31 de janeiro de 2013

OS WESTERNS-SPAGHETTI FAVORITOS DE QUENTIN TARANTINO


Quentin Tarantino está de volta com seu “Django Livre” trazendo o faroeste para as telas dos cinemas. O polêmico diretor afirmou diversas vezes em entrevistas que seu western preferido era “Onde Começa o Inferno” (Rio Bravo), mas nos filmes que indicou para a lista decenal da publicação inglesa “Sight & Sound”, em 2012, Tarantino deixou de fora o filme de Howard Hawks. Em lugar de “Rio Bravo” Tarantino colocou “Três Homens em Conflito” (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo), terceiro e último western da ‘Trilogia dos Dólares’ dirigida por Sergio Leone. Quentin Tarantino gosta de atuar também à frente das câmaras e entre seus muitos trabalhos como ator está o personagem Piringo que Tarantino interpretou em “Sukiyaki Django Western”, produção japonesa de 2007. Essa participação é mais uma demonstração dada por Quentin Tarantino de sua admiração pelos faroestes, sejam eles spaghettis ou mesmo sukiyakis-western, admiração reafirmada agora com “Django Livre”.

Mas quais serão os westerns-spaghetti preferidos de Quentin Tarantino? O site Western Spaghetti Database (SWDb) publicou essa lista fornecida por Tarantino ao jornalista Sebastian Haselback, quando ambos se encontraram em Berlim, em 2012. Haselback é o fundador do Western Spaghetti Database, o IMDb dos westerns-spaghetti. Eis a lista de melhores desse gênero feita por Quentin Tarantino:


1.º) Três Homens em Conflito, 1966 - Sergio Leone
2.º) Por uns Dólares a Mais, 1965 - Sergio Leone
3.º) Django, 1966 - Sergio Corbucci
4.º) Os Violentos Vão para o Inferno, 1966 - Sergio Corbucci
5.º) Era uma Vez no Oeste, 1968 - Sergio Leone
6.º) Por um Punhado de Dólares, 1964 - Sergio Leone
7.º) O Dia da Ira, 1967 - Tonino Valerii
8.º) A Morte Anda a Cavalo, 1967 - Giulio Petroni
9.º) Joe, o Pistoleiro Implacável, 1966 - Sergio Corbucci
10.º) O Retorno de Ringo, 1965 - Duccio Tessari


Quentin Tarantino relacionou não apenas dez, mas vinte westerns-spaghetti na sua lista, completada por esta dezena de faroestes:
11.º)  O Dia da Desforra (La Reza dei Conti), 1966 - Sergio Solima
12.º)  Uma Pistola para Ringo (Una Pistola per Ringo), 1966 - Duccio Tessari
13.º)  O Amargo Sabor da Vingança (El Desesperado), 1967 - Franco Rossetti
14.º)  O Grande Silêncio (Il Grande Silenzio), 1968 - Sérgio Corbucci
15.º)  O Grande Duelo (Il Grande Duelo), 1972 - Giancarlo Santi
16.º)  Atire para Matar e Reze pelos Mortos
           (Prega il Morto e Ammazza il Vivo), 1971 - Giuseppe Vari
17.º)  Tepepa (Tepepa), 1968 - Giulio Petroni
18.º)  Bounty Killer, o Pistoleiro Mercenário (La Morte ti Segue... 
           Ma non ha Fretta), 1966 - Eugenio Martin
19.º)  Viva Django! (Preparati la Bara!), 1967 - Ferdinando Baldi
20.º)  O Maldito Dia de Fogo (Quel Caldo Maledetto Giorno di Fucoco),
           1968 - Paolo Bianchini



28 de janeiro de 2013

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE VICTOR MATURE - FORTE, FAMOSO E FELIZ



Jovem e atlético pretendente a ator.
‘Um pedaço de homem’ - Desde o início de sua carreira como ator Victor Mature tornou-se um mito em Hollywood. E por duas razões: visto pelos críticos como péssimo ator e eleito pelas mulheres como o melhor homem de Hollywood. As atrizes faziam de tudo para contracenar com aquele ator moreno, alto e musculoso e praticamente todas elas se tornavam suas amigas íntimas. Victor ganhou logo o apelido ‘The Hunk’, cuja melhor tradução seria ‘Um Pedaço de Homem’. Mas Rita Hayworth, Betty Grable, Lana Turner, Linda Darnell, Hedy Lamar, Susan Hayward, Esther Williams, Jean Simmons e outras que com Victor contracenaram se incumbiram de espalhar a fama do bem dotado ator que, se vivesse no Brasil seria chamado de ‘Pé de Mesa’. E para comprovar, num tempo sem Internet e sem Photoshop, circularam no mercado negro norte-americano fotografias de Victor Mature vendidas a peso de ouro. Eram fotos em que ele aparecia nu e com uma monumental ereção. Esther Williams confirmou de certa forma as histórias que corriam sobre a virilidade de Victor Mature contando, em suas memórias, que em 1952 seu próprio casamento não ia bem quando filmou com Victor Mature. E que durante as filmagens, se tornou sua amante, jamais tendo conhecido outro homem que a satisfizesse tão completamente como Victor.

Victor Mature com Jane Russell, Betty Grable, Gene Tierney, Yvonne De Carlo,
Esther Williams, Colleen Gray e Rita Hayworth.

