Abner Biberman; abaixo R. Wright Campbell |
A Universal foi, entre os grandes
estúdios de Hollywood, aquele que nos anos 50 mais produziu westerns B, aquela
segunda linha destinada a exibição nos cinemas que mantinham programas duplos.
Audie Murphy era o astro preferido desse segmento na Universal chegando a fazer
em diversos anos três westerns anualmente. Joel McCrea, Rory Calhoun, Jeff
Chandler e Rock Hudson (antes de ascender ao verdadeiro estrelato) foram alguns
dos atores dividiram com Murphy o trabalho de levar às telas aventuras passadas
no Velho Oeste. Assim como Joel McCrea, Fred MacMurray foi outro ex-galã que ao
amadurecer se afastou dos ambientes urbanos para cavalgar e lutar contra
bandidos e índios. MacMurray fez nada menos que nove westerns durante a década
de 50, um deles, em 1957, intitulado “Armas para um Covarde” (Gun for a Coward)
sob a direção de Abner Biberman. Ex-ator oriundo dos palcos da Broadway,
Biberman invariavelmente interpretava tipos étnicos nos filmes, isto devido aos
olhos repuxados, embora fosse norte-americano nascido em Milwaukee, Wisconsin.
A própria Universal foi quem deu a Biberman a oportunidade de passar para trás
das câmaras dirigindo pequenas produções e atores de menor expressão, passando
posteriormente para a televisão dirigindo episódios de inúmeras séries. Só da
série “O Homem de Virgínia” Biberman dirigiu 25 episódios. O filme mais notável
de Biberman foi justamente “Armas para um Covarde”, estrelado por Fred
MacMurray e que resultou acima da média para um faroeste ‘double feature’.
Josephine Hutchinson com Jeffrey Hunter e com Fred MacMurray (abaixo) |
História
de três irmãos - O roteiro de “Armas para um Covarde” é de autoria de R.
Wright Campbell, também ex-ator e irmão de William Campbell (“Homem Sem Rumo”).
A viúva Keough (Josephine Hutchinson) tem três filhos: o mais velho Will (Fred
MacMurray), Bless (Jeffrey Hunter) e o caçula Hade (Dean Stockwell). A família
cria gado mas a senhora Keough pretende ir para St. Louis, no Missouri,
juntamente com Bless, o filho com o qual se preocupa. Bless é tido pelos irmãos
e mesmo pelos cowboys do rancho como pessoa covarde e que evita se defrontar
com qualquer tipo de perigo. Will namora Aud Niven (Janice Rule), filha de um
rancheiro vizinho e pensa em se casar com ela sem desconfiar que a moça gosta
mesmo é de seu irmão Bless, paixão correspondida para azar de Will. Hade, o
mais jovem e esquentado, não perde oportunidade de lembrar ao irmão que ele é
um covarde. Com a morte da mãe Bless cria coragem e conta a Will que ama Aud.
Os irmãos travam uma briga que é interrompida com o aviso que ladrões roubaram
parte do gado dos Keouch e é Bless quem, a pedido de Will, lidera o grupo que
vai ao encalço dos bandidos. Will anuncia para Aud que parte para outra cidade
para que ela e Bless possam viver em paz.
Fred MacMurray |
Ator
maduro demais - Fred MacMurray confessou em entrevista que não se sentiu
confortável durante as filmagens de “Armas para um Covarde” por uma única
razão: aos 49 anos parecia maduro demais para interpretar um filho de Josephine
Hutchinson, atriz apenas cinco anos mais velha que ele. E MacMurray tinha mesmo
razão, ainda mais que no filme disputa o amor de Janice Rule com um jovial
Jeffrey Hunter enquanto Fred mais parece o pai da moça. Diferenças gritantes de
idade por vezes comprometem um filme, problema só superado quando a história é
boa e bem desenvolvida. É o que acontece neste western, menos preocupado com
muitas sequências de ação e sim enfatizando os aspectos psicológicos das
relações filiais e fraternas agravadas com o triângulo amoroso. E interessante
lembrar que esses aspectos são um subtexto ao eixo principal do roteiro que é a
covardia, tema que o gênero western abordou muitas vezes.
