1953 foi um excelente ano para o
faroeste pois dois dos melhores filmes do gênero foram lançados nesse ano: “O
Preço de um Homem” (The Naked Spur), de Anthony Mann e “Os Brutos Também Amam”
(Shane). Todos os principais mocinhos do cinema disseram presente com um ou
mais westerns de rotina, como Glenn Ford, Randolph Scott, Joel McCrea, Audie
Murphy, Rory Calhoun, George Montgomery, Guy Madison e claro, o maior de todos,
John Wayne. A exemplo do que ocorreu com Alan Ladd com “Shane”, John Wayne
também interpretou um herói que deu título ao filme que se chamou “Hondo”.
Poster de "Hondo" anunciando o processo 3.ª Dimensão. |
Novos
processos cinemato-gráficos em 1953 - John Wayne já saboreava a fama de
ser o principal mocinho do cinema e o astro de maior bilheteria do cinema
norte-americano. O Duke entrara pela primeira vez para a lista dos dez artistas
mais rentáveis em 1949 aparecendo em 4.º lugar; em 1950 e 1951 foi bicampeão;
em 1952 ficou outra vez em 4.º lugar. Alan Ladd, apesar de ter sido o grande
astro da Paramount na década de 40 nunca teve o gosto de aparecer entre os dez
mais de bilheterias. E no início de 1953 a carreira de Alan Ladd estava em
franco declínio, que culminou inclusive com a mudança de estúdio. “Shane” havia
sido dirigido por George Stevens em 1951, quando Ladd ainda estava preso por
contrato à Paramount. Stevens demorou para editar o filme e a Paramount
retardou seu lançamento reeditando o western que fora filmado no padrão normal
(1:37:1), adaptando-o para o tamanho 1:66:1, chamado de VistaVision, um pouco
mais próximo do processo sensação da época que era o Cinemascope da 20th
Century-Fox (2:66:1). “Shane” só foi lançado em 23/4/1953 (em Nova York).
“Hondo” foi lançado em 25/11/1953, no processo 3.ª Dimensão que já não era mais
exatamente uma novidade, chegando aos cinemas também no sistema normal nas
salas exibidoras não dotadas de aparelhagem para exibir filmes em 3.ª Dimensão.
Uma
obra-prima em cada gênero - O livro “Shane” foi escrito por Jack
Schaefer e lançado em 1949, tendo os direitos adquiridos pela Paramount que
reservou o projeto para George Stevens. O diretor havia anunciado sua intenção
de filmar um faroeste, e quem conhecia bem Stevens sabia de sua pretensão de
filmar uma obra-prima em cada gênero cinematográfico. “Shane” teve nada menos
que 16 roteiros, todos rejeitados por George Stevens, até o diretor ler o
roteiro escrito por A.B. Guthrie Jr., autor premiado com o Prêmio Pulitzer de
1950 por seu livro “The Way West”. Quem indicou Alfred Bertram Guthrie Jr. para
George Stevens foi Howard Hawks para quem Guthrie Jr. havia roteirizado “O Rio
da Aventura”.
Sai
Glenn Ford, entra John Wayne - “Hondo” foi um livro de autoria do
prolífico escritor de histórias sobre o Velho Oeste Louis L’Amour, tendo sua
primeira edição sido lançada em 1952. A produtora Wayne-Fellows se apressou em
adquirir os direitos cinematográficos da história de L’Amour, que foi
transformada em roteiro por James Edward Grant. John Wayne queria Glenn Ford
como ‘Hondo Lane’, o protagonista da história de L’Amour, mas quando Ford soube
que o diretor seria John Farrow, pediu a John Wayne que substituísse o diretor.
Glenn Ford havia atuado sob a direção de Farrow em “Pergaminho Fatídico”
(Plunder in the Sun), também produção da Wayne-Fellows e não gostara do
trabalho do diretor, vetando-o. John Wayne, porém, decidiu prestigiar John
Farrow que era de sua inteira confiança e optou por ele próprio interpretar
‘Hondo Lane’. Quando “Shane” já havia sido lançado obtendo sucesso extraordinário
de público, foram iniciadas as filmagens de “Hondo”, em junho de 1953, em
locações em Camargo, no México. Em novembro o filme já estava nos cinemas. E são tantas as semelhanças entre “Shane” e
“Hondo” que é inegável que o roteiro de “Hondo” buscou aproximar-se ao máximo
do western de George Stevens tentando aproveitar-se da fórmula bem sucedida.
“Shane”
arrasa nas bilheterias - Em 1953 travou-se uma espécie de
batalha surda entre “Shane” e “Hondo” e indiretamente entre Alan Ladd e John
Wayne. O outro western, “O Preço de um Homem”, que poderia incomodar na disputa
como grande faroeste do ano de 1953, foi um fracasso de público apesar das
extraordinárias atuações de James Stewart e Robert Ryan e da qualidade do filme
de Anthony Mann. A disputa ficou mesmo entre “Shane” e “Hondo”, disputa que se
transferiria depois para as indicações para o Oscar, com seis indicações para "Shane" e apenas uma para "Hondo". Os dois filmes tiveram
custos de produção próximos pois “Shane” custara 3,1 milhões de dólares e
“Hondo” custara três milhões de dólares. O filme dirigido por John Farrow teve
bom desempenho nas bilheterias arrecadando respeitáveis 4,2 milhões de dólares.