A famosa sequência da luta com o leão em "Sansão
e Dalila". Na coluna da direita o dublê mais magro,
menor e com peruca diferente; e o leão fazendo pose
para a câmara. Na coluna da esquerda é Victor...
O leão de DeMille – Pessoalmente Victor Mature conquistava a todos, e não apenas as belas mulheres, com seu eterno otimismo, gentileza e sorriso irresistível. Em fotos de publicidade e mesmo em algumas de suas interpretações Victor Mature exibia uma falsa altivez, que de jeito algum fazia parte de sua maneira de ser.  Só se sabe de uma única vez que Victor Mature tenha ficado nervoso em toda sua carreira. Foi quando Cecil B. DeMille queria que ele lutasse com um leão de verdade em “Sansão e Dalila” e o ator se recusou a se arriscar pois era muito precavido contra acidentes. DeMille insistiu dizendo ao ator que o leão era velho e ouviu um “Não!” de Victor. DeMille disse que o leão era manso e domesticado, mas mesmo assim a resposta foi outro “Não!”. DeMille então apelou dizendo que o leão nem possuía mais dentes. Victor Mature encerrou o assunto dizendo ao diretor: “Cecil, você quer que eu seja mascado por esse leão sem dentes até morrer?” Fortíssimo como era, Victor Mature jamais se arriscava sequer a levar um tombo, quanto mais enfrentar um leão à unha. Victor foi substituído por um dublê menor e mais magro e a sequência é quase cômica, com o leão chegando até a fazer pose para a câmara. E um certo crítico chegou a dizer que o leão interpretava melhor que Mature... Excetuadas as belas atrizes com as quais contracenava, quem mais divertia Victor Mature eram os críticos que não perdoavam a técnica (ou falta dela) interpretativa do ator.

Victor Mature com Hedy Lamarr, Jean Simmons, Susan Hayward,
Louise Platt, Carole Landis e Anita Ekberg.

Richard Burton, para quem Victor Mature
ensinou muita coisa na arte de atuar.
‘Prêmio Victor Mature’ - Mature ria dos críticos até porque seu salário era cada vez maior, o que possibilitava que ele passasse mais tempo praticando seu segundo esporte preferido, o golfe. Esse era um esporte de ricos e esnobes como os sócios do Country Club Swak, de Los Angeles, clube que não admitia atores entre seus associados. Ao tentar se associar e ser barrado nesse seleto clube, Victor exibiu um book repleto de fotos de filmes acompanhadas de recortes com críticas negativas referentes às suas atuações. E completou dizendo: “Este book é para comprovar que eu não sou ator e se alguém duvidar pode perguntar a qualquer crítico de cinema...” A publicação ‘Harvard Lampoon’ considerou Victor Mature o pior ator do mundo e instituiu um prêmio anual de Pior Ator cognominando o prêmio como ‘Victor Macture’. Porém não era bem verdade essa história de Victor Mature ser o pior dos atores. Richard Burton, o premiado ator inglês que teve sete indicações ao Oscar, atuou em “O Manto Sagrado” ao lado de Victor Mature e teve outra opinião. Burton contou que pelo que ouvira dizer esperava contracenar com um ator horrível (Mature), alvo constante das piadas e reconhecida reputação como canastrão. Mas a opinião de Burton, mudou inteiramente e o ator inglês afirmou ser “impossível depreciar Victor Mature em termos de técnicas de atuar as quais Victor conhecia bastante; aprendi muito com ele”. Além disso Burton elogiou o permanente bom humor de Victor Mature durante as filmagens. Diretores como John Ford e Henry Hathaway extraíram de Victor Mature atuações bastante convincentes explorando a expressão forte e que, com facilidade, passava a uma profunda e desesperada tristeza. A Victor Mature injustamente atribuíam total falta de expressividade.

Victor Mature como o pai de Sansão.
A mãe de Sansão - Mas nem tudo era perfeito na vida de Victor Mature em relação às mulheres. As famosas atrizes que o levavam para suas alcovas não se conformavam quando eram trocadas por outras e os constantes rompimentos eram invariavelmente rumorosos. Pior ainda os reflexos na vida conjugal de Victor, cujas esposas não suportando as infidelidades noticiadas pelas revistas e jornais pediam divórcio ou mesmo anulação de casamento. Isso levou Victor a ter quatro casamentos, até sossegar ao lado da última esposa, com quem viveu os 25 últimos anos de sua vida, de 1975 a 1994. Mas cá pra nós, como resistir ao assédio de mulheres como Rita Hayward, Jean Simmons, Hedy Lamarr, Susan Hayward, Lana Turner e tantas outras? Ao contrário, porém, de muitos artistas que dissiparam as fortunas que ganharam em extravagâncias, corridas de cavalos, mesa de pôquer ou divórcios, Victor Mature teve sempre uma vida financeira equilibrada. Victor decidiu encerrar a carreira aos 48 anos de idade, em 1961, consciente que seu tempo havia passado e também porque não mais precisava trabalhar. Com os investimentos feitos em imóveis e lojas de varejo, Victor Mature era um homem bem sucedido que escolheu para morar um belo rancho na aprazível localidade de Santa Fé, em San Diego, Califórnia. Um de seus vizinhos e também apaixonado por golfe era o milionário ator-cantor Bing Crosby. Victor Mature deixava momentaneamente a condição de aposentado apenas quando aceitava alguns convites para filmar. Um desses convites foi para interpretar o pai de Sansão, na versão de “Sansão e Dalila” feita para a TV em 1984. Perguntado se não ficaria constrangido em ser o envelhecido pai de Sansão, Victor Mature respondeu: “Pagando bem eu interpreto até mesmo a mãe de Sansão!”

