Frank McLaury. Dentre os diversos filmes que focalizaram
esse embate, o mais celebrado é “Paixão dos Fortes”, dirigido por John Ford.
Mais celebrado, mas não o mais fiel aos fatos ocorridos naquela tarde em
Tombstone, ainda que John Ford tenha afirmado que filmou exatamente aquilo que
o próprio Wyatt Earp já no fim da vida aos 81 anos, em 1929, lhe havia contado. Uma das principais diferenças entre o
filme e o fato foi a formação do bando que enfrentou a lei, grupo familiar
formado pelos Clantons. Newman Haynes Clanton, chamado como Old Man Clanton é o pai de Ike (Joseph), Billy (William), Phin (Phineas) e Sam. Entre os sete
filhos de Newman Clanton (duas mulheres) não havia nenhum com o nome ‘Sam’, criado para “Paixão
dos Fortes”. Como neste western de John Ford os Clantons roubavam gado, formando uma quadrilha interpretada pelos seguintes atores:
WALTER BRENNAN – Old Man Clanton é o pai irascível e violento com os filhos que
recebem chicotadas por qualquer erro que cometam. Walter Brennan é o mais
premiado coadjuvante do cinema, tendo recebido três prêmios Oscar nos anos
1936, 1938 e 1940 respectivamente por “Meu Filho é Meu Rival”, “Romance do Sul”
e “O Galante Aventureiro” (The Westerner). Neste último Brennan fez uma até
hoje insuperável criação do Juiz Roy Bean. E por pouco o ator não leva para
casa um quarto Oscar por sua participação em “Sargento York”, pelo qual foi
também indicado ao prêmio. Walter Brennan ainda não havia sido dirigido por
John Ford e após a experiência em “Paixão dos Fortes” declarou que jamais
voltaria a trabalhar com Ford, o que realmente aconteceu. Se Brennan não se deu
bem com Ford, o mesmo não aconteceu entre ele e Howard Hawks, com quem trabalhou
em diversos filmes. Para os fãs de westerns o mais importante desses filmes foi “Onde Começa
o Inferno” (Rio Bravo), em que Brennan interpretou de forma inesquecível o desdentado
e aleijado Stumpy. Brennan protagonizou
duas séries de TV: “The Real McCoys” (Vovô McCoy) e “The Guns of Will Sonnett”
(Will Sonnett). Walter Brennan faleceu em 1974, aos 80 anos de idade.
GRANT WHITERS – Ike Clanton, o filho mais velho e no qual o pai mais confia.
Alto (1,91m) e forte, este ator teve oportunidade de se tornar um grande
astro, tendo inclusive se casado com uma das maiores estrelas dos anos 30 e 40,
Loretta Young. O casamento durou apenas um ano e acabou sendo anulado pois
Loretta tinha apenas 17 anos e não obteve a concordância de seus pais para o matrimônio. Entre as quatro esposas de Grant Whiters, a última delas foi a também
atriz Estelita Rodriguez que atuou em diversos filmes de Roy Rogers e ainda em “Onde
Começa o Inferno” (Rio Bravo). A carreira de Grant Whiters, iniciada no
cinema mudo, foi muito prejudicada pelo vício do alcoolismo do ator. Mesmo
assim Whiters atuou em aproximadamente 200 filmes, muitos deles como vilão em pequenos westerns.
Ele é lembrado pelos cinéfilos mais antigos pelos heróis que viveu nos seriados “Guerreiros da Marinha” (1935), “Jim das Selvas” (1936) e “Radio Patrol”
(1937). Grant Whiters voltou a trabalhar com John Ford em “Rio Bravo” (Rio
Grande) e em “O Sol Brilha na Imensidão”. Grant cometeu suicídio em 1959,
quando estava com 55 anos de idade.
JOHN IRELAND – O mulherengo Billy Clanton passa uma noite com
Chihuahua (Linda Darnell) e esse encontro resulta que Wyatt Earp descobre o
assassino de seu irmão James. John Ireland iniciou a carreira de ator na
Broadway, em Nova York. Em 1945 estreou no cinema no filme de guerra “Um
Passeio ao Sol”. Em 1946 fez seu primeiro western que foi exatamente “Paixão
dos Fortes”. Em 1948 John Ireland se defrontou com John Wayne no clássico “Rio
Vermelho”, de Howard Hawks, filme em que conheceu Joanne Dru, com quem se
casou. Ireland foi Bob Ford, o assassino de Jesse James em
“Eu Matei Jesse James”, de Samuel Fuller. Em 1950 atuou em “A Grande Ilusão”,
interpretação que lhe valeu uma indicação para o Oscar. Na década de 50 John
Ireland era presença constante em faroestes, sendo os mais importantes “A Volta
de Jesse James” em protagoniza Jesse James; “O Último Caudilho” onde foi William Quantrill; “A
Lei dos Brutos”, de Roger Corman. Ireland voltou ao tema ‘OK Corral’ em 1957 em
“Sem Lei e Sem Alma”, interpretando Johnny Ringo. Ireland fechou a década como
o gladiador Crixus em
“Spartacus”. Atuou também no épico “A Queda do Império Romano”. Já com a
carreira em declínio Ireland apareceu em diversos spaghetti-westerns. Em 1975
esteve ao lado de Robert Mitchum em “O Último dos Valentões”, remake do
clássico “Farewell, my Lovely”. Quando John Ireland faleceu, em 1992, aos 78
anos, continuava em plena atividade participando de séries na TV.
