Os westerns produzidos na Europa
possuem uma legião de admiradores. Pensando neles, muitos livros já foram
escritos procurando ressaltar a importância desses filmes na história do cinema mundial.
Até mesmo Sir Christopher John Frayling, Reitor do Royal College of Art da
Inglaterra escreveu sobre euro-westerns, mais precisamente sobre o Spaghetti
Western. Mas se você quiser ler o melhor trabalho sobre euro-westerns deve ler “Any
Gun Can Play”, de autoria de Kevin Grant. Ao contrário do renomado Christopher
Frayling, Kevin Grant é praticamente um desconhecido, possivelmente inglês,
como Frayling. No entanto, para falar de “Any Gun Can Play”, é preciso abusar de superlativos, tamanha a qualidade dessa obra.
Lee Van Cleef |
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ilustrações - “Any Gun Can Play” tem o aparentemente pretensioso subtítulo
‘The Essential Guide to Euro-Westerns’ e em suas 480 páginas o autor faz um
amplo e completo histórico do gênero que consagrou Sergio Leone. Se algum livro
pode ser chamado de bíblia dos Spaghetti Westerns e dos westerns produzidos na
Europa, esse livro é “Any Gun Can Play” com suas 450 ilustrações, às quais se
somam outras 183 de uma 'Filmografia' em forma de apêndice. Dessas 450 ilustrações, 44 são fotos belíssimas de página
inteira, retratando Franco Nero (três vezes), Lee Van Cleef (quatro vezes),
Giuliano Gema (duas vezes), Clint Eastwood, Burt Reynolds, Frank Wolf, Robert
Hussein, Jean-Louis Trintignant, Tomas Milian, Bret Halsey, George Eastman e Klaus Kinski. Duas atrizes
são destacadas nessas páginas, Linda Veras e Raquel Welch em estupendo colorido que realça suas belezas. O livro apresenta 46 fotos em cores e incontáveis posteres de
filmes, muitos deles também em cores. Duvido que alguém passe por esses
cartazes sem admirar a arte dos desenhistas.
Linda Veras |
Estilo fácil e fluente - Constatado o impressionante conteúdo fotográfico de “Any Gun Can Play” pode-se imaginar que o livro de Kevin Grant seja um volumoso álbum de fotografias. De
fato, o que não falta no livro são fotos de encher os olhos, mas fotos que ilustram
muita informação. Há no livro 50 páginas maciças de texto e centenas de outras páginas
de texto ilustradas por fotos de tamanhos diversos, formando interessante diagramação. E que texto. O que se
pretenda saber é comentado de forma didática, inteligente e com estilo fluente pelo
autor. Kevin Grant dividiu seu livro em oito segmentos, que têm os seguintes
títulos e subtítulos: Tiro ao alvo (O faroeste continental toma forma) – Um tiro dado, um dólar ganho (O euro-western promove uma matança) – Parentes e religião (Rixas fraternas,
padres problemáticos e temas recorrentes) – ‘Deus perdoa..., eu não’ (Filmes
de ódio e vingança) – ‘Não compre
pão, compre dinamite’ (O contexto do
western político) – Cuidado com
armas falsas (Superheroes do
Spaghetti, alter-egos e impostores) – Westerns
híbridos (Influências do Horror,
Humor e Artes Marciais) – Desolação e
reconstrução (Os anos crepusculares
do gênero).
Cartazes de "El Chucho, Quién Sabe" (Gringo / A Bullet for the General) e "Mille Dollari Sul Nero" (Johnny Texas / Blood at Sundown). |
Apêndices
que valem outro livro - “Any Gun Can Play” traz dois apêndices
que nem merecem assim ser chamados de tão completos que são e ambos poderiam ser editados em forma de livro. O primeiro
apêndice, com 47 páginas é composto por 325 mini biografias, 183 delas acompanhadas
de fotos dos biografados. O segundo apêndice, com 38 páginas, é uma filmografia
do euro-westerns, contendo nada menos de 707 westerns produzidos ou filmados na Europa a partir de 1955. As duas
primeiras produções são “El Coyote” e “La Justicia del Coyote”, ambas estreladas por Abel
Salazar e dirigidas por Joaquin Romero Marchent. Os dois últimos filmes
relacionadas nessa filmografia são do ano de 2009: “Doc West” (com Terence Hill
e Ornella Muti) e “Lucky Luke” (com Jean Dujardin). Cada verbete da filmografia
tem o título em Inglês, título original, diretor, produtor, roteirista, diretor
de fotografia, autor da trilha sonora e elenco.