Victor Mature com Lana Turner, Janet Leigh, Karen Steele, Terry Moore,
Peggy Cummings, Diana Dors e Li Hua Li.

Victor Mature lutando com Richard
Widmark em "O Beijo da Morte";
 aterrorizando  Elisha Cook, Jr.
em "Quem Matou Vicky?".
A versatilidade de Victor Mature - Desde seu segundo filme, em 1940, quando interpretou ‘Tumak’ em “Um Milhão de Anos Antes de Cristo”, Victor Mature passou a ser alvo dos implacáveis críticos que disparavam indistintamente contra ele e contra o frágil Alan Ladd. Diferentemente, porém, de Alan Ladd, Mature era extremamente versátil, atuando com a mesma facilidade e desenvoltura em musicais como “A Canção do Havaí”, “Minha Namorada Favorita” (biografia do compositor Paul Dresser) e “A Rainha do Mar”; em policiais ou dramas-noir como “Tensão em Shangai”, “Quem Matou Vicky?”, “O Beijo da Morte”, “Uma Vida Marcada”, “Caminho do Pecado”, “Tenho Sangue em Minhas Mãos” e “Sábado Violento” (este ao lado de Lee Marvin e Ernest Borgnine). Victor Mature se destacou também em filmes de aventuras como “O Corsário Invencível”, “O Príncipe de Bagdá”, “A Morte Espreita na Floresta”, “Carrascos do Mar”, “Zarak”, “Perseguição sem Tréguas”, “Bandido Sanguinário”, “Timbutku”; os filmes de guerra “Bonequinha Chinesa”, “Gloriosa Brigada” e “Sem Tempo para Morrer”; e mesmo em comédias, entre elas “Quero-te meu Amor” (seu quarto filme com Jean Simmons) e seus últimos filmes “Confusões por Todos os Lados”, “Os Monkees estão de Volta” e o impagável “O Fino da Vigarice”.

Victor Mature como Sansão, um dos
maiores  personagens bíblicos do cinema.
Personagens bíblicos - Houve, no entanto, um gênero de filmes que marcou para sempre a carreira de Victor Mature, aqueles em que interpretou personagens bíblicos. Com seu apolíneo porte físico mais que apropriado, Mature se impunha convincentemente nesses papéis. O primeiro deles foi “Sansão e Dalila”, extraordinário sucesso de bilheteria lançado em 1949 e que eternizou Victor Mature junto ao público. Superprodução que custou três milhões de dólares, “Sansão e Dalila” rendeu em seu lançamento, só nos Estados Unidos, 12 milhões de dólares, deixando seu diretor-produtor Cecil B. DeMille muito mais rico. Esse foi o único filme da história do cinema em que o ator tinha mais peito que a atriz principal, a delicada Hedy Lamarr. Victor Mature atuou em seguida em “Andrócles e o Leão”, “O Manto Sagrado” e “Demétrius, o Gladiador” A essa altura Victor Mature já havia passado o cajado para Charlton Heston, que o sucedeu como grande astro de filmes bíblicos. Mas ainda vestindo tanga ou manto e sandálias e com uma larga espada nas mãos, Mature protagonizou “O Egípcio” e “Aníbal, o Conquistador”, este último já na fase final de sua carreira, na Itália. Houve tempo ainda para Victor Mature virar um guerreiro tártaro em “Os Bravos Tártaros”, na esdrúxula companhia de Orson Welles.

Victor Mature e Ward Bond em "Paixão dos Fortes".
Doc Holliday em um grande western - Para os fãs de faroestes, Victor Mature será sempre lembrado como o inesquecível Doc Holliday de “Paixão dos Fortes”, o dentista-pistoleiro-jogador tuberculoso que morre durante o duelo no OK Corral. Na vida real Doc Holliday viria a falecer muitos anos depois do famoso tiroteio, mas isso tem importância menor diante da poética grandiosidade do filme e da lacônica mas ótima interpretação de Victor Mature.  Mesmo ao lado de atores do porte de Henry Fonda, Walter Brennan e Ward Bond, Victor Mature sempre teve essa atuação para desmentir seus debochados críticos. Outros faroestes com Victor Mature foram o muito bom “A Voz da Honra”, “O Grande Guerreiro” e "Missão Audaciosa". Neste último Mature interpreta o chefe sioux Crazy Horse. Quando se fala de Anthony Mann como diretor de faroestes, lembra-se sempre de seus filmes com James Stewart ou de “O Homem do Oeste”, com Gary Cooper. Esse conjunto de filmes de certa forma ofuscou “O Tirano da Fronteira”, rodado em 1955 e que merece uma atenta revisão. Em “O Tirano da Fronteira” Victor Mature interpretou um valente desbravador. Para uma carreira de 55 filmes, cinco westerns estrelados por Victor Mature representa um número pequeno, mas poucos atores podem se orgulhar de haver atuado em uma obra-prima dirigida por John Ford. E mais que isso, recebendo elogios unanimemente por sua atuação.