FRED LIBBY – Phin
Clanton dá a impresão de ser o mais sádico dos filhos do Old Man
Clanton, mas não tem oportunidade no filme de exercitar totalmente seu lado cruel. Ator pouco
conhecido, Fred Libby teve várias oportunidades para que sua carreira
deslanchasse, mas infelizmente nunca conseguiu se sobressair como
ator. Nascido em Hopedale, Massachusets, Fred Libby estreou no cinema dirigido
por John Ford em “Paixão dos Fortes”. Seu próximo filme foi “Caravana de Bravos” (Wagon
Master), o magnífico e pouco conhecido western de Ford sem atores do primeiro
time de Hollywood (os astros mais conhecidos eram os coadjuvantes Ben Johnson, Ward Bond e Harry Carey Jr.). Fred Libby atuou em muitos outros filmes de John Ford como
“O Céu Mandou Alguém”, “Legião Invencível”, “O Preço da Glória” e “Audazes e
Malditos”. Atuou com John Wayne em “No Rastro do Bruxa Vermelha” e “O Lutador
de Kentucky”. Com mais de 1,90 de altura, Fred Libby era sempre chamado para
fazer figurações como guerreiro, guarda ou detetive, raramente conseguindo ter
seu nome nos créditos. Sua última participação no cinema foi como um repórter
em “O Homem de Alcatraz”, estrelado por Burt Lancaster, também sem receber
crédito. Libby faleceu em 1987, aos 82 anos.
MICKEY
SIMPSON – Quase
sempre atrás dos outros irmãos, o grandalhão Sam, teve pouca oportunidade de aparecer e
mostrar sua força em “Paixão dos Fortes”. Charles Henry Simpson nasceu
em Rochester, no Estado de Nova York, filho de pais irlandeses e com o nome de
Charles Henry Simpson. Aos 20 anos media 1,98 e muito forte lutou boxe antes de
ser motorista de Claudette Colbert. Daí até atuar em filmes foi um pequeno
passo. Com o nome de Mickey Simpson fez uma ponta em “No Tempo das Diligências”
(Stagecoach), atuou em “Sangue de Heróis” (Fort Apache) em “Legião Invencível”
(She Wore a Yellow Ribbon) e em “Caravana de Bravos” (Wagon Master), todos
dirigidos pelo Mestre John Ford. Mickey Simpson travou uma violenta e memorável
luta com Rock Hudson na famosa cena de racismo em uma lanchonete no final de “Assim
Caminha a Humanidade” quando Hudson e Liz Taylor estão com os cabelos grisalhos. Simpson participou dos westerns “Sem Lei e Sem Alma” (Gunfight
at the OK Corral), “Minha Vontade é Lei” (Warlock) e “Rio Conchos”. Mickey
Simpson tinha uma certa semelhança com Johnny Weissmuller e atuou em “Tarzan e
a Caçadora” estrelado por Weissmuller. O grandalhão Mickey Simpson faleceu aos
71 anos de idade em 1985.
Os Clantons de "My Darling Clementine": Walter Brennan, Grant Whiters, Mickey Simpson, Fred Libby e John Ireland. |
Interessante saber que o grande Brennan não se deu bem com Ford, apesar que, o difícil é saber se o insuportavelmente genioso e carrancudo diretos se deu bem com alguém um dia, pois sempre que vejo "Uma Cidade Contra o Xerife", tenho a impressão que Brennan está satirizando seu papel no filme de Ford, afinal o papel é muito parecido, claro, que numa pegada humorística, o que poderia ser uma "vingancinha" desse antológico ator. Abraço.
ResponderExcluirRobson
Robson - Sua observação tem fundamento, mas os filhos de Brennan nesse filme não precisavam ser tão idiotizados rsrsrsrs. Lembro de Bruce Dern... Ford era triste mesmo... - Darci
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