“Shane” porém fez um estrondoso sucesso, atingindo os nove milhões de dólares
arrecadados quando de seu lançamento nos Estados Unidos. “Shane” foi a terceira
melhor bilheteria norte-americana em 1953, ficando atrás apenas de “O Manto
Sagrado” e de “A Um Passo da Eternidade”. No Brasil “Hondo” receberia o título
de “Caminhos Ásperos”.
Réplica do enfeitado cinturão de Shane sobre um buckskin ocre. |
A
rudeza contra a delicadeza - Há um consenso que em “Shane” Alan
Ladd teve a melhor interpretação de sua carreira, performance nunca mais
repetida por esse ator que parecia sempre inconvincente como cowboy. “Hondo”
marcou a definição da persona de John Wayne como homem do Velho Oeste, imagem
que o Duke aperfeiçoaria e com pequenas variações repetiria em dezenas de
outros westerns. Ao contrário de John Wayne, Alan Ladd transmitia uma
personalidade insegura e frágil, isto até em razão de sua baixa estatura que
era sempre disfarçada com os truques de filmagem. Mas na disputa Shane-Hondo, a
criação de Alan Ladd levou a melhor pois tornou-se parte da história do gênero
e mesmo um dos mais marcantes personagens do cinema norte-americano. E Ladd
levou vantagem mesmo com John Wayne interpretando um tipo rude e profundo
conhecedor dos costumes da vida na fronteira. O buckskin de John Wayne em
“Hondo” parecia sua própria pele, enquanto o famoso traje estilizado para Alan
Ladd em “Shane” nunca deixou de lembrar uma exótica fantasia.
Hondo (John Wayne) 'ensinando' o pequeno Johnny (Lee Aaker) a nadar de uma forma que jamais Shane faria. À direita Shane (Alan Ladd) sob uma chuva torrencial do lado de fora da casa dos Starretts. |
"Hondo" filme que permaneceu fora do mercado exibidor por mais de 40 anos. |
O
caminho áspero do desaparecimento - Escreveu impiedosamente o crítico
Eugênio Bucci: “Alan Ladd dá a impressão
que seria derrubado por John Wayne com uma cusparada”. Mas nem dez Hondos
seriam capazes de vencer o mitológico personagem criado por George Stevens e
interpretado por Alan Ladd. O melancólico, nobre e discreto Shane de Alan Ladd
tornou-se um mito e personagem imortal na história cinematográfica. Após seu
lançamento “Hondo” ficou desaparecido por mais de 40 anos por pendências
jurídicas entre a Wayne-Fellows e a Warnes Bros. Quem não viu o filme no
cinema, assim como ocorreria com o também desaparecido “Sete Homens Sem
Destino” de Budd Boetticher, sabia do mesmo apenas pelos comentários positivos dos
críticos da época. E John Wayne era, de há muito, o mais consagrado astro de
cinema norte-americano de todos os tempos. Posteriormente, com a liberação do
filme, pode-se constatar que “Hondo” é um dos melhores faroestes de John Wayne
entre aqueles não dirigidos por John Ford e Howard Hawks, mas nessa altura
pouco acrescentou à consolidada imagem de John Wayne. Seja pelo sucesso de
bilheteria, seja pela importância do personagem e do filme, “Shane” superou “Hondo”
e Alan Ladd superou John Wayne, pelo menos nessa disputa.
O cowboy Alan Ladd em pose publicitária. |
O
maior campeão de bilheterias - Em 1953 John Wayne seria o terceiro
colocado entre os Top-Ten Money Making Stars da Motion Picture Association of
America, recuperando a primeira colocação em 1954 e eternizando-se entre os dez
mais até 1974, último ano em que fez parte da lista, excetuado o ano de 1958. Foi o ano em
que, por se dedicar à produção de “O Álamo”, John Wayne esteve ausente. Foram
25 anos de presença entre os Top-Ten Money Making Stars, façanha jamais
alcançada por outro astro, nem mesmo por Clint Eastwood cuja carreira
aproxima-se dos 60 anos em atividade contínua. Quanto a Alan Ladd, foi o 4.º
colocado em 1953, quando apareceu pela primeira vez entre os Top-Ten Money
Making Stars, graças aos sucesso de “Shane”; em 1954 Alan Ladd apareceu na 6.ª
posição, desaparecendo depois para sempre da relação dos dez astros de maior
bilheteria do cinema norte-americano. Ladd sumiu, mas “Shane” ficou para sempre.
Outra bela matéria do editor ! Assuntos antigos,mas com novas análises,novas abordagens e interessantes !! Detalhes,às vezes
ResponderExcluirdesconhecidos,foram citados e comentados. Legal !!
Shane! O meu western número um. Eu diria que é um caso de amor com o filme. Para mim tudo é belo. Desde a abertura, ao som da maravilhosa música, da paisagem, da espreita do garoto, dos Rikers, da demonstração de destreza de tiro.... e finalmente do duelo espetacular. Para ver e rever centenas de vezes. O máximo!
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