Westerns com Victor Mature: "Paixão dos Fortes", com Linda Darnell;
"O Grande Guerreiro", com Suzan Ball; "O Tirano da Fronteira", com
Anne Bancroft; "Missão Audaciosa", com Faith Domergue e Elaine Stewart.



Fotos do pequeno Victor Mature; com a
mãe Clara e em foto no teatro.
De afiador de facas a ator - Victor John Mature nasceu no dia 29 de janeiro de 1913, na cidade de Louisville, no Kentucky. Algumas fontes dão como ano de nascimento 1915 ou mesmo 1916, datas essas certamente divulgadas nos releases dos estúdios que sempre buscaram rejuvenescer os artistas. Os pais de Victor eram o imigrante Marcello Gelindo Mature (ítalo-suíço) e Clara Akley, filha de austríacos. O casal teve outros dois filhos que faleceram ainda crianças. Signore Mature era afiador de facas, ofício que chegou a ensinar ao filho Victor. O jovem tentou outras atividades como trabalhar em açougue, vender revistas e ser ascensorista num hotel de Louisville. Victor John Mature chegou a frequentar a Academia Militar do Kentucky, porém aos 22 anos rumou para a Califórnia, matriculando-se no curso de teatro do Pasadena Playhouse, em Pasadena. O jovem Victor subiu ao palco pela primeira vez em 1936 e antes de chegar ao cinema atuou em dezenas de peças. Foi então contratado por Hal Roach, veterano produtor dos filmes de Harold Lloyd e da dupla Stan Laurel & Oliver Hardy. Roach colocou Victor Mature no elenco de “The Housekeeper’s Daughter”, comédia estrelada por Joan Bennett, em 1938. Dois anos depois Victor Mature já era o astro principal de “Um Milhão de Anos Antes de Cristo”, produção de Hal Roach, chamando a atenção do público com seu corpo sólido e bíceps à mostra exibidos pela pouca roupa que usou interpretando o pré-histórico Zamak. Em 1941 Victor Mature fez uma experiência na Broadway na peça “Lady in the Dark” com elenco comandado pela famosa atriz inglesa Gertrude Lawrence. Victor Mature havia se casado em 1938, casamento esse que terminou anulado em 1940.

Acima as quatro primeiras esposas de Victor Mature ;
abaixo seus grandes amores, os cães Genius I e Genius II.
Cinco casamentos e uma filha - De retorno a Hollywood, Victor Mature foi contratado pela 20th Century-Fox e obteve uma série de papéis importantes, três deles como galã de Betty Grable, a maior sensação do cinema no início dos anos 40. Em 1941 Victor Mature se casou pela segunda vez e dois anos depois era novamente o solteirão mais cobiçado de Hollywood, seja pelas mulheres que pretendiam levá-lo ao altar ou simplesmente as que queriam comprovar o que diziam dele numa cama. A carreira de Victor Mature estava destinada ao sucesso quando em 1942 se alistou na Guarda Costeira Norte-Americana, onde passou três como sub-oficial, lutando por sua pátria, parte desse tempo na Normândia. Finda a II Guerra Mundial Victor Mature retornou ao cinema em grande estilo no western “Paixão dos Fortes”. Em 1948 Victor Mature se casou pela terceira vez, num enlace que durou sete anos. Novo casamento ocorreu em 1959, seguido de divórcio dez anos depois, em 1969. Nenhuma das quatro primeiras esposas deu filhos a Victor Mature, que adorava seus cães. E tudo indicava que o ator ficaria casado apenas com seu amado golfe, mas em 1974, aos 61 anos de idade Mature se casou com Loretta G. Sebena, quinta esposa e com quem Victor teve a filha Victoria, nascida em 1975. Victor Mature contraiu leucemia, vindo a falecer em seu rancho, em Santa Fé, em 4 de agosto de 1999, aos 86 anos de idade.

Victor Mature em "O Fino da Vigarice":
acima com Peters Sellers e Lando Buzzanca;
abaixo com o diretor Vittorio De Sica e
Peter Sellers com o megafone.
Tony Powell, uma autoparódia - Injustamente lembrado como um dos grandes canastrões do cinema, Victor Mature possuía certo talento artístico. Poucos atores poderiam atuar com sucesso em tantos gêneros diferentes como fez Victor Mature. E poucos atores também souberam, depois de conquistar a fama, se portar com simplicidade, ser espontaneamente alegre e conquistar a todos com o mais sincero e contagiante sorriso como fazia Victor Mature. Para os tantos e irritadiços ídolos que desprezavam os fãs, Mature costumava dizer: “Caramba, se você é tão preocupado com a privacidade, deveria escolher outra profissão”. Entre tantos filmes feitos por Victor Mature, há um que demonstra bastante bem sua personalidade e foi a comédia “O Fino da Vigarice”, dirigida por Vittorio De Sica. Nela Victor Mature faz uma hilariante autoparódia como um envelhecido galã e mau ator de cinema chamado Tony Powell. Esse personagem poderia ser interpretado por qualquer outro ator que ao findar a efêmera fama se submete a qualquer trabalho. Mas Victor Mature com incrível naturalidade transformou Tony Powell nele mesmo, sorrindo, fazendo rir e agradando ao público. Victor Mature fez mais que isso em sua carreira emocionando os espectadores com o magnetismo de personagens como Sansão e Doc Holliday que se tornaram inesquecíveis e parte da própria história do cinema. Assim como o próprio Victor Mature.