Janice Rule com Jeffrey Hunter e com Fred MacMurray |
Josephine Hutchinson e Jeffrey Hunter |
Complexo
de Jocasta - Will, Bless e Hade são inteiramente diferentes entre si e
a lacuna maior de “Armas para um Covarde” é não aprofundar o que teria feito
Bless ser como é. A senhora Keouch pouco se interessa pelos demais irmãos,
preocupando-se unicamente com Bless, a quem inclusive pretende fazer deixar a
vida dura dos cowboys. Quer ela que o filho estude, seja médico ou advogado e
estranhamente nada faz pelo inquieto Hade, justamente seu caçula. Viúva há seis
anos o lógico seria ela buscar no filho mais velho a substituição do chefe de
família, até porque Will se mostra um homem ponderado, de boa índole e
preocupado com os irmãos mais novos. E com a morte da senhora Keouch perde-se
um ingrediente altamente dramático que seria sua reação diante do amor que
irrompe entre Aud e Bless. Nenhuma outra circunstância evidenciaria melhor a
superação da suposta covardia de Bless que ele enfrentar a reação da mãe.
“Armas para um Covarde” tem final aparentemente feliz, como as plateias preferiam
e produtores obrigavam, mas epílogo melancólico se atentarmos como ocorre a
separação entre os irmãos. Hade morre acusando Bless de mais uma covardia,
enquanto um resignado Will parte para o desconhecido.
Fred MacMurray socando Jeffrey Hunter |
Briga
entre irmãos - Para um faroeste na linha dos ‘psicológicos’ (rótulo
controverso), o filme de Abner Biberman tem bons momentos de ação e uma boa
briga entre Will e Bless. Essa briga tem início num saloon e continua na rua
onde providencialmente chega ferido o cowboy Durkee, vivido por Bob Steele,
cuja informação coloca fim à violenta luta com troca de socos. E melhor ainda
que as brigas e tiroteios são as reações perfeitas do jovem Hade desafiando um
grupo de bandidos numa cantina em Arroyo Seco e ainda o velho cowboy Loving
(Chill Wills) traduzindo com sua experiência o que os índios liderados por Iron
Eyes Cody pretendiam. E esse é o momento divertido num filme onde predominam as
situações dramáticas.
Dean Stockwell e Chill Wills |
Dean
Stockwell, o melhor do elenco - No bom elenco o destaque maior é
para Dean Stockwell, ex-ator infantil que após seis anos voltou ao cinema e
cuja carreira se prolongou por mais quase 60 anos e na qual nunca faltaram
grandes filmes. Estourado e sempre disposto a uma boa briga, Dean faz seu
personagem passar longe de um tipo psicótico como os tantos jovens ‘hot-head’
interpretados por Richard Jaeckel, por exemplo, ainda que não engraçado como o
inesquecível pardner de Kirk Douglas em “Homem Sem Rumo” (A Man Without a
Star), o já citado William Campbell. Chill Wills normalmente superinterpreta
tentando roubar cenas, mas ele está perfeito como o veterano e fiel cowboy
sempre com uma história ilustrada por alguma ‘filosofice’ para contar. Jeffrey
Hunter é o protagonista, o covarde do título, num descanso entre as três vezes
que filmou sob as ordens de John Ford. Se Hunter não entusiasma, também não
desaponta e vê-lo em cena provoca a vontade de revê-lo como ‘Martin Pawley’,
personagem tão importante em sua carreira quanto o Jesus cristo que ele
interpretou em “O Rei dos Reis”. Fred MacMurray, assim como Hunter, faz apenas
o suficiente com a sobriedade costumeira. Fraca Janice Rule, sempre com a
expressão insatisfeita, ela que não possui maior atrativo como atriz. Josephine
Hutchinson é a mãe possessiva tentando criar jocastianamente seu filho
preferido e torna seu personagem antipático.
Cowboys
covardes existiam sim - “Armas para um Covarde” merece ser
assistido especialmente por fugir da rotineira situação de tantos e tantos
westerns que apenas mitificam o homem do Oeste como ser valente e onde não há
lugar para a covardia. Afinal são eles homens como outros quaisquer, o que os
westerns passariam a demonstrar a partir do revisionismo que o gênero viria a
sofrer nas décadas seguintes. Só não é melhor por ser um projeto com as
limitações que os ‘Bs’ impõe, seja de metragem, atores, roteiro e,
naturalmente, de um grande diretor.
Na foto à direita Jeffrey Hunter.
A cópia deste filme foi gentilmente cedida pelo colecionador Beto Nista.
Já procurei por este filme e não encontrei. Me falaram que existe por aí uma cópia legendada. Mas não me interesso por filmes legendados. Quem sabe uma NETFLIX da vida resolve exibí-lo?
ResponderExcluirEu assisti no YouTube. Imagem excelente, porém legendado. Ótimo filme, gosto dos atores principais Fred e Hunter.
ResponderExcluirEu assisti no YouTube. Imagem excelente, porém legendado. Ótimo filme, gosto dos atores principais Fred e Hunter.
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