Um dos mais importantes acontecimentos
de 1897 foi a luta de boxe em disputa do título mundial dos pesos pesados entre
Jim Corbett e Bob Fitzsimmons (vistos na foto à direita). A contenda teve lugar na cidade de Carson City,
Nevada, atraindo centenas de espectadores que pagaram caro para assistir à luta
que rendeu 22 mil dólares aos seus promotores. Os roteiristas George W. George
e George G. Slavin escreveram uma história ficcional que tem por cenário a
Carson City da época da lendária refrega contando ainda com a presença de
bandos de foras-da-lei. Estes querem se apoderar da arrecadação do evento,
criando uma disputa paralela. Essa luta teve, como fato real, uma curiosidade que
foi a contratação de pistoleiros para proteger os lutadores e seus staffs,
constando que até mesmo o célebre Wyatt Earp esteve em um dos corners durante o
transcorrer da luta. Certamente isso motivou os autores a escrever uma versão
do evento, adicionando personagens e fazendo com que o local onde o dinheiro
das bilheterias foi reunido fosse assaltado, pouco se diferenciando de um roubo
a banco. A produção da 20th Century-Fox foi bem cuidada na parte técnica deste
western que, com metragem maior, roteiro menos confuso e atores de maior renome
à época poderia ter sido produzido como faroeste classe A.
O
assalto à luta do século - Brett Stanton (Dale Robertson)
chefia um bando que vai a Carson City com o intuito de roubar a arrecadação da
luta entre Bob Fitzsimmons e Jim Corbett. Outros bandidos fazem o mesmo, entre
eles o conhecido John Ringo (Richard Boone). Os homens da lei da cidade
percebem-se impotentes diante de tantos malfeitores que se misturam aos
milhares de forasteiros que invadem Carson City para o evento e decidem aliciar
Stanton para que este impeça qualquer ação dos bandidos. Brett Stanton deixou
Carson City há seis anos, deixando ainda sua namorada Linda Culligan (Jeanne
Crain) o esperando. Linda agora está noiva de Jim London (Whitfield Connor), um
dos promotores da disputa pelo título. O bando de Stanton o pressiona para que
pratique o roubo combinado, mas Stanton permanece ao lado da lei, mata John
Ringo, ficando com Linda Culligan. Nas fotos ao lado Dale Robertson e Richard Boone; Gil Perkins e John Daheim como os boxeurs Fitzsimmons e Corbett.
Dale Robertson e Jeanne Crain |
Um
homem disputado - “Cidade do Mal” é excessivamente dialogado
em sua primeira metade, mesmo não sendo um filme com profundidade psicológica.
Com a aproximação do dia da luta pelo título mundial este western se torna mais
movimentado e ganha maior interesse. Mais uma vez o romance inserido na
história não é muito convincente e só piora quando surge Cynthia London (Carole
Matthews) outra figura feminina que também quer o amor de Brett Stanton.
Intencionalmente ou não, o roteiro de “Cidade do Mal” lembra bastante “Matar ou
Morrer” (High Noon) quanto a essa subtrama amorosa. E não falta nem mesmo a
presença de um conquistador violento interpretado por Lloyd Bridges que por
sinal quase repete seu personagem do clássico de Fred Zinnemann. Perde-se
também a história com a pouca clareza da posição ambígua de Brett Stanton,
indeciso em qual lado ficar em meio a um sem número de bandidos e de um xerife
aturdido com a desordem que toma conta de Carson City. Tudo isto num filme de
meros 80 minutos.
Lloyd Bridges e Carole Matthews; Carole e Jeanne Crain |
Tumulto
durante a luta - Após a quase concretização do assalto, que resultou em
diversas mortes e a devolução do dinheiro roubado, o xerife Bill Gifford de
Carson City (Hugh Sanders) exclama que a cidade está tranquila e que nada
demais aconteceu, omitindo o assalto frustrado. Crítica certeira em atitude
claramente política querendo demonstrar que o xerife foi capaz de controlar a
cidade em convulsão. Durante a contenda no ringue ocorrem disparos propositais,
na plateia, disparos feitos por bandidos com o intuito de gerar tumulto e que
levam à paralisação da luta durante algum tempo. O filme de Harmon Jones deixou
de melhor explorar a luta de boxe em si, fato que seria bastante interessante a
partir da perspectiva das mudanças nas regras que esse esporte sofreu através
dos anos. Pouca ênfase é dada também ao desenrolar do combate, sem que seja,
ainda, apresentado o desfecho do mesmo. Na foto à direita Richard Boone.
Dale Robertson |
Diretor
e mocinho dos ‘Bs’ - Um novo mocinho nos westerns ‘B’ - Dale
Robertson era uma das apostas da Fox como jovem galã, mas acabou vingando mesmo
como herói em faroestes e em filmes de aventuras. Este “Cidade do Mal” é um dos
melhores westerns em que atuou, descontada sua pequena participação em “Entre
Dois Juramentos” (Two Flags West). Reunido com Richard Boone que, igualmente
iniciava sua carreira naqueles primeiros anos da década de 50, e ainda Jeanne
Crain, Dale Robertson formou o trio principal deste western. Lloyd Bridges, que
havia tido papel relevante em “Matar ou Morrer” (High Noon) interpreta um irmão
de Brett Stanton. A bonita Jeanne Crain que na própria Fox havia tido ótimas
oportunidades experimentava declínio em sua carreira e a soma de todos esses
nomes não foi capaz de despertar a confiança do estúdio em escalar um diretor
de melhor calibre para realizar um filme mais alto nível. Harmon Jones,
ex-editor de filmes na Fox, foi promovido a diretor, respondendo por filmes da
produção ‘B’ do estúdio. Entre os muitos coadjuvantes conhecidos estão o
mexicano Rodolfo Acosta, a boa e bonita Carole Matthews, James Best, John
Doucette e Leo Gordon em sua estreia no cinema. Todos eles formam um
ingrediente interessante para os cinéfilos que gostam de conhecer além dos
astros dos filmes.
Lloyd Bridges, John Doucette, Leo Gordon e Rodolfo Acosta |
Parabéns pela sinopse do filme. Muito bem escrito!
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