25 de janeiro de 2013

A VOZ DA HONRA (Fury at Furnace Creek), EXCELENTE WESTERN COM VICTOR MATURE



Os tão criticados títulos nacionais são, por vezes, melhores e mais apropriados que os nomes originais de muitos filmes. É o caso de “A Voz da Honra”, título muito mais acertado que o apelativo “Fury at Furnace Creek”, faroeste estrelado por Victor Mature. Dirigido por Bruce Humberstone este western merece ser destacado imediatamente após os clássicos faroestes produzidos em 1948. Esse foi o ano de “Sangue na Lua”, “Rio Vermelho”, “Céu Amarelo” e os dois westerns de John Ford “O Céu Mandou Alguém” e “Sangue de Heróis”. Ano também de “Abutres Humanos”, recém resenhado aqui no WESTERNCINEMANIA. Victor Mature havia deixado muito boa impressão em seu primeiro western que foi “Paixão dos Fortes” no qual interpretou ‘Doc Holliday’ e havia participado do noir “O Beijo da Morte”. Depois desses sucessos a 20th Century-Fox entendeu que seu contratado Victor Mature deveria fazer mais um faroeste e escalou o ator para o menosprezado “A Voz da Honra”.


O General Blackwell no banco dos réus
de uma Corte Marcial.
Sentença de morte - A história original de David Garth não era assim tão original uma vez que foi calcada em “Quatro Homens e uma Prece”, dirigido por John Ford em 1938. Nesse filme os irmãos Richard Greene, George Sanders, David Niven e William Henry tem por objetivo lavar a honra do pai C. Aubrey Smith, oficial britânico acusado de traição. O escritor David Garth reduziu o número de irmãos para apenas dois os quais igualmente devem limpar o nome do pai, o General Fletcher Blackwell (Robert Warwick). Os dois filhos são Cash Blackwell (Victor Mature) e Rufe Blackwell (Glenn Langan). Uma trama engendrada por Edward Leverett (Albert Dekker) faz com que uma falsa ordem militar atribuída ao General Blackwell provoque o massacre do Forte Furnace Creek, sede do 6.º Regimento de Cavalaria. O Capitão Walsh (Reginald Gardiner), comparsa de Leverett na trama cumpre a absurda ordem de deixar o forte e uma caravana de sitiantes desguarnecidos, à sanha dos apaches. O batedor da caravana observa que “Isso não é uma ordem, é uma sentença de morte”. À espreita o chefe apache Little Dog (Jay Silverheels) e seus guerreiros impiedosamente exterminam até o último homem da caravana e queimam o Forte Furnace Creek, não deixando nenhum sobrevivente. O General Blackwell é levado à corte marcial, senta-se no banco dos réus e não suportando as injuriosas acusações falece em pleno tribunal militar. Diante da tragédia a consciência pesada assombra o Capitão Walsh e faz com que ele peça baixa do Exército e se refugie na cidade próxima de Furnace Creek.

Albert Dekker, vilão a quem todos obedecem.
Farsa trágica - Os irmãos Cash e Rufe trilham caminhos diferentes em suas vidas pois Cash e um jogador e pistoleiro, enquanto Rufe é um Capitão do Exército formado em West Point. Ambos, no entanto, têm em comum a meta de trazer à tona os fatos verdadeiros que levaram à humilhação e morte do General Blackwell. Os irmãos, que há seis anos não se viam, chegam anonimamente a Furnace Creek pois descobriram o paradeiro do ex-Capitão Walsh. Os irmãos adotam os nomes fictícios de ‘Tex Cameron’ (Cash) e ‘Sam Gilmore’ (Rufe) e cada um, unilateralmente, quer resgatar a verdade. Edward Leverett é o homem mais poderoso de Furnace Creek, controlando o sindicato dos exploradores de prata da cidade. Para chegar a essa posição Leverett articulou a farsa que culminou com uma ordem de Washington expulsando os apaches da rica região que ele passou a controlar. Cash Blackwell/Tex Cameron infiltra-se na quadrilha de Leverett, ganha a confiança do arrependido Walsh e extermina com o bando de Leverett, não sem antes obter a confissão de Walsh.

O apache Little Dog (Jay Silverheels).
Tratado desrespeitado - O influente crítico Bosley Crowther, do jornal ‘The New York Times’, ao comentar “A Voz da Honra” disse que esse filme “era apenas um mais um faroeste convencional entre os campeões do bem contra os praticantes do mal”. Com sua crítica Crowther relegou “A Voz da Honra” à condição de um rotineiro western ‘B’, mais um entre os 108 faroestes produzidos em 1948 em Hollywood. Essa evidente má vontade com o gênero sempre existiu, mesmo diante de um faroeste com complexo e bem desenvolvido roteiro, boa produção da Fox e ótimo trabalho do elenco. Assim como ocorreu em “Sangue de Heróis”, também produzido em 1948, “A Voz da Honra”, com roteiro de autoria de Charles G. Booth e Winston Miller justifica a selvageria dos índios. Confinados pelo governo norte-americano em Furnace Hills, os apaches vêem o tratado que o próprio governo os obrigou a assinar ser desrespeitado pelo homem branco com a consequente expulsão da tribo do local. Os homens brancos se apropriam daquelas terras após a descoberta de ricos depósitos minerais, entre eles muita prata. Aos apaches só resta lutar por seus direitos diante da cobiça dos invasores das terras onde viviam há séculos. Está certo que depois de “O Caminho do Diabo” de Anthony Mann e “Flechas de Fogo” de Delmer Davis, filmes de 1950, o cinema norte-americano deixou de mostrar os índios como meros selvagens bons apenas depois de mortos, como sentenciou o General Sheridan. Nem esse importante detalhe Bosley Crowther percebeu. Aliás o iminente crítico não percebeu nada em “A Voz da Honra”.

