A obsessão de John Wayne em filmar “O
Álamo” fez com que ele enfrentasse situações que só mesmo um homem com sua
fibra seria capaz de superar. Desde a falta de dinheiro para começar e depois terminar
o épico até as críticas negativas que quase destruíram o filme nas bilheterias,
o que não faltou foram problemas de toda ordem. Alguns episódios da série
‘Histórias do Álamo’, contados aqui no WESTERNCINEMANIA certamente deixaram o
Duke com muito menos cabelo do que sua peruca escondia. Mas a ‘saia justa’ que
John Wayne teve que enfrentar com Laurence Harvey talvez tenha sido a mais
inesperada de todas as situações que o afligiram durante a tumultuada produção
do filme de seus sonhos.
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No alto Hermione Baddeley e Margaret Leighton; abaixo Joan Perry e Paulene Stone. |
As
esposas de Laurence Harvey - O lituano Laurence Harvey quando
ainda era um jovem pretendente a ator viveu maritalmente por alguns anos com a
atriz Hermione Baddeley. O detalhe curioso nesse relacionamento é que a atriz
tinha mais que o dobro da idade de Laurence. Ele nascera em 1928 e ela em 1906.
Para valer mesmo Laurence Harvey se casou por três vezes. A primeira delas com
a atriz Margaret Leighton, seis anos mais velha que Laurence, casamento que
durou quatro anos, de 1957 a 1961. Em 1968 Laurence se casou com Joan Perry
(Cohn), a riquíssima viúva de Harry Cohn, o magnata da Columbia Pictures. Joan
era 17 anos mais velha que Laurence e o casamento também durou quatro anos,
terminando em 1972. Nesse mesmo ano em que se divorciou de Joan Perry, Laurence
se casou novamente. Desta vez com alguém mais jovem que ele, a bela modelo
Paulene Stone, com quem teve a filha Domino Harvey. Essa filha de Harvey
ficaria famosa como uma moderna caçadora de bandidos cuja vida virou até
filme (“Dominó – A Caçadora de Recompensas”). Porém durante todos esses anos de
casamentos com mulheres, Laurence Harvey nunca abandonou o relacionamento homossexual
com seu agente James Wolf. O mundo do cinema sabia da bissexualidade de
Laurence Harvey, mas como ocorria com tantos outros atores, ninguém tocava no
assunto.
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Acima pose de Joan Perry sozinha e nos tempos em que era mocinha de Charles Starrett; abaixo à esquerda Harvey com Margaret Leighton; à direita o ator com sua última e bela esposa Paulene Stone. |
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Coronel Travis (Laurence Harvey) e Coronel Davy Crockett (John Wayne), em cena de "O Álamo". |
Admiração
por Laurence Harvey - John Wayne, por seu lado, era o mais
bem acabado exemplo do macho norte-americano, imagem reforçada pelos
personagens que interpretava, todos muito parecidos com ele próprio. Nas
locações de “O Álamo”, em Brackettville, foram muito notadas e comentadas a
recíproca e nunca disfarçada antipatia entre John Wayne e Richard Widmark assim como a amizade
desenvolvida entre Duke e Laurence Harvey. O esnobe ator que fizera carreira na
Inglaterra conquistou a admiração de John Wayne. Essa admiração era de certa
forma bastante estranha pois Laurence Harvey sempre esteve entre os atores mais
antipáticos do cinema, raramente recebendo um elogio de colegas, especialmente
das atrizes que o detestavam. O que despertou a admiração de John Wayne por
Laurence Harvey em “O Álamo” foi o profissionalismo do ator lituano. Essa admiração
é bem exemplificada na bastante divulgada cena em que a roda de um pesado
canhão desliza sobre o pé de Harvey sem que este demonstrasse a dor que sentia
para não estragar a tomada. Sabe-se lá como Harvey entendeu a admiração do Duke
pois certo dia Laurence Harvey decidiu ter uma conversa estranha com John
Wayne.
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Duke e Harvey |
Uma
‘cantada’ em Brackteville - Segundo contam os autores Randy Roberts
e James S. Olson na biografia “John Wayne American”, Laurence Harvey andava
atrás de John Wayne o tempo todo durante as filmagens de “O Álamo”. Todos no
set percebiam que Harvey estava tomado por forte atração pelo
ator-produtor-diretor. Certa ocasião Harvey acreditou que o clima era propício
para uma conversa mais íntima e disse a John Wayne que queria passar uma noite
inteira com ele. Segundo os autores do referido livro, Harvey falou assim: “Por
favor, Duke. Esta noite. Somente uma vez. Eu serei a rainha e você será o rei”.
A proposta, claro, irritou profundamente John Wayne que passou a evitar
Laurence Harvey, apenas não o despedindo do filme porque àquela altura isso
significaria um enorme prejuízo e mais publicidade negativa para seu filme. A
nota explicativa dos autores de “John Wayne American” indica que o próprio John
Wayne teria contado essa história a seu amigo Joe De Franco e este recontou a
história em uma entrevista.
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No set em Brackettville Harvey mostra sua filmadora para John Wayne; o diretor Wayne ajuda Laurence Harvey antes de uma cena; nas fotos abaixo, anos depois de "O Álamo" os dois amigos se reencontraram algumas vezes. |
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Laurence Harvey |
A
ousadia do lituano - Como Laurence Harvey era sabidamente
bissexual, a história contada por Joe De Franco pode até ter ocorrido de
verdade. Porém o mais surpreendente teria sido a ousadia do ator lituano criado
na África do Sul. Laurence Harvey faleceu aos 45 anos de idade, em 1973,
vitimado por um câncer no estômago, ele que nunca se livrou do tabagismo e do
alcoolismo. Se o atrevimento de Laurence Harvey aconteceu mesmo, pode ser atribuído ao fato de ele ter exagerado nos copos de vinho que tomava. Quando
chegou a Brackettville, causou espanto a quantidade de caixas de vinhos que
Laurence Harvey trouxe na bagagem, não deixando nenhuma dúvida que ele era
muito bom de copo. E John Wayne, que durante sua vida enfrentou críticos e a
esquerda liberal que o combatia, tornou-se um dos nomes verdadeiramente
imortais do cinema. Pensando bem, com a personalidade que John Wayne possuía, Laurence
Harvey foi um probleminha que o Duke contornou com facilidade.
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