O cangaceiro 'Espedito' (Tomas Milian) em "Viva Cangaceiro", exibido no Brasil como "Rebelião de Brutos". |
Lembrando
Antônio das Mortes - O título "Any Gun Can Play" foi emprestado do spaghetti "Vou, Mato e Volto" (Vado... l'Amazzo e Torno), "Any Gun Can Play" em Inglês e é uma sutil resposta àqueles que insistem em desprezar o subgênero Western-Spaghetti. Qualquer revólver pode disparar, qualquer país pode filmar faroestes. O livro de Kevin Grant é
surpreendente no alcance de informações e até nosso Glauber Rocha é focalizado
na influência do faroeste em seus filmes e na visão político-social dos mesmos.
“Any Gun Can Play” é um trabalho de fôlego que resultou numa obra
imprescindível para quem pretende se familiarizar com os euro-westerns ou mesmo
encontrar análise aprofundada da história desse gênero cinematográfico. Minucioso
sem ser cansativo e abrangente sem ser laudatório, é ainda um livro que dá
enorme prazer de ser folheado pelas fotografias e cartazes escolhidos com
enorme bom gosto. Publicado pela editora inglesa FAB Press e prefaciado por
Franco Nero, “Any Gun Can Play” possui 480 páginas, como já foi dito, no
tamanho 25,5cm x 19,5cm (altura x largura). Essencial em qualquer biblioteca de
fãs de faroestes.
Última capa do livro de Kevin Grant, com foto de Franco Nero, que prefaciou o livro. |
É impossível fugir da verdade e da morte. Um movimento cultural tão intenso, como o do euro-western, jamais poderia ficar confinado só à uma vaga lembrança dos seus fãs mais obstinados, como também não poderia só vir à tona, para receber bordoadas das tradicionais, cambalidas e requentadas críticas, esculpidas no mais puro e cego preconceito.
ResponderExcluirPor que não garimpar algumas cerejas do bolo?
Infelizmente ainda não tenho este livro, mas depois deste post, vou comprá-lo.
A descrição do Darci sobre as ilustrações e fotos, corrobora e chancela o que já observávamos há tempos: a qualidade gráfica das ilustrações e a plasticidade das cenas dos euro-westerns.
Quando garoto eu ficava muitas vezes no portão gradeado do cine Spark(Picos-Pi), "mirando" aqueles cartazes dos próximos filmes, achando o máximo.
Há muita vida também além da trilogia dos dólares.
OBS-"O cangaceiro Tomas Milian em "Viva Cangaceiro". Há um título no Brasil "Rebelião dos Brutos".
Parabéns Darci. Abraços.
Joailton-Caruaru.
Olá, Joailton
ResponderExcluirEsse seu momento nostálgico me lembrou do Cine Olido, na Cinelândia Paulistana no início da década de 60. O Cine Olido estampava um cartaz de "Rocco e Seus Irmãos" há quase um ano, com o anúncio 'breve neste cinema'. Acontece que Sarita Montiel com "La Violetera" juntava filas intermináveis e fazia "Rocco" esperar. Pois quando "La Violetera" saiu finalmente de cartaz o Cine Olido passou a exibir outro filme da atriz espanhola, que igualmente fez muito sucesso. Quando o filme de Visconti foi exibido, muitos menores de idade já haviam atingido os 18 anos, podendo então assistir ao comentado filme italiano.
Obrigado pela correção do título nacional de "Viva Cangaceiro".
Darci
Obrigado Darci, pela indicação literaria. Graças a sua orientação, imediatamente procurei adquirir esse livro; E foi muito facil: pedi da Amazon na quarta/01 e ele chegou as minhas mãos nesta segunda/06. Rapidissímo. Numa primeira olhada, ele é tudo o que você disse e muito mais. Imagens sensacionais, biografias e filmografia de todos euro-westerns. Fantástico.
ResponderExcluirObrigado pela indicação e também pela adição do meu link em seu blog...
Paulo
www.eurowesternnobrasil.blogspot.com.br
Olá, Paulo
ResponderExcluirVocê optou pelo envio rápido. Eu tive que esperar um mês mas valeu à pena, como tentei mostrar na postagem. Parabéns pelo blog.
Darci Fonseca