Reginald Gardiner como o Capitão Walsh.
Exemplo de covardia no Velho Oeste - Algumas quadrilhas marcaram fortemente os faroestes e a quadrilha comandada por Leverett (Albert Dekker) é notável como perfeito retrato do poder em uma pequena cidade do Oeste. Laverett é o que se pode chamar de ‘empreendedor inescrupuloso’ cuja perniciosa ação recebe o aval do governo. Leverett alicia o Capitão Walsh (Reginald Gardiner) e provoca a humilhação a um exemplar General que dedicou sua vida à caserna e às batalhas. Esse é o modus operandis do ganancioso Leverett numa cidade em que a Justiça é feita por ele próprio. Um tribunal civil reunido para julgar Rufe Blackwell tem o júri composto por cidadãos aparentemente de bem mas subjugados por Leverett. E o juiz comanda o julgamento para agradar o poderoso Leverett. Não à toa o personagem Peaceful Jones observa: “Chega uma hora na vida em que o homem é meio avestruz”, lembrando daqueles que covardemente fecham os olhos para os mais escabrosos fatos,aceitando-os covardemente. No entanto a peça-chave de “A Voz da Honra” é o ex-Capitão Walsh, que depois de se vender a Leverett é assomado pelos fantasmas dos tantos mortos no massacre do Fort Furnace. Walsh vê na bebida a única saída para afogar seus remorsos. Walsh torna-se um morto-vivo incapaz de um ato de coragem e hombridade com seu silêncio também a serviço de Laverett. Teria o crítico do ‘The New York Times’ dormido durante a projeção de “A Voz da Honra”? Tenho certeza que sim!

O par romântico Colleen Gray e Victor Mature.
Trama complexa e bem conduzida - Bruce Humberstone realizou um ótimo trabalho dirigindo “A Voz da Honra”, provavelmente o melhor filme de sua pouco brilhante carreira. E fica-se a imaginar se nas mãos de um diretor mais inspirado esse faroeste não seria hoje um clássico. Humberstone deu a “A Voz da Honra” um ritmo compassado, com nada menos que duas sequências de tribunais, que normalmente tornariam o faroeste estático. Mas não é o que acontece pois a trama, visivelmente inspirada pelos tão em voga, em 1948, enredos-noir, envolve o espectador. E há um pouco de tudo em “A Voz da Honra”, desde ataque índio, perseguição a cavalo e o climático tiroteio, lembrando ainda a ótima sequência passada no saloon. Nesta sequência o ardiloso Bird (fred Clark), assecla de Leverett, tenta matar o assustado Walsh na mesa de pôquer. Se alguma coisa não funciona bem neste faroeste é o romance entre Cash Blackwell e a mocinha Molly (Colleen Gray). A 20th Century-Fox já havia reunido Victor e Colleen um ano antes, de forma mais convincente, em “O Beijo da Morte”. Entende-se, porém, a necessidade que havia de um par romântico nos filmes para satisfazer o público que sempre queria se enternecer com o amor nas telas.

Peaceful Jones (Charles Kemper) e sua cela móvel.
Acorrentado a uma cela móvel - O elenco de “A Voz da Honra” é magnífico, especialmente pelo grande número de atores característicos que apresenta. Destacam-se Robert Warwick como o general humilhado e Reginald Gardiner como o pária Walsh. Muito bons também Albert Dekker, Fred Clark, George Cleveland e Charles Kemper. O personagem ‘Peaceful Jones’, interpretado por Kemper é impagável e inusitado. Peaceful vive preso por beber e armar confusões, mas Furnace Hills não possui cadeia, o que faz com que o xerife acorrente o simpático beberrão a um pesado tronco de árvore, verdadeira cela ao ar livre. Mas Peaceful é fortíssimo e carrega seu tronco até mesmo para dentro do saloon. Charles Kemper, o inesquecível ‘Uncle Shilloh Clegg’ de “Caravana de Bravos” faleceu aos 49 anos de idade, em 1952, tendo participado de 36 filmes, entre eles o faroeste “Céu Amarelo”. Ainda antes de se imortalizar como ‘Tonto’ na série de TV “The Lone Ranger”, Jay Silverheels é o apache Little Dog, com participação determinante em “A Voz da Honra”. Victor Mature, para muitos um inefável canastrão, comprova mais uma vez com sua boa atuação que foi um ator injustiçado. Talvez mesmo o mais menosprezado de todos os atores. Colleen Gray, que completou 90 anos de idade em 2012 e ainda está viva, tendo pouco destaque em “A Voz da Honra”. Glenn Langan, aposta da Fox como galã nos anos 40, acabou não vingando apesar da bela estampa e também por não demonstrar maior talento.

Momentos de humor com Charles Kemper e sua cela móvel; abaixo à direita
Victor Mature exibe impressionante destreza ao atirar as cartas no chapéu.

Charles Stevens em papel importante - Os fãs de faroestes ‘B’ vão reconhecer entre outros rostos conhecidos os de Mauritz Hugo, George Chesebro, Si Jenks, Kermit Maynard, Guy Wilkerson e muitos mais. Mas o que lava a alma dos fãs é ver na tela o ator Charles Stevens. No cinema desde 1915, tendo atuado em “O Nascimento de uma Nação”, Charles Stevens participou de mais de 200 filmes e seriados, quase sempre interpretando personagens latinos ou índios. Ele é o ‘Indian Joe’ que agita Tombstone em “Paixão dos Fortes”, até levar uma coronhada de Henry Fonda (Wyatt Earp), cena em que mal se vê o rosto de Charles Stevens nessa obra-prima de John Ford. Em “A Voz da Honra” Charles Stevens tem provavelmente o grande papel de sua carreira, aparecendo na tela muito mais que na soma de dezenas e dezenas de filmes nos quais participou. Seu personagem José Artego é quem assassina o ex-Capitão Walsh, perseguindo-o como um rato pelos becos escuros de Furnace Creek e no tiroteio final é morto por Victor Mature.

Charles Stevens finalmente em papel de destaque num faroeste.


Linha ‘B’ da Fox - Com metragem de 88 minutos, em preto e branco, “A Voz da Honra” foi rodado com orçamento reduzido da linha ‘B’ da Fox, o que mais ainda valoriza suas muitas qualidades. A cinematografia coube a Harry Jackson e a insípida música original teve a autoria de David Raksin. Ao diretor musical do estúdio, Alfred Newman, deve-se a inserção de músicas conhecidas como “Bury me not on the lonely prairie” e “Clementine”, curiosamente constantes também das trilhas sonoras de “No Tempo das Diligências” e “Paixão dos Fortes”. Lançado pela 20th Century-Fox em DVD, “A Voz da Honra” é daqueles faroestes que merecem ocupar espaço em qualquer DVDteca de fãs de faroestes.

Victor Mature e o mais desajeitado cinturão do Velho Oeste, mas também com
o mais cativante sorriso que um cowboy pode ter.
Acima Victor Mature e Colleen Gray; abaixo com Glenn Langan.

Lobby-cards de "A Voz da Honra": acima Victor Mature e Glenn Langan;
abaixo Mature com o vilão Albert Dekker.


23 de janeiro de 2013

TOP-TEN WESTERNS DE RAFAEL GALVÃO, UM JOVEM FÃ DE FAROESTES


Rafael Galvão
O gênero western há muito deixou de ter o prestígio que possuiu nas primeiras seis décadas do cinema. O lançamento de um faroeste é um fato cada vez mais inusitado, como acontece agora com “Django Livre”, novo filme de Quentin Tarantino. Engana-se porém quem acredita que não haja jovens cinéfilos fãs de westerns e que conhecem a fundo esse gênero de filmes. Um exemplo disso é Rafael Galvão, que vive em Aracaju, no Sergipe, e que com pouco mais de 40 anos gosta e muito de faroestes. Rafael Galvão elaborou sua lista de Top-Ten Westerns apresentada por WESTERNCINEMANIA, juntamente com pequenos comentários de autoria do próprio Rafael Galvão. O Top-Ten Westerns de Rafael Galvão é publicado em ordem cronológica de ano de produção e, "por nunca ter sido bom em Matemática", conforme ele mesmo confessa, a lista tem onze títulos. Secretário de Comunicação da Prefeitura de Aracaju, Rafael Galvão é um pioneiro na publicação de blog, o que faz desde 2003. Seu blog intitulado ‘Rafael Galvão’, fala de tudo um pouco e até mesmo de faroestes, sempre com inteligência e afiado humor. A seguir o Top-Ten Westerns de Rafael Galvão:


Dime novel contando uma aventura
de Buffalo Bill.
O western é o mais puro gênero cinematográfico. Todos os outros tinham tradições anteriores respeitáveis na literatura ou até mesmo no teatro. Drama, comédia, épico, aventura, romance, ficção-científica. O faroeste, por outro lado, só tinha as dime novels do fim do século XIX, puro lixo literário; quando muito, teve o show de Buffalo Bill. Foi apenas no cinema que o western pôde se realizar completamente, provavelmente porque nesse gênero o cenário é parte fundamental da trama. Só ali, naquele momento histórico e naquele ambiente amplo, o faroeste tem sua razão de ser. E isso só poderia ser mostrado adequadamente no cinema. O western cumpriu um papel importante na história americana. Ajudou o país a mitificar sua própria história, emprestando a ela a tradição que sua trajetória ainda curta lhe negava. Mais de uma pessoa já falou em como os EUA recriaram, na saga da conquista do oeste, as histórias medievais européias de cavaleiros galantes. Em vez de escudo, um chapéu; em vez de espada, um Colt Peacemaker.

No Tempo das Diligências
Stagecoach), 1939 – John Ford
É o início de tudo. Em um tempo em que o western ‘primitivo’ de Tom Mix e depois Roy Rogers tinha entrado em decadência, “Stagecoach” marca a estréia, em sua forma definitiva, de praticamente todos os elementos constitutivos do western como o entendemos. O primeiro grande filme de John Wayne e de John Ford, o primeiro filmado em Monument Valley, e todos os recursos dramáticos que mais tarde seriam usados à exaustão no gênero que chegou a ser o mais popular no mundo inteiro. “Stagecoach” é o marco inicial do faroeste, e isso não é pouco.

Rio Vermelho
(Red River),
1948
Howard Hawks
O faroeste clássico de Hawks, com John Wayne e Montgomery Clift, é um retrato de um fenômeno efêmero da história do oeste: os verdadeiros cowboys originais, tropeiros que levavam gado nos primórdios das ferrovias. É esse o cenário que emoldura uma disputa entre pai e filho, com os mesmos valores, perfeitamente conduzida por Hawks.

Matar ou Morrer
(High Noon), 1952 – Fred Zinnemann
Embora tenha sido concebido como metáfora e denúncia do Macarthismo, o que realmente interessa em “High Noon” é a parábola sobre a coragem e sobre o valor do indivíduo diante da vida. É um faroeste atípico, mas que acaba reforçando os valores intrínsecos do gênero, como o heroísmo diante da adversidade. É também cheio de detalhes sobre o perfil psicológico dos protagonistas, bem ao gosto de Zinnemann.

Os Brutos Também Amam
(Shane), 1953
George Stevens
Tem gente que acha esse o maior western de todos os tempos, como o Paulo perdigão, que antes de morrer até escreveu um livro inteiro sobre ele. Tem gente que não. “Shane” é propositalmente arquetípico e esquemático, narrado através dos olhos de uma criança. É um faroeste definitivo, que consolida as convenções do gênero de maneira singularmente bela.

Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 – John Ford
Quanto mais vejo este filme, mais deslumbrado fico com a maestria absoluta de John Ford. Da sequência inicial, com Dorothy Jordan abrindo a porta – a porta pela qual John Wayne está condenado a jamais entrar, metaforicamente – à última cena, em que outra porta se fecha, o que se tem é provavelmente um dos mais perfeitos westerns feitos em todos os tempos, em que tudo se casa à perfeição: roteiro, fotografia, atuações. É provavelmente, a melhor atuação de John Wayne em toda a sua carreira. É uma obra-prima absoluta.

Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 – Howard Hawks
Concebido como uma resposta direitista a “High Noon”, “Onde Começa o Inferno” é provavelmente o último grande filme de Howard Hawks. Tão bom que ele o refilmaria alguns anos mais tarde como “Eldorado” com Robert Mitchum no lugar de Dean Martin e James Caan no lugar de Ricky Nelson, e com resultados bem inferiores. Um faroeste clássico, com a divisão entre os bons e maus extremamente clara, e uma performance inesquecível de Dean Martin.

Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), 1960 – John Sturges
Refilmagem de um filme de Akira Kurosawa, “Sete Homens e um Destino” definiu um padrão que vários filmes de ação dos anos 60 seguiriam: uma espécie de versão em celulóide do jogo de tabuleiro “resta um”: depois de uma longa preparação, boa parte dos protagonistas morrem na ação final do filme. O modelo foi seguido por filmes como “Os Doze Condenados”, de Robert Aldrich, e “Fugindo do Inferno”, de John Sturges.

O Homem que Matou o Facínora
(The Man Who Shot Liberty Valance)
1962 – John Ford
É o filme que marca o fim do ciclo americano do western. Uma visão mais madura de sua lenda, em retrospecto, e que poderia ser resumida por uma das frases finais do filme: “Entre o fato e a lenda, imprima-se a lenda” (ou algo parecido). É a redenção tranquila da formação da mitologia americana, em um filme absolutamente brilhante e sensível.
Nota do Editor - A frase dita no filme é: "When the legend becomes fact, print the legend". (Quando a lenda se torna um fato, imprima-se a lenda).

Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo), 1966 – Sergio Leone
Depois do esgotamento total nos anos 50, quando praticamente todas as possibilidades criativas do western foram exploradas, coube ao italiano Sergio Leone renovar o gênero com a “Trilogia do Dólar” que este filme encerra. (Os outros filmes são “Por um Punhado de Dólares” e “O Dólar Furado”). Transportando a ação da grandiosidade de Monument Valley para a aridez da região de Almería, na Espanha, o western spaghetti transformou o gênero definitivamente e o levou um pouco mais além, dando-lhe uma sobrevida que seria impossível nos Estados Unidos. De versão americana dos contos de cavaleiros andantes na recriação de sua história, o faroeste passou a ser a visão européia da moral dúbia da vida na fronteira. Leone acrescentou a tudo isso um certo tom operístico que levou o western ao seu último estágio.

Era uma Vez no Oeste
(C’Era una Volta Il West), 1968
Sergio Leone
Mas é em “Era Uma Vez no Oeste” que Leone eleva ao ápice sua visão da conquista do oeste como pedra fundamental da civilização americana – uma visão amorosa, reverente, mas ainda assim extremamente crítica. É um dos poucos westerns a ter como personagem central uma mulher. E a música de Ennio Morricone sedimenta, de maneira inigualável, esta grande “ópera da morte”, como já definiram esse filme.

Os Imperdoáveis
(Unforgiven), 1992 – Clint Eastwood
Foi Eastwood quem retirou o western de sua tumba e conseguiu dar-lhe um último grande filme, sobre velhos pistoleiros cumprindo uma última missão. O tom amargo e niilista do filme não se refere a velhos pistoleiros imperdoados em seus finais de vida; mas a todo um gênero. “Os Imperdoáveis” é um epitáfio adequado a um gênero que nasceu com o cinema e, de certa forma, se tornou maior